Dados do Informa Economics mostra que o crescimento da indústria de micronutrientes vem sendo de 10% ao ano, na última década. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo) somente esse setor gira em torno de R$ 2 bilhões ao ano, embora não existam números precisos sobre o segmento que só cresce no País.
Em entrevista à repórter Fátima Costa, Ricardo Pansa, presidente da Nutriplant, fabricante de micronutriente e adubos especiais, explica sobre essa tecnologia, que avança na agricultura, aumenta a produtividade agrícola e cria novas oportunidades de negócios.
“Claramente os preços internacionais das commodities agrícolas e o clima na maior parte do Brasil contribuíram favoravelmente para a indústria de insumos agrícolas em geral”
“Nos últimos anos, os produtores tiveram acesso a insumos competitivos, que permitiram aumentar suas margens e incentivaram a investir em tecnologia e aumentar a área plantada”
Revista Rural – Nos dias de hoje, em que se fala tanto em agricultura moderna aliada a sustentabilidade, é possível realmente disponibilizarmos de tecnologia que melhorem a produtividade agrícola e reduza os impactos sobre o meio ambiente?
Ricardo Pansa – O maior benefício ao meio ambiente relacionado ao desenvolvimento de tecnologia da agricultura é o aumento da produtividade. Maior produção agrícola na mesma área implica menor uso de recursos finitos, como água, energia e nutrientes a terra arável.
Rural – Falando agora sobre os micronutrientes, o uso desses produtos contribui de fato para melhorar a defesa vegetal e o equilíbrio da nutrição das plantas, como se fossem vitaminas? Estima-se que eles podem elevar a produtividade em cerca de 10%, a partir de um custo adicional inferior a 1%. De que forma isso ocorre?
Pansa – Da mesma forma que uma criança precisa de todos os nutrientes para se desenvolver, uma planta também precisa. Quando fornecemos os nutrientes na forma e no momento que as plantas são capazes de absorvê-los, elas respondem com maior produtividade. O Brasil tem vantagens comparativas para produzir grãos, fibras, frutas e outras culturas de maneira competitiva. Temos sol e chuva em níveis excelentes, mas nossos solos precisam de minerais e corretivos, principalmente, nas fronteiras agrícolas. A fina sintonia em nutrição é a chave para explorar todo o potencial genético das plantas.
Rural – O senhor acredita que a maior renda dos produtores brasileiros deverá ser um estímulo adicional para um consumo destes fertilizantes especiais?
Pansa – A relação entre e investimento é direta. Apesar de o produtor ter uma clara percepção dos benefícios da melhor nutrição de suas culturas, quando a renda diminui – seja em razão de preços baixos ou de clima adverso – sua capacidade de investimento cai. Apesar disso, percebemos que nos últimos anos, os produtos relacionados a especialidades em nutrição de plantas, têm deixado de ser “desejáveis” para tornarem-se ‘indispensáveis’ no pacote tecnológico dos produtores. Temos percebido que a renda, ainda que importante, não tem impactado tanto o consumo de produtos que se tornaram parte da “cesta básica” utilizada no plantio. Uma evidência disto é a pesquisa recente preparada pela Informa Economics, uma consultoria econômica, que estimou o crescimento destes produtos, entre 8% e 12% a.a. nos próximos anos.
Rural – Podemos afirmar que para as indústrias do setor o ano de 2012, com o resultado da supersafra e a demanda alta pelas exportações, foi positivo?
Pansa – Claramente os preços internacionais das commodities agrícolas e o clima na maior parte do Brasil contribuíram favoravelmente para a indústria de insumos agrícolas em geral, defensivos, sementes, adubos ou nutrientes.
Rural – Dados da Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo) apontam que somente o mercado de micronutrientes gire em torno de R$ 2 bilhões ao ano, embora não existam números precisos sobre o segmento. O aumento médio da produtividade é de 7% a 10%, mas pode ser muito maior dependendo do nível tecnológico do produtor? Isso realmente é possível?
Pansa – O potencial de crescimento neste segmento é muito grande, em especial por causa da baixa taxa de utilização destes produtos na maior parte das culturas. A tecnologia e o resultado do uso destas especialidades são comprovados. O crescimento da demanda por estes produtos não vem apenas do crescimento da área plantada, que tem crescido taxas próximas de 2% a.a., mas principalmente do aumento da taxa de utilização. Agricultores que não conheciam os benefícios trazidos pelos produtos, passam a utilizá-los na medida em que conhecem melhor os resultados. Uma das principais oportunidades de crescimento da indústria está na educação dos produtores sobre os benefícios do uso destes nutrientes especiais.
Rural – Qual é o retrato do mercado de micronutrientes para o agronegócio brasileiro?
Pansa – O segmento de especialidades em nutrição de planta é mais abrangente que o descrito como “micronutrientes”. Este segmento de “especialidades em nutrição” inclui produtos de alta tecnologia para incrementar a produtividade que vão muito além dos minerais habitualmente conhecidos como micronutrientes. O agronegócio vê positivamente o crescimento desta categoria de produtos, já que ela traz valor para o produtor rural, para a distribuição e incentiva o desenvolvimento de tecnologias inovadoras. Essas tecnologias permitem ao agricultor competir no mercado internacional, diminuir riscos de perdas por estiagens, aumentar a eficiência do uso de defensivos e adubos, e ainda reduzir a pressão por maior área plantada. Isto tudo é bom para o agronegócio.
Rural – Mesmo com supersafra e produtividade elevada, os produtores apontam que o custo de produção ainda é o principal entrave da produção. Na opinião da indústria o que se pode mudar para que os insumos não sejam os vilões da produção?
Pansa – A produção de grãos tem crescido anualmente. A rentabilidade do agricultor tem aumentado e o nível de investimento na agricultura também – tudo em razão de boas safras e preços altos. Nos últimos anos, os produtores tiveram acesso a insumos competitivos, que permitiram aumentar suas margens e incentivaram a investir em tecnologia e aumentar a área plantada. A demanda por insumos naturalmente aumenta neste cenário. Por outro lado, na medida em que novos investimentos feitos no setor de insumos nos últimos anos transformem-se em aumento na oferta, é possível que os preços destes insumos se ajustem. Por enquanto, é importante que os produtores racionalizem a utilização de insumos para garantir um equilíbrio entre tecnologia agronômica, que implica em investimento, e produtividade, que resulta na sua renda.
Rural – Hoje quais são as oportunidades no mercado agrícola brasileiro?
Pansa – A principal oportunidade no mercado brasileiro é construir em cima da base que já está aí. Como empresa o nosso principal desafio é multiplicar o sucesso que temos em diversas culturas, e replicar os mesmos resultados em novas regiões. Outra oportunidade é introduzir os produtos que temos desenvolvido junto a clientes nos últimos anos nestes mesmos mercados. Foi este processo de contínua inovação que trouxe para a empresa a reputação e credibilidade que a empresa vem cultivando nos últimos 33 anos.
Rural – Recentemente, a empresa fez uma reestruturação com foco em micronutrientes foliares e outros produtos para nutrição de plantas, considerados mais rentáveis. Por que vocês tomaram essa decisão?
Pansa – Existem muitas novas frentes de desenvolvimento tecnológico em nutrição e manejo. Acreditamos que especialidades em nutrição de plantas, que incluem defensivos biológicos, fitohormônios, ácido húmicos e fúlvicos, extratos de algas e aminoácidos, são algumas das linhas que podem trazer maior benefício aos nossos clientes. Por isso, decidimos focar nestas linhas de produtos de maior tecnologia associando à assistência técnica.
Rural – Dentro desta reestruturação, a companhia apostou em um projeto que tem o apoio da Financiadora de Estudos e Projetos e consiste no uso de tecnologia para aproveitamento de resíduos da indústria de fertilizantes. Desde 2008, o projeto, realizado pela subsidiária da companhia, a Quirios, transforma o excesso de flúor proveniente dos fertilizantes fosfatados em insumo para indústria de alumínio e de borracha. Como se dá esse processo?
Pansa – Desenvolvemos um processo único no mundo para produção de sílica precipitada usada em pneus “verdes” e flúor para redução de consumo de energia na produção de alumínio metálico. Os pneus verdes têm menor resistência à rolagem e permitem que veículos consumam até 5% menos combustível. Por outro lado, fabricantes de fertilizantes fosfatados – como Anglo American (Copebrás), Vale (antiga Fosfértil) e Galvani – produzem, junto com seus produtos, materiais contendo flúor. Este material não tem demanda, e pode se tornar um passivo ambiental importante para essas empresas. A solução desenvolvida pela Nutriplant é a ambiental e comercial mais interessante para destinação adequada do flúor produzido junto com os fertilizantes fosfatados.
Rural – Quais são os principais mercados que a empresa atua?
Pansa – Atuamos em nível nacional. Estamos presentes em todas as regiões agrícolas relevantes do País, desde áreas tradicionais até as fronteiras agrícolas. Operamos também em todas as culturas, seja grão como soja ou milho, fibras, como algodão, frutas para o mercado nacional e exportação, além de hortaliças nos cinturões verdes das cidades.
Rural – Quais são as expectativas para a companhia em 2013?
Pansa – Continuamos focados em nossa missão de maximizar a rentabilidade de nossos clientes por meio do desenvolvimento de tecnologia agronômica. Pretendemos continuar desenvolvendo produtos novos e estamos olhando para produtos interessantes na área de produtos biológicos para proteção de plantas. Além disso, desejamos ampliar nossa distribuição, aumentando nossa participação de mercado por meio de diferenciação e prestando bons serviços aos nossos clientes.