Agricultura

Pulverizando com consciência

A tecnologia e um bom sistema de controle de pragas nas lavouras de soja tornam-se, importantes aliados dos produtores rurais.

Os produtores das lavouras de soja a cada dia mais vêm se preocupando com os cuidados de sua plantação em relação aos tipos de praga que podem danificar a mesma.

Grande parte dos tratos fitossanitários estão baseados num sistema de aplicações de defensivos através das pulverizações na plantação. O setor passa atualmente, por um momento importante para o melhor estabelecimento do controle da lavoura de soja. O que e quando pulverizar, como fazer o monitoramento adequado da lavoura e que procedimentos são necessários para se fazer uma leitura mais adequada sobre a eficiência do controle das pragas, são questionamentos fundamentais na hora de tratar a lavoura e não deixar que as doenças da soja a estraguem.

A soja é uma cultura com teores elevados de proteína (39%) e de óleo (18%) e alimento de qualidade para pragas e patógenos. A continuidade de produção depende de diversidade de cultivares, de rotação de culturas e de produção de biomassa nos períodos de outono e inverno. A combinação de práticas de diversificação com o estímulo à produção de biomassa para supressão biológica são fatores básicos fundamentais para garantir altos rendimentos. Com isso, a aplicação de agroquímicos deve ser considerada uma atividade complementar de proteção de plantas e não a única ferramenta de sanidade.

As associações e empresas que trabalham diretamente com a produção de soja ou de seus defensivos vêm oferecendo aos interessados diversos programas e cursos orientando produtores rurais e aplicadores de agrotóxicos sobre as noções básicas de boas práticas agrícolas e aplicação dos defensivos. A maioria destas aulas seguem o modelo básico de ensinar os conceitos da responsabilidade na aplicação, informações sobre Inspeção Periódica de Pulverizadores (IPP), boas práticas de pulverização e uso correto dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).

Entre estes projetos, encontra-se, por exemplo, o Soja Plus (Programa de Gestão Socioambiental da Propriedade Rural Brasileira), realizado entre a Associação de Produtores de Soja (Aprosoja) e seus diversos parceiros. Este curso estabeleceu uma série de critérios de gestão que poderão garantir ao produtor de soja a melhoria contínua da produção de sua plantação segundo requisitos de desempenho ambientalmente corretos e economicamente viáveis. Entre as ações do projeto constam capacitação do produtor rural por meio de assistência técnica e educação ambiental e o monitoramento das melhores práticas agrícolas na propriedade.

Os métodos de controle de pragas e pulverização tem que ser estudados, pois variam de uma plantação para outra, já que há diversos tipos de pragas e insetos que podem estragar a lavoura causando praticamente todos os tipos de danos. E mesmo que embora esses insetos tenham suas populações reduzidas por predadores, parasitoides e doenças, quando atingem populações elevadas, capazes de causar perdas significativas no rendimento da cultura, necessitam ser controlados. Por isso, o produtor de soja sempre tem que se lembrar de que a apesar dos danos causados na cultura da soja ser, em alguns casos, alarmantes, não se é indicado a aplicação preventiva de produtos químicos, pois isto poderá causar um problema de poluição ambiental. Além disso, pode haver a aplicação desnecessária ou não estudada, o que fará elevar os custos da lavoura e contribuir para um desequilíbrio também a nível ambiental. Especialistas do assunto dizem que não há uma fórmula mágica, e que é preciso entrar na lavoura, observar seu desenvolvimento e examinar os sintomas das principais doenças.

Um destes especialistas é o Presidente do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), José Otávio Menten, que expõe sua opinião dizendo que a resistência de pragas a defensivos agrícolas é um problema que pode ser evitado ou reduzido através do uso correto, como alternância ou mistura de produtos com mecanismos de ação diferentes, e seguindo a dose que consta na bula, para aplicar apenas quando houver necessidade. “Para que tudo isso aconteça, o monitoramento requer o acompanhamento frequente da população das pragas presentes na lavoura e/ou das condições ambientais favoráveis ao estabelecimento e desenvolvimento das pragas. Para cada praga existe um procedimento adequado para a avaliação do momento certo de fazer a aplicação dos defensivos”, declara.

Menten relata que a utilização da tecnologia é muito importante e fundamental na hora de pulverizar a lavoura. “A tecnologia é essencial para o manejo de pragas por qualquer método, incluindo o químico. É necessário a correta identificação da praga, a escolha dos produtos adequados, a definição da época da aplicação, executar a aplicação sob condições ambientais favoráveis e utilizar equipamento calibrado e regulado”, cita o Presidente do CCAS.

Preocupado com o meio ambiente, ele diz que a utilização destes produtos requer cuidado para não atingir o ar e poluí-lo. “É necessário respeitar a dose de registro do produto e utilizar o volume de calda correto, para que os alvos sejam atingidos, evitando ao máximo a deriva do produto”. Menten comenta ainda que o CCAS sempre divulga através de seu site (www.agriculturasustentavel.org.br) a necessidade da utilização de todo conhecimento disponível, para que todos os métodos de manejo de pragas desenvolvidos pela pesquisa sejam utilizados. Além disso, a entidade defende o Manejo Integrado de Pragas, adotando diversas medidas simultaneamente ou em sequência, para que o manejo de pragas seja sustentável.

Dirceu Gassen, um dos membros do CCAS concorda com as definições de Menten e diz que é importante lembrar que os inseticidas, fungicidas e herbicidas tem a função de matar insetos, patógenos e plantas daninhas. Esses produtos tem a função de proteger as plantas cultivadas, entretanto, não aumentam a produção. Eles garantem a qualidade e o potencial de rendimento planejado com a eficiência na adoção de boas práticas nos processos de semeadura, fertilidade do solo, espaçamento, densidade, época de semeadura e o planejamento de sistemas de produção. “Alguns fungicidas têm características de estimular o vigor das plantas e melhorar os processos fisiológicos. Essas características permitem a opção de escolha de produtos, mas não devem ser o objetivo da aplicação na lavoura. A aplicação de produtos fitossanitários tem o objetivo de proteção contra agentes que causam danos às plantas cultivadas. Proteger contra perdas e garantir a produção em quantidade e qualidade da soja”, explica.

Para Glauber Silveira, Presidente da Aprosoja Brasil, hoje não há espaço para amadores na agricultura. Os produtores de soja e milho são especializados e utilizam equipamentos de média a alta tecnologia. “Nas áreas menores se usa pulverizadores terrestres que chegam a cobrir 600 ha/dia. Mas, quando chegamos as grandes áreas, a necessidade de aplicação é rápida e a pulverização destas áreas é a mais viável, pois se pode fazer o mesmo trabalho do pulverizado terrestre em apenas seis horas, chegando a cobrir 1.500 ha em um dia”, declarou. Ele diz ainda que é impossível controlar as principais pragas e doenças da soja sem o uso desta tecnologia e que talvez em um futuro próximo possa-se reduzir bastante com a biotecnologia, pois as plantas serão resistentes à boa parte destes fungos causador das pragas e doenças.

Silveira também ressaltou, assim como José Menten, a importância de se aplicar certo os produtos de controle ás pragas da soja. “A dose da bula já está ajustada. Na verdade, o que o produtor precisa é cuidar das condições de aplicação. Regular bem o pulverizador, evitar a aplicação com vento acima de 10 km/h, não aplicar na eminência de chuva que lava o produto, nem em períodos de calor intenso do dia que aumenta a evaporação das gotas, reduzindo a eficiência do produto”, explicou.

Por fim, numa esfera econômica, Dirceu Gassen aponta um dado do qual mostra que o momento certo de aplicação deveria, sempre, ser definido com base na identificação correta das espécies, na amostragem das populações e no conhecimento da biologia das espécies alvo. Entretanto essa lógica poucas vezes é adotada, principalmente, pela falta de serviços de amostragem e monitoramento, desconhecimento sobre as pragas, doenças e plantas daninhas e pelo baixo preço relativo dos agroquímicos. A dose de alguns inseticidas e herbicidas tem preço equivalente a quatro quilos de soja por hectare. Diante dessa realidade é difícil determinar o nível de dano econômico para tomar a decisão de controle.

“No passado, a aplicação de produtos químicos nas lavouras tinha base no custo em relação ao benefício gerado. Hoje em dia, é necessário incluir aspectos relacionados a sócio-eco-eficiência da aplicação de produtos fitossanitários. A ética, o impacto sobre a fauna benéfica e os riscos de seleção de populações resistentes ou de desequilíbrios que propiciam o aumento de pragas secundárias, devem ser consideradas nas decisões de controle de pragas. Para isso há necessidade de qualificação contínua de profissionais de assistência técnica e agricultores, em boas práticas agrícolas, entre elas o uso de produtos fitossanitários”, declara Gassen que concluiu dizendo em relação a tecnologia que, a evolução nos equipamentos de aplicação com o controle de tráfego e fechamento ou abertura de bicos com base em controle via GPS é muito importante para garantir a cobertura de toda área e para evitar a sobreposição indesejada nas aplicações.

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