Em Minas Gerais, projetos de excelência em qualidade de leite garantem mais do que um produto final de melhor padrão, agregam maior renda ao produtor e o estímulo a uma produção que atenda melhor os requisitos de sanidade.
A idéia não era pra ser uma das mais sofisticadas, mas tinha de se provar útil a ser implantada por pecuaristas leiteiros de Minas Gerais, especialmente o pequeno produtor. A título de experiência, um projeto piloto, iniciado em abril deste ano, rendeu resultados positivos em apenas um mês de trabalho. A média do exame de contagem bacteriana, que mede o nível de unidades formadoras de colônia (UFC), ou contagem bacteriana total (CBT), caiu de 1.355 por mililitro (ml) de leite para 228 – uma significativa redução de 83%; já em relação àˆ contagem de células somáticas (CCS), a média, que estava em 851 por ml de leite, caiu para 628 – redução de 26%.
Com base nisso, o projeto foi posto em prática e, atualmente, é o foco dos trabalhos do Polo de Excelência de Leite e Derivados [ou simplesmente, Polo do Leite], um programa estruturador do governo do Estado de Minas Gerais e que está ligado à Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes).
As diretrizes que regem esse programa formam o Sistema Mineiro de Qualidade do Leite (SMQL), o qual deve reger os demais projetos a serem desenvolvidos no Estado, bem como servir de referência para outras regiões produtoras de leite do País. Este ano, por exemplo, o projeto foi implantado em 60 indústrias e atingiu mais de 900 produtores rurais. “Em média, são 15 produtores por indústria que são contemplados”, diz Abel Leocádio Fernandes, consultor do Polo do Leite, “mas sempre acaba sendo mais que isso. Devido, justamente a grande procura, estendemos esse iniciativa em mais seis meses, que deve finalizar por volta de maio e junho de 2012”.
Inicialmente as regiões abrangidas foram Zona da Mata e Campos das Vertentes. Logo depois, Triângulo Mineiro, Alto do Paranaíba e Norte de Minas tiveram também sua vez de participar. A idéia se mostrara tão certo que fez nascer outro projeto, agora, em caráter nacional, que conta com a parceria de Dairy Partners Americas (DPA) – uma associação da Nestlê com a Fonterra, Brasil Foods (BRF) e Itambé. “Entramos em contato com essas empresas e expomos a questão da importância do estímulo da qualidade do leite. Isso é, de fato, um assunto que muito interessa à indústria e, por isso, conseguimos aprovar um protocolo mínimo de qualidade para que os produtores seguissem, e com isso, ampliamos nosso alcance na promoção dessas características superiores almejadas pela indústria láctea”, ressalta Fernandes.
Nada fora do normal
Voltando até um pouco na história, com a implantação do projeto piloto e os resultados apresentados – isso servira de exemplo de que, com uso de técnicas simples, é poss’vel reverter o quadro de contaminação desse alimento, chegando a patamares aceitáveis pela legislação no País. Apesar de o trabalho focar os pequenos produtores, o Polo do Leite trabalha também com grandes a médios estabelecimentos. “No entanto, o que nós temos percebido é que os protocolos dessas fazendas já estão bem desenvolvidos. Por outro lado, a turma de ordenha ao pé (manual) e de ordenha coletiva era a que precisava de atenção. Nesse sentido, nós desenvolvemos um protocolo voltado para esse produtor rural”.
Esse protocolo, ou as diretrizes para a produção de leite de qualidade, se baseia, primordialmente, na implantação de um sistema simples de gestão da qualidade que visa reduzir a CBT, a CCS e a inibição de presença de antibióticos no leite cru. Além de todos os cuidados com a sanidade do rebanho e do ordenhador, o ponto chave do sucesso do projeto foi a adoção de condutas de higiene por parte do trabalhador nessa atividade. Neste aspecto, o kit que revelou maior importância é chamado de “cinturão de qualidade”. Trata-se de uma pochete, na qual v‹o soluções assépticas necessárias à atividade e toalhas de papel. “São técnicas simples. Não estamos falando do emprego de uma tecnologia altamente sofisticada e que requer muito investimento. Pelo contrário, são só normas de higiene”, frisa Fernandes.
Palestras e capacitações diretamente com os produtores provaram na prática que as normas podem ser realizas. No entanto, o que mais chama a atenção é o incentivo que a indústria está disposta a pagar a mais pelo leite de qualidade. De acordo com o consultor do Polo do Leite, isso serve de estímulo para a manutenção desse sistema. “Além disso, estamos gerando mais benefícios, com a própria padronização de produção e captação do leite na região. Por exemplo, sou retireiro e trabalho na fazenda A. Aí eu mudo de emprego, foi para a fazenda B. Ao chegar lá, me deparo com um novo jeito de trabalhar… Com essa padronização, não há mais esse problema. Posso chegar nessa nova fazenda, e saber exatamente o que devo fazer e também já saberei a qualidade de leite e procedimentos requeridos pela indústria a qual passo a ser fornecedor”.
Abrangncia nacional
Com o casamento, então, do SMQL e do protocolo mínimo de boas práticas junto às grandes indústrias (DPA, BRF e Itambé), acelera-se também os incentivos a excelência láctea no País – processo no qual serão estabelecidas trocas recíprocas entre produtor, indústria e governo. A DPA (Nestlê/Fonterra), por exemplo, conta com o projeto Boas Práticas na Fazenda DPA. A BRF está implantando o programa de pagamento por qualidade do leite (ProQuali). A Itambé trabalha com pagamento pela qualidade do leite e ações direcionadas à qualidade, segurança e meio ambiente. Já o Polo do Leite exerce a atividade de Certificação de Qualidade do Leite (Certileite).
No final de 2011, cerca de 2.260 fazendas recebem suporte das empresas para a implantação do protocolo de acordo com os critérios estabelecidos, que engloba, entre outros, o controle de drogas veterinárias, plano sanitário e tratamento de efluentes, condições das salas de ordenha, existência de sistema de drenagem adequado, armazenamento do leite, higienização dos utensílios, registro de entrada e saída de animais, identificação individual dos animais e sinalização adequada, conforto animal, adequação da fazenda à legislação ambiental e trabalhista.