Agricultura

Soja: produtores rurais de MT contam com atividades que os auxiliarão para as próximas safras

A chegada da época de colheita da soja é o momento mais propício para reunir os agricultores para checar, bem de perto, os resultados que puderam ser obtidos na lavoura, a partir da adoção de um manejo adequado, do investimento em tecnologias em insumos, ou mesmo a partir de testes de novas cultivares. Esse será o ritmo que os produtores rurais de Mato Grosso poderão experimentar nos Dias de Campo organizados pela Fundação Mato Grosso até 3 de março.

A programação da entidade de pesquisa começou em Sapezal, foi para Campo Novo do Parecis, depois seguiu para Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sorriso, Primavera do Leste, Campo Verde, Rondonópolis, Querência e, por fim, terminará em Canarana. Ao todo, os dez encontros devem reunir cerca de 3,5 mil pessoas, entre produtores rurais, técnicos agropecuários e estudantes. “Todo o evento foi planejado de acordo com a demanda dos produtores rurais”, destaca Fabiano Siqueri, gestor de Marketing e Relacionamento e pesquisador da Fundação MT. “Nessa época de colheita da safra atual já é o momento de pensar na próxima. Para tanto, os produtores precisam de informações que o ajudem a reduzir custos e aumentar a produtividade de sua lavoura”.

Foi, justamente em Campo Novo do Parecis, que a Revista Rural pôde acompanhar o dia de campo e as novidades que podem influenciar os produtores para as próximas safras. O destaque do evento foi a apresentação de um estudo que está sendo conduzido há três anos pela instituição através do Programa de Monitoramento e Adubação (PMA). O trabalho intitulado “Manejo da adubação em sistemas de produção de alta intensidade” iniciou na safra 2008/2009 com a condução de oito sistemas distintos e a influência que cada qual teve sobre os ganhos em produtividade, melhorias com o solo e a renda proporcionada.

No entanto, apesar do estudo já ter atravessado três safras, os dados ainda são considerados preliminares, pois os resultados devem se tornar mais aparentes em longo prazo e ainda faltam alguns estudos de mensuração de determinados aspectos que poderão respaldar ainda mais a pesquisa. “É importante destacar que não se pode basear somente nesses dados para dizer que houve ganho de produtividade em função de um manejo a outro”, pondera o pesquisador da Fundação MT, Eros Francisco, “pois há também reflexos do próprio clima e do tratamento fitossanitário da lavoura, que também reflete no nível de produtividade que se tem”.

Detalhes da pesquisa

Numa área de cinco hectares (ha) foram instalados os oito ensaios (cada qual com 20×30 metros). No primeiro (T1), avaliou-se apenas a soja em plantio direto na safra de verão, no inverno a área ficou em pousio. No segundo (T2), foram cultivados soja no verão e milheto no inverno. No terceiro (T3), a braquiária é a sucessora da soja. No quarto sistema (T4), rotação de culturas ocorreu com soja, milheto, crotalária, milho consorciado à braquiária. Neste caso, na safra de 2008/2009, no verão foi instalada a soja e no inverno o milheto. No ano seguinte, ao invés de milheto, a opção foi a crotalária. Já na safra 2010/2011, plantou-se o milho de verão consorciado com a braquiária.

No quinto sistema (T5), as rotações soja e crotalária, milho e braquiária, e soja e crotalária foram as escolhas para os três períodos, respectivamente. No sexto ensaio (T6), foram soja e crotalária (2008/2009), soja e consórcio de milho e braquiária (2009/2010), e braquiária (2010/2011). No sétimo (T7), optou-se por uma sucessão de soja e milho safrinha ao longo dos três anos da pesquisa. Finalmente, na oitava área de estudo (T8), novamente a relação de soja na safra de verão e pousio no inverno, com plantio convencional através do preparo do solo (gradear).

Em relação aos ganhos em produtividade da soja, em sacas por hectare (sc/ha), T8 ficou em destaque com o incremento de 28,85%, em segundo lugar T3, com alta de 28,3%. Quanto ao milho, os maiores picos de rendimento foram amostrados em T5 e T4 pois eram de safra de verão. Com 194 sc/ha e 192 sc/ha, respectivamente. Em safras subsequentes do cereal (safrinhas), como foi possível avaliar em T7, o crescimento foi de 4,49% – sendo uma alta de 23,6%, entre 2008/2009 e 2009/2010, acompanhada de uma queda de 15,45% da temporada 2009/2010 a 2010/2011.

Em termos de ganhos, T7 e T6 despontaram na pesquisa – o primeiro, relacionado aos ganhos de soja e milho e o segundo, somando-se o retorno da soja e do gado engordado com a braquiária produzida (considerando quatro unidades animal por ha e R$ 90 por arroba). Já na relação de nutrientes exportados, ou seja, a quantidade (kg/ha) de nitrogênio (N), pentóxido de difósforo (P2O5) e óxido de potássio (K2O) que saíram da área junto com os grãos, T6 se mostrou mais eficiente por ter registrada a menor soma de nutrientes exportados (856 kg/ha, sendo 515 de N, 137 de P2O5 e 204 de K2O).

Apesar de T7 ter apresentado o maior ganho ao longo das três safras, este também requereu o maior uso dos nutrientes, computando-se 1.398 kg/ha a menos de nutrientes na área (866 de N, 244 de P2O5 e 288 de K2O). É justamente dentro dessa relação de produtividade que moram as questões acerca da condução da agricultura. Para se produzir mais tem de se investir mais. “Nesse sentido, é ideal que o produtor comece a olhar para as coisas que realmente custam e qual é o benefício levantado a partir desse custo que ele tem”, explica Francisco. “Na lavoura, há diversos comportamentos que atuam no uso racional dos insumos aplicados. O que pode influenciar isso pode ser um solo descompactado, a cobertura de palhada, o bom manejo que se faz, o momento adequado de aplicação, ou seja, é uma série de fatores que podem contribuir e fazem a diferença no comportamento da eficiência no uso desses nutrientes. Se eu transformar 1 kg de N, em 500 gramas do produto – isso indica que fui eficiente. Agora, se eu tiver de transformar 1 kg de N em 100 gramas desse produto, seria então ineficiente, porque esse quilo me custou o mesmo valor. Isso, se computado em longo prazo, é o que às vezes tira um sistema de mercado”.

Uma situação que se contrasta com esse nível de exigência dos sistemas de produção de grãos atuais, é o fato de que a formulação dos fertilizantes não tem acompanhado o ritmo da agricultura. De acordo com o pesquisador da Fundação MT, grande parte dos produtos, pelo menos no Estado de Mato Grosso, ainda hoje utilizados possuem os porcentuais de meados da década de 1980, os quais são compostos de 0% de nitrogênio, 18% de fósforo e 18% de potássio, ou 0%, 20% e 20%, ou mesmo 0%, 20% e 18%.

Sistemas mais produtivos

Mesmo com essa herança histórica por parte das formulações de fertilizantes, há alguns produtores que se veem preocupados com questões de manejo, cultivares mais resistentes e adaptadas que possam garantir maior produtividade. Nesse sentido é preciso conhecer bem a área onde se está produzindo para traçar o melhor planejamento. O melhor sistema, por sinal, será aquele o qual congregar o maior peso em parâmetros físicos, biológicos e químicos. Comparando os dados da pesquisa no quesito quantidade de nutrientes reciclados por cobertura ao longo das três safras analisadas, por exemplo, T3 foi o sistema que mais contribuiu com o processo de recuperação da biota do solo, com cerca de 1.230 kg/ha, e ainda garantiu uma boa produtividade da soja – média de 60,33 sc/ha ao longo da pesquisa.

Para garantia de bons resultados, a relação de física, biológica e química tem de estar equilibrada. Se assim estiver, a produtividade pode ocorrer. Para saber se realmente esse equilíbrio existe há alguns passos que o produtor pode fazer para partir para um sistema de produção mais exigente. “O ponto de partida é fazer um bom balanço de nutrientes que estão no solo”, diz Francisco. “São poucos que mandam fazer uma análise dos grãos para saber a quantidade de nutrientes que estão neles e assim saber quanto está saindo da área – ou quanto que se está exportando. Numa colheita, por exemplo, vão se os grãos e fica a palhada e raízes da planta. Uma boa parte dos nutrientes se foi com os grãos, isso significa que a área passou a ficar deficitária”.

O levantamento da real situação do solo seria também outro aspecto a ser levado em conta. Apoiado em determinadas ferramentas da agricultura de precisão e uma metodologia adequada é possível fazer esse diagnóstico e aí traçar o descritivo da área mais próximo da realidade.

Outro ponto é saber como está o nível de compactação e aeração do solo. Isso refletirá na quantidade de ar que estaria disponível à raiz da planta – quanto mais compacto estiver o extrato de terra, menos ar para a raiz. No caso de uma chuva, por exemplo, todo o ar pode ser expelido facilmente podendo deixar o sistema radicular totalmente sem ar, e isso prejudicaria o desenvolvimento da planta, podem levá-la até a morte, em situações drásticas.

A questão da acidez também é relevante ser feita, não só na camada mais explorada pelas raízes da planta que está de zero a 15 centímetros (cm) ou 20 cm de profundidade, mas abaixo disso também. “O algodão, diferentemente da soja, por exemplo, vai sentir muito, pois tem uma raiz mais profunda. Então, ao todo são vários ajustes que tem de se fazer. E não é algo que se faça de uma safra a outra, mas nas demais seguintes – o que pode levar de três a quatro anos para, assim, garantir a eficiência dos insumos que o produtor aplica na lavoura”, conclui o pesquisador.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *