A suplementação mineral pode ser a verdadeira ‘sopa de letrinhas’ para o gado e é responsável, entre outras coisas, por garantir o equilíbrio das funções orgânicas no animal como o crescimento e a engorda. Cálcio (Ca), fósforo (P) e magnésio (Mg) são os principais, mas também são destaques, sódio (Na), cobre (Cu), cobalto (Co), zinco (Zn), iodo (I), selênio (Se), potássio (K), manganês (Mn), flúor (F), molibdênio (Mo) e, eventualmente, ferro (Fe), entre outros. Todos, elementos químicos, que devem constar na dieta mineral dos ruminantes – uns mais e outros menos, dependendo da região, da qualidade da pastagem e dos demais alimentos direcionados à engorda dos animais.
Nessa sopa de letras da nutrição animal constam elementos classificados como metais (P, Na, Cu, Co, Zn, Ca, Mg, K, Mn, Mo e Fe) e não-metais (I, Se, S e F). Eles podem interagir entre si e desencadeiam diversos processos biológicos como a formação óssea e muscular do animal, por exemplo, e ainda regulam e equilibram todo sistema orgânico. “Os minerais também participam como catalizadores de reações enzimáticas, integrantes de complexos enzimáticos e ainda na síntese de alguns compostos”, explica o pesquisador Sérgio Juchen, da Embrapa Pecuária Sul, em Bagé (RS). “Ou seja, embora em quantidades muito pequenas, são necessários para que o metabolismo funcione adequadamente, para que a ‘máquina opere adequadamente”.
Nesse sentido é de extrema importância que o pecuarista confira bem como os minerais estão na dieta do rebanho. Casos de desequilíbrios nesse balanceamento são responsáveis por baixa produção de carne, leite, problemas reprodutivos, crescimento retardado, abortos, fraturas e queda da resistência orgânica. Segundo Juchen, essas consequências podem variar conforme o tipo de mineral, o grau de deficiência ou excesso, com a duração da doença e ainda varia de acordo com a categoria animal (adulto ou jovem).
Tanto a deficiência severa, que pode levar o rebanho a taxas de elevada mortalidade, como as deficiências não perceptíveis a olho nu podem levar a perdas consideráveis na produtividade. “Sob o ponto de vista prático, os casos de deficiência mineral ocorrem com frequência bem mais elevada que os casos de intoxicação”, pondera Juchen.
Há testes laboratoriais específicos para a identificação da taxa de mineralização do animal. No entanto essa análise é feita para cada mineral, ou seja, dependendo do elemento, é preciso fazer a coleta de sangue, soro sanguíneo ou tecido hepático, por exemplo. “Em função do alto custo das análises laboratoriais, estas não são usadas como rotina. O diagnóstico de deficiência mineral é geralmente feito em função do histórico e sinais clínicos. De forma geral, o uso de sal mineral já é desenhado para a prevenção da ocorrência de deficiências”, diz o pesquisador.
Os papéis dos minerais
Para a estruturação dos ossos e dos dentes, P, Mg e F tem um papel fundamental, já para o desenvolvimento das proteínas musculares, P e S são destacados. Só para se ter uma ideia, de acordo com a publicação “Importância da suplementação mineral para bovinos de corte”, da Embrapa Gado de Corte, o osso contém cerca de 99% do total de Ca, 80% do total de P, 70% de Mg e 40% de microelementos do organismo animal.
O P faz parte de uma gama de reações metabólicas produtoras de energia para o animal e para as bactérias do rúmen, controle ácido-básico, sistema enzimático e da molécula de ácido nucléico e seus derivados.
Cerca de 1% do Ca encontra-se distribuído no tecido mole (contração e relaxamento muscular) e na forma iônica, no plasma sanguíneo (coagulação do sangue, excitabilidade normal neuromuscular, regulação das batidas cardíacas, manutenção da permeabilidade das membranas das células de todos os tecidos moles e ativação de algumas enzimas).
Mg está envolvido no metabolismo de carboidratos e lípides, como também, é um fator essencial de muitas enzimas envolvida na síntese do ATP, ou “Adenosina Triosfato”, esclarece Juchen. “Trata-se da unidade de energia dentro da célula, ou seja, tudo que nós comemos (gordura, carboidrato) será ‘quebrado’ sucessivamente com o objetivo de gerar ATP, ou será armazenado, se houver excesso de consumo de alimento”.
Na, K, Cl, Ca e Mg são os constituintes dos fluidos (sangue, fluido cerebrospinhal e o suco gástrico) e tecidos corporais, como eletrólitos na manutenção da pressão osmótica, balanço ácido-básico, permeabilidade das membranas, irritabilidade dos tecidos orgânicos.
O efeito de cada metal é específico. Podem existir, também, microelementos que atuam na manutenção de certas macromoléculas não enzimáticas, como o silício (Si) no colágeno, Co na vitamina B12 (cianocobalamina) e cromo (Cr), ingrediente ativo do fator de tolerância da glicose (GTF).
Alguns elementos que têm efeito específico na ação de hormônios, como a aldosterona (Na), hormônio da paratireoide (Ca), a calcitonina (Ca) e S estão contidos na maioria das moléculas de hormônios, principalmente a insulina, prolactina, oxitocina, vasopressina.
I é um elemento único por ser parte estrutural, integrante e específica do hormônio tironina da glândula tireoide. O Cr tem despertado interesse na pecuária de corte em função de sua ação ativa no GTF e a sua relação com a entrada da insulina na célula para metabolizar a glicose produzida nos casos de estresse. O Zn está envolvido com a liberação para circulação da insulina; tem também papel fundamental na síntese de proteínas para formação do timo, durante a formação fetal – trata-se de uma pequena glândula cuja função é produzir linfócitos T, de importância na resposta imunitária do organismo.
Melhora ruminal
Alguns elementos minerais são essenciais, tanto para o organismo animal, quanto para a microflora ruminal, ainda segundo a publicação da Embrapa Gado de Corte. Entre eles, K, essencial para o crescimento de certas espécies de micro-organismos; P, para os processos energéticos das células; Mg, Fe, Zn e Mo, componentes ativadores de enzimas bacterianas.
O elemento mineral é essencial, principalmente para os micro-organismos que produzem os metabólitos requeridos pelo organismo animal. Por exemplo, certos grupos de bactérias que produzem vitamina B12 (cianocobalamina). Em outro caso, S, da forma como é fornecido, é requerido pela microflora ruminal para a digestão da celulose, assimilação de nitrogênio (N) não-proteico e síntese de vitaminas do grupo B.
Além disso, os minerais atuam no próprio meio ruminal para garantir as condições adequadas e de suporte aos micro-organismos no desenvolvimento dos processos que lá vão ser realizados. Nesse sentido, destacam-se K, Na, Cl e P por manter seu meio interno constante (ação tampão, pressão osmótica, concentração relativa de íons).
Método de administração
Basicamente com a produção de boi à pasto, a saída foi a administração dos minerais em cochos na área de pastagem. O sal comum, ou cloreto de sódio (NaCl), por ser palatável e bem aceito, tornou-se um importante veículo para ingestão de outros minerais, sendo então incorporado na proporção de 30% a 50% da mistura total. De acordo com o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, essa forma muitas vezes traz problemas relacionados à variabilidade do consumo de mineral por cabeça, o que influi no baixo suprimento das necessidades minerais. Um dos aspectos, nesse caso, é a ingestão do alimento em maior quantidade por alguns animais e em menor por outros. “A melhor estratégia nesse caso é fornecer no cocho a quantidade que realmente consumida pelo animal. A fonte de mineral utilizada e o tamanho de partícula, como os minerais quelados, apresenta disponibilidade maior, ou seja, são melhor absorvidos”, ressalta Juchen.
Não há dados precisos de quanto essa fonte (obtida através de fermentação de leveduras) seria melhor aproveitada pelos animais em comparação às fontes tradicionais de mineral extraídas de sedimentos rochosos. No entanto, o que se percebe em experimentos a campo é a ingestão satisfatória desse tipo de suplemento por todos os animais. O porém, nesse caso, é o custo elevado dessa tecnologia em detrimento à fonte tradicional. “Nesse caso, a indicação de uso desse tipo de mineral pode ser, por exemplo, na ração para animais confinados. Este sistema permite um consumo homogêneo entre todos os animais”.
No sistema de cocho a pasto, a quantidade de mistura mineral ingerida diariamente é o fator mais importante a ser considerado na suplementação de bovinos. Neste caso, o pecuarista deve estabelecer um controle para estimativa de consumo médio diário. Numa fase inicial, quando ainda não há controle de ingestão, pode-se tomar como base que os bovinos adultos de corte, geralmente, consomem de 20 gramas (g) a 40 g de sal comum/dia e, com base nessa proposição, estima-se o consumo potencial, se o suplemento for misturado com sal, de acordo com a Embrapa Gado de Corte.
Por exemplo, se um suplemento traz a recomendação de diluição de uma parte de sal comum para duas partes de suplemento, isto significa que a mistura teria de ser de 33,3% de sal e, portanto, para consumir 25 g de sal o bovino teria que ingerir 75 g da mistura total.
Com base nesse raciocínio, torna-se possível verificar que as diluições maiores do suplemento, podem ser prejudiciais do ponto de vista econômico, pois a quantidade de suplemento a ser consumida sofreria uma queda significativa. Por isso, deve-se ter sempre em mente que quanto maior o nível de sal na mistura menor o seu consumo.
As recomendações dos fabricantes de suplementos minerais devem ser sempre seguidas, mas torna-se também necessário o estabelecimento do controle da quantidade dos diferentes elementos minerais fornecidos pela mistura, para caracterizar o potencial de atendimento das exigências nutricionais dos bovinos.
Os suplementos minerais comerciais, já prontos para um tipo específico de categoria, nunca devem ser diluídos. Eles têm na embalagem o rótulo de garantia com a concentração dos elementos minerais (grama ou miligrama por quilo da mistura) e os ingredientes que compõem a mistura. Seria uma boa orientação para o pecuarista que consumo esperado do suplemento constasse também do rótulo.
Embora o consumo da mistura mineral varie com a fertilidade do solo, qualidade e manejo das pastagens, o pecuarista deve sempre ter o cuidado de controlar o fornecimento da mistura mineral, o que assegura a qualidade da suplementação às exigências das categorias a serem suplementadas.