No palco da ONU, há dois meses, em setembro, o Brasil comunicou ao mundo as suas metas de redução das emissões de gases de efeito estufa, nossa contribuição no combate às mudanças climáticas. Para saber as repercussões e o que o país pode oferecer para a redução do aquecimento global, a Rural falou com o Vice-Presidente de Comunicação do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e Professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM Coriolano Xavier.
Revista Rural – Quais os compromissos assumidos pelo Brasil na ONU para a redução na emissão de gases de efeito estufa?
Coriolano Xavier – Nossa contribuição no combate às mudanças climáticas totalizam um corte de 43% das emissões até 2030, relativamente aos níveis registrados em 2005. Este foi o principal item do compromisso brasileiro, que ainda incluiu outros desafios como a recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas, restauração florestal de 12 milhões de hectares e integração lavoura-pecuária-floresta em cinco milhões de hectares. Serão mais de 30 milhões de hectares sob intervenção pró-sustentabilidade.
Rural – Como os participantes do encontro reagiram as metas estipuladas pelo Brasil?
Xavier – As metas brasileiras foram recebidas positivamente pela comunidade científica, de um modo geral. Principalmente por terem o potencial de influenciar o debate na 21ª Conferência do Clima, da ONU, que será realizada em Paris nos próximos dias (de 30 de novembro a 11 de dezembro), sob a bandeira de um mundo de “carbono zero” e voltada para a meta global de acabar com as emissões ainda neste século.
Rural – O país goza da confiança da comunidade internacional para atingir este fim? Ou seja, teremos realmente condições de alcançar as metas estipuladas sem afetar nosso crescimento econômico?
Xavier – O passado recente dá um crédito à capacidade brasileira de assumir um compromisso desse porte. No combate ao desmatamento, por exemplo, nosso resultado é razoavelmente bom, com uma redução de 82% nos últimos dez anos. E boa parte da viabilidade dos novos números prometidos pelo Brasil na ONU vem da perspectiva de integração de dados do Cadastramento Rural (esfera estadual) com os dados da Embrapa via Satélite, permitindo uma “fotografia” de sintonia fina da realidade florestal amazônica, que poderá identificar quem está fazendo desmatamento ilegal e também quais as áreas prioritárias para recomposição da cobertura vegetal.
Rural – Como vem-se desenvolvendo este trabalho conjunto das nações para garantir o objetivo principal: de recuperação do meio ambiente e manutenção das condições climáticas que não ponham em risco as reservas ambientas do planeta?
Xavier – O marco inicial de toda essa história de resgate climático e ambiental aconteceu em 1992, com a “Rio Eco”. Depois, a “Rio Mais 20” revigorou os compromissos das nações e agora, às vésperas do encontro de Paris, o Brasil tem tudo para colher os dividendos do protagonismo que assumiu. Tanto pelos resultados que colecionou desde a pioneira reunião dos anos 90, como também pela oportunidade que a nova rodada representa para a afirmação do país como um dos líderes da nova sociedade e governança de sustentabilidade global, no século XXI.
Rural – Falando nisso, qual é o protagonismo do Brasil neste desafio mundial?
Xavier – O Brasil está diante da oportunidade de abrir um novo caminho de crescimento, ao avançar no combate ao aquecimento global. Seja através da meta (já compromissada na ONU) de chegarmos a 45% de fontes renováveis em nossa matriz energética, seja através de novas tecnologias conservacionistas para o uso de matéria-prima reciclada, universalização da coleta de resíduos e proteção do solo, entre outros alvos. Estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro*, por exemplo, projeta um potencial de incremento da ordem de R$ 180 bilhões em nosso PIB, até 2030, se o Brasil evoluir em suas metas de combate às mudanças climáticas.
Rural – Como o agronegócio, que sempre é viso como vilão, se coloca dentro deste contexto?
Xavier – Por traz de tudo isso, fica ainda uma mensagem positiva, que o agro precisa contar para a sociedade sempre que possível. Como vários outros setores da economia, a produção do campo teve ou pode ter sua parcela na questão climática. Mas vem revisando esse papel, principalmente através de progresso tecnológico, e hoje está se tornando muito mais parte da solução, do que do problema.