A experiência da Fazenda Ecológica, em Mato Grosso, mostra o conceito de pasto ecológico como uma alternativa viável para a recuperação de áreas degradadas e preservação do meio ambiente.
Explorar a propriedade de forma ecológica, procurando interferir o mínimo possível no meio ambiente sempre foi uma das prioridades dos irmãos Judismar, Cláudio e Jurandir Melado, sócios da Fazenda Santa Fé do Moquém, a Fazenda Ecológica, de Nossa Senhora do Livramento (MT). A propriedade foi adquirida por eles no ano de 1987, passando a introduzir na década de 1990 uma formação de uma pastagem com um manejo que exclui o uso de práticas convencionais, como o desmatamento prévio, o fogo e aração do solo.
De acordo com Jurandir Melado, que tem formação em Agronomia, o resultado constatado já através das primeiras pastagens obtidas por meio desse método foi bastante positivo, mas era preciso acelerá-lo, o que foi possível por meio da divisão em 20 partes da propriedade, cuja área total é de 500 hectares. “Foi necessário o uso de piquetes para facilitar o manejo e isso valeu muito a pena. Conseguimos a formação de um pasto diferenciado, algo nunca antes visto na região do Cerrado”, diz. Na época, o habitual para formação de pastagem, segundo ele, era que se passasse o trator, zerasse a vegetação e a queimasse. No caso do solo, havia necessidade preparação para que se plantasse o capim. “Pensamos em fazer uma situação diferente, de cercar o Cerrado com pastagens nativas e jogar a semente de gramínea”, pontua. Foi a partir daí que surgiu o termo Pastagem Ecológica e Jurandir começou a escrever sobre o assunto.
Melado esclarece como é possível transformar uma fazenda tradicional em uma fazenda ecológica e aplicar esse método em áreas degradadas. “Procuramos preconizar uma integração pecuária-floresta (Sistema Silvipastoril), com o uso de árvores nativas. Observamos melhorias de outros aspectos, como a preservação das matas ciliares e de animais silvestres, favorece um controle natural de pragas e a própria disponibilidade de água. Nesse sistema, temos passado a recuperar o pasto de forma natural e o gado faz tem um papel importante, o de aliado”, comenta.
Segundo ele, a Pastagem Ecológica pode ser introduzida em qualquer tipo de bioma, desde que envolva os seguintes pontos: arborização adequada, diversificação das forrageiras, aplicação do Pastoreio Racional Voisin, para o manejo dos animais e a exclusão total de procedimentos convencionais como o manejo com fogo, uso de adubos altamente solúveis e alguns agroquímicos e roçadas sistemáticas. “Em uma pastagem, em qualquer estágio, ao aplicar esse conjunto de ações você obtém uma pastagem ecológica. Grandes produtores, a exemplo de Jorge Picciani, do Grupo Monte Verde (de Minas Gerais), o ex-ministro Carlos Minc e também órgãos do governo já descobriram as vantagens desse manejo sustentável, não só como proteção do meio ambiente, mas como meio de elevar a produtividade da pecuária”, afirma.
Divulgação do Conceito
Melado ressalta que a rotação de pastagens sob o campo nativo que gerou a Pastagem Ecológica é existente há muito tempo, mas especificamente naquela região foi uma coisa nova. A divulgação do trabalho desenvolvido na Fazenda começou no ano de 1993, inicialmente, por meio de um artigo que teve centenas de cópias distribuídas. A imprensa logo despertou interesse pelo projeto e começou a veiculá-lo nacionalmente.
Dois outros fatos marcantes para a expansão do conceito de Manejo de Pastagem Ecológica, segundo o agrônomo, ocorreram nos anos de 1999 e no 2000. “Em 1999, fui convidado por uma editora para realizar um vídeo curso sobre o assunto, com esse produto foi possível expandir o conceito para outras regiões. A partir do ano 2000, a técnica começou a ser utilizado como alternativa ao uso do fogo pelo Programa Amazônia sem Fogo. Esse programa, em função de seu sucesso, foi renovado por cinco vezes e está sendo levado para outros países da América do Sul”, destaca Melado, contando ainda que na sequência, o manejo passou a ser integrado também em outros projetoss voltados para o desenvolvimento sustentável e de preservação do meio ambiente, como o Corredores Ecológicos da Mata Atlântica.
Reconhecimento
A experiência obtida na Fazenda Ecológica chamou a atenção ainda da mais importante instituição de pesquisa e desenvolvimento nacional, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), que passou a convidar Jurandir Melado para participar de alguns eventos, a exemplo da Conferência Virtual sobre Criação Orgânica de Bovinos, em 2002, e do Curso Internacional de Capacitação em Tecnologias Agroflorestais no ano passado. Também em 2010, a convite da Conferência Internacional Ethos, Melado participou da Mostra Ethos de Tecnologias Sustentáveis, com as tecnologias Manejo de Pastagem Ecológica e a Cerca Elétrica Padrão Fazenda Ecológica.
O responsável do projeto define 2007 como um ano especial de coroação e reconhecimento aos resultados do conceito. Foi nesse período que a Revista de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e Embrapa, solicitou e publicou um artigo sobre a Pastagem Ecológica e que este manejo recebeu três prêmios. “Foi um ano de conquistas, começando com o Prêmio Ecologia, do Instituto de Meio Ambiente do Espírito Santo, Prêmio von Martius de Sustentabilidade, da Câmara Brasil Alemanha e o Prêmio Chico Mendes, do Ministério do Meio Ambiente”, recorda.
Certo de que o conceito de Fazenda Ecológica será o modelo predominante no futuro, Jurandir Melado registrou no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) a marca “Fazenda Ecológica”. Não para restringir o seu uso, para evitar que alguém fizesse o registro e limitasse o seu uso. Ele pretende deixar reservado apenas para ele a marca quando usada em produtos comerciais.
Atualmente, a Fazenda Ecológica contempla a produção de gado de corte, mas de forma mais demonstrativa do que com objetivo comercial. A propriedade recebe constantemente visitas técnicas e de perfil educativo, realizadas por professores principalmente da área de manejo de pastagens, que levam seus alunos para conhecer esse modelo, que além da preservação ambiental, tem em suas diretrizes preocupação com o bem-estar animal e responsabilidade social e trabalhista. Para quem quiser saber mais sobre o assunto, Jurandir Melado deixa um convite para conhecer o site www.fazendaecologica.com.br.