Milton Rego, vice-presidente da Anfavea e vice-presidente da Câmara Setorial de Máquinas Rodoviárias da Abimaq desde 2007.
De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que representa as principais indústrias do segmento, os incentivos do governo federal impulsionaram o mercado doméstico.
Em entrevista à repórter Fátima Costa, o vice-presidente da entidade, Milton Rego, especialista no setor de máquinas agrícolas, afirma que a redução da taxa de juros da linha do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), do Finame, neste primeiro semestre está em 3% ao ano e subirá 3,5% (a.a), no segundo semestre, o que contribuirá com um saldo positivo para o setor também em 2013, apesar da redução nas exportações.
Revista Rural – Incentivos do governo federal impulsionaram o mercado doméstico de máquinas agrícolas em 2012. O resultado foi tão bom que o segmento já prevê por um 2013 positivo, exceto quanto à questão nas exportações. De fato, o que representou o ano passado para o setor?
Milton Rego – No mercado interno, podemos afirmar que 2012 representou dois anos em um só. Foi um ano até julho. Até naquele mês, as vendas de máquinas agrícolas, no acumulado do ano era negativo em comparação ao mesmo período do ano anterior. As vendas em tratores de rodas foram de janeiro a outubro numa escala de crescimento. Já no segmento de colheitadeiras, a partir de junho até dezembro, houve uma arrancada. Nota-se que, em maio foram comercializadas 148 unidades, ao passo que em dezembro, a Anfavea sinalizava um total de 1.063 máquinas, ou seja, uma alta de 618,24%. A grande mudança no setor ocorreu quando o governo federal anunciou, no final de agosto, a redução da taxa de juros da linha do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), do Finame. As taxas foram reduzidas de 5,5% para 2,5% ao ano. A redução veio em um momento em que havia uma boa rentabilidade nas principais commodities, soja e milho. A boa safra de verão brasileira e a seca nos Estados Unidos aqueceram o mercado aqui também. Com a capitalização, os produtores investiram pesado em mecanização. Tivemos os últimos seis meses do ano de 2012 ‘tirando’ o atraso dos primeiros seis.
Rural – Em março, durante reunião da Anfavea, a entidade mostrou números que apontaram para um novo recorde, em 2013. Foi isso mesmo?
Rego – As vendas internas de máquinas agrícolas no atacado em fevereiro apresentaram uma alta de 15%, sobre janeiro, e avanço de 26,9% ante o mesmo mês de 2012. Ao todo, foram vendidas 6,2 mil unidades, o que superou o recorde registrado no mês anterior, com 5,4 mil unidades. No acumulado do primeiro bimestre do ano, as vendas avançaram 24,7% sobre o mesmo período de 2012. As vendas de tratores atingiram 4,8 mil unidades, 23% a mais do que em janeiro e 24% mais do que no mesmo período do ano passado, totalizado em 3,9 mil unidades. As vendas de colheitadeiras em fevereiro somaram 846 unidades, se comparada com fevereiro de 2012 foram 534, um aumento de 52%. No acumulado de 2013, foram produzidas 11.607 máquinas agrícolas, ante 9.310, intervalo igual ao ano passado.
Rural – A Anfavea acredita que as vendas de máquinas no mercado interno continuarão em alta?
Rego – A tendência é que teremos um bom ano. Entretanto, é difícil traçar uma previsão do decorrer de 2013, mas não se prevê problemas envolvendo a saúde vegetal e nem grandes problemas climáticos. Os preços de algumas commodities continuam em alta. O Brasil ainda tem expectativa de alta na produção de alimentos. Se considerarmos os fatores positivos, teremos alguns anos muitos bons para todos os setores agrícolas. Em 2013, a Anfavea espera uma alta de 4,5% a 5,5% nas vendas. Esses números são muito bons considerando que, gradativamente, as máquinas agrícolas estão sendo substituídos por outras de maior potência, de maior tecnologia, ou seja, com perspectiva de maior produtividade.
Rural – A redução da taxa de juros do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) foi o fator fundamental para alcançar esses bons índices?
Rego – Sem dúvida. Nos últimos doze meses, a taxa de crescimento ficou em torno entre 5% a 10%, o que é muito bom e que está dentro das previsões da Anfavea. Hoje, a taxa de juros do PSI está redefinida para 3% a.a, na primeira metade de 2013 e para 3,5%, no segundo semestre, e é extremamente competitiva e fundamental para o setor. No ano passado, as vendas ganharam fôlego com a redução dos juros do PSI de 5,5% para 2,5% até dezembro. Mas, afirmo que o cenário geral é positivo para as grandes culturas, como soja e milho, com boa rentabilidade ao produtor, apesar dos relatos de seca na região conhecida como “Mapitoba”, que abrange parte de Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia. Este é o momento em que os produtores rurais estão investindo em mecanização, na renovação da frota de colheitadeiras e tratores.
Rural – Perante os resultados, o governo e o setor já debateram algo sobre a manutenção do PSI?
Rego – Ainda não. Na verdade, essas conversas iniciarão agora, uma vez que o governo, como faz todos os anos, envia para as principais entidades um pedido de sugestões para o próximo Plano Safra. A incorporação do PSI é fundamental. Apesar do governo, desta vez, anunciar a redução das taxas de juros ao longo dos doze meses, o que contribuiu para ajudar os produtores a se programarem. Entretanto, essa redução termina no final de dezembro, o que coincide com o final da colheita. Essa questão sempre foi uma demanda do setor e continuará sendo. Pedimos a incorporação dessa linha de financiamento dentro do Plano Safra, uma vez que é importante que isso seja feito dentro do ano agrícola e não no Ano-Calendário.
Rural – Falando um pouco sobre o mercado internacional. E as exportações?
Rego – As exportações de máquinas agrícolas em valores totalizaram US$ 255,5 milhões em fevereiro, um aumento de 27,5% na comparação com janeiro e uma alta de 2,8% quando comparadas com o mesmo mês de 2012. Em 2013, até fevereiro, as exportações em valores recuaram 21,3% ante os dois primeiros meses de 2012. Foram exportadas, ao todo, 989 máquinas agrícolas em fevereiro, alta de 21,1% sobre janeiro e recuo de 29,1% sobre o mesmo mês de 2012. No acumulado do ano, as exportações de máquinas agrícolas somaram 1.806 unidades, queda de 38,1% sobre o mesmo período de 2012. O que houve foi uma redução na demanda de máquinas em mercados desenvolvidos, como Estados Unidos e Europa, além dos problemas bilaterais com a Argentina, que continuam afetando as exportações.
Rural – Como está a relação comercial Brasil-Argentina?
Rego – Mesmo considerando o impasse das barreiras impostas pela Argentina, a América Latina continuará como principal mercado comprador de máquinas produzidas no Brasil. Os problemas com os argentinos não estão concentrados nas autorizações prévias para entrada dos produtos brasileiros no país vizinho, conhecida como importação juramentada, mas sim no crescimento significativo do mercado interno deles. Estamos perdendo mercado para a indústria argentina. Os produtores rurais daquele país estão bem, o custo da produção de grãos argentino são baixíssimos, quando comparado com os custos Brasil, e é o mais baixo do mundo. O Brasil e a Argentina estão discutindo um acordo sobre o setor automotivo, que previa teoricamente mercado livre para tratores e colheitadeiras brasileiros. Entretanto, na última reunião, não houve avanços.
Rural – Quais são os principais problemas enfrentados pelo setor?
Rego – A preocupação do setor é com a interrupção na aprovação dos pedidos de financiamento na transição entre o regulamento atual e o próximo modelo, o que provoca queda, nas vendas de colheitadeiras, no período das colheitas. Outro entrave é que, recentemente, tivemos o anúncio do aumento do preço do diesel que é mais um agravante para a agricultura que já enfrenta desafios logísticos e de custos para escoar a safra recorde de grãos 2012/2013. Tanto que o frete da safra de soja, em Mato Grosso, aumentou consideravelmente nos últimos dias. O próprio governo prevê que será um dos piores escoamento da safra de grãos, em virtude do crescimento da mesma, em comparação ao ano anterior. Outro fator são os investimentos logísticos que não estão maduros. Do ponto de vista de mercado de máquinas agrícolas, é neutra porque a rentabilidade do produto é muito grande, com exceção das culturas específicas, por exemplo, a citricultura e o sucroalcoeiro, mas em geral está muito bom.
Rural – Os custos de produção poderão aumentar?
Rego – A previsão é de aumento da renda agrícola. Mas, haverá também aumento de custo, de fertilizantes e outros insumos. Por outro lado, algumas commodities estão diminuindo e as rentabilidades atuais, de médio em longo prazo estão boas. Os produtores rurais estão comprando. E tem outro ponto importante também, há uma tendência na redução do tempo das práticas agrícolas, tempo de cultivo e colheita. E é justamente por termos cultivares mais precoce e uma ‘safrinha’ maior. Todos esses fatores fazem com que os produtores invistam em equipamentos maiores, o que vimos agora nos eventos e nas grandes feiras.
Rural – Importantes feiras já aconteceram pelo País, como o Show Rural Coopavel, em Cascavel (PR); a Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque (RS), e a Tecnoshow Comigo, em Rio Verde (GO). Mas, qual é a expectativa da Anfavea para a Agrishow 2013, já consolidada como a maior e mais importante feira do setor no Brasil e como uma das maiores do mundo?
Rego – Assim como as demais, a Agrishow é um dos mais importantes eventos que temos no País. Porém, a questão das vendas de máquinas e implementos agrícolas durante esses eventos está relacionada com a diminuição do fluxo de comercialização antes das feiras. Ocorre devido ao represamento das vendas que ocorre semanas antes da realização da Agrishow, maior feira do setor na América Latina, por exemplo. E quanto maior o evento, maior é a expectativa. Alguns clientes preferem postergar as compras para aproveitar as condições de financiamento mais atrativas que são oferecidas durante as feiras. Portanto, a nossa expectativa não é com relação às vendas, mais muito mais pelo fato das empresas estarem junto ao cliente e mostrar todo o seu portfólio. É difícil não falar em vendas, afinal esse é o termômetro das feiras, mas só isso não é importante. Elas se tornam muito mais uma vitrine de lançamentos, do que vendas e faturamento.