Especialistas no mercado de produção de carne elegem os melhores confinamentos do País – são estes sustentáveis e também altamente produtivos.
“MANTEMOS CONTRATO COM UMA EMPRESA QUE DISPONIBILIZA UMA SÉRIE DE CURSOS AOS NOSSOS FUNCIONÁRIOS, PROPORCIONANDO-LHES MELHORES CONDIÇÕES DE TRABALHO BEM COMO NA PRÁTICA COTIDIANA DA ATIVIDADE”, DECLARA ÁLVARO JOSÉ SANCHES, UM DOS PROPRIETÁRIOS DA FAZENDA PLANALTO VERDE IV, EM PRESIDENTE OLEGÁRIO (MG).
ANDRÉ LUIZ PERRONE DOS REIS, DA FAZENDA MONTE ALEGRE, EM BARRETOS (SP), DURANTE A CERIMÔNIA DE PREMIAÇÃO DURANTE A EDIÇÃO DA FEICORTE DESTE ANO LADEADO POR WAGNER AUGUSTO (À ESQ.) E ANTONIO SEBASTIÃO DOMINGUES NETO: “NÓS MANTIVEMOS A MELHOR CAPACIDADE DE LOTAÇÃO VISANDO OS MELHORES CRITÉRIOS DE GANHO DE PESO. OU SEJA, O CONFINAMENTO MONTE ALEGRE NÃO FOI O MAIOR, NEM O MELHOR EM GANHO DE PESO. ELE FOI O MELHOR NA MELHOR MÉDIA PONDERADA DE VÁRIOS QUESITOS, QUE É O GERA O ÍNDICE EXCON”.
“DECIDIMOS ORGANIZAR ALGO INTERESSANTE PARA MOVIMENTAR O ESPAÇO DA CARNE DURANTE A FEICORTE, COMO HOUVE, NO ANO PASSADO, O BALDE DE OURO, NA FEILEITE, QUERÍAMOS ENTÃO FAZER ALGO PARA A PECUÁRIA DE CORTE… ALGO COMO O CONFINAMENTO DE OURO, E AÍ COMEÇOU ESSA IDEIA”, DECLARA MARCO TÚLIO HABIB SILVA, COORDENADOR DA ÁREA DE CURSOS E EVENTOS DA SCOT CONSULTORIA.
“A PRÓPRIA NECESSIDADE DO SETOR NOS FEZ PROMOVER ESSA AÇÃO, POIS AINDA MUITO POUCO É MOSTRADO, E PRECISAMOS APRESENTAR O QUE É FEITO NESSA ATIVIDADE, QUE EFETIVAMENTE POSSUI ALTA PRODUTIVIDADE E QUE APRESENTA MENOR IMPACTO AMBIENTAL”, AVALIA BRUNO DE ANDRADE, ZOOTECNISTA RESPONSÁVEL DA ASSOCON.
Desde quando o sistema pecuário foi instituído em 1995, os trabalhos na Planalto Verde IV preconizavam cuidados tanto na parte social como ambiental.
A ideia era que os filhos dos funcionários adotassem uma árvore nativa. Atualmente, são 25 a 30 participantes mirins – o que representariam o mesmo número de árvores plantadas a cada ano.
Ao todo, foram inscritos mais de 100 confinamentos pelo Prêmio Nelson Pineda – a iniciativa foi oportuna justamente por valorizar o trabalho do produtor rural.
Quando Álvaro José Sanches, pecuarista e um dos proprietários da Fazenda Planalto Verde IV, em Presidente Olegário (MG), fez sua inscrição ao Prêmio Nelson Pineda de Excelência em Confinamento nem sequer imaginou que pudesse ser condecorado como o melhor estabelecimento rural no quesito sustentabilidade do ano de 2010 (especificamente, nessa categoria ele foi um dos que alcançaram a maior nota, 7,5). Todavia o trabalho de Sanches também fora honrado como uma das 40 propriedades de excelência na atividade.
“Realmente fiquei muito surpreso com essa premiação”, diz Sanches. “Quando fui chamado para participar da solenidade de entrega dos troféus, estava até pensando em não ir, em função de muitos trabalhos aqui na fazenda. No final das contas, fui e lá soube que a Planalto Verde IV fora a unidade número um em sustentabilidade”.
O espanto do pecuarista era o fato de como ele, um pequeno confinador que atualmente gira cerca de três mil cabeças por ano, pôde conseguir tal feito. Talvez seja um bom exemplo de como realmente é possível desenvolver a atividade de bovinocultura de corte através de uma postura econômica, social e ambientalmente responsável.
A premiação foi uma iniciativa da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), da Scot Consultoria e do Agrocentro, empresa realizadora de importantes eventos agropecuários do cenário nacional e internacional. A cerimônia foi durante a 17ª Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne (Feicorte), na noite de 14 de junho, e compôs a lista de atividades do Espaço Carne, ponto de encontro de divulgação das qualidades e processos da pecuária de corte.
Foco na capacitação profissional
A propriedade mineira de cerca de 1.400 hectares se especializou em todo o ciclo da bovinocultura de corte, com a cria, recria e engorda. Desde quando o sistema pecuário foi instituído em 1995, os trabalhos na Planalto Verde IV preconizavam cuidados tanto na parte social como ambiental, segundo Sanches.
Houve inicialmente uma preocupação quanto à localização da área a se instalar o confinamento, com o objetivo de não atrapalhar a vizinhança ao mesmo tempo em que fosse um ponto estratégico para o negócio. Em 2008, a fazenda conseguiu a licença ambiental e desde então mantém cursos de capacitação constantes para os cinco funcionários. Esse foco na gestão de pessoas foi um dos diferenciais apresentados pelo pecuarista e o que o destacou perante os demais. “Mantemos contrato com uma empresa que disponibiliza uma série de cursos aos nossos funcionários, proporcionando-lhes melhores condições de trabalho bem como na prática cotidiana da atividade”.
No ano de 2009 do produtor tornou-se sócio da Assocon, entidade que prega as boas práticas agropecuárias entre os seus associados através do Programa de Qualidade (PQA), no qual são estabelecidas normas de biossegurança e de bem-estar para os animais. Sanches lembrou que, naquela época, houve uma iniciativa para ter reconhecimento quanto aos protocolos EurepGAP e GlobalGAP (certificados que garantem a produção feita sob boas práticas agropecuárias).
“Dos itens listados e que faltavam na minha fazenda para eu ter esse certificado, restavam poucos a cumprir. Isso quer dizer que já vínhamos trabalhando essa questão de sustentabilidade bem antes”, assegura o pecuarista.
Confinamento de excelência
Ter a questão da sustentabilidade na gênese do negócio parece ser a veia que nasce naturalmente e faz o produtor compreender o seguinte fato – sem o meio ambiente, não há como produzir. Assim como para Sanches, é igualmente o mesmo pensamento de André Luiz Perrone dos Reis, outro exemplo de condução responsável na pecuária de corte intensiva.
Na Fazenda Monte Alegre, em Barretos (SP), o pecuarista pôs em prática tudo que aprendeu com as lições passadas pelos avós, com base nos cultivos de cana-de-açúcar e citricultura. “Quando começamos a construção do confinamento Monte Alegre”, conta Reis, “lá por volta de 1990, nós já pensávamos na preocupação com o meio ambiente. Meu avô [Osvaldo Perrone] era uma pessoa extremamente criteriosa, e vislumbrava a parte de preservação do solo. Quando via uma enxurrada muito forte, dizia que junto com a água, lá se iam todos os nutrientes do solo”.
Daí, partiram-se os moldes para a construção do confinamento da fazenda – que se beneficiaria dos insumos da própria produção do grupo, como o bagaço da cana e da polpa cítrica, para compor a dieta do gado. De acordo com Reis, a infraestrutura foi montada em terreno com declividade apropriado para garantir o bom escoamento, e assim, garantir a preservação da estrutura física do solo. Lagoas de decantação foram instaladas para o manejo com os dejetos, que são utilizados como adubo na lavoura de cana e de citros.
Hoje o empreendimento possui certificação da GlobalGAP, preconiza um manejo responsável com o rebanho (muitas árvores e um sistema de climatização garantem conforto térmico aos animais), e ainda tem um trabalho de manutenção ambiental bem rigoroso, com a proteção às matas ciliares e às demais áreas de preservação permanente (APP) da propriedade.
Há cerca de quatro anos um projeto encabeçado por eles tem promovido uma geração de pequenos amantes da natureza. A ideia, no princípio, era que os filhos dos funcionários adotassem uma árvore nativa (eles mesmos plantavam, colocavam os nomes deles e, a partir de então, tinham de cuidar dela). Logo, demais crianças da comunidade também fariam parte da iniciativa. Atualmente, são 25 a 30 participantes mirins – o que representariam o mesmo número de árvores plantadas a cada ano.
Foi diante da soma de todos os quesitos que a propriedade sagrou-se a número um no Índice Excelência em Confinamento (Excon) – um posto que se compararia ao top do top entre as unidades de pecuária de corte intensiva. Entre os pontos que mais ajudaram o empreendimento a conquistar esse prêmio está a maior eficiência na taxa de lotação ao longo de todo ano – no caso, o de 2010. Isso quer dizer, ter gado o ano inteiro na engorda sem deixar espaço ocioso na unidade. “Nós mantivemos a melhor capacidade de lotação visando os melhores critérios de ganho de peso. Ou seja, o Confinamento Monte Alegre não foi o maior, nem o melhor em ganho de peso. Ele foi o melhor na melhor média ponderada de vários quesitos, que é o gera o índice Excon”, ressalta Reis.
Tecnologia a serviço de todos
O negócio familiar iniciado em meados de 1990 foi se transformando de tal maneira que atualmente serve como uma ponte entre o pequeno produtor e as indústrias de carne. Incorporou modalidades de terminação estratégica como o boitel e parceria com frigoríficos para conseguir preços mais satisfatórios. Isso impulsou a produção, além de servir como um fator de promoção de desenvolvimento de pecuaristas vizinhos, que passavam a ser, então, sócios dentro desse projeto. “Esse era justamente nosso objetivo”, enfatiza Reis, “trazer esse parceiro pecuarista tradicional a uma realidade de tecnologia de confinamento que, sozinho, talvez ele não fosse capaz de ter. A partir do nosso trabalho, pudemos dar essa oportunidade a esse pequeno produtor, e daí ele acaba tendo acesso às mesmas condições de mercado oferecidas a grandes propriedades em termos de exportação e preços melhores”. Entre os benefícios estão, por exemplo, a participação na lista Traces – na qual são listadas as unidades de produção de carne que estão habilitadas à comercialização no mercado comum europeu.
Atualmente a fazenda Monte Alegre possui uma capacidade de terminação de 13 mil cabeças estáticas – até o final deste ano esse número deve passar para 15 mil. A previsão é que a safra total 2011 gire em torno de 30 mil.
As diretrizes da premiação
Entre os dois exemplos de confinamentos expostos, ficou claro o pensamento unânime – a valorização por iniciativas como essa encabeçada pela Scot Consultoria, Assocon e Agrocentro. Tanto Sanches como Reis demonstraram que a premiação foi uma forma bem oportuna para mostrar os benefícios do setor de terminação intensiva do rebanho brasileiro, tanto para a economia quanto para o meio ambiente.
“Decidimos organizar algo interessante para movimentar o Espaço da Carne durante a Feicorte”, declara Marco Túlio Habib Silva, coordenador da Área de Cursos e Eventos da Scot Consultoria. “Como houve, no ano passado, o Balde de Ouro, na Feileite, queríamos então fazer algo para a pecuária de corte… Algo como o Confinamento de Ouro, e aí começou essa ideia”.
A equipe de especialistas da Scot elaborou as questões e os critérios para revelar as propriedades de excelência. Questionários foram aplicados aos participantes, os quais continham itens que variavam de 0,25, 0,50 e 1,00 ponto.
Para os destaques na premiação eram apresentados o relatório de abate expedido pelo frigorífico, pois nele consta o número de cabeças abatidas, o peso médio dos animais e se houve problema sanitário ou não. “Já em relação à sustentabilidade, pegamos o nome do funcionário, justamente com o CPF dele e os certificados de conclusão de cursos de aperfeiçoamento profissional. Todas essas documentações tinham de ser apresentadas para comprovar as informações”, diz Silva.
Ao todo, foram inscritos mais de 100 confinamentos – a iniciativa foi oportuna justamente por valorizar o trabalho do produtor rural, de acordo com o Bruno de Andrade, zootecnista responsável da Assocon. “A própria necessidade do setor nos fez promover essa ação, pois ainda muito pouco é mostrado, e precisamos apresentar o que é feito nessa atividade, que efetivamente possui alta produtividade e que apresenta menor impacto ambiental”, avalia Andrade.
A iniciativa deu muito certo e deve ter novas edições nos próximos anos, tornando-se um momento especial para os produtores de carne do País. Para o representante da Assocon, isso já vem promovendo a prática entre a classe produtora bem como ao mercado consumidor.
Em termos de crescimento do número de confinamentos pelo País, Andrade projeta um incremento médio de 10% ao ano dentro de dez a 15 anos. “Temos uma questão ambiental que deve crescer nos próximos anos, e esse tipo de produção segue a linha da produção sustentável, por isso vislumbro essa alta da atividade no Brasil”, conclui.