Esforço do Ministério da Agricultura vem obtendo êxito na reabertura de mercados internacionais para a carne, o leite e vários outros produtos brasileiros.
O governo dos Estados Unidos liberou a compra de carne bovina in natura de 13 estados brasileiros mais o Distrito Federal. A medida encerra uma restrição que vinha sendo praticada há 15 anos. A decisão abrange 95% da indústria e é importante não apenas pela abertura do mercado em si, mas também como uma sinalização para outros países. Isso porque os norte-americanos são reconhecidos pela severidade em relação à análise de produtos para o seu mercado doméstico. “Temos que persistir obstinadamente em praticar uma defesa agropecuária de forma permanente. Vamos trabalhar para que o Brasil se situe entre os cinco países do mundo como referência agropecuária”, afirmou a ministra da Agricultura Pecuária e abastecimento Kátia Abreu. Segundo ela, a abertura do mercado dos Estados Unidos à carne bovina in natura brasileira representa uma senha para intensificar negociações e expandir o comércio com outros países, como a China, onde já houve sinal verde para as exportações de carne, Arábia Saudita e Japão.
O país do sol nascente é o alvo do momento. A expectativa é abrir o mercado japonês à carne processada e in natura brasileira e liberar as exportações brasileira de melão e manga. Em contrapartida, os japoneses poderão vender carne de Kobe para o Brasil. O governo federal também está concluindo negociações com a Arábia Saudita. Os auditores de defesa sanitária daquele país visitaram, neste mês, estabelecimentos brasileiros de produção de carne bovina e de aves. Eles devem apresentar um relatório em até 45 dias para o Ministério da Agricultura e os técnicos terão outros 35 dias para responder ao documento, caso tenha alguma solicitação.
A abertura do mercado dos Estados Unidos à carne bovina in natura brasileira representa uma senha para intensificar negociações e expandir o comércio com outros países, como Arábia Saudita e Japão.
Além disso, há expectativa pelos embarques de carne brasileira para a China, que suspendeu o embargo ao produto nacional no início deste ano. Os auditores chineses que estão no Brasil analisam, por amostragem, 13 estabelecimentos de carnes bovina, suína e de aves. Espera-se que nove plantas de carne bovina sejam habilitadas ainda neste ano para exportação à China. Cada estabelecimento pode fazer negócios de US$ 18 a 20 milhões.
O grande mercado americano
A meta é colocar nos Estados Unidos até 100 mil toneladas anuais de carne bovina in natura nos próximos cinco anos. Esse acordo é resultado de intensas negociações entre os dois governos e visitas de inspeção sanitária por parte do U.S. Department of Agriculture. Funcionários americanos visitaram o Brasil e verificar pessoalmente rebanhos de 14 estados e do Distrito Federal, e viram que eles estão livres da febre aftosa e todos com a vacinação em dia. A resolução do USDA entra em vigor nos próximos 60 dias, o que dá tempo para que os produtores se habilitem para a exportação. Essa habilitação corresponde a um atestado internacional de segurança do produto, garantindo que novos acordos possam ser selados entre o Brasil e outros mercados internacionais, principalmente nos países asiáticos. “Essa vitória é resultado de um trabalho conjunto da nossa Defesa Agropecuária, de todo pessoal do MAPA, do Governo Brasileiro e dos produtores em todo Brasil, que se empenharam em manter suas propriedades e gado em padrões internacionais de qualidade. Quero agradecer a união de todos neste trabalho que garante não só o fortalecimento da nossa agropecuária como também a segurança alimentar mundial”, comemora a ministra.
Com o anúncio, frigoríficos de 13 Estados (Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Rondônia, São Paulo, Sergipe e Tocantins) e do Distrito Federal estarão habilitados a exportar carne in natura. Atualmente, o Brasil já exporta carne industrializada para os Estados Unidos, que é um importante parceiro comercial e lidera o ranking de importadores dessa categoria de carne do Brasil. Somente em 2014, foram enviadas mais de 22 mil toneladas de car-ne industrializada brasileira para os EUA, resultando em um faturamento anual de US$ 231 milhões.
Para a carne in natura, o Brasil entrará em uma cota inicial de 64 mil toneladas – que inclui também países da América Central. Os embarques devem ter início em setembro. A expectativa da Associação é ultrapassar essa cota e chegar a 100 mil toneladas nos próximos anos. Os Estados Unidos são grandes importadores de carne bovina. Somente em 2014, o país importou 957 mil toneladas, a maior parte da Austrália, do Canadá e da Nova Zelândia.
Segundo o presidente da ABIEC, Antônio Jorge Camardelli, a abertura do mercado norte-americano para carne in natura brasileira abre precedentes para o Brasil também começar a negociar com países do NAFTA e da América Central. “Diversos países usam o sistema norte-americano como referência para negociações internacionais e podem mudar sua visão em relação ao nosso produto. Este será um fator importante também para as tratativas com o Japão, que ainda mantém embargo à carne brasileira”.
O início das exportações para os Estados Unidos, de acordo com Camardelli, também vai ajudar a resolver a equação das vendas de cortes do dianteiro bovino. “O consumo interno prioriza cortes traseiros e agora teremos um ótimo mercado para explorar o corte dianteiro, muito utilizado para a produção de hambúrgueres”, afirma o presidente da ABIEC. Ano positivo
A abertura do mercado norte-americano vem coroar um ano de ótimas notícias para a indústria brasileira. Importantes países, como Iraque, África do Sul e China, anunciaram a abertura de seus mercados. “Estados Unidos e China eram nossas prioridades estratégicas em 2015. Parabenizamos a Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu, que colocou esses as-suntos em sua pauta de negociações e atuou com empenho na finalização desses processos”, destaca Camardelli.
Para o médico veterinário e nutricionista de gado de corte Lainer Lei-te, que percorreu os principais esta-dos produtores de gado dos Estados Unidos recentemente, a medida traz ganhos diretos e indiretos. “O ganho direto está relacionado com a demanda. Com essa abertura temos mais um importante país importando a nossa carne. Por outro lado, também se ganha na hora de negociar com outros países, já que ter os Esta-dos Unidos como clientes significa que temos um status sanitário confiável. Ter a ‘chance-la’ norte-americana na nossa carne abre muitas portas e pesa na hora de negociar com outros países”, afirma o veterinário que passou três meses conhecendo o sistema de produção norte-americano, por conta de um cronograma que a empresa Nutripura desenvolveu, visando qualificar cada vez mais seus técnicos.
Para o veterinário um dos fatores que devem ter pesado na decisão dos Estados Unidos é que o rebanho de-les está diminuindo, é o menor em 50 anos. Isso pode afetar a produção negativamente e valorizar ainda mais a carne bovina no país. Abrir as portas para a carne bovina in na-tura brasileira pode equilibrar novamente a oferta e demanda. Lainer aponta que com relação às questões sanitárias, os produtores brasileiros estão “fazendo a lição de casa”, res-peitando o período de carência dos medicamentos utilizados nos rebanhos e tomando os cuidados necessários com a vacinação contra as principais enfermidades, especialmente a Febre Aftosa. O Departamento de Agricultura Americano (USDA) é muito rigoroso e estará atento á essas questões, ressalta.
Com relação ao ganho para os pecuaristas, ele afirma que a abertura desse novo mercado deve contribuir prazo para a manutenção dos preços dos últimos meses – ao redor de U$ 50/@. “Teremos a parceria com um grande importador e isso significa mais alguém para ‘puxar’ nossa carne. Se tem mais demanda que oferta a tendência é de manter ou até mesmo valorizar o preço da carne para todos os elos da cadeia, do criador ao frigorífico”.
O que deve fazer com que o mercado fique mais firme, segundo avaliação do presidente da Associação dos Criadores do Sul de Mato Grosso (Criasul), Marco Túlio Duarte Soares. “Como produtor a gente sempre vê com muito bons olhos, pois vai remunerar mais a cadeia produtiva do mercado interno. A visão é de mercado firme no valor da arroba. Quando você tem mais um mercado você está tirando carne do mercado interno, ou seja, pode ter falta de produto internamente traz competição, mas faz o mercado ficar firme”, avalia Marco Túlio.
Segundo o presidente da Criasul, hoje os produtores estão investindo em tecnologia, o nível de preocupação com a sanidade e questões ambientais é muito grande e o conhecimento aumentou, o que impacta de forma positiva no bom desempenho das questões sanitárias. “É pouco provável que se ocorra algum problema por descuido dos produtores. Além dos investimentos dos produtores, os níveis de controle dos órgãos também estão mais rígidos e isso ajuda”, define Marco Túlio.
Setor se mostra animado
O recente anúncio da abertura do mercado norte-americano à carne in natura brasileira melhorou as expectativas para a 12ª edição da Feira Internacional de Tecnologia para a Indústria da Carne e do Leite – Tecnocarne e Leite, que será realizada de 11 a 13 de agosto, em São Paulo (SP). O evento é o maior da América Latina em inovações tecnológicas e soluções para os setores de carne bovina, suína, aves, peixe, além do leite.
“O cenário é positivo para nosso setor, com o Brasil acessando cada vez mais e melhores mercados. Ainda temos muito a crescer na exportação, com grandes desafios que envolvem a negociação de barreiras sanitárias e cotas e tarifas preferenciais. Existem também desafios internos bastante complexos que influenciam diretamente nossa competitividade, como infraestrutura, logística, cenário macro-econômico, insegurança jurídica, entre outros. Muitos desses desafios internos dependem de grandes mudanças governamentais e debates com a sociedade, como a modernização da legislação e investimentos em infraestrutura, sobre os quais temos atuação limitada. Mas podemos, sim, influenciar o que acontece dentro da nossa indústria, ou seja, podemos buscar maior competitividade sendo mais eficientes dentro do nosso próprio processo industrial. Para isso, precisamos de tecnologias que propiciem esta eficiência, e a Tecnocarne é uma vitrine para estas tecnologias que estamos buscando. Queremos que a feira traga o que há de melhor e mais moderno em termos de processamento de carnes. Somos o maior exportador do mundo e certamente temos que ter um parque industrial à altura do desafio”, afirma o diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exporta-doras de Carnes (Abiec), Fernando Sampaio. “É de nosso interesse que a indústria esteja a par de todas as possibilidades tecnológicas que possam trazer ganhos ao nosso setor. Precisamos produzir mais de maneira cada vez mais eficiente”, completa Sampaio.
Japão é o alvo da vez
O Brasil avançou mais uma etapa no processo de abertura do mercado japonês à carne bovina termo-processada brasileira. O governo do Japão informou que enviará técnicos ao Brasil para visitar laboratórios, frigoríficos e fazendas com o objetivo de acelerar a liberação da entrada do produto naquele país. Lá, o Ministério da Agricultura cumpriu a penúltima das sete etapas previstas para a liberação de carne bovina termo-processada, que está embargada pelo Japão desde dezembro de 2012 devido a um caso atípico de vaca louca registrado na época. Os ministérios da Agricultura e da Saúde do Japão receberam nesta segunda-feira os documentos de análise de risco que estavam pendentes. A próxima etapa é a abertura de uma consulta pública de 30 dias, que será realizada paralelamente à inspeção a frigoríficos, laboratórios e fazendas no Brasil. A ministra Kátia Abreu disse estar otimista de que as barreiras à exportação de carne bovina termo-processada ao país asiático serão superadas até agosto.“Sabemos da preocupação do Ministério da Saúde. Por isso, queremos, com muita compreensão, que o governo japonês conheça de fato o sistema brasileiro de defesa, porque temos certeza que eles eliminarão suas preocupações. Nada hoje é mais importante para o Mapa do que aprimorar o sistema de defesa animal e vegetal”, afirmou Kátia Abreu à vice-ministra da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do Japão, Keiko Nagaoka. A ministra japonesa, que cuida das barreiras sanitárias relacionadas a doenças transmissíveis ao homem, disse que encaminhará o assunto de forma proativa. “Hoje trocamos muitas informações importantes em nível técnico. Gostaríamos de dar andamento a essa discussão de forma pro-ativa e continuar com a discussão para liberar a importação de carne”, disse Nagaoka durante a reunião. O Brasil trabalhará ainda para que o Japão libere a importação de carne bovina in natura até dezembro, quando a presidente Dilma Rousseff visitará o país. O produto brasileiro nunca teve acesso ao mercado japonês.
“Confiamos no status do Brasil com relação à carne bovina. Temos reconhecimento de organizações internacionais, como OIE [Organização Mundial de Saúde Animal], que afirmam e reafirmam a qualidade da carne brasileira. O Japão tem uma ótima relação com o Brasil e, do ponto cientifico e técnico, não teremos problema nessa área”, observou Kátia Abreu.
Leite na Rússia
O Brasil tratou também da abertura de mercado para o o leite em pó na Rússia. Atualmente, segundo o secretário de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Caio Tibério Dornelles da Rocha, o Brasil exporta 1% do que produz – 36 bilhões de litros/ano – e a meta é ampliar o volume para 3%. Hoje, o país exporta para Argélia, Arábia Saudita, Angola, Nova Zelândia e Venezuela.
Para isso, conforme Rocha, será preciso avançar em duas áreas na cadeia leiteira nacional: qualidade e sanidade. “Definimos trabalhar com assistência técnica, política agrícola e crédito aos produtores”, diz o secretário de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do Mapa. Em termos de políticas públicas, o Inovagro, linha de crédito com juros subsidiados para produtores de leite lançado no Plano Agrícola e Pecuário 2015-2016, é uma das cartas na manga do governo federal. “É a linha com as menores taxas de juro, com 7,5%, tem três anos de carência e 10 anos para pagar. É possível financiar de ordenha a galpão e “, explica Rocha. Em relação à sanidade, Rocha informa que na questão da tuberculose, o Ministério vem fazendo campanhas de vacinação e testes de sorologia para melhorar os índices vacinais. Em 2014, o índice em Goiás foi de 87%, 71% em Minas Gerais, 93% no Rio Grande do Sul, 65% no Paraná. Já para a brucelose, o governo federal investirá R$ 60 milhões em 2015 para o seu controle.
No que tange à qualidade, o governo criou recentemente o Sistema Nacional de Qualidade do Leite, que conta com participação importante da Embrapa.
Em dois ou três anos, o Brasil terá condições de suprir 50% do mercado russo de lácteos, incluindo leite em pó, queijo e manteiga, disse a ministra Kátia Abreu. “Temos competitividade para atender a demanda do mercado russo por leite e as indústrias brasileiras estão preparadas”. Segundo a ministra, 11 empresas brasileiras receberam autorização do Ministério da Agricultura da Rússia para exportar o produto. Mais 11 novas empresas de lácteos também estão aguardando a liberação para exportar para aquele mercado.
A Rússia importa anualmente 630 mil toneladas de leite em pó, o equivalente a US$ 1,2 bilhão. “O interesse russo é com a diversificação do mercado, um número maior de empresas de porte médio e regionais. Hoje, as indústrias estão concentradas nas regiões Sul e Sudeste”, disse a ministra. De acordo com Abreu, “a autorização automática (prelisting) do governo russo significa que temos um sistema de defesa agropecuário confiável e sólido”.
Carnes
No encontro com o ministro da Agricultura russo, Alexander Tkachev, Kátia Abreu também falou sobre as carnes brasileiras. “Somos grandes exportadores de carnes para a Rússia. Disse a ele que esperamos que não haja oscilação nas vendas e que as exportações ganhem fluxo. As empresas estão fazendo investimentos para atender essa demanda.” Ela afirmou ainda que, nas próximas semanas, “teremos tudo finalizado para Brasil importar trigo e pescados da Rússia”. “Não vamos permitir, no entanto, que essa importação reduza a produção no país”, acrescentou.
A ministra mencionou ainda o Plano de Investimentos em Logística, anunciado recentemente pelo governo federal. Segundo ela, o Japão mostrou maior interesse no plano, que prevê recursos de R$ 198,4 bilhões. “China e Cingapura também mostraram interesse em investir em infraestrutura no Brasil”, assinalou. Ela disse ainda que o Japão criou um grupo de especialistas para trabalhar a exportação de serviços em logística para o Brasil.