Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic).
Com a intenção de promover, trocar experiências e discutir os gargalos do setor cafeeiro, cada vez mais feiras e eventos atraem empresários e profissionais do segmento, a exemplo do 7º Espaço Brasil Café, um dos principais eventos, ocorrido em São Paulo. Na percepção das redes de cafeteria, bem como a de representantes da indústria e especialistas da cadeia produtiva, a segunda bebida mais tomada no mundo passa por um momento de qualificação no consumo e chega a níveis superiores de apreciação no País. Em entrevista à repórter Fátima Costa, o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), Nathan Herszkowicz, diz que o cenário já eleva a um posicionamento privilegiado do “cafezinho” brasileiro.
Revista Rural – Nunca se bebeu e produziu tanto café brasileiro como nos últimos anos. Quais fatores contribuíram para o setor chegasse a esse patamar de consumo e produção?
Nathan Herszkowicz – Há uma série de fatores que contribuiu para os dados positivos do nosso setor e, por assim dizer, o crescimento desse segmento. A começar pelas inúmeras categorias de café. Hoje, o mercado de grãos especiais e gourmet no Brasil, por exemplo, cresce com muita rapidez e bem acima do mercado de café como um todo. Aliado aos preços mais acessíveis destas categorias, os cafés especiais crescem algo entre 15% e 20% ao ano. A valorização do produto, com grãos de maior qualidade, propiciou o maior consumo. Há 10 anos, houve uma melhoria na qualidade da produção do café brasileiro, que está entre os melhores do mundo, o que provoca o estímulo do consumo e favoreceu a abertura de mais de 3.500 cafeterias no Brasil. Como principal responsável por essa alta demanda está também o público jovem. Com isso, o mercado tem muito a crescer. Outro ponto positivo é que pesquisas recentes derrubaram o mito que o café é maléfico à saúde e sugerem que ele pode ser benéfico contra as mais variadas doenças, como mal de Parkinson.
Rural – Variedades mais produtivas e novas marcas de café também aquecem o mercado?
Herszkowicz – Nos últimos 15 anos, as pesquisas vêm contribuindo e progredindo dia a dia para novas variedades, como os de café cereja descascado. Um grande diferencial também e que algumas fazendas estão oferecendo é o grão Bourbon. Uma variedade arábica muito valorizada no exterior, que agora atende ao mercado brasileiro. Até o ano 2000, não havia nenhuma marca gourmet disponível aqui. O produto tinha sua oferta restrita. Atualmente, a Abic classifica 110 marcas de café gourmet que estão no mercado. Houve o surgimento das redes de coffee shops, a Suplicy Cafés Especiais, Octavio Café, entre outras. O mercado de café “espresso” registra crescimento exponencial, especialmente, nos grandes centros brasileiros. Quanto à qualidade do grão, é evidentemente que há uma relação custo – benefício: o produto bom tem maior preço. O café perfeito exige excelência no preparo e grãos de alta qualidade. Porém, os especiais e gourmets caíram no gosto do consumidor brasileiro.
Rural – Como todo esse potencial de produção, podemos dizer que o Brasil conquistou o título de melhor produtor de café?
Herszkowicz – O Brasil já é o maior exportador mundial de café verde e tenta expandir sua atuação no mercado do café moído, torrado e solúvel. Do café brasileiro exportado, 89% são de café verde (em grão). Os números são maiores que Colômbia, por sua alta qualidade e evidente de grãos melhores. E ao Brasil, atualmente o principal produtor mundial, é reservado um local de destaque não só na produção, mas também no consumo.
Rural – De certa forma, a renda do brasileiro melhorou e isso também ajudou no crescimento do mercado interno?
Herszkowicz – A questão econômica contribui de fato. Com a economia brasileira sendo impulsionada, as previsões que se fazem para o crescimento do PIB, do consumo das classes C, D e E, mais a previsão de que as classes A e B poderão crescer 50% até 2015, é natural que o consumo do café siga crescendo. Na nossa projeção até 2015 serão 110 milhões de consumidores que comerão melhor e beberão melhor. E essa fase poderá beneficiar o café brasileiro.
Rural – No ano passado, os Estados como Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Bahia, Paraná e Rondônia foram responsáveis pela produção nacional de 43,5 milhões de sacas de 60 quilos, das quais 33,4 milhões de sacas foram vendidas a outros países, resultando em recordes na colheita e na exportação. Isso aconteceu também em 2012?
Herszkowicz – Sim. As regiões mais produtoras mantém a alta produção. Elas continuam oferecendo os melhores grãos, com destaques para o Centro e Oeste Paulista e a Bahia.
Rural – Após período de valorização, os preços do café voltaram a cair. Segundo analistas, a queda foi provocada pela estiagem. Essa tendência de queda pode voltar?
Herszkowicz – Desde abril de 2010, os preços do café estavam em alta no mercado internacional. Atualmente, os preços diminuíram, porém, eles devem melhorar até o fim do ano. Os estoques estão baixos no mundo e a indústria vai ter de voltar a comprar café. As cotações da saca de café têm se mantido na casa dos US$ 1,75 por libra-peso. Entretanto, elas chegaram a US$ 2,70 por libra-peso.
Rural – Quais são as expectativas para a safra?
Herszkowicz – A temporada 2012/2013 começa otimista para os produtores, com as lavouras brasileiras indicando que a colheita do grão vai continuar crescendo. A florada nos campos já indica que teremos uma safra melhor em comparação a atual. Segundo dados da Conab, o país deverá colher 50,2 milhões de sacas.
Rural – No mercado externo, como estão as negociações para exportar café para a China?
Herszkowicz – A esperança do Brasil é que a China passe a consumir também o café. As negociações estão a passos lentos. O mercado chinês é novo para o café. De alguma forma, há iniciativas pontuais de outros países no intuito de elevar o consumo do café daquele país. Porém, o volume negociado pelo Brasil é tão insignificante que não dá para contabilizar.
Rural – No mercado interno, a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) e o Sebrae estão firmando uma parceria para verificar os gargalos presentes nas micro e pequenas torrefadoras nos principais Estados que industrializam o grão. O que vocês pretendem com essa iniciativa?
Herszkowicz – Recentemente, a entidade esteve em Belo Horizonte, Minas Gerais, para discutir sobre esse assunto. A intenção é realizar uma parceria com o Sebrae Nacional, em conjunto com o Sebrae/Minas Gerais, para colocar os produtos e serviços à disposição da indústria brasileira de café, favorecer esses micros e pequenos torrefadores, propiciando sua capacitação e apoio para a inovação, de uma maneira que eles possam continuar existindo. Hoje, existem 410 associados e esses micros e pequenas torrefadoras representam 7% a 8% deste total.
Rural – Recentemente, foi realizado o 7º Espaço Brasil Café, um dos principais eventos do setor, ocorrido em São Paulo, criado para promover uma aproximação entre as indústrias e os consumidores. Na sua visão, esses eventos fortalecem a cadeia produtiva do café?
Herszkowicz – As feiras e as exposições são a vitrine para o setor. Elas promovem troca de experiências, discutem os gargalos da cadeia produtiva cafeeira, demonstram as máquinas e equipamentos de alta tecnologia e atraem empresários e profissionais do segmento e, por fim, promovem a aproximação entre indústrias e consumidores.
Rural – A ABIC iniciou um planejamento para repreender empresas que estejam utilizando o “Selo de Pureza ABIC” indevidamente. Qual o resultado já obtido?
Herszkowicz – Não há de fato nenhum planejamento, o que há são esforços e iniciativas para promover do “Selo de Pureza ABIC”. Em 2004, a entidade criou o Programa de Qualidade do Café (PQC), que hoje é o maior e mais abrangente programa de qualidade e certificação para café torrado e moído, em todo o mundo. O PQC certifica e monitora marcas de café. Em 1989, ao lançar o “Programa do Selo de Pureza”, a entidade anunciou que pretendia reverter à queda no consumo de café que havia na época, por meio da oferta de melhor qualidade ao consumidor. O Selo de Pureza foi o primeiro programa setorial de certificação de qualidade em alimentos no Brasil. Atualmente, são realizadas duas mil coletas de café por ano. O papel do programa é o monitoramento do grão, verificar quanto à questão de fraude e encaminhar ao Ministério as denúncias. Por outro lado, beneficiar empresas que estão dentro do padrão de qualidade.