Pecuária

Girolando: genética democrata

Com o nome de “Rebanho Colaborador”, parceria entre associação e produtores está ajudando a disseminar a boa genética da raça Girolando pelo País.

No início do mês de setembro, no município de Pouso Alto, a 422 quilômetros da capital mineira, a vaca Sol bateu o recorde nacional de produção de leite durante concurso em Paracatu, no noroeste de Minas Gerais. A vaca da raça Girolando, que está avaliada em R$ 200 mil, produziu uma média de 104 litros de leite por dia, durante os três dias do torneio. A Associação Brasileira de Criadores de Girolando reconheceu a marca como recorde nacional.

Porém, ela não foi única a alcançar um bom índice. Em maio deste ano, a “Campeã de Cabanha”, um animal girolando, de uma fazenda em Capetinga, a 419 quilômetros da capital mineira, bateu o recorde mundial de produção para a raça. Em um ano, a vaca produziu 24.481 quilos de leite, que foi captado durante um período de 12 meses, com ordenhas acima dos 67 quilos/dia.

Os recordes de produção, um seguido do outro, vêm ocorrendo e, segundo a associação, graças ao Programa de Melhoramento Genético da Raça Girolando, implantado desde 2007. Parceria entre a entidade e a Embrapa Gado de Leite, o programa tem identificado e selecionado touros geneticamente superiores para características de produção de leite, manejo e conformação. Vale ressaltar que a raça Girolando surgiu do cruzamento da raça gir, que é zebuína, com a holandesa, que é europeia. Do Gir, os animais herdaram a rusticidade e a resistência ao calor. Da holandesa, veio a boa capacidade leiteira.

Para auxiliar nos resultados gerados pelo programa de melhoramento e para expandir o crescimento da raça pelo País, a associação decidiu pela doação de sêmen de touros provados. A prática, que recebeu o nome de Rebanho Colaborador, já está ajudando a muitas pequenas e médias propriedades.

Na cidade de Córrego Danta, a 230 quilômetros da capital de Minas Gerais, nos próximos três anos, diversos criadores locais estarão recebendo gratuitamente doses de sêmen de touros Girolando, raça responsável por 80% do leite produzido no País. A intenção é aumentar a produção em até 70% dessas fazendas. A primeira bezerra oriunda do material genético doado nasceu no dia 27 de junho, na fazenda Água Benta, no próprio município. Lá, o projeto foi desenvolvido em parceria com a Secretaria Municipal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento e a associação. Além de distribuir doses de sêmen gratuitamente, o projeto disponibiliza um técnico para a execução das inseminações artificiais e todo material necessário para inseminar as fêmeas do rebanho municipal.

De acordo com os dados da associação, a parceria distribuirá 710 doses de sêmen para inseminação de 240 matrizes de 19 fazendas. A Girolando doou 70% das doses e a prefeitura contribuiu com 30%, além do fornecimento do botijão para armazenamento do material genético e da assistência técnica.

Deste o início do ano, a Girolando distribui pelo País 11 mil doses de sêmen de touros integrantes do 13º grupo da prova, que estão sendo avaliados geneticamente pelo teste de progênie. A proposta é que cada vez mais os touros sejam testados e provados e se amplie em todo o País o número de fazendas que participam como Rebanhos Colaboradores. Para cada fêmea do rebanho, o produtor recebe duas doses. Nesta etapa, elas vêm de sete touros ¾ sangue Girolando e 12 Puro Sangue e 5/8 de sangue. “Ele [o Teste de Progênie] tem como objetivo selecionar animais de genética superior, capazes de transmitir a seus descendentes características que venham a melhorar a produção de leite, morfologia e características de manejo”, diz Eugênio Deliberato Junior, pecuarista com touro avaliado em teste de progênie.

Para Marcelo Cembranelli, coordenador operacional do Programa de Melhoramento Genético de Girolando, o teste de progênie é a melhor forma de conhecer o valor genético de um reprodutor para produção de leite, por meio da avaliação da produção de leite de suas filhas. “Esses reprodutores são responsáveis por mais da metade do melhoramento genético do rebanho”, explica Cembranelli.

Para que um rebanho seja colaborador do Teste de Progênie é necessário atender a alguns requisitos, dentre eles: fornecer os dados das progênies dos touros em teste aos técnicos do programa durante as visitas técnicas; realizar a pesagem das bezerras e bezerros ao nascer; realizar o controle leiteiro das filhas dos touros na sua primeira lactação e suas companheiras contemporâneas de rebanho. “O teste de progênie tem possibilitado às propriedades que recebem gratuitamente o sêmen utilizar as informações do controle leiteiro e das avaliações genéticas das vacas para a seleção das melhores matrizes, acelerando o progresso genético do rebanho e melhorando a eficiência produtiva, ocasionando uma maior rentabilidade da atividade leiteira”, diz Deliberato Filho.

Segundo Cembranelli foram cadastrados 125 touros, no entanto, foram selecionados apenas 30. “Só o que há de melhor na genética”, diz. “Os estudos que começam nas centrais genéticas foram parar no campo”, lembra.

Além de Minas Gerais, outros Estados serão beneficiados com o projeto, como Goiás, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo, Mato Grosso, Paraná e vários Estados do Nordeste.

Desde 2003, o produtor Alexandre Pereira da Costa, do município de Potirendaba, interior de São Paulo, é adepto da raça Girolando. Atualmente, é um dos criadores participantes do projeto Rebanho Colaborador. O pecuarista tinha poucos recursos para investir em genética. Mas em 2005, descobriu que poderia melhorar o rebanho sem gastar nada. Hoje, 80% da inseminação do seu rebanho, formado por 180 cabeças entre mamando a caducando, vem do projeto, o restante é de seu próprio rebanho. No início eram 70 doses que o pecuarista recebia para inseminar o gado, hoje chega a 50. “Há menos de um mês, acabei de receber 30 doses”, afirma. “Conheci o projeto por meio de meios de comunicação da associação. Ele foi uma forma de alavancar e disseminar a raça pelo País. Eu o utilizo como ferramenta para melhorar a produção”, diz Costa. A média da sua produção chega a 28 litros/ dia média, porém, já chegou a 40 litros.

Outro produtor, que faz parte do programa da associação de avaliação genética – que utiliza o chamado teste de progênie –, é Roberto Almeida de Oliveira, da fazenda RPM da Santo Antônio. A propriedade se transformou em um rebanho colaborador. Em outras palavras, virou uma espécie de centro de estudos que ajuda a mapear o melhoramento genético da raça. E segundo ele, os benefícios são vários. “Porém, o pecuarista precisa fazer a sua parte. Os técnicos visitam as fazendas uma vez por ano para inseminar e coletar dados das bezerras nascidas. A única exigência do programa é que o dono da propriedade fique com os animais até o fim da primeira lactação, ou seja, por pelo menos cinco a seis anos”, diz. “Estamos conseguindo agregar mais valor ao plantel local, para que futuramente tenhamos maior fonte de renda”, afirma Oliveira.

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