Negócios

Futuro bem sustentável

Em 2022, o Brasil contará uma produção de grãos 208,6 milhões de toneladas, a Região Nordeste crescerá 95,4% na safra de soja e as reservas brasileiras estarão muito bem preservadas – o estudo apresenta um País que caminha por uma trilha sustentável, mas que ainda precisa resolver os tradicionais problemas de infraestrutura e mão de obra.

O Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), apresentou o estudo “Outlook Brasil 2022 – Projeções para o Agronegócio”.

Através de uma metodologia própria, capaz de relacionar o histórico de produção, produtividade e área, atrelado às demandas de consumo domésticas e internacionais, e a própria competição por terra entre as culturas, o estudo apresenta as projeções e tendências que o País deverá ter nos grandes setores da agropecuária até 2022.

Foram avaliadas as culturas de algodão, arroz, cana-de-açúcar (açúcar e etanol), cevada, feijão, milho, soja (grão, farelo e óleo), trigo, carnes (bovina, de frango e suína) e ovos.

A pesquisa, que também contemplou os setores de fertilizantes e logística, serve de termômetro de como o País se comportará em termos sustentáveis no desenvolvimento da agricultura. Ao que tudo indica, o Brasil manterá o crescimento nas principais commodities agrícolas sem perder de vista o comprometimento com o meio ambiente e a preocupação com a meta de ser o celeiro do mundo. Nesse quesito, os estudos indicam isso, com uma produção de grãos (algodão, arroz, cevada, feijão, milho, soja e trigo) que deve passar de 161,6 milhões de toneladas (t), registrada na safra 2010/2011, para 208,6 milhões em 2021/2022 – um crescimento de 29,08%. A pesquisa pode ser acessada gratuitamente na íntegra pela página da Internet [http://www.fiesp.com.br/outlookbrasil/], sendo necessário um cadastramento de usuário e senha.

Grãos

Em área, a soja terá um aumento de área de 22% e deverá chegar a 29,5 milhões de hectares (ha), com uma produção de 96,9 milhões de t, que corresponde a uma alta de 29%. A produtividade será 5,4% maior, saindo de 3,12 t/ha para 3,28 em 2022. As exportações líquidas podem chegar a 46,2 milhões de t, que representará um incremento de 43%. “Um dado interessante é o destaque da região compreendida por Mapitoba”, avalia Leila Harfuch, pesquisadora do Icone e coordenadora técnica do Outlook Brasil 2022. “Nessa região, onde estão os Estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia [daí, o nome Mapitoba, que é simplesmente a união das siglas desses Estados], chegará a um crescimento de 95,4% daqui a dez anos, ao passo que o Centro-Oeste, grande polo agrícola, terá uma alta na produção em cerca de 27,8%”.

Pelo estudo, assim como ocorre nas demais culturas, o incremento está relacionado aos ganhos em produtividade. O que revela justamente a perspectiva de Ciro Antonio Rosolem, especialista em agronomia em solos e nutrição de plantas e pesquisador da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), e membro do Conselho Científico da Agricultura Sustentável (CCAS). Segundo ele, os ganhos em produtividade em algumas fazendas estão chegando ao limite. Nesse sentido, quem fará a diferença serão justamente os produtores que ainda não chegaram nesse teto produtivo. “Estamos à beira desse limite onde será biologicamente impossível aumentar a produtividade. Quanto mais nos aproximarmos do teto, mais difícil será o trabalho de superá-lo. A força, nesse caso, vem dos agricultores que estão abaixo ou na média nacional. Estes, sim, têm condições de crescer – só que será necessário investimento com adoção de tecnologia e melhor acompanhamento por parte da extensão rural”, complementa Rosolem.

Já o teto produtivo do milho ainda não foi atingido na região de Cerrado no Centro-Oeste. Lá, a lavoura ainda terá ganhos expressivos em crescimento de produção, chegando a 63%, em relação às demais regiões. “A safrinha passa também a ser um safrão. O estudo prevê que a segunda lavoura do cereal deva ter resultados mais positivos ao longo desses dez anos do que os estimados para a safra de verão”, diz Harfuch. A primeira safra crescerá em área, produção e produtividade 15,37%, 34,51% e 17,78%, respectivamente. Já a segunda temporada, nos mesmos quesitos, terá alta de 17,49%, 45,50% e 25%.

A dupla tipicamente brasileira, arroz e feijão, ainda serão consideradas culturas do mercado doméstico e que deverão demandar importação para o atendimento de nichos específicos. A rizicultura será de 14,1 milhões de t ao passo que o consumo interno deverá ser de 14,8 milhões. A lavoura ainda apresentará um incremento em produtividade de 10%, chegando a 5,32 t/ha. Um dado relevante se for analisado que, em termos de área, o arroz diminuirá em 6%. Já o feijão apresentará avanço na área em 3%, chegando em 2022 a 4,1 milhões de ha, que será responsável pela produção de 4,7 milhões de t (+25%) e produtividade de 1,15 t/ha (+22%). O grão tem um consumo estimado em 4,8 milhões de t.

Carnes

No complexo de carnes, o frango liderará o ranking em crescimento na produção, seguido pelo boi e o suíno. A ave chegará ao patamar de 16,8 milhões de t, que corresponderá à alta de 29% em relação a 2011. As exportações devem crescer em 46% ao longo do período, totalizando em 5,9 milhões de t. Já a carne suína tem uma projeção de aumento de 22% – 4,1 milhões de t em 2022. As exportações estão estimadas em 700,2 mil t (+28%).

Quanto à bovinocultura de corte, o crescimento esperado gira em torno de 24%, com um montante de 12 milhões de t de carne. O rebanho, daqui a dez anos, deve ser de 226,9 milhões de cabeças, o que representará uma alta de 7%. Segundo o estudo, diante da própria dinâmica do mercado, espera-se uma retomada no crescimento do ritmo de abate em 2016, isso fará com que o preço real volte aos patamares de 2010, quando a arroba estava acima da casa de R$ 80. As exportações devem chegar a 2,7 milhões de t (+87%).

“A pesquisa prevê uma mudança na atividade pecuária, a partir da intensificação dela e com uma disponibilidade de áreas de pastagem para a produção de grãos. Falamos então de uma área de pastagem em, 176,3 milhões de ha em 2022, da qual, 5,4 milhões deverão ser destinadas à lavoura”, contabiliza da pesquisadora do Icone. Segundo ela, esse dado da pastagem foi o mais complicado de se obter. Foram necessários a ajuda de outras instituições que contribuíram para quantificar essa área. O órgão identificou uma área de pastagem de 181,7 milhões de ha (dado referente a 2011), já o Censo Agropecuário de 2006, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta uma área de 162,8 milhões. “O problema está nos dados sobre a região amazônica, onde se percebe a expansão da área de pastagens. Nesse caso, nos utilizamos de imagens de satélite que auxiliaram a referenciar e quantificar melhor a área de pastagem por lá. Para as demais regiões, foram utilizados os dados oficiais”, explica Harfuch.

Fibra e energia

Passando para o algodão brasileiro, o que se percebe é que ele sofrerá com uma redução de área de 8% em relação à safra 2010/2012. A expectativa de cultivo em 2022 é de 1,3 milhão de ha. No entanto, assim como identificado no arroz, a lavoura renderá mais por área plantada, cerca de 25% (1,80 t/ha), o que resultará numa produção de 2,3 milhões de t – alta de 15%. As exportações devem crescer 51%, totalizando 950 mil t.

Finalmente, no complexo sucroalcooleiro, a cana-de-açúcar deverá avançar 43% em termos de área, ocupando 13,1 milhões de ha. O destaque vai para a região de Cerrado, aí incluído Centro-Oeste e Mapitoba – respectivamente eles devem crescer 138% e 118% na expansão de área nessa lavoura. A produção acompanhará esse crescimento e ficará 55% maior, com um total de 1,1 bilhão de t. Diante desse cenário, açúcar e etanol dispararão no mercado internacional, especialmente o etanol. O primeiro, com uma produção de 49,5 milhões de t (+30%), e o segundo, com 56,2 bilhões de litros (+103%). Esta guinada na produção energética propiciará um incremento na exportação de 457%. A explicação para esse impulso ao mercado sucroalcooleiro vem do programa federal de biocombustíveis renováveis dos Estados Unidos (RFS), que deve ter início a partir de 2014 e que demandará mais por um produto classificado como “avançado”, ou seja, que reduza no mínimo em 50% das emissões de CO2. Por enquanto, apenas o etanol brasileiro possui essa classificação pela Agência de Proteção Ambiental americana (EPA, sigla em inglês).

Futuro sustentável

Todas as projeções revelam um Brasil próspero em termos produtivos – em outros segmentos, como infraestrutura e mão de obra, a classe científica concorda que o País deixa a desejar. “A infraestrutura e logística é um fator importante que limita a produção, mas, a ausência de políticas de seguro e de garantia de renda mínima causam instabilidade e, frequentemente, a inviabilidade do negócio de produção de alimentos”, argumenta Dirceu Gassen, engenheiro agrônomo, pesquisador da Universidade de Passo Fundo (RS) e conselheiro do CCAS. “Ao compreender que o agricultor é um gestor de plantas, de recursos naturais, de qualidade de alimentos, de recursos humanos e financeiros significativos, e que necessita controles rigorosos em todos os processos, é fácil concluir que o investimento em conhecimento e contínua atualização e treinamento é a base para a evolução da agricultura”.

Na mesma linha de pensamento, Rosolem destaca que é preciso ter um olhar mais voltado à recuperação da mão de obra – que se afasta cada vez mais do campo em direção à cidade; a melhoria da infraestrutura, no sistema de armazenagem e escoamento da safra; e o próprio empenho da comunidade científica em soluções que se provem efetivamente econômicas na prática. “Desde o princípio, temos desenvolvido uma agricultura que é responsável ambientalmente. O que temos de fazer é interagirmos melhor com a sociedade para mostrar isso. No entanto, o que se percebe, e isso não ocorre só aqui, mas em todo mundo, é o fenômeno de baixa procura por cursos agrícolas. O setor precisa vender melhor sua imagem”, destaca o pesquisador da Unesp.

Em contrapartida a esses entraves clássicos, a atividade agropecuária se mostrará sustentável. Quanto a isso, Rosolem é categórico. Para ele houve um incremento significativo com a difusão de tecnologias como a semeadura direta, o aprendizado da interação planta e solo e o próprio melhoramento genético das plantas – que foi bem absorvido pelo produtor rural. Isso repercute num trabalho que tende a melhorar gradualmente a atividade.

As próprias metas de desmatamentos propostas pelo governo federal estarão mais do que cumpridas. O dado oficial busca uma redução de 80% na Amazônia até 2020. Pelo Outlook, a redução chegará a 87%. No Cerrado, a meta prevista pela Política Nacional de Mudanças Climáticas é de 40%. Pela projeção do estudo feito pelo Icone, a redução será de 90%. O patrimônio verde será mantido, a segurança econômica e alimentar também. Restaria apenas a conscientização social, para fortalecer o tripé da cadeia sustentável do agronegócio brasileiro.

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