Agricultura

Uso sustentável de solos arenosos

Os solos arenosos muitas vezes são considerados marginais para agricultura, pois apresentam elevada suscetibilidade à erosão e à contaminação das águas subterrâneas. São intensamente utilizados na agricultura e pecuária no Bioma Cerrados, particularmente na região chamada MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), bem como nos estados de MT, GO e MG.

Guilherme Donagemma, pesquisador na área de física do solo da Embrapa Solos (Rio de Janeiro, RJ), coordenador do Projeto Arenossolos, explica que “há necessidade de se conhecer melhor esses solos e assim nortear seu uso e manejo mais sustentável. Nesse sentido, esse projeto objetiva aperfeiçoar critérios de separação entre os chamados “solos arenosos”, bem como avaliar o impacto da agricultura neles praticadas e sobre a água”. “Para isso, selecionamos três regiões em que há agricultura com grãos no Bioma Cerrados: Chapada Gaúcha, MG, Guaraí, TO e Campo Verde, MT e já temos alguns resultados, já que existem diferenças entre os solos arenosos, que hoje são considerados iguais em relação ao tipo, mas que precisam ser indicadas para assim subsidiar o uso e manejo sustentável”.

“Não observamos, até o momento, contaminação de água por pesticidas na Chapada Gaucha, Campo Verde e Guaraí. Há áreas com manejo convencional (aração e gradagem) que estão levemente compactadas e a infiltração de água é melhor onde se faz sistema de plantio direto. A gramínea parece ser peça-chave para recompor o sistema de produção, onde for possível, para dar sustentabilidade na produção agrícola, indicando que o sistema integração lavoura pecuária seja promissor para essas regiões”.

Os solos arenosos distribuem-se em extensas áreas do sul ao norte do país. São mais suscetíveis à degradação e perda da capacidade produtiva quando comparado aos de textura mais fina e em condições ambientais semelhantes. Em razão da baixa capacidade tampão, relacionada aos baixos teores de argila e de matéria orgânica, geralmente apresentam baixa capacidade de retenção de nutrientes e de água.

Consequentemente, quando mal manejados, podem gerar impactos negativos, quer associados aos elevados riscos de contaminação das águas subterrâneas por solutos – nutrientes e outros poluentes químicos – quer à elevada susceptibilidade à erosão quando expostos ao impacto direto das gotas de chuva, e, ainda, ao elevado custo de produção. Dessa forma, para manter a sustentabilidade agrícola dos ambientes associados a estes solos é imprescindível conhecer suas limitações e potencialidades com base em critérios identificados no campo e/ou obtidos por meio de análises laboratoriais.

Os solos arenosos distribuem-se em extensas áreas do sul ao norte do país. São mais suscetíveis à degradação e perda da capacidade produtiva quando comparado aos de textura mais fina.

Verifica-se que, atualmente, os critérios de campo e de laboratório utilizados para avaliá-los não atendem completamente a este fim, havendo, assim, necessidade de aperfeiçoamento de métodos e de critérios que possibilitem sua distinção de uma forma integrada à recomendação de uso e manejo desses solos. Isso se dá em razão da grande variabilidade espacial naturalmente encontrada nos solos de textura leve, as quais interferem diretamente na sua capacidade produtiva, bem como às poucas pesquisas a eles direcionadas.

Além de avaliar a sustentabilidade da agricultura nessas três áreas de estudo (sub-bacias), o projeto vai procurar também definir critérios distintivos de classes de solos arenosos e subsidiar o planejamento de uso e o manejo sustentável dos solos de textura leve. A equipe busca também aperfeiçoar critérios de aptidão agrícola e sistemas de produção sustentáveis, avaliar o impacto de sistemas produtivos no solo e na água, transferir métodos e técnicas de levantamento de solos a técnicos das regiões e transferir boas práticas agrícolas para os produtores.

Conforme Heloísa Filizola, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), integrante do projeto, a equipe trabalha em 3 frentes: a primeira aborda a questão da infiltração da água no solo, a segunda analisa a contaminação da água por agrotóxicos e a terceira faz comparações de resultados da granulometria feita por 3 técnicas: pipetagem do solo, densiometria e análise granulo-métrica por raios gama, técnica desenvolvida pelo pesquisador Carlos Vaz, da Embrapa Instrumentação (São Carlos, SP).

A maioria dos solos arenosos é classificada como neossolos quartzarenicos – cujo teor de areia encontrado é muito variado. Os estudos visam comprovar que esses solos, com textura menor que franco-arenosa, de um modo geral, podem ser utilizados pela agricultura. O que importa é a forma de como são feitas as práticas agrícolas.

A pesquisadora lembra a questão sobre as restrições ao financiamento agrícola com relação à qualidade/tipo do solo, cujo objetivo é reduzir riscos, melhorar o planejamento da lavoura e aumentar a renda dos agricultores familiares. Com esses objetivos, a adesão ao Seguro da Agricultura Familiar (SEAF), executado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, por meio da Secretaria de Agricultura Familiar (MDA/SAF), é realizada mediante apresentação de análise de solo para agricultores familiares que contratarem financiamentos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) acima de R$ 8 mil a partir da safra 2011/2012.

Nesse sentido, a coleta de amostra deve observar procedimentos técnicos específicos, para que represente a realidade da área cultivada. O agricultor também deverá entregar ao banco a recomendação de uso de insumos, juntamente com as análises de solo. Para o desenvolvimento do projeto estão envolvidas diferentes instituições. Dentre as Unidades da Embrapa são participantes os seguintes centros: Meio Ambiente, Instrumentação, Pesca e Aquicultura, Agrossilvopastoril e Milho e Sorgo. As instituições externas são a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT, Cuiabá, MT), a Seplan (Cuiabá) e a Cooapi (Chapada Gaúcha, MG).

Texto: Cristina Tordim

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