A pulverização de micronutrientes nas folhas da soja aumenta a produtividade. Cobalto e molibdênio são dois dos elementos essenciais para a fixação biológica de nitrogênio, mas devem ser aplicados entre os estádios de desenvolvimento V3 e V5.
Para o produtor rural que está com a soja no campo em um dos estágios vegetativos V3, V4 ou V5 – três das fases de desenvolvimento vegetativo da planta – este é o momento adequado para dar um “up” na cultura. Segundo o pesquisador Fábio Mercante, da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS), é possível aumentar a contribuição do processo de Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) – uma tecnologia limpa (uma das técnicas agrícolas sustentáveis do Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC) do governo federal), que substitui o fertilizante nitrogenado mineral por um processo de simbiose, em que o nitrogênio é retirado do ar por uma bactéria denominada rizóbio para ser assimilado pela planta.
“Mesmo após o plantio da soja ter sido realizado, ainda está em tempo de se melhorar a produtividade da soja. Isso pode ser feito com a aplicação de dois micronutrientes: o cobalto (Co) e molibdênio (Mo), essenciais ao processo de fixação biológica de nitrogênio. Atualmente, as recomendações técnicas para aplicação destes nutrientes são de 2 a 3 gramas de cobalto por hectare e de 12 a 30 gramas de molibdênio por hectare. Para o resultado ser eficiente, a aplicação deve ser feita por meio de pulverização foliar, entre os estádios de desenvolvimento V3-V5”, diz Mercante.
Segundo o pesquisador, trabalhos de pesquisa demonstram que a aplicação dos produtos com estes micronutrientes diretamente nas sementes pode afetar drasticamente a sobrevivência das bactérias fixadoras de nitrogênio, a nodulação, a eficiência simbiótica e, consequentemente, os rendimentos de grãos da cultura. “Estes efeitos prejudiciais têm sido associados às formulações salinas dos produtos comerciais contendo tais micronutrientes”, ex-plica.
A disponibilidade de fósforo (P) e cálcio (Ca) também proporciona o bom desenvolvimento da planta, o estabelecimento da bactéria e a interação plantarizóbio, por potenciali-zar os benefícios do uso de inoculantes microbianos na cultura da soja. O estresse hídrico e a temperatura do solo (temperaturas acima de 32º C principalmente) são duas condições em que o agricultor deve ficar aten-to. Esses dois fatores, associados ou não, afetam desde a sobrevivência da bactéria até as etapas da interação entre macro e micro-organismos que vivem em simbiose. “Nesta situação, manejos de solo mais conservacionistas, como o Sistema Plantio Direto, colaboram para a redução da temperatura nas camadas mais superficiais e para a manutenção da umidade do solo. Essas foram algumas das conclusões obtidas após estudo realizado pelos pesquisadores da Embrapa por meio de um Comunicado Técnico (publicação seriada da Embrapa): Fábio Martins Mercante, da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados/MS); Mariângela Hungria, da Embrapa Soja (Londrina/PR); Iêda de Carvalho Mendes e Fábio Bueno de Reis Júnior, da Embrapa Cerrados (Planaltina/DF).
O estresse hídrico e a temperatura do solo são condições em que o agricultor deve ficar atento. Esses dois fatores, associados ou não, influenciam na sobrevivência da bactéria.
Para áreas de primeiro cultivo, a inoculação das bactérias (rizóbios) nas sementes da soja são indispensáveis. “No Brasil, não se recomenda o uso de adubo mineral nitrogenado, mas é importante que a inoculação com estas bactérias benéficas seja realizada em todos os anos”, relembra o pesquisador Mercante, que acrescenta: “Em áreas de primeiro cultivo, o agricultor pode duplicar a dose de inoculante utilizada em cultivos tradicionais de soja, porque alguns fungicidas podem reduzir a nodulação e a fixação biológica de nitrogênio na cultura quando aplicados nas sementes.”
Nas áreas tradicionais, a pesquisa mostra que, nas principais regiões produtoras de soja no País, incluindo diversos locais nas regiões Sul e Centro-Oeste, o rendimento da cultura aumenta, em média, 8% quando se realiza a reinoculação de rizóbios, ou seja, a inoculação em todas as safras de soja. “Foram considerados apenas ensaios com rendimentos superiores a 2.400 kg/ha e foram obtidos incrementos de até 1.950 kg/ha pela reinoculação”, relatam os pesquisadores.
Em Mato Grosso do Sul, os estudos ainda mostram que o crescimento médio de rendimento de grãos de soja pode chegar a 9% em relação às plantas que não haviam sido inoculadas com rizóbios.
Texto: Lino Spa