Negócios

Super gestão familiar: produtor quer alcançar melhor produtividade com tecnologia sem perder a simplicidade

Taylor Marostica é filho de produtores de Cascavel (PR), o senhor Atilio e dona Carmen Marostica. É também formado em medicina veterinária e ainda possui alguns cursos de gestão e empreendedorismo. Lá no município, a família, na qual ainda conta com mais duas irmãs de Taylor, desenvolve o trabalho com a lavoura de grãos desde a década de 1970, especificamente com a soja. De lá pra cá, as transformações do negócio foram incrementadas a partir das tecnologias que foram surgindo no campo. De três safras para cá, a novidade tem sido a aplicação de ferramentas da agricultura de precisão para o auxílio em programas de adubação de solo das áreas agricultáveis.

“Em dois anos, já foi possível perceber o aumento de 15% de produtividade em soja, no mínimo”, atesta o produtor. “Através do uso dessa tecnologia, tivemos a incrível surpresa de registrar uma produtividade astronômica na safra 2010/2011. Numa área de 169 hectares (ha), houve um rendimento médio de 74 sacas por hectare (sc/ha). Jamais chegamos a colher isso em áreas grandes”.

Atualmente, o grupo possui uma propriedade em Cascavel de 423,12 ha de plantio com 74,68 ha de mata nativa e recomposta, e outra no município vizinho, São Pedro do Iguaçú, com 213 ha de área cultivada e 50,8 ha de mata. São fortes na cultura da soja e milho safrinha – o milho verão foi iniciado na safra 2010/2011, que garantiu um rendimento de 174 sc/ha, e faz parte do programa de rotação de culturas pelas áreas de cultivo.

Em termos dos ganhos, os produtores não têm do que reclamar. O rendimento das safras tem sido satisfatório o que serviu de princípio para a que investimentos fossem feitos para alcançar mais índices altos de produtividade. “Para se ter uma ideia, não utilizamos crédito nenhum para financiar nossa lavoura. Sempre reservamos recursos para a próxima safra e isso tem sido o princípio para os nossos negócios”, diz Taylor.

Todo esse trabalho mostra como a gestão familiar pode realmente alavancar os resultados de uma propriedade. Desde os conhecimentos mais simples às novas tecnologias de georreferenciamento e biotecnologia – tudo, de uma forma ou de outra, acaba sendo absorvido e integrado à realidade da propriedade da família Marostica.

Agricultura de precisão

Taylor relembrou de quando saía com o pai para verificar o estado da lavoura na época em que ainda era menino. O trabalho era andar pelos talhões e perceber as minúcias do comportamento das plantas, e os estágios de desenvolvimento da plantação. Além disso, aí era o momento para saber que tipo de tratamento ou manejo que seriam necessários.

De lá pra cá, o advento da tecnologia trouxe muitas facilidades e menor esforço – agora o estágio do negócio está em consertar as falhas onde elas realmente estão. Abriu-se, aí, a necessidade para a adoção da agricultura de precisão. A questão da adubação foi o início para atingir os melhores índices em produtividade.

“Nós temos feito testes antes de aplicar na propriedade como um todo”, ressalta Marostica. “Fizemos um teste com correção de solo numa determinada área com 2.479 quilos de gesso por hectare (kg/ha). Outros testes com 1.239 kg/ha em outra faixa de área. Depois vamos mensurar isso. Na área de milho de verão, por exemplo, foi feito o gesso também e toda a correção de cloreto de potássio, fósforo, calcário e enxofre. O gesso, agora, está em evidência, pois melhora o aprofundamento de raiz, para melhor aproveitamento de nutrientes”, destaca o produtor.

O resultado, com isso, foi a melhora visual da lavoura. Taylor conta que era comum haver “manchas” ao longo da plantação do cereal – ou as marcas deixadas pelas plantas menos produtivas. Este ano, o agricultor afirma que, mesmo com a estiagem registrada durante o amadurecimento do grão, a mancha desapareceu, tornando assim mais homogênea a produção.

“Já estamos no terceiro ano com o uso da agricultura de precisão, e no final do processo, sobrou dinheiro. Isso ainda no primeiro ano, pois a despesa que tive com a adoção dessa tecnologia, pude economizar com investimentos na própria área em termos de adubação. Tinha faixas do terreno que já estavam saturadas de fósforo, por exemplo. Este, o mais barato atualmente, gira em torno de R$ 800 a tonelada, com concentração de 20%. Então, ao invés de por 700 kg em toda área, você põe 200 kg numa faixa, 800 kg em outra e zero em outras”, estima Taylor. Essa administração mais precisa do adubo foi fundamental para ir, aos poucos, salvando os recursos de investimento da condução da lavoura.

Basicamente o produtor conta com a assessoria de uma empresa que faz o mapeamento das áreas e faz as análises de solo para identificação dos elementos que estão nela. Em geral são coletadas amostras a cada 2,5 ha. No entanto, isso pode variar conforme as imagens obtidas por satélite, nas quais é possível perceber as falhas da lavoura. Nessas áreas há maior concentração de amostragens, o que gera maior informação sobre a deficiência dos minerais necessários para o desenvolvimento das culturas.

Programa de adubação

Para conduzir as lavouras de soja, que ocupa cerca de 75% da área total cultivada atualmente e de milho verão, com 25%, o produtor, apoiado nas informações da agricultura de precisão, elaborou o seguinte planejamento de adução – para a soja de verão, é feito 300 kg de super simples (SSP) mais 130 kg de cloreto de potássio por hectare. “Mas estas quantidades não são uma regra, podem aumentar ou diminuir conforme a variedade ou sucessão de culturas”, pondera Marostica.

No caso do milho de verão é estabelecido o incremento de 400 kg/ha do trio nitrogênio, fósforo e potássio (NPK) na proporção de 12%, 15% e 15% (ou 12-15-15), respectivamente, além de uma cobertura com 200 kg/ha de ureia. Já para o milho safrinha, para plantios até 20 de fevereiro, são usados de 250 a 300 kg/ha de NPK 12-15-15, e, após esta data, o programa de adubação é diminuído progressivamente conforme o plantio aproxima-se de março. “É importante salientar que normalmente não plantamos milho em março aqui na região, mas este ano estamos atrasados devido a chuva na colheita do milho verão e soja, por isso teremos que plantar dentro do mês de março, que é de alto risco pelas possíveis geadas”, esclarece o produtor.

Os custos com esse programa, pelo que se prova ao longo dos anos, têm sido bem administrado, e com isso o produtor pôde ver o incremento no final, com a colheita dos grãos. A tonelada de calcário (branco dolomítico), por exemplo, posta na região, fica em R$ 80 a R$ 85, na compra direta. Já o calcário preto (calcítico), em torno R$ 100 a tonelada. O gesso gira em R$ 120 a tonelada.

A opção ao milho de verão veio também agregar mais opções de rendimento no final das contas, além de agregar força ao solo e ao manejo de pragas. “Há casos que, por exemplo, posso fazer o milho verão, e se tirá-lo mais cedo, posso até plantar a soja e tirá-la antes mesmo do vazio sanitário. Só que este ano eu não vou poderei fazer isso, em função do atraso que tive com o milho”, diz Taylor.

Ambiente e clima

Em meio à busca constante por produtividade, o tema ambiental não foi deixado de lado e, atualmente, é uma das metas da família para daqui a dois a três anos estar em dia com equilíbrio ambiental. De acordo com Taylor, ainda há um déficit de 10 ha de mata, mas no ritmo de recomposição que grupo tem trabalhado, é fato que dentro desse período, toda a área de reserva esteja pronta e devidamente averbada. “Como exemplo, podemos citar que de 2009 para cá, já aumentamos em aproximadamente 27 ha a área de mata”, calcula.

Quanto ao clima, podem-se perceber dois aspectos – tem ajudado no quesito controle fitossanitário e prejudicado no rendimento da lavoura. A queixa, neste último caso, não é pela falta de chuva, mas pelo excesso de calor que a região tem experimentado de uns anos pra cá. Há dias que chegam a registrar o pico de 36°C de temperatura – dois ou três dias seguidos. “Este ano até nem se compara com a safra de 2008/2009, na qual a quebra foi maior, pois tínhamos mais variedades superprecoces. Tivemos problemas com variedades que sofreram um pouco com a seca, mas aí o sol terminou de matar a planta”, lembra Marostica.

Já no quesito fitossanidade, é justamente o mesmo clima que tem permitido o controle ideal com a ferrugem, e o produtor garante – são mínimos os prejuízos com a doença, quase imperceptíveis. Tudo isso, graças às boas condições para aplicação de defensivos nos momentos adequados.

Quanto às incidências de resistência de plantas daninhas, Taylor também tem conseguido uma eficiência satisfatória nas espécies que vem dando dor de cabeça como a buva e o capim amargoso. “A buva aqui para nós é fácil de controlar. É só você tirar o milho e plantar aveia, ou na área de soja tardia, tira a soja e espera em meados de abril para entrar com a aveia em alta população. Você entra com aveia e um herbicida simples e barato, numa aplicação se elimina a buva da tua área. Se tira o milho safrinha e entra com aveia. Já o amargoso resistente, tivemos de controlá-lo pelo método físico, com enxada, trator, ou arrancando mesmo. Conseguimos eliminar essa planta daninha tanto aqui na propriedade de Cascavel como na de São Pedro do Iguaçu”.

Já em relação ao azevém, o picão e a corda-de-viola, o trabalho tem sido mais cauteloso, com cuidados especiais a partir de misturas de ingredientes ativos e trabalhos com cobertura de solo. No entanto, no geral, as invasoras não tem dado tanto trabalho. “Nessas últimas safras, temos experimentado condições favoráveis para realização das aplicações no tempo certo”, afirma.

Gestão de excelência

A busca de resultados é o que tem movido a família paranaense em dinamizar o processo da lavoura e garantir os investimentos necessários para isso. O que pode explicar essa vocação pela profissionalização da agricultura familiar é a própria especialização desses agricultores no negócio deles e a constante atualização em termos de novas tecnologias, cultivares, produtos, insumos e maquinário. O sonho desses cinco integrantes familiares era ter uma colheitadeira nova e de melhor capacidade por hora trabalhada – isso foi possível. Recentemente até uma potente plantadeira foi adquirida. Aos poucos, o negócio familiar ganhou status equiparado a de grandes empreendimentos agrícolas no País. Sem dívidas, com metas e planos para o futuro.

“Isso é basicamente a nossa realidade, é o meio onde vivemos e aprendemos a gostar e cuidar. Outra coisa que mantém a gente aqui é a qualidade de vida. Antigamente, era mais difícil para se plantar uma lavoura. Eram necessários de três a quatro carretas de adubo, e consequentemente mais trabalho, pois o fertilizante tinha de ser descarregado, do caminhão para o chão, e aí levado, do chão para a plantadeira. Hoje é diferente, as atividades se tornaram mais fáceis do uso da tecnologia”.

O círculo de amizades pela região também fizeram a diferença, pois toda a novidade que chegava era comentada e compartilhada. A dinâmica desse processo de transferência de tecnologia cresceu ainda mais em 2006 com a criação do grupo de empreendedores rurais, o Agrolíder, do Sindicato Rural de Produtores Rurais de Toledo – associação a qual Taylor participa, e é que vizinha à Cascavel. Regularmente se encontram de 15 a 20 pessoas, no entanto, ao todo são cerca de 30 integrantes o grupo, que não só é formado por agricultores, mas também por pecuaristas de leite, suinocultores, comerciantes entre outros interessados.

“São feitas reuniões, visitas técnicas à Embrapa, aos portos de Santos e de Paranaguá, às fábricas de fertilizantes”, lista o sojicultor paranaense. “Procuramos fazer grupos de compra, para aquisição de maior volume e, assim, barateamos o produto no final das contas. Trocamos informações sobre tratamento de sementes, sobre as variedades plantadas – as melhores e as piores, quais os problemas com a estiagem, entre outras coisas”.

O ponto forte é justamente a qualidade das informações recebidas pelo grupo – e elas veem de todos os lados e sempre são bem absorvidas. O Agrolíder esteve até na Argentina numa visita às instalações do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (Inta) – o órgão desempenharia o papel da Embrapa naquele país. “Às vezes, tuas férias é o momento para fazer essas viagens técnicas. Deixar a praia de lado e conhecer algum órgão ou instituto que ofereça novidades para a produção no campo”, avalia.

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