Pelo relatório da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) a safra registrou mais quedas do que altas, em termos produtivos. A safra 2011/2012, no acumulado até 1º de janeiro de 2012, ficou em 492,2 milhões de toneladas, 11,62% a menos que a temporada anterior de 2010/2011. A baixa mais expressiva (-29,56%) foi em relação ao etanol hidratado, no comparativo do mesmo período de safras. Os únicos dados positivos que merecem destaque foi o total produzido de etanol anidro, com 7,9 bilhões de litros (+6,59%) e o índice de 5,29% a mais de quilo (kg) de açúcar por tonelada de cana.
A oferta de açúcar, por exemplo, da região centro-sul do País foi menor que o esperado no correr de 2011, de acordo com as análises do Cepea/Esalq. Esse cenário fez com que os preços do produto se mantivessem em patamares elevados em grande parte do ano. De 1º de abril ao final de dezembro, a média do Indicador do açúcar cristal Cepea/Esalq (São Paulo) foi de R$ 63,24 a saca de 50 kg, valor 11% superior ao do mesmo período de 2010 (R$ 56,97 a saca), em termos nominais.
Ao longo dos meses, as estimativas para a produção de cana-de-açúcar nessa região foram sucessivamente revisadas para baixo, o que afetou de maneira expressiva a dinâmica do mercado de açúcar. Segundo os pesquisadores do órgão de pesquisas econômicas de São Paulo, de modo geral, as adversidades climáticas ainda em 2010, como o severo período de estiagem e depois chuvas prolongadas, foram fatores que prejudicaram a produção 2011/2012.
Em março, quando algumas usinas iniciavam a colheita, a Unica divulgou a primeira estimativa para a safra 2011/2012. Naquela época, a entidade indicou que a região poderia moer pouco mais de 568 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, o que representaria crescimento de 2,11% em relação ao total processado na temporada anterior, de 556,74 milhões.
Naquele momento, no entanto, estavam sendo subestimados o impacto do clima do ano anterior – que já causava menor produtividade no início da safra – bem como as consequências do envelhecimento dos canaviais – por falta de investimentos – e o volume relativamente pequeno de cana de rebrotação para moagem no início da nova temporada.
“No ano passado tivemos muitas surpresas em relação ao clima, às questões ligadas ao setor de abastecimento”, diz o presidente da Única, Marcos Sawaya Jank. “O que esperamos agora é a retomada do crescimento do setor, no plano 2015-2020. Nós experimentamos um crescimento muito vigoroso da produção até 2008, na ordem de 10% ano. Este é justamente o valor que pretendemos crescer daqui pra frente. No entanto, o que vimos de 2008 pra cá, houve um período de declínio do setor, agravado pela crise financeira global e com perda de competitividade frente à gasolina, nesse caso, com o etanol hidratado, que teve os custos de produção aumentados”.
No mês de dezembro, a moagem somou 3,65 milhões de toneladas, 67,61% abaixo do valor registrado em dezembro de 2010 (11,27 milhões de toneladas). O diretor técnico da Unica, Antonio de Pádua Rodrigues, explica que “os valores observados até o momento são praticamente os números finais da safra 2011/2012 da região Centro-Sul, pois ocorrerão apenas ajustes marginais até o final de março”.
O executivo afirma que apenas sete unidades estão em operação em janeiro de 2012: uma usina no Estado do Paraná, quatro em Mato Grosso do Sul e duas em Minas Gerais. A produção adicional dessas plantas deve ser residual comparada ao volume total.
De fato, o desenvolvimento da cana foi prejudicado no correr de 2011, ocasionando redução no teor de sacarose por hectare colhido (o ATR) e, consequentemente, menor produção de açúcar e de etanol.
Quanto aos embarques de açúcar bruto (VHP) – representa cerca de 80% das exportações brasileiras de açúcar -, totalizaram 20,16 milhões de toneladas de janeiro a dezembro de 2011, volume 3,75% inferior ao de 2010 (20,94 milhões), segundo dados da Secex. Porém, em receita (em dólar – FOB), houve aumento de 24,08% na mesma comparação. De açúcar branco, os embarques somaram 5,2 milhões de toneladas em 2011, queda de 26,3%. Em relação ao preço, a média desses 12 meses foi de US$ 573,05/t (FOB) para o VHP, aumento de 28,93% sobre a média de 2010, que foi de US$ 444,48 por tonelada. Para o açúcar branco, a média foi de US$ 651,67, alta de 33,19%.
Apesar de o volume das exportações ter diminuído em 2011, por conta da menor produção, preços favoráveis e as vantagens associadas a linhas de financiamento para as exportações sustentaram o interesse pelas vendas externas por parte tanto de usinas da região centro-sul quanto do Nordeste.
A manutenção dos preços do etanol em patamar elevado esteve atrelada à menor produção da safra. O consumo interno de ambos os tipos, anidro e hidratado, por sua vez, caiu 19,7%, o que equivale a cerca de 2,7 bilhões de litros – comparativo de abril a outubro de 2011 com igual período de 2010, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Em termos de remuneração entre os produtos sucroalcooleiros, o açúcar apresentou vantagem média de 34% sobre o anidro de abril a novembro de 2011. Já em relação ao hidratado, o alimento remunerou, em média, 51% mais que o combustível no mesmo período. Comparando-se os dois tipos de etanol, o anidro remunerou 14% a mais que o hidratado, em média. Em período equivalente na temporada anterior (2010/11), o açúcar remunerou 67% mais que o anidro e 85% mais que o hidratado; o anidro, por sua vez, remunerou 9% mais que o hidratado.
No campo institucional, algumas mudanças ocorreram no mercado de etanol ao longo de 2011. No final de agosto, o governo federal editou Medida Provisória que reduziu o porcentual de anidro na composição da gasolina C de 25% para 20% ou 18% a partir de 1º de outubro, com validade por tempo indeterminado.
Outra medida, que foi anunciada pela ANP no dia 13 de dezembro, determina a comercialização antecipada por parte das usinas de 90% do anidro já no início da próxima safra. O volume que as distribuidoras deverão contratar também é de 90% das suas estimativas de vendas. Os compradores que não contratarem o volume fixado deverão dispor, no final de janeiro, de estoques próprios equivalentes a 25% do volume comercializado no ano anterior. Essa medida, no entanto, ainda carece de detalhamentos e tem causado muita polêmica no setor.
Livre acesso ao mercado americano
Diante de tantas incertezas para o setor sucroalcooleiro, ao menos, uma notícia veio para alegrar o setor ainda no final de 2011. A informação divulgada era do livre acesso da produção nacional ao mercado dos Estados Unidos, depois de acirradas três décadas de protecionismo. A legislação americana que incluía altos subsídios para a indústria do etanol e uma pesada tarifa contra o produto importado, expirou em 31 de dezembro.
Apesar de diversas articulações pela extensão dos subsídios e da tarifa durante as últimas semanas de trabalho do legislativo americano, prevaleceu a coalizão formada por inúmeras empresas e entidades contrárias a esses incentivos, da qual participa a Unica. Nos últimos meses, a coalizão intensificou o trabalho contra os subsídios pagos às distribuidoras que fazem a mistura de etanol à gasolina – subsídios que custam ao contribuinte americano cerca de US$ 6 bilhões por ano. O trabalho também foi intenso contra a manutenção da tarifa de US$ 0,54 imposta por Washington sobre cada galão importado. A tarifa impedia que o etanol brasileiro chegasse ao mercado americano com preços competitivos.
A nova realidade, de acesso desobstruído aos EUA para o etanol brasileiro a partir de janeiro de 2012, exige um novo tipo de acompanhamento, com foco em posições maduras e voltadas para o futuro por parte dos dois países, na visão de Jank. “Este é o momento em que Brasil e Estados Unidos, que juntos respondem por mais de 80% do etanol produzido no mundo, devem mostrar liderança e trabalhar juntos para criar um verdadeiro mercado global para o etanol, livre de barreiras tarifárias, a exemplo do que já acontece com o petróleo. Os dois países devem dar o exemplo e incentivar o resto do mundo para que produza e utilize mais etanol”.