É nessa fase em que um trabalho feito de maneira inadequada pode comprometer a qualidade, tanto das sementes como da fibra do algodão, afetando a rentabilidade da lavoura.
O algodoeiro é uma das espécies vegetais mais cultivadas no mundo sendo aproveitadas principalmente suas sementes e fibra. Além do grande valor para o setor têxtil outros produtos do algodão são reconhecidamente importantes como, por exemplo, a utilização da semente na alimentação animal, em forma de torta ou na produção de óleo comestível de alto valor agregado, inserido no grupo de produtos bioenergéticos.
O beneficiamento do algodão se inicia na colheita. Tal etapa pode, quando feita de maneira inadequada, comprometer o produto com impurezas diversas e indesejáveis pela indústria têxtil de forma que a remoção desses contaminantes dificulta e onera significativamente o beneficiamento refletindo-se, muitas vezes, em deságio no preço final do produto. Além das impurezas a umidade interfere na qualidade do algodão durante o beneficiamento, tendo influência na forma como o descaroçador age nas sementes e na fibra. Desta forma, a umidade do algodão deve ser levada em consideração. Em geral, sementes menos úmidas são mais fáceis de serem processadas.
Após esta etapa é realizada a separação da fibra das sementes (caroços) através de máquinas dotadas de rolos ou serras, prática esta denominada descaroçamento. As sementes recém-descaroçadas se apresentam cobertas por grande quantidade de línter, que é uma camada fina de pelos curtos aderidos ao tegumento das sementes. A presença do línter reduz a capacidade de absorção de água pela semente, podendo retardar a germinação. Entretanto, o deslintamento se caracteriza pela eliminação, total ou parcial, desse línter presente na semente através de processo químico com ácido sulfúrico após o beneficiamento.
Em relação aos danos provocados nas sementes de algodão devido à rotação dos cilindros da descaroçadora, estes se apresentam em percentuais distintos com possibilidade de elevado percentual levando a resultados indesejados de integridade física das sementes. Sementes de algodão severamente danificadas durante a colheita e o beneficiamento, sofrem reduções em sua qualidade fisiológica passíveis de serem detectadas pelos testes de vigor e germinação.
Devido à escala de produção os grandes produtores de algodão do cerrado brasileiro têm, à sua disposição, algodoeiras equipadas com modernos equipamentos de descaroçamento e beneficiamento do algodão. Entretanto, em razão do alto custo de aquisição não é viável, economicamente, a implantação de algodoeiras modernas para atender aos pequenos produtores de algodão. Ressente-se, assim, da necessidade de desenvolvimento de equipamentos de baixo custo visando oferecer alternativas de beneficiamento do algodão na pequena propriedade rural. Desta forma, um descaroçador compacto de baixo custo e fácil operação e com preço acessível, pode tornar os pequenos produtores mais competitivos.
Um trabalho foi realizado pela Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Campina Grande e Embrapa Algodão, em Campina Grande/PB, com o objetivo de avaliar e caracterizar um descaroçador de 25 serras para atender aos cotonicultores da agricultura familiar, especialmente quanto à qualidade física e fisiológica das sementes e tecno-lógica da fibra do algodão. O desenvolvimento do descaroçador foi realizado na Metalúrgica Barros Ltda. As análises físicas e fisiológicas das sementes e tecnológicas da fibra foram realizadas no Laboratório de Armazenamento e Processamento de Produtos Agrícola da Universidade Federal de Campina Grande e nos Laboratórios de Fibra, Sementes e Beneficiamento da Embrapa Algodão, em Campina Grande, PB.
Na parte superior do descaroçador foi instalado o alimentador manual construído em chapa de aço, composto de três cilindros envolvidos com pinos, três grelhas para a retirada das impurezas que acompanham o algodão em caroço, polias de acionamento e correias.
Para avaliação do descaroçador foram utilizadas sementes das cultivares BRS 187 8H e BRS Safira procedentes de campos experimentais da Embrapa Algodão empregando-se 192 kg de algodão em caroço por cultivar que foram beneficiados no descaroçador de 25 serras. Antecedendo aos testes de beneficiamento, a descaroçadora foi avaliada quanto à rotação das serras. Além disso, foram testadas serras de 11” e 12”.
As diferentes rotações das serras (500, 550, 600 e 650 rpm) foram obtidas por um inversor de frequência para variação da rotação do motor que aciona o equipamento. Uma amostra de 3 kg foi utilizada para obtenção de uma alimentação constante do equipamento. Após o descaroçamento a fibra foi submetida a avaliação quanto às suas características tecnológicas e as sementes avaliadas quanto à qualidade física e fisiológica.
Realizou-se, visando à avaliação da qualidade física e fisiológica das sementes, o deslintamento químico utilizando ácido sulfúrico concentrado (98%). A qualidade física e fisiológica das sementes foi determinada pelos testes de teor de umidade, análise de pureza, percentagem de línter, danos mecânicos, germinação, primeira contagem do teste de germinação e comprimento de plântulas. As variáveis para as determinações das características tecnológicas da fibra foram: micronaire (µg pol-2), comprimento (mm), índice de fibras curtas (%), índice de uniformidade (%), resistência à ruptura (gf tex-1), alongamento (%), índice de maturidade (%), índice de fiabilidade e porcentagem de fibra (%).
O delineamento foi o inteiramente casualizado em esquema fatorial (2 x 2 x 2 x 4), de duas cultivares de algodão (BRS 187 8H e BRS Safira), dois tipos de serra (11” e 12”), dois processos de limpeza (com e sem limpador) e quatro rotações (500, 550, 600 e 650 rpm) com quatro repetições. Os dados foram analisados no software Assistat 7.2 e as médias comparadas pelo teste a 0,01 e 0,05 de probabilidade. O processo de beneficiamento no descaroçador, iniciou-se quando o algodão em caroço foi acomodado no reservatório do limpador, em seguida, o algodão foi passado no limpador formado por pinos e grelhas no qual foi feita a separação das impurezas, como recomendado. Após esta operação o algodão seguiu para o descaroçamento realizado pelas serras e costelas em que os dentes das serras liberaram as sementes entre elas sendo formado um cilindro de algodão na câmara de descaroçamento em virtude das serras trabalharem em rotação contrária a este, feita a separação da fibra das sementes estas passaram pelo dispositivo de regulagem e foram conduzidas para fora do descaroçador. As fibras arrastadas pelo cilindro de escovas para o condensador foram aglutinadas, formando a manta.
Texto: Lino Spa