Pecuária

Leite: a multiplicação leiteira

Projeto idealizado pelo Laticínios Bela Vista, em parceria com o Senar/GO, comemora bons resultados aos estímulos à cadeia produtiva leiteira e a capacitação de mão de obra no campo.

A cadeia leiteira no País, um dos segmentos do agronegócio que mantém o espaço para os pequenos produtores, evoluiu de forma significativa nos últimos 30 anos, mesmo perante a grande instabilidade de preços do produto. O compromisso do pecuarista em melhorar todo o processo de produção, provavelmente um dos mais delicados e complexos da atividade rural, surtiu efeito e vem sendo acompanhada por uma verdadeira transformação silenciosa, mas não menos importante no campo.

O estímulo para as mudanças aconteceu também, tudo graças às parcerias e muitos projetos distribuídos pelo País. Em São Paulo, um deles melhorou a vida de muitos produtores.

Em parcerias com a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), Embrapa Pecuária Sudeste e outras entidades, o chamado “Viabilidade Leiteira na Agricultura Familiar”, depois batizado de Cati Leite – Desenvolvendo São Paulo, que teve início em 1999, – atendeu aos pequenos produtores, que passaram por treinamento, tiveram uma assistência técnica garantida e aprenderam princípios de gestão sem custo algum.

O projeto serviu de modelo para outros que brotaram pelo País. Um deles foi o programa chamado de “Piracanjuba Pró-Campo”. Há dois anos, o Laticínios Bela Vista, detentor da marca Piracanjuba, uma das principais indústrias de laticínios do País encabeçou o projeto que apoia, orienta, capacita e treina os produtores de leite e funcionários das propriedades rurais, bem como associações ligadas ao segmento da produção leiteira. Com a parceira do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) Goiás, o programa estabelecido em Bela Vista de Goiás, a 45 quilômetros de Goiânia, comemora os bons resultados. Nos últimos anos, promoveu o treinamento de 1.116 pessoas e recebeu 2.156 pessoas em eventos realizados, como Dias de campo, visitas e excursões técnicas. “O objetivo é resolver um antigo problema da cadeia leiteira brasileira e os seus gargalos, como falta de mão de obra especializada, baixa produtividade do rebanho e alto custo de produção. Com o ‘Piracanjuba Pró-Campo’ colaboramos para a mudança desse cenário”, afirma Luiz Magno de Carvalho, diretor de Expansão da Piracanjuba.

Consequentemente, de acordo com ele, a finalidade é também de melhorar a renda e a vida de cada um dos produtores, além de priorizar a qualidade da principal matéria-prima: o leite. “Percebemos, com o tempo, que além da procura, havia uma necessidade de ampliar o leque e levar a teoria à prática. Quando se falava de algumas técnicas, como o pastejo rotacionado, muitos produtores não compreendiam esses termos. Foi preciso mostrá-las”, explica Carvalho.

A partir disso, foram oferecidos aos produtores toda assistência técnica gerencial, redução de custos, melhoria genética, da alimentação, da sanidade e da gestão de negócios. “Eles aprendem na prática durante uma semana de treinamento. De segunda à quinta, eles realizam toda a rotina de uma fazenda. No restante dos dias, eles aprendem técnicas, como a inseminação artificial”, diz.

E é no Centro de Apoio Técnico ao Produtor de Leite que o produtor tem uma estrutura de apoio para cursos e palestras: salas para aulas práticas e teóricas, alojamentos, refeitórios, animais, além de instrutores altamente qualificados, ligados ao Senar/GO. “O principal desafio é que estamos atraindo os filhos dos produtores para a atividade leiteira. A intenção é reduzir de alguma forma o êxodo rural. Já que, segundo pesquisas, 60% dos filhos não pretendem continuar a atividade agrícola de seus pais”, conta Marcelo Costa Martins, superidentente do Senar.

Um desses personagens é o produtor Rogério Takeda. Filho de produtor, há um ano ele fez o curso de inseminação artificial. Logo depois, se inscreveu no curso de bovinocultura. Na sua propriedade, Santa Terezinha de Pedra, no município de Bela Vista de Goiás, a produção já demonstrou melhorias significativas. “Atualmente, são de 1.800 a 2 mil litros/dia. Temos ao todo 250 cabeças, entre bezerras, novilhas e vacas. Os números obtidos hoje são resultados de uma melhoria genética e de um trabalho de treinamento de mão de obra”, diz Takeda.

Para o produtor, após os treinamentos também pode perceber uma melhoria no trato com os animais e, consequentemente, melhoria na qualidade do leite. “Até a inseminação artificial passou a ser utilizada de forma mais eficaz”, afirma.

A quatro mãos

Luiz Magno de Carvalho, diretor de Expansão da Piracanjuba, explica que uma das etapas do projeto, a assistência técnica, está à disposição dos parceiros dos Laticínios Bela Vista, mas qualquer um pode participar. “Acreditamos que aquele produtor que está na concorrência, pode um dia voltar a trabalhar conosco”, explica Carvalho.

Para que outros aproveitem à disponibilidade dessa assistência e aqueles que estão inseridos aprendam a “pescar” sozinhos, o custo varia de acordo com a produção mensal de leite do produtor assistido, sendo que o Laticínios Bela Vista subsidia uma parte desse custo. Esse subsídio decresce a cada ano (40% no 1°ano, 30% no 2° ano, 20% no 3° ano e 10% no 4° ano). Assim, a partir do 5° ano, o produtor já tem condições, com as melhorias alcançadas, de manter a assistência técnica sem a ajuda da empresa.

É importante destacar que o técnico faz uma visita mensal na propriedade assistida. “Na ocasião, ele avalia o resultado da visita anterior, faz a programação do dia e planeja as atividades do mês seguinte. É ele quem orienta o produtor no controle de suas atividades, como custos de produção, índices de fertilidade, produção de alimentos, sanidade dos animais, recria de bezerras, entre outros”, explica Carvalho.

Com relação aos cursos, todos são gratuitos e as despesas com instrutores, alimentação e alojamento são custeadas pelos parceiros: Laticínios Bela Vista e Senar/GO. “Optamos por levar os nossos treinamentos, conforme a realidade de cada grupo de produtores. Hoje, as ações promovidas dentro do projeto ‘Piracanjuba Pró-Campo’ acabou sendo uma referência no Estado de Goiás”, conta Martins.

Atualmente, o programa é constituído de 14 grupos de assistência técnica, localizados nas regiões de Piracanjuba, Pires do Rio, Bela Vista de Goiás, Nerópolis, Anápolis, Aragoiania, Edéia, Indiara, Itaberaí, Itapuranga, Buriti, Vianópolis – todos no Estado de Goiás – e Santa Vitória e Iraí de Minasem Minas Gerais, totalizando 319 produtores assistidos.

Um pouco de tudo

O Centro de Apoio Técnico ao Produtor de Leite trata-se de uma propriedade rural, uma espécie de fazenda-escola, composta de um Centro de Treinamento de mão de obra, de uma Unidade Demonstrativa de Produção de Leite, de uma Unidade de Recria e Venda de Touros reprodutores de raças leiteiras, além da Unidade de Responsabilidade Socioambiental e Unidade Laboratório de Biocarrapaticidograma.

Marcelo Martins, do Senar, lembra que o projeto conta com as parcerias das Embrapas e com as Secretarias de Meio Ambiente. “Elas nos auxiliam em novos projetos dentro do programa, como exemplo, o consórcio do sistema de silvipastoril, com implantação de eucaliptos, magnos, entre outras espécies. A recuperação de áreas degradadas também estão inseridas no projeto”, reforça Carvalho.

Outra vantagem dentro do “Piracanjuba Pró-Campo” está a disponibilidade de financiar animais. “Para melhorar o rebanho do produtor, ajudamos com o financiamento do gado Holandês. Há conosco touros de alta linhagem e nos repassamos esses produtos”, explica.

Cursos com certificados

Os cursos disponibilizados atendem às necessidades das diversas áreas da pecuária de leite. Os principais treinamentos são: Bovinocultura de Leite e Inseminação Artificial de Bovinos, oferecidos durante três semanas por mês. São disponibilizados aos produtores (divididos em grupos de 15 a 20 participantes) assistência de um técnico de nível superior (veterinário, zootecnista ou agrônomo), bem como uma central de processamento de dados para auxiliá-los no gerenciamento de dados zootécnicos e financeiros de cada propriedade. Após realizar o treinamento, os alunos são avaliados e, conquistando o aproveitamento necessário, recebem os certificados, que são emitidos pelas entidades parceiras.

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