Programa Soja Livre foi criado para atender os produtores do Mato Grosso, que buscam maior diversidade de cultivares de soja convencional.
As ações de fomento ao mercado de soja convencional ganharam força através de uma parceria entre Embrapa e a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja MT). Seu objetivo, inicialmente, era ampliar a oferta de cultivares de soja não-transgênica para o Estado de Mato Grosso, estimulando uma produção que atendesse o mercado de soja e seus derivados não geneticamente modificados. Com os resultados obtidos e sucesso da iniciativa, foi criado o Programa Soja Livre (PSL), gerido pela Associação Brasileira dos Produtores de Grãos Não Geneticamente Modificados (Abrange), Embrapa e Aprosoja MT, com ações voltadas para o Estado. Na sequência, o projeto expandiu suas ações para outros Estados, fortalecendo ainda mais essa cadeia produtiva também no Mato Grosso do Sul, Rondônia, Goiás, Paraná, Santa Catarina, Bahia, Maranhão, São Paulo e Minas Gerais. Segundo o coordenador do programa, Rodrigo Brogin, em 2013, o PSL consolidou sua relevância como iniciativa capaz de agregar alto valor à cadeia produtiva da soja convencional, colaborando para uma oferta cada vez maior de cultivares de soja não-transgênica. “Além disso, atingimos maior volume de sementes disponível para atender um nicho específico de mercado que preza, acima de tudo, por qualidade”, declara. Para a gestão 2014/15, a Embrapa assumiu a coordenação geral do programa e buscou construir uma agenda conjunta, junto aos parceiros atuais. São eles a Aprosmat, Aprosoja Mato Grosso, Caramuru Alimentos, Celi Sementes, Sementes Nova Fronteira, Sementes Ouro Verde, Se-mentes Quati, BS&A e Coodeagri. “Atualmente, os Estados de Goiás, Mato Grosso e Rondônia possuem as maiores porcentagens de áreas cultivadas com soja convencional e, por este motivo, as ações do Soja Livre são mais intensas nestes locais”, diz.
Tecnologia que agrega
O desenvolvimento de cultivares convencionais de soja segue os mesmos padrões utilizados para o melhoramento de cultivares envolvendo outras tecnologias, tais como a soja RR1 e a soja Intacta RR2. A única diferença é realmente a presença ou não de transgenes, ou seja, a inserção de genes de espécies diferentes para um propósito específico. “No caso da soja a tolerância ao herbicida glifosato e a resistência às principais lagartas que atacam a cultura. As demais características selecionadas e os métodos utilizados durante o processo de melhoramento são comuns a todos os programas”, declara Brogin.
O desenvolvimento de cultivares convencionais de soja segue os mesmos padrões utilizados para o melhoramento de cultivares envolvendo outras tecnologias, tais como a soja RR1 e a soja Intacta RR2.
Além do fato do Soja Livre trabalhar com a promoção de cultivares convencionais visando atender os produtores que participam deste nicho de mercado, a cada ano são apresentadas novas opções de cultivo com grande valor agregado, pois grande parte das cultivares promovidas atualmente possuem características muito desejadas pelos produtores. “Entre elas está a resistência ao nematoide de cisto, resistência aos nematoides de galha, tolerância a chuva na colheita, dentre outras características importantes que contribuem para o aumento da renda do produtor”, diz.
Estas características, reunidas em uma cultivar, não chamam a atenção somente dos produtores atuais de soja convencional, mas também daqueles produtores que precisam solucionar seus problemas a campo e aumentar sua margem de lucro. “Resistência genética a doenças e nematoides, por exemplo, é a forma mais barata de solucionar o problema de muitos produtores, com eficiência, e não custa nada a mais por isso”.
O projeto funciona através de ações de planejamento para cada safra. É aberto a todas as empresas que quiserem contribuir com a cadeia produtiva de soja convencional, podendo ser empresas obtentoras de cultivares, sementeiros, do setor de químicos, indústrias de alimentos, dentre outras. “A cada ano são realizadas reuniões de planejamento com todas companhias interessadas, visando desenhar o PSL de acordo com as demandas existentes”. Isto a torna uma estratégia necessária, pois a ideia é que o Soja Livre esteja sempre alinhado às necessidades dos produtores e da cadeia de produção de soja convencional.
Para Brogin este é um dos motivos do sucesso. “Além do conteúdo técnico relacionado às atividades, a área comercial envolvendo os produtores de sementes, revendas, dentre outros, também é muito importante no planejamento anual, pois sofrem diretamente os efeitos do mercado”. Dessa forma, as ações do Soja Livre estão sempre alinhadas à realidade do mercado interno e externo.
As perspectivas para o futuro
Além de ser a maior commodity agrícola nacional, com mais de 95 milhões de toneladas produzidas na safra 2014/15, a soja, especialmente produzida a partir de cultivares convencionais, passou a ser um nicho de mercado importante para o segmento exportador, especialmente para os países Europeus e Asiáticos, como França, Alemanha, Japão e Coreia do Sul.
O mercado mundial de convencionais tem forte apelo para as empresas com foco em produtos orgânicos ou que usam a soja convencional para produção de leite e derivados do grão. “A movimentação política internacional para descrição e rotulagem de grãos geneticamente modificados aumentou a procura por materiais convencionais, o que tornou a semente de soja convencional bastante atrativa para o mercado brasileiro e mundial”, diz o coordenador.
Segundo ele, a partir deste trabalho, espera-se que a produção de resultados técnicos com cultivares de soja convencional contribua para a maior segurança do agricultor na escolha da cultivar e gere credibilidade junto aos demais setores envolvidos no sistema produtivo que desejem participar deste mercado especializado de produção de grãos. “Os resultados obtidos também auxiliarão no posicionamento de cultivares de soja convencional no mercado, demonstrando o alto potencial produtivo da genética convencional de soja, competitivo com as demais tecnologias disponíveis no mercado”.
Além disso, a permanência de uma área significativa de produção de soja convencional viabiliza a continuação no mercado de herbicidas convencionais, importante alternativa para rotação com glifosato, herbicida único utilizado na tecnologia RR. “Com isso, se reduz a probabilidade de aparecimento de tolerância de ervas daninhas tolerantes a esse herbicida, o que é importante também para a sustentabilidade de produção de soja transgênica”, declara.