Especialistas apontam alternativas para os pecuaristas que inclui uma receita econômica, devido aos altos custos de produção, e que sustente os animas, seja no confinamento ou no pasto.
Todo criador gosta de ver a vacada sempre bem nutrida, se alimentando no pasto, que segundo especialistas, ainda é a fonte mais barata de fornecimento de comida aos bovinos na propriedade, principalmente, após a alta valorização dos principais grãos que começa a inviabilizar a terminação dos animais no cocho, obrigando os pecuaristas a retomar a produção 100% a pasto, de forma mais profissional.
Porém, neste momento, eis que surgiu a dúvida: o foco tem de ser em pastagens mais produtivas ou também em ingredientes mais baratos que possam oferecer o que os animais precisam? Qual a saída para sistemas intensivos ou semi-intensivos para a garantia de resultados sem perder de vista a viabilidade econômica do negócio?
Antes de qualquer coisa, na opinião do pesquisador Sérgio Raposo de Medeiros, da Embrapa Gado de Corte, apesar dos altos custos de produção, a pecuária é ainda um investimento seguro é sua liquidez é grande. Entretanto, a parte nutricional é o aspecto mais caro da produção, como reconhece o pesquisador. Segundo Medeiros, representa 70% dos gastos, com pasto e minerais. “Por isso, é muito importante que o pecuarista planeje bem o manejo da pastagem e dos animais para conseguir lucrar mais”, diz. Ele propõe que o pecuarista passe a enxergar a fazenda como uma empresa e que tome decisões baseadas em planilhas de custo e previsão de caixa.
“Ele precisa se profissionalizar porque cada vez mais ele está perdendo terreno”, afirma.
Neste caso, o pecuarista precisa prever quais serão os serviços oferecidos na fazenda naquele ano e qual deve ser a previsão de caixa, ou seja, qual mercado que ele vai vender. Outro fator está no “cocho”. O que o produtor tem que fazer é oferecer um bom pasto para o animal. Isso depende dele fazer bem a correção do solo, fazer corretamente a adubação, intensificar a produção intensificando a carga animal, e depois ele deve fazer o manejo de acordo com a exigência de cada categoria. “Nem todo animal tem a mesma exigência alimentar, ele precisa separar os animais em categorias”, afirma. “O gado bem alimentado também reproduz melhor porque o potencial reprodutivo está ligado à qualidade e quantidade de alimentos que o animal ingere”, diz.
A preocupação principal está no período seco do ano. Para isso, Medeiros sugere que entre as opções que o produtor tem à sua disposição está o tradicional consórcio entre a aveia e o azevém; o uso da cana-de-açúcar in-natura, ensilada ou hidrolisada e o cultivo da brachiaria ruziziensis, uma gramínea que se adaptou bem ao solo arenoso e que além de proporcionar o pastoreio direto do gado também contribui para manter um bom volume de palha sobre o solo no plantio direto, dentro do esquema de integração entre a pecuária e a agricultura. Assim, também em época de chuva escassa, o uso de suplementação alimentar é essencial para manter o gado saudável. Cana-de-açúcar e ureia, capim-elefante, leguminosas forrageiras, diferimento de pastagens e silagem, são algumas alternativas práticas e economicamente viáveis para nutrir os animais enquanto o tempo seco permanecer. “O produtor também pode fazer uso racional de alimentos regionais, como subprodutos agroindustriais. Em geral, eles são de baixo custo e de fácil aquisição e transporte. Contudo, têm como limitações o desconhecimento de sua composição química e valor nutritivo, além de problemas de armazenamento, de conservação e de disponibilidade ao longo do ano”, reforça.
De acordo com o pesquisador, especialista em nutrição, o produtor precisa saber quantos animais alimentará na seca, qual seu peso aproximado para essa época e por quanto tempo deverá ficar sem chuvas, lembrando que cada UA (unidade animal, 450 kg de peso vivo) come cerca de 10 kg de matéria seca por dia. “Com esses dados, o pecuarista poderá avaliar se é melhor reduzir o rebanho ou optar por uma das alternativas para produzir alimento”, diz.
Daí, respondendo a questão por qual sistema ser adotado, sistema intensivo, semi-intensivo ou confinamento para a garantia de bons, ele menciona que o confinamento também pode ser usado como uma boa ferramenta para se ter comida no período da seca, com a produção de silagem de milho no período das águas. O pecuarista que utiliza a reserva de feno em pé é o perfil ideal para o confinamento estratégico, pois no confinamento estariam animais em terminação em período de entressafra. “O confinamento possibilita melhor distribuição da renda, garantindo a entrada de dinheiro em período que normalmente não entra”, diz.
Economia de espaço e tempo
Na opinião do veterinário Leonardo Souza, sócio-diretor da Qualitas Agronegócios, o maior problema da pecuária brasileira ainda se refere ao manejo nutricional do gado. “No ano passado, o farelo de soja e o milho, principais ingredientes do confinamento, bateram cotações exorbitantes, encarecendo um pouco mais essa terminação. O custo da engorda no confinamento chegou a R$ 100/@. Sabemos que ele é estratégico para a produção, principalmente, no período das secas, entretanto, com os altos custos muitos optaram pelo pasto”, diz.
Ao lado, do zootecnista Émerson Moraes, Souza criou o Sistema Nelore Qualitas de Produção. “A nossa intenção não é alcançar as 20@, mas sim, abater os animais com 20 meses a pasto. Pois é isto que permite alcançar um desfrute de 35,7% no rebanho. É isto que faz com que a fazenda passe o período da seca [no qual ele se refere entre os meses de junho a novembro] somente com matrizes prenhes e animais desmamados, adequando a lotação à capacidade de suporte dos pastos no período de menor produção de forragem”, explica. “Sabemos que aumentar o peso de abate para 20@ e ao mesmo tempo diminuir a necessidade de suplementação para alcançar este peso, só ocorrerá para aqueles que melhorarem geneticamente os seus rebanhos”, diz.
Segundo Souza, identificar os animais com maior ganho de peso, mas que necessitam de menos alimento para alcançar este ganho já é uma realidade há três anos, quando os sócios do programa implementaram em parceria com a Universidade Federal de Goiás um Centro de Avaliação de Eficiência Alimentar. “Os 120 melhores touros produzidos a cada ano são avaliados para ganho de peso e consumo de alimentos, para identificar os animais que conseguem produzir uma arroba com o menor custo possível. Ao final do teste os 10 melhores animais têm seu sêmen coletado e utilizado nos rebanhos participantes. Com isso multiplicamos a genética para tornar os animais mais eficientes, reduzindo os custos de produção”, afirma. “Concluímos que o sistema é uma opção para modificar drasticamente a produtividade, eficiência e o resultado financeiro da pecuária. E que o melhoramento genético é um importante fator para consolidar a sustentabilidade de uma das atividades econômicas mais importantes no Brasil”, explica.
O programa propõe trazer um modelo de criação, sem a necessidade do confinamento. “Pensamos em produzir a pasto, um novilho precoce com até dois anos de idade. Criamos o desafio para terminá-los com 20 meses e com 20@ [a pasto] com suplementação. Mas, sem o conceito de suplementação tão pesada. A intenção é explorar ao máximo a pastagem”, diz.