Pesquisa inédita do IAC quantifica impacto do hLB na qualidade de sementes de porta-enxertos de citros.
Os danos causados pelo huanglongbing (HLB), a principal doença da citricultura mundial, são bastante conhecidos. Agora, pesquisa inédita desenvolvida pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, por meio do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, vem trazer resultados sobre os impactos do HLB sobre as sementes dos porta-enxertos de citros, parte da planta que fica sob o solo, onde é feita a instalação da planta que origina a copa. Os estudos concluíram que o HLB impacta negativamente a produção de sementes dos dois principais porta-enxertos — o limão-cravo e o citrumeloSwingle — adotados na citricultura paulista. Juntos eles representam mais de 80% dos porta-enxertos dos pomares no Estado de São Paulo. “Não há transmissão de HLB por sementes, mas a doença tem impactos negativos na qualidade delas”, afirma o pesquisador do Instituto Agronômico, Fernando Alves de Azevedo.
Os resultados dessa pesquisa conduzida no IAC mostram perdas de 38% no peso total do fruto produzido por plantas contaminadas pelo HLB. O fruto sadio pesa 166 gramas, em média, já o doente chega a 115 gramas. A altura do fruto cai de 6,8 cm para 6,0 cm nos frutos contaminados. Esse conjunto de características torna os frutos imprestáveis para o comércio citrícola.
“Os resultados mostraram que os frutos de plantas com HLB apresentaram menor desenvolvimento em altura, diâmetro e massa devido ao entupimento dos vasos do floema pela bactéria causadora do HLB, reduzindo, dessa forma, o fluxo de seiva para os frutos”, explica Azevedo, que trabalha em parceria com a mestranda Marília Morelli e o pesquisador Helvécio Della Coletta Filho, também do IAC. De acordo com o pesquisador do Instituto Agronômico, os dois porta-enxertos sentem esses impactos negativos provocados pela doença. Porém, no citrumeloSwingle o HLB também faz dobrar o número de sementes inviáveis para uso. Enquanto plantas sadias abortam quatro sementes, as doentes perdem 7,75. O porta-enxerto de limão-cravo não apresenta queda na germinação.
Azevedo explica que a semente melhor formada perde menor volume de água para o ambiente, o que a torna mais vigorosa e mais resistente à entrada de patógenos. “A utilização de sementes de elevada qualidade é de extrema importância para o sucesso de uma cultura, pois estas geram plantas de alto vigor, que terão bom desempenho no campo com condições de tolerar situações de estresse biótico e abiótico”, acrescenta o pesquisador do IAC, vinculado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).
No Brasil, somente o Instituto Agronômico desenvolve este trabalho. No exterior há estudos sobre porta-enxertos, mas lá fora são adotados outros materiais. O limão-cravo, o mais usado nos pomares brasileiros, não é utilizado em nenhum outro país.
A pesquisa, desenvolvida no Centro de Citricultura “Sylvio Moreira” do IAC, em Cordeirópolis, interior paulista, teve início em 2013 e está em continuidade. Etapas futuras devem envolver investigação sobre a transmissão da doença via sementes. Os estudos contam com recursos do Governo de São Paulo, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e da Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola (FUNDAG).
Plantas assintomáticas são mais preocupantes
Uma constatação preocupante é a existência de plantas portadoras da bactéria do gênero Candidatus Liberibacter spp., porém sem sintomas de HLB. A presença da bactéria foi constatada por meio de análises moleculares, feitas pelos pesquisadores do Instituto Agronômico. A possibilidade da ausência de sintomas já é conhecida no meio científico. Sabe-se também que as perdas de qualidade são menores nas plantas assintomáticas. O principal problema na ausência de características da doença, segundo Azevedo, é o risco de haver produção de sementes a partir de plantas doentes, acarretando perda de qualidade nas mesmas.
Os sintomas mais frequentes no campo são ramos amarelados, frutos assimétricos, queda acentuada de frutos e produtos que não servem para o comércio. A bactéria causadora é transmitida por psilídeos ou enxertia com borbulhas doentes. Não existe ainda nenhum material resistente ao HLB.
Os pomares comerciais são instalados da seguinte forma: a reprodução do porta-enxerto — parte da planta que fica sob o solo — é feita por meio de sementes. A multiplicação da copa, parte alta da planta, se dá por meio de borbulhas.
As borbulhas são reproduzidas em ambiente protegido para evitar a contaminação pela bactéria causadora do HLB. Até o momento, não existe registro de contágio de sementes pelo agente causal da doença. Por isso, a legislação permite a multiplicação de sementes a partir de plantas matrizes instaladas em campo aberto.