É chegada a hora de intensificação do controle vacinal do rebanho com a primeira etapa de imunização contra a febre aftosa.
“ESSE É O CALENDÁRIO OFICIAL ATÉ O MOMENTO. SE HOUVER NECESSIDADE DE FAZER ALTERAÇÕES POR QUESTÕES CLIMÁTICAS, COMO SECAS OU EXCESSO DE CHUVAS, OU POR DIFICULDADE DE EXECUÇÃO PLENA DA VACINAÇÃO, NÓS VAMOS AVALIAR”, AFIRMA O DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE SAÚDE ANIMAL (DSA) DO MAPA, GUILHERME HENRIQUE FIGUEIREDO MARQUES.
“O VÍRUS É SENSÍVEL À LUZ SOLAR, AO AUMENTO DE TEMPERATURA, VARIAÇÕES DE PH, DESINFETANTES, MAS É RESISTENTE AO CONGELAMENTO, O QUE É IMPORTANTE QUANDO SE REFERE À COMERCIALIZAÇÃO DA CARNE”, EXPLICA RAUL MASCARENHAS, MÉDICO VETERINÁRIO DA EMBRAPA PECUÁRIA SUDESTE.
A expectativa é que sejam disponibilizadas aproximadamente 560 milhões de doses para a imunização de cerca de 208 milhões de cabeças, número estimado do rebanho nacional.
Neste ano, os investimentos para controlar a doença podem alcançar R$ 59 milhões e serão aplicados no apoio à manutenção e melhoria estrutural dos serviços veterinários, capacitação de pessoal, campanhas de vacinação estratégicas e trabalhos de educação sanitária.
Já começaram as campanhas de vacinação contra a febre aftosa no País. A partir deste mês de maio as ações se intensificam em todo o território nacional para controlar esta doença considerada a de maior importância econômica para a atividade pecuária brasileira. A expectativa é que sejam disponibilizadas aproximadamente 560 milhões de doses para a imunização de cerca de 208 milhões de cabeças, número estimado do rebanho nacional.
Em relação ao ano passado, ocorreram alterações no cronograma em alguns Estados da região Nordeste. Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, que anteriormente realizavam a imunização em abril e outubro, agora passarão a vacinar os rebanhos em maio e novembro, assim como o restante das unidades federativas do Nordeste.
Em Goiás e Distrito Federal, o cronograma de imunização também sofreu alteração. A vacinação anual de todos os bovinos e bubalinos será realizada em maio, enquanto os animais até 24 meses de idade serão imunizados a partir de novembro. O único Estado que começou a campanha já no mês de abril (15) foi Roraima. O restante das unidades inicia a imunização em maio, exceto Santa Catarina, Estado considerado livre de febre aftosa sem vacinação.
“Esse é o calendário oficial até o momento. Se houver necessidade de fazer alterações por questões climáticas, como secas ou excesso de chuvas, ou por dificuldade de execução plena da vacinação, nós vamos avaliar. É importante salientar que só ocorrerão mudanças em caráter excepcional e que em qualquer situação desse tipo, os pecuaristas serão comunicados com a devida antecedência”, explica o diretor do Departamento de Saúde Animal (DSA) do Mapa, Guilherme Henrique Figueiredo Marques.
Neste ano, os investimentos para controlar a doença podem alcançar R$ 59 milhões e serão aplicados no apoio à manutenção e melhoria estrutural dos serviços veterinários, capacitação de pessoal, campanhas de vacinação estratégicas e trabalhos de educação sanitária. No total, a previsão é destinar mais de R$ 93 milhões para a Saúde Animal.
O governo federal afirma ter intensificado as ações contra a febre aftosa nos últimos oito anos. No período de 2003 a 2010, segundo o Mapa, os recursos passaram de R$ 3,3 milhões, para R$ 55,9 milhões, o que representa crescimento de 1.693,9%.
Em 2010, a taxa de cobertura vacinal de bovinos e búfalos contra a doença alcançou 97,3%. Os Estados que registraram os melhores resultados na vacinação foram Mato Grosso, com 99,74%, Tocantins, com 99,52% e Mato Grosso do Sul, com 99,41% dos animais imunizados.
Classificação
Atualmente, 15 unidades da federação são reconhecidas pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) como livres de febre aftosa com vacinação: Acre, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Distrito Federal. Além disso, detêm esse status, a região centro-sul do Pará e os municípios de Guajará e Boca do Acre, no Amazonas.
O Estado de Santa Catarina é reconhecido pela OIE como livre da doença sem vacinação. Em risco médio estão Alagoas, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e a região centro-norte do Pará. Em alto risco encontram-se Roraima, Amapá e as demais áreas do Estado do Amazonas.
Febre aftosa
Sete são os tipos conhecidos do vírus do gênero Aphtovirus, que causam a doença – A, O e C, que circulam pela América do Sul, África e Ásia; SAT1, SAT2 e SAT3, que circulam na África; e, por fim, ASIA1 que está presente na Ásia. “Devido a isso, as vacinas utilizadas no Brasil só apresentam somente os tipos A, O e C”, explica Raul Mascarenhas, médico veterinário da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP). “O vírus é sensível à luz solar, ao aumento de temperatura, variações de Ph, desinfetantes, mas é resistente ao congelamento, o que é importante quando se refere à comercialização da carne”. Mas mesmo o vírus sendo muito sensível, um animal infectado pode eliminar bilhões de partículas virais na saliva e, assim, esses patógenos conseguem viajar dezenas de quilômetros carreados pelo ar.
Entre os sinais clínicos observados em animais acometidos pela doença estão a febre e lesões na boca, gengivas e língua, como aftas (daí, então, o nome febre aftosa). As feridas dificultam o animal de se alimentar e promovem o emagrecimento da rês. Além disso, há ocorrência de salivação e lesões entre os cascos.
Mal à saúde humana é questionável ou quase insignificante. O fator preponderante, nesse caso, é o aspecto econômico que um surto da doença causa, como a queda da produção dos animais e óbitos de animais jovens, principalmente, em função de embargos econômicos às exportações brasileiras, estabelecidos por países que conseguiram se tornar livres da febre aftosa e que possuem medidas rígidas de prevenção e controle.
“Tais embargos influenciam negativamente em toda a cadeia produtiva indo desde a redução da entrada de divisas no País até o aumento dos custos sociais, decorrentes da elevação da marginalidade em cidades afetadas pelo desemprego com o fechamento de frigoríficos, os quais chegam a ser a principal fonte de rendas de muitas famílias em algumas cidades”, avalia Mascarenhas.
Nesse sentido, é mais do que urgente fazer com que o todo o rebanho seja imunizado. Os cuidados durante a vacinação são gerais e devem-se obedecê-los com disciplina, pois interferirão na qualidade final da imunização do gado. Segundo o médico veterinário da Embrapa Pecuária Sudeste, em termos gerais, as vacinas devem estar a todo tempo resfriadas entre 4°C e 8°C (temperatura normal de geladeira) para a conservação do medicamento.
Como preparativo para a vacinação dos animais, elas poderão ser acondicionadas numa caixa de isopor com gelo, que deverá estar sempre fechada. Horários de temperaturas mais amenas são os ideais para se fazer esse manejo, em animais saudáveis e bem nutridos, nas doses corretas recomendadas pelo fabricante, dentro do prazo de validade estabelecido, com o uso de pistolas de aplicação limpas e rotacionando as agulhas constantemente [confira no quadro, ‘Os passos para a imunização’, para mais detalhes na hora do manejo com o rebanho].
“Uma das grandes falhas ocorre quando a geladeira destinada à colocação das vacinas em uma propriedade é muito manipulada e oscila sua temperatura interna, principalmente por servir para colocação de alimentos, água e outros produtos. A geladeira destinada às vacinas só deve conter as mesmas”, alerta Mascarenhas.
Histórico
A doença foi detectada na Itália, em 1514. No Brasil, o primeiro registro ocorreu em 1895, no Triângulo Mineiro. Como prevenção, o Ministério da Agricultura realiza ações desde 1934, quando foi publicado o Regulamento do Serviço de Defesa Sanitária Animal. Mas as instruções específicas para o controle da aftosa, que incluía a vacinação, foram definidas em 1950, e as campanhas organizadas tiveram início em 1965.
Os pioneiros nessa ação foram os Estados do Rio Grande do Sul, que vacinou 2,07 milhões de bovinos, do total de 11,6 milhões, e o Paraná, que imunizou 3,8 mil bovinos, de 3,4 milhões de animais estimados na época.
Em 1976 foi registrado o maior número de focos da doença, com 10,2 mil casos. Desde abril de 2006, o Brasil não registra nenhum caso, sendo o último em Mato Grosso do Sul.
Os passos para a imunização
Na hora de comprar e armazenar
– Comprar vacinas somente com selo de garantia e de revendedores idôneos;
– Verificar as instruções de uso e a data de validade do produto;
– Nunca congelar as vacinas. A maioria delas deve ser conservada em ambiente refrigerado, entre +2°C e +8°C;
Na hora de transportar
– Transportar as vacinas em caixa térmica, na proporção de três partes de gelo para uma parte de frascos, e vedar a mesma com fita adesiva;
Na hora de vacinar
– Vacinar somente os animais sadios;
– Verificar se todos os animais dos lotes estão sendo vacinados;
– Aplicar as vacinas nos locais indicados pelos fabricantes. É recomendada a aplicação na tábua do pescoço, seja no músculo (intramuscular) ou embaixo da pele (subcutânea);
– Certificar que a agulha é adequada para o tipo de produto (oleoso ou aquoso) e a seringa/pistola está calibrada para a dose a ser injetada. Para vacinas oleosas (ex. contra febre aftosa) podem ser utilizadas agulhas 10×15 ou 15×15 para aplicação subcutânea e 30×15, para intramuscular;
– Agitar o frasco de vacina sempre antes de preencher a seringa ou pistola, bem como nas recargas, evitando bolhas de ar;
– Manter a seringa ou pistola e o frasco em uso dentro da caixa de isopor enquanto não estiver aplicando a vacina;
– Utilizar seringas e agulhas limpas e desinfectadas por fervura durante pelo menos 15 minutos (colocar os materiais após o início da fervura) e mantê-las em local limpo no decorrer dos trabalhos;
– Durante a vacinação, trocar de agulha com frequência, por exemplo, a cada 10 animais ou recarga;
– Lavar, desinfectar e secar agulhas, seringas ou pistolas ao final dos trabalhos;
– Conter os animais para a aplicação da vacina, pois isto diminui o risco de quebra de agulhas, refluxo, perda de doses e acidentes com trabalhadores e animais;
– Vacinar os animais preferencialmente nos períodos mais frescos do dia, com tranquilidade e sem correrias, evitando assim estresses desnecessários.
Recomendações gerais
– Não vacinar animais doentes ou submetidos a atividades desgastantes, como longas caminhadas ou viagens. Aguardar que os animais descansem ou se recuperem antes de vaciná-los, pois é preciso que estejam em boas condições nutricionais e de saúde para responderem adequadamente à vacinação;
– Nunca utilizar agulhas tortas, enferrujadas, com pontas rombudas, aparência de sujas ou que tenham caído no chão;
– Não usar desinfetantes para limpeza de seringas e agulhas, pois estes podem interferir na ação de algumas vacinas;
– Não aplicar a vacina em regiões do animal que estejam com barro ou esterco;
– Evitar a aplicação de vacinas em regiões de carnes nobres como linha dorso-lombar e posterior;
– As vacinas devem ser aplicadas sempre antes do aparecimento das doenças, como medida preventiva, e não durante a ocorrência do surto no rebanho;
– Os restos de vacinas devem ser destruídos, pois a introdução repetida de agulhas no frasco predispõe à contaminação do produto e pode provocar abscessos nos animais vacinados.