Mesmo com um mercado que varia muito, a cenoura é bastante cultivada pelos brasileiros e se mostra uma atividade rentável no fim de cada temporada.
A cenoura está entre as cinco principais hortaliças cultivadas no Brasil com área superior a 20 mil hectares e com produção acima de 700 mil toneladas por ano. De acordo com o pesquisador da Embrapa Hortaliças, Agnaldo de Carvalho, as cidades São Gotardo (MG), Marilândia do Sul (PR), Irecê (BA) e também Cristalina (GO) são os principais municípios produtores de cenouras. Todos estes, com exceção de Irecê, caracterizam-se por utilizar alta tecnologia com o uso de sementes híbridas, adoção de adubos e insumos, irrigação por pivô central, controle rigoroso de plantas infestantes, além de quase todas as operações serem mecanizadas.
“O município de Irecê possui um sistema de produção diferente. Lá, a maioria das lavouras é constituída de pequenos produtores, que utilizam sementes de cultivares de polinização livre, com restrição quanto ao uso de insumos, principalmente, irrigação e adubação” disse Carvalho.
O pesquisador diz que o grande apelo de quem cultiva na hora de comercializar a cenoura, fica a cargo dos compostos carotênicos que, no organismo, são convertidos em vitamina A. Apesar disso, o consumo per capita de cenoura é baixo, com apenas 4 kg/hab/ano.
Para elevar o consumo, atender a demanda e melhor o desenvolvimento desta hortaliça, pesquisadores se uniram para buscar soluções no desenvolvimento da planta. Pois, nem sempre a cultivar desta hortaliça esteve em seus dias de glória. Até o início dos anos de 1980 a cultura da cenoura era cultivada quase que exclusivamente no período de inverno. As cultivares disponíveis daquela época não possuíam resistência a principal doença foliar que afetava as lavouras: a queima-das-folhas. Esse fato tornava o cultivo de cenoura muito difícil nos meses mais quentes do ano e a sazonalidade de oferta e procura dessa raiz tuberosa fazia com que o preço oscilasse muito ao longo do ano.
O equilíbrio entre oferta e demanda acabou quando pesquisadores brasileiros desenvolveram uma cultivar resistente a queima-das-folhas. Essa recebeu o nome de Brasília e permitiu não só o cultivo de cenoura no verão, mas também expandir novas fronteiras agrícolas para o cultivo dessa hortaliça.
Tecnologia para não produzir em vão
Se o produtor quer aproveitar ao máximo a sua lavoura, algumas técnicas de manejo são fundamentais para que a produção não seja em vão. Carvalho afirma que muitos fatores contribuem para o bom desenvolvimento da plantação. O primeiro deles é a escolha de um solo livre de patógenos e também permeável. É preciso que o produtor faça análise química do solo e dependendo dos resultados seja necessário fazer a calagem em que a saturação de bases deve ser elevada entre 60 e 70%. “A adubação deve ser adequada, equilibrada e aplicada nos momentos recomendados. Geralmente todo o fósforo deve ser aplicado no plantio, enquanto o nitrogênio e potássio são parcelados entre plantio e duas coberturas. É comum também utilizar fontes de zinco e boro, já que a cultura é exigente nesses nutrientes”, declarou Carvalho.
O pesquisador explica que o preparo do solo deve ser bem feito com subsolagem, aração e gradagem. O levantamento de canteiros bem feito é muito importante principalmente nos plantios de verão, e estes devem ter cerca de 20 cm de altura. Outro ponto fundamental para uma boa lavoura é a permeabilidade desses canteiros, pois visa favorecer o crescimento das raízes em comprimento, além de facilitar a drenagem do excesso de água que é comum nos períodos das chuvas e propicia o aparecimento de doenças, que não são frequentes na cultura da cenoura. Além disso, a escolha de uma semente de boa procedência com elevado vigor e livre de doenças, são imprescindíveis para boa germinação e rápido estabelecimento da lavoura. O plantio deve ser feito com plantadeiras que permitam a semeadura de forma uniforme, com profundidade adequada e com boa cobertura das sementes.
Uma parte importante em qualquer produção é a irrigação, e na plantação de cenoura não pode ser diferente. Ela deve ser aplicada nas quantidades e nos momentos corretos, pois a cenoura é extremamente exigente quanto à necessidade de água principalmente na fase de germinação. “Nesse período é comum os produtores irrigarem duas vezes por dia, mantendo o solo sempre úmido favorecendo a germinação. No período do verão é comum as lavouras serem atingidas por chuvas torrenciais que causam uma crosta que dificulta a germinação das sementes. Quando isso ocorre é preciso obrigatoriamente manter o solo úmido facilitando a passagem das plântulas por essa crosta”, explica Carvalho.
O controle de plantas invasoras é fundamental para permitir o bom desenvolvimento da cenoura. Afinal, elas competem por água, luz e nutrientes, o que reduz a produtividade. Existem alguns herbicidas registrados no Mapa para a cultura da cenoura. O produtor deve ter atenção de quais plantas invasoras são mais comuns na área cultivada com a cultura e escolher o herbicida correto, respeitando as doses e momentos adequados para aplicação e intervalos de carência. O desbaste deve ser realizado entre os 30 e 40 dias após a semeadura e o espaçamento entre plantas deve ser de 4 a 5 cm. Essa tarefa é necessária para que as plantas tenham espaço suficiente para desenvolver raízes com padrão comercial.
O engenheiro agrônomo e produtor de cenoura há mais de dez anos, Sandro Bley, tem sua propriedade localizada no município de Cristalina (GO). Ele segue a linha de pensamento de Carvalho. O produtor conta que em sua propriedade tem 770 hectares só da hortaliça. Segundo ele, o cenário hoje é bom e acredita que não haverá grandes mudanças até o fim de dezembro. “Estamos com um ano de preço médio bom. Em 2011 tivemos uma temporada bem ruim, mas a partir do mês de abril deste ano, os preços já voltaram ao bom patamar razoável. “Para mim, até o fim de 2012 manteremos essa média boa”, diz Bley, que alerta que para o próximo ano é difícil fazer uma previsão, uma vez que os preços estão em alta. “A procura por sementes está boa, mas temos que tomar cuidado em 2013”. Segundo dados da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), o preço médio nacional do quilo atualmente está entre R$ 1,06 e R$ 2,09.
O produtor diz que em sua propriedade, utiliza todas as áreas irrigadas por um pivô central. Além disso, Bley explica que a escolha da área de plantio e do híbrido são extremamente importantes para se obter uma lavoura com uma boa produção. “Questões como as de manejo e proteção fitossanitária também servem para um melhor proveito da plantação. Mas, sempre insisto em dizer que o principal mesmo é a escolha de área e do híbrido, pois são eles quem definirão a capacidade de produção”, afirma Bley.
E quanto à questão da utilização do híbrido para produzir bem, Heriton Felisbino, especialista em bulbos e raízes da Agristar, concorda com a declaração de Bley. De acordo com Felisbino, assim como em outros grupos de cultura, as cenouras hibridas são de extrema importância para cadeia produtiva no Brasil e no mundo. E, foram os híbridos os grandes responsáveis pelo aumento significativo na produtividade, qualidade e adaptação em diversas regiões e épocas de plantio. “As cenouras híbridas trouxeram maior uniformidade de raiz, tolerância a doenças, melhor formato, sabor, coloração interna e externa”, explica Felisbino.
Ele explica que devido ao fortalecimento da economia industrial e civil no país, a mão de obra do campo está cada vez mais escassa e a agricultura de um modo geral, principalmente o setor de hortaliças está com um déficit muito alto. Partindo dessa visão haverá a necessidade de buscar alternativas para que a produção não dependa tanto de mão de obra.
Felisbino lembra que atualmente nas principais regiões produtoras já estão sendo usadas práticas de agricultura de precisão (antes encontradas somente no cultivo de grãos), semeio pneumático e colheita mecanizada. “A agricultura de precisão utiliza tecnologia de informação baseada na variabilidade do solo, seja ela química, física ou biológica. A partir de dados específicos de áreas geograficamente referenciadas, implanta-se o processo de automação agrícola, dosando-se adubos e defensivos”, declarou.
Quando perguntados se o plantio de cenoura é uma atividade rentável, Bley e Felisbino responderam sem dúvida alguma que é, e que a cada vez mais para serem eficientes em quantidade e qualidade, as empresas e os produtores tem que investir em tecnologia. Bley conta que essa atividade é um pouco cara e instável, pois o mercado varia muito. Além disso, existem dois tipos de comercialização da cenoura. “No primeiro você colhe a cenoura bruta e a vende suja para o beneficiador, isso custa em torno de R$ 18 mil por hectare. Já no segundo tipo, que é o meu caso, a cenoura é produzida e beneficiada por aqui mesmo e já é vendida lavada. Este tipo de comercialização custa em torno de R$ 28 mil por hectare, considerando uma produção média de 2.700 caixas de 20 kg por ha/ano”.
Quanto ao futuro tecnológico, Felisbino diz que o setor agrícola está evoluindo muito rápido e em pouco tempo novas tecnologias de plantio, colheita e transporte farão parte da maioria dos produtores. “Atualmente semeadoras pneumáticas de alta precisão estão sendo importadas, contribuindo para uma melhor distribuição das sementes no solo. Associar esses equipamentos ao uso de sementes peletizadas com certeza será o próximo passo para eliminar outro problema, “o raleio” da cenoura que consiste no desgaste do excedente de plantas e uniformização do espaço entre elas”, disse o especialista que completou aconselhando os produtores a estarem abertos a estes avanços tecnológicos e que é necessário se adequar junto à assistência especializada de maneira que realmente façam diferença.
Cuidado com as doenças!
Assim como toda plantação, a cenoura também tem que ser cuidada para não sofrer danos causados por doenças que habitam as plantações da leguminosa. E quanto a isso, o pesquisador da Embrapa, Agnaldo de Carvalho diz que há apenas duas que aparecem com maior frequência na cenoura: a queima-das-folhas e os nematóides-das-galhas. Mas, ele afirma que mais de uma dezena de outras doenças podem ocorrer na cultura, e elas são causadas por vírus, bactérias, fungos e nematóides.
“A queima-das-folhas é causada por um complexo envolvendo dois fungos, o Alternaria dauci e Cercospora carotae e uma bactéria, chamada Xanthomonas campestris pv. carotae que podem estar juntos ou isolados em uma mesma planta, folha ou lesão. Os sintomas caracterizam-se por necroses nas bordas das folhas que podem evoluir até a desfolha total da planta, o que reduz drasticamente a produtividade e qualidade das raízes. A melhor forma de controle é o plantio de cultivares resistentes. Cultivares do grupo Brasília são exemplos de genótipos resistentes, enquanto as do grupo Nantes são suscetíveis. O controle químico pode ser realizado com fungicidas de contato (mancozebe ou clorotalonil) ou sistêmicos (triazóis). Quando os três patógenos estão presentes é indicado o uso de fungicidas a base de cobre (oxicloreto de cobre) que também possui efeito bactericida”, explica Carvalho.
Ele completa dizendo que os nematoides do gênero Meloidogyne são os que causam os maiores problemas nos cultivos de cenoura no Brasil. As plantas atacadas apresentam crescimento reduzido e amarelecimento, podendo ser confundido com deficiência de nutrientes. Os sintomas nas raízes caracterizam-se pela formação de galhas que são mais visíveis nas raízes secundárias e bifurcações. As perdas podem chegar a 100% em condições extremas de infestação. O controle dos nematoides é difícil, e o uso de nematicidas deve ser evitado. A rotação de culturas, associada ao plantio de plantas antagonistas (Stylosanthes guyanensis, Crotalaria spectabilis ou Tagetes erecta) reduzem a população de nematoides e melhoram as propriedades físicas do solo. O alqueive que é o estado de uma terra lavrada que se deixa descansar, também pode ser utilizado apresentando bons resultados.