Produtores buscam manter a qualidade visual da batata, desde sua colheita até a chegada ao consumidor final.
A batata é um tubérculo com grande consumo no Brasil, e disso ninguém duvida. Porém, fazer com que ela chegue com alta qualidade às gôndolas dos supermercados e feiras, pode ser uma missão árdua e interminável. Localizada na BR251, km 18, na estrada que liga Brasília a Unaí (MG), a Agrícola Wehrmann a 13 anos trabalha com hortaliças, e, Rodrigo Ribeiro Cardoso, gerente de produção da empresa, diz que por trabalhar com produtos perecíveis, como cenoura, cebola, entre outros, um dos problemas encontrado é tirar a hortaliça de lá e coloca-la com a mesma qualidade na mão do homem. “O caminho dela do campo até o beneficiador é longo e ela acaba sofrendo algumas mudanças na qualidade”, declara.
Cardoso explica que se não feito da maneira correta, o transporte é um grande vilão nesta história. Geralmente, isto é feito por caminhões com lonas, então, a batata entra e sai do veículo algumas vezes, o que acaba estragando seu visual. “Este é um tubérculo que depende muito da apresentação para ser vendido. Os consumidores querem uma batata bonita, com qualidade. Ou seja, o transporte afeta diretamente na qualidade”, declara. Outro ponto que também pode atrapalhar o desafio da “batata perfeita”, fica por conta do dano mecânico. “Aqui na agrícola, ela é colhida de forma mecânica, e já neste processo pode ocorrer algum tipo de dano”. Segundo o gerente, isso se dá principalmente pelo calor da região. “Precisamos colher numa umidade perfeita para eliminar os danos mecânicos”. Ele afirma que já nesta fase, as que tem danos mais severos, já são eliminadas antes de ir pra sacaria.
E se o transporte do jeito que está, não é o mais adequado, Cardoso declara que a forma correta a se fazer este processo ainda é um passo onde há muito a ser pensado. “Acredito que a utilização de câmaras frigorificas ajudariam, pois a batata sairia de debaixo da lona, onde ela sofre com calor e as temperes”, diz. Ele conta que aos pedidos enviados para Manaus, por exemplo, vão em câmaras frigorificas e chegam com qualidade superior do que aquelas partem através do caminhão. “É claro que não há como ter a mesma qualidade visual da batata entre a colhida e comercializada em sequência, em relação àquela que é colhida e comercializada dias depois. O aspecto físico fica mais feio, mais escuro”.
Sobre a durabilidade
A durabilidade da batata depende bastante do plantio. Segundo o gerente de produção, sob condições adversas, ela não durará bastante. “No passado, produzíamos o tubérculo 12 meses por ano, e com o passar dos anos observamos que tínhamos que nos adaptar ao clima”, diz. Ele conta que atualmente a plantação ocorre somente quando a colheita será feita com qualidade. “Ou seja, vai ali de março, até a primeira quinzena de julho”.
Um ponto que se torna positivo para ter a melhor aparência e durabilidade da hortaliça, fica por conta de possuir uma boa semente. Dessa forma o produtor colherá um produto de boa qualidade.
Cardoso revela que na época que plantavam batata em janeiro, por exemplo, tinham diversos problemas. “Isso se dá porque aqui chove nessa época, aí a batata perdia no aspecto visual já na plantação”. E depois que entrava debaixo da lona, a dor de cabeça era ainda maior, pois o produto escurecia bastante, afastando o consumidor final. Porém, o gerente diz que um ponto que se torna positivo para ter a melhor aparência e durabilidade, fica por conta de possuir uma boa semente. “Dessa forma o produtor colherá um produto de boa qualidade. O primeiro passo é ter essa boa semente, e plantar algo que lhe dará retorno, depois é achar a época que lhe dará condição de fazer um bom plantio”, diz. E por falar nos produtores, Cardoso comenta que hoje eles buscam essa semente de qualidade. “Temos agricultores que se preocupam com sua produção, e além disso, temos no mercado produtos que tendem a melhorar seu produto”, diz. Segundo ele, é importante que todos tenham em mente que um solo livre de inoculo e com condições de bom plantio, são os dois principais fatores que levarão a boa produção da batata. Em cima disso, Marcos Revoredo, engenheiro agrônomo da Alltech Crop Science comenta que existem vários produtos no mercado que são fundamentais para este processo. “É importante a utilização dos defensivos nas dosagens, e também produtos que estimulam a planta a conseguir se desenvolver de forma fisiológica e se defender”, diz. Segundo ele, alguns há produtos que ativam essa defesa natural da planta e os microrganismos, que são benéficos promovendo a proteção da raiz dos tubérculos. Já para Arione da Silva Pereira, líder do programa de melhoramento genético de batata da Embrapa, diz que a durabilidade da batata vai variar de um processo que no Brasil é comum, mas não deveria ser. Trata-se de lavar o tubérculo no pós-colheita. “A batata diminui em até aproximadamente 50% em sua durabilidade quando é lavada”, declara. Pereira comenta que praticamente, só no Brasil há este hábito, e que lá fora podemos ver durabilidade maiores, com hortaliças que sofrem menos. “Dessa forma, para que nosso produto dure mais, o mais correto seria realizar a escovação, o que não encharcaria o alimento”.
Ainda se tratando de pós-colheita, Pereira declara que uma das coisas que vai interferir na durabilidade é a exposição a luz. “Além da que acontece no transporte, as vezes nas gondolas também não existe a iluminação necessária, o que leva o produto a ficar feio e mais verde”, diz. Assim sendo, para ele, se a batata fosse embalada, e comercializada em alguma embalagem que não dei-xe a luz chegar a ela, teria qualidade superior e duraria mais. “Seria adequado vende-las como nos Estados Unidos, por exemplo, que utilizam sacos fechados de 5 kg”.
Precauções com o tubérculo
Se no mercado temos produtos para ajudar no desafio de uma boa plantação, Revoredo diz que há algumas doenças que estragam a produção da batata, e alerta que todo cuidado deve ser tomado pelos agricultores. “Cito a canela preta, ou podridão mole que causa odor forte e destruição dela”, diz. Segundo ele, no processo de colheita, apesar do trabalho para o controle dela, se uma batata contaminada escapar irá causar prejuízo para outra, porque ela vai passando de batata em batata. Ele também comenta que outro fator são os nematoides. “São um problema grande, pois além de causar galha em volta do tubérculo, é uma porta de entrada para bactérias que causam outras doenças”, declara. Dessa forma, então, é importante o combate. “Seja na parte aérea ou radicular, o nematoide causa um dano grande”. Já sobre a requeima, o engenheiro agrônomo diz que eis um problema que se dá em regiões com mais chuvas. “Nesse caso, as batatas in natura são mais sucessíveis a essa requeima, o que causa a destruição”, comenta.