A ferrugem asiática já não é o único motivo de preocupação. Com o aumento da incidência, um outro inimigo da lavoura começa a deixar o produtor em alerta.
As culturas de soja e algodão sem dúvidas são duas das principais que existem nos solos do Brasil. E se elas são importantes, o Estado de Mato Grosso se torna um dos lugares-chave para toda a produção e distribuição destas e de outras commodities. E para que isso aconteça com qualidade e eficiência, pesquisadores apontam os principais inimigos das lavouras na região. Com isso, as práticas corretas de manejo se tornam fundamentais para a saúde do campo.
Fabiano Siqueri, gestor do setor de proteção de plantas da Fundação MT, diz que a doença mais grave que atinge a soja, é a ferrugem. “Ela tem característica agressiva e se multiplica rapidamente”. Segundo ele, não existem variedades com perfil de ciclo e adaptação o suficiente que ajudem no controle. “Pode causar até 80% de perdas dependendo da época do ataque”, declara. Além disso, é uma doença que exige que o controle seja feito preventivamente e que no Mato Grosso encontrou seu habitat mais favorável, pois é muito quente e chove bastante.
Para complicar a vida do agricultor, existe uma dificuldade adicional que tem se visto nos últimos anos em relação a principal ferramenta de controle da lavoura, os fungicidas. “Aqueles lançados a mais tempo, a cerca de dez anos, tem apresentado queda na eficácia e nos preocupado bastante, porque a indústria não consegue acompanhar com novas opções”, diz Siqueri.
De qualquer forma o agricultor tem que realizar tais aplicações, pois além de lutar contra a ferrugem, por tabela acaba atacando outra doença tão importante quanto. Trata-se da mancha alvo. Apesar de ser considerada mais lenta, vem ganhando importância no cenário agrícola. “Por isso o controle com fungicidas é importante. Agrega-se às medidas já tomada contra a ferrugem”.
Siqueri comenta ainda que no MT há também a mela que é uma doença regional, com maior incidência na região do Araguaia e no norte do Estado, onde chove bastante. “Além disso, temos os nematoides que são considerados tipos de doenças e são levados bastante a sério pelos produtores”. O gestor diz que uma aliada do homem do campo para o combate é a rotação de culturas, principalmente no caso dos nematoides.
Segundo dados da Embrapa Soja, a rotação consiste em alternar, anualmente, espécies numa mesma área. As espécies escolhidas devem ter, ao mesmo tempo, propósitos comercial e de recuperação do solo. Um esquema de rotação deve ter flexibilidade, de modo a atender as particularidades regionais. Além disso, o uso da rotação de culturas conduz à diversificação das atividades na propriedade, possibilitando estabelecer esquemas que envolvam apenas culturas anuais, tais como soja, milho, arroz, sorgo, algodão, feijão e girassol, ou de culturas anuais e pastagem.
Ô praga chata!
Se as dores de cabeça em relação às doenças se concentram principalmente na ferrugem, uma praga também vem atrapalhando a vida do agricultor e interferindo em sua produção. É a mosca branca, que segundo a engenheira agrônoma e pesquisadora da Fundação MT, Lúcia Vivan, aumentou sua população desde dezembro do ano passado. “Isso está relacionado com o clima que ficou mais seco e com a infestação geral de cada região”. Lúcia diz os produtores que tem a plantação de soja entrando no processo de amarelecimento, conseguem escapar dos danos desta praga. Mas, os plantios mais tardios podem sofrer com essa população, principalmente a cultura que está em fase de enchimento de grãos. “Se ela receber uma população alta, pode perder produção. Temos estudos que a partir de 15 ninfas por folio pode causar queda de rendimento”, declara. Nota-se que muitas vezes o produtor não correlaciona essa redução de rendimento com a mosca, mas os estudos apontam que pode ocorrer.
Lúcia explica que no ataque, o inseto sugador, a ninfa, que a parte jovem dela, fica sobre a parte inferior da folha, sugando-a constantemente. “Isso faz com que se entre num processo de amarelamento mais rápido e por ser uma homóptera, acaba excretando uma solução açucarada”. Além disso, na folha, logo abaixo de onde está a mosca, há o desenvolvimento de um fungo chamado fumagina, onde a folha fica toda preta. “Nesse momento, perde-se área fotossintética da planta”.
O algodão não escapa
Um ponto que chama bastante a atenção é que onde há plantio de algodão, a mosca está. E, se desenvolve melhor do que na soja. “Nessa commodity o problema é mais sério, porque ela acaba manchando a fibra. Com isso, ocorrem problemas de produtividade e também de qualidade”, declara a pesquisadora.
Eduardo Kawakami, pesquisador da área de algodão da Fundação MT diz que está incidência de dá bastante em relação a colheita de soja. “Não tendo mais soja para se hospedar, a mosca migra para o algodão, que acaba servindo de ponte verde”. Segundo Kawakami, a praga tem causado bastante preocupação e gerado dificuldade no controle, porém, a tendência é que com início da chuva e a plantação crescendo um pouco mais, diminua a ocorrência. “É o que todos os produtores da região esperam e torcem para que aconteça”, declara. Nas áreas de algodão ocorre uma população maior e é importante fazer o manejo desta cultura, fazer a destruição de soqueira, evitar tigueras para não manter a praga lá. Mas, para o pesquisador, o maior problema está exatamente no controle. Por ter fluxo intenso, quando se termina de controlar uma população, uma outra vem no lugar. “Isso causa problema em relação a aplicação, pois toda semana você terá que fazer uma intervenção. Com isso, o custo de produção se eleva e pode afetar o desenvolvimento na cultura”, diz.
Combate e prevenção
Lúcia comenta que para vencer a mosca branca, há produtos químicos que vão fazer o controle, mas, o mais importante é o manejo com quebra de ciclo dessa praga, visto que ela tem uma infinidade de plantas hospedeiras. “Praticamente todas as culturas a hospedam bem. Vemos que plantas daninhas também tem uma manutenção dessa população, principalmente na juá-de-capote, erva de Santa Luzia, entre outras”. Com isso, se existem essas plantas durante todo o ano nas áreas produtivas, automaticamente haverá populações de moscas. “E, onde temos um clima mais propício a um surto, infelizmente ocorrerá com mais força em relação às áreas que foram manejadas”, diz a engenheira agrônoma.
Ela ressalta que é importante que se faça o monitoramento e que o produtor use os produtos devidos e específicos para que haja o controle mais assertivo. “Tem que colher a folha, observar se há infestação. Além disso, é importante que o controle seja regional”. Segundo Lúcia, não adianta um produtor fazer sozinho. “Se o vizinho não fizer, vai receber a migração nestas áreas e aí o problema irá continuar ocorrendo”, completa.
A palavra do produtor
Proprietário da Fazenda Estância Aparecida, localizada na cidade de Nova Mutum, a aproximadamente 260 km de distância de Cuiabá, MT, o produtor Pedro Roberto Pivetta Tissiani planta soja e milho safrinha. Ele declara que a mosca branca apareceu ano passado e foi feito uma aplicação que a controlou no final. “Já neste ano, está desde o começo em grande incidência”. Segundo ele, toda vez que aplica-se fungicida, também entra-se com produto para matar a mosca. “Não está sendo fácil, mas não diria que é um grande problema. Até agora estamos conseguindo controlar, sem dar danos a lavoura”.
Pivetta comenta que os dias de campo, como o realizado pela Fundação MT no mês de janeiro, em Nova Mutum são importantes para os agricultores. “Trabalha-se em cima de todos os assuntos. Desde do preparo do solo, até a colheita, passando por todos os estágios”.
Em cima disso, Fabiano Siqueri declara que o papel da entidade é ser uma espécie de balizadora do mercado. “Existe uma concorrência muito grande entre as empresas na necessidade de vender produtos. Com isso, o produtor as vezes fica confuso e não sabe qual produto e tecnologia utilizar”. Segundo ele, é neste momento que a Fundação entra e traduz para o homem do campo os resultados das pesquisas utilizando estes produtos. “Nossa missão é sermos honestos e claros com a classe rural”, finaliza.