Agricultura

Cana: chuva e cana, uma combinação nada doce

O balanço da Unica, divulgado no mês de junho, mostra como as chuvas têm impactado negativamente os primeiros números da safra 2011/2012, em relação ao mesmo período da produção registrada em 2010/2011.

As chuvas que atingiram partes do centro-sul do País no começo do mês de junho prejudicaram os trabalhos nas lavouras de uma das mais significativas culturas da região, a cana-de-açúcar. O resultado foi a redução direta na produção de açúcar, etanol e na concentração da sacarose nesse início do atual ano safra. “Tivemos uma redução no ritmo de moagem dada pela dificuldade de colheita nos primeiros 15 dias do segundo semestre do ano”, atribui Antonio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica).

A informação é reforçada pelo relatório divulgado pela entidade, que mostra os dados referentes à primeira avaliação quinzenal de 2011/2012, que leva em conta a posição registrada no dia 16 do mesmo mês.

Levando em conta apenas a primeira quinzena de junho, a moagem de cana-de-açúcar teve queda de 13% em relação ao mesmo período da safra anterior, diminuindo de 39,77 milhões de toneladas processadas para 34,59. Na produção de açúcar, a redução em porcentagem foi semelhante, 13,6%, passando de 2,30 para 1,99 milhões de toneladas. A soma total de etanol, aí incluem-se o anidro e o hidratado, ficou registrada em 1,43 bilhões de litros (-15,8%). No total acumulado da safra 2011/2012, o volume de cana moída foi de 134,58 milhões de toneladas, redução de 22,63% em relação ao mesmo período do ano passado. A produção de açúcar teve queda de 24,7%, diminuindo de 8,95 milhões de toneladas para 6,73. Já o total de etanol, entre anidro e hidratado, caiu de 7,15 bilhões de litros para 5,33. Ainda segundo o levantamento da organização, a quantidade de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) esteve em 130,84 quilo por tonelada (kg/t) de cana-de-açúcar, 2% a menos que o valor obtido no mesmo período quinzenal do último ano.

A Unica também destaca que no acumulado desde o início da safra, a concentração de ATR apresenta queda de 2,97% comparada com o mesmo período de 2010, totalizando 120,04 kg/t de matéria-prima. Vale ressaltar que todos os números apresentados somam informações de sete entidades, Associação dos Produtores de Bioenergia no Estado do Paraná (Alcopar), Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul (Biosul), Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Sindicato da Indústria de Fabricação de Etanol do Estado de Goiás (Sifaeg), Sindicato Fluminense dos Produtores de Açúcar e Etanol (Sindaaf), Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras de Mato Grosso (Sindalcool) e Sociedade das Usinas e Destilarias do Espírito Santo (Sudes).

Análise e perspectivas

Atualmente, o custo de produção do açúcar na porção centro-sul do Brasil é de R$ 29,86 por saca de 50 kg (posto na usina), segundo aponta a estimativa da Archer Consulting. Para Arnaldo Corrêa, gestor de riscos e diretor da empresa, é importante ressaltar que o setor tem vivo um cenário bem semelhante ao verificado há um ano. “O volume de açúcar produzido está abaixo do comparado ao mesmo período do ano passado, além dos problemas logísticos que poderão se repetir, com as mesmas cenas de filas de caminhões esperando desembarcar no porto”, observa. De acordo com ele, para uma usina cujo mix de produção seja semelhante ao dessa região, espera-se um retorno líquido médio (depois do custo financeiro) de 19,38%, “e isso levando em conta que o mercado interno de açúcar vem remunerando melhor que o açúcar para exportação”, explica o consultor.

Quanto ao setor de etanol, ele acredita que esse cenário apresentado pela Unica já tem refletido certa inquietude. “Dificilmente haverá numa recuperação que eleve o total de moagem do ano para próximos de 560 milhões de toneladas, como foi previsto pelo setor no início da safra. Ela deve fechar em torno de 535 milhões de toneladas, o que certamente porá aumentar a preocupação do governo, que esperava ver equacionado o problema de oferta do etanol”, diz, pontuando que na comparação dos preços, com base nos negociados na Bolsa de Valores de São Paulo/Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&FBovespa), o valor negociado do etanol ainda está muito barato quando comparado ao açúcar. “Mas ele pode ser um bom caminho, caso produtores e investidores não quiserem correr riscos”, completa.

Por fim, Corrêa salienta a falta de um mercado livre para o etanol, o que proporcionaria transparência e segurança ao produtor, visibilidade de preço aos investidores e, sobretudo, competição de preços finais ao consumidor. “Esse é o principal entrave para que ele se torne, de fato, uma commodity, já que no Brasil o preço do etanol é equiparado ao da gasolina que, por sua vez, é indiretamente determinado pelo governo”.

Também no mês de junho, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) anunciou uma linha de crédito específica para renovação e expansão dos canaviais para a safra 2011/2012. Ela faz parte do Plano Agrícola e Pecuário e destina até R$ 1 milhão para produtores independentes com prazo de pagamento de cinco anos. Segundo o governo, o objetivo é atender a demanda crescente por etanol, em função da expansão do mercado dos carros flex fuel, e permitir uma estabilidade dos preços do combustível. A renovação do canavial também dá maior eficiência à produção com incremento do uso de tecnologia e recuperação da lavoura. Segundo o ministro Wagner Rossi, a cultura também foi beneficiada com aumento de limite de custeio de R$ 275 mil para R$ 650 mil.

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