Pecuária

Agricultura: pecuária de precisão

O gerenciamento mais detalhado do sistema de produção agrícola e pecuária permite a redução de custos e de impactos ambientais negativos. A técnica, que não tão recente assim, vem atraído à atenção de muitos produtores por aqui.

Na fazenda Santa Helena (Nelore Água Bela), no município de Talismã, em Tocantins, há seis anos começou um trabalho de cria, recria, engorda e venda de matrizes e tourinhos Nelore PO, além de desenvolver o cruzamento industrial com Red Angus. Atualmente, são 1.500 animais – entre mamando e caducando – que são criados em 800 hectares (ha) (que ainda se divide em 15 ha de silos e cana-de-açúcar), dentro de um total de 2.562 ha, que inclui 35% de uma área de proteção permanente. Como um imenso empreendimento em mãos e para manter todo esse rebanho, ano após ano, o proprietário e o gerente se viam diante de um dos principais “calcanhares de Aquiles” da pecuária: os altos custos dos insumos.

Até que um dia, eles contaram com um “empurrãozinho” que faltava para fechar melhor as contas da fazenda. Há quase dois anos, experimentaram uma técnica moderna que vem sendo muito utilizada no campo: a denominada pecuária de precisão – utilizando-se de um dos alicerces desta tecnologia: a suplementação estratégica. A “experiência” deu certo. Com a chegada de um novo jeito de administrar e manejar o gado, a criação cresceu em números, em um mesmo espaço, e com um custo bem mais baixo.

Com o foco de economizar e aumentar a produtividade, a empresa Minerthal Produtos Agropecuários, ofereceu a ajuda necessária e a produção da fazenda recebeu uma “cara nova”. Hoje, cada centímetro de lá é bem aproveitado. A propriedade iniciou a implantação do Programa Minerthal de Suplementação de Precisão, e os resultados já foram percebidos, como explica o gerente da fazenda, Marconi Machado. “No ano passado, vendemos tourinhos com idade de três anos a três anos e meio, com o peso aproximado de 19 a 20 arrobas. Neste ano, já estamos com eles prontos, seis meses antes do esperado, ou seja, conseguimos uma produção em menos tempo”, ressalta Machado.

De acordo com Sérgio Franco Morgulis, diretor da empresa, a proposta oferecida ao pecuarista é evitar o desperdício e ser mais preciso possível. “A realidade desse momento pede por produzir com sustentabilidade e nós utilizamos a tecnologia ao nosso favor. Com isso, é necessário conhecer melhor como funciona a propriedade e atender às reais necessidades do pecuarista”, explica.

Em um ponto todos concordam, que o futuro do agronegócio passa pela redução de custos aliada ao aumento da produtividade, sem necessidade de expansão da área de plantio ou pasto, o que implica recuperação de áreas degradadas. E foi exatamente isso proposto na área da fazenda. Primeiramente, realizou-se um diagnóstico para identificar o que seria preciso fazer em termos de suplementação para atingir os resultados esperados pelo proprietário. Com a estratégia, observou-se a redução de custo com a suplementação, sem alteração do desempenho dos animais. As avaliações qualitativas e quantitativas das pastagens para determinar o potencial nutritivo de produção da forragem também foram realizadas. “Tivemos uma economia muito grande. Após a análise do solo verificou-se que a correção do fósforo se concentrava em 80%, após a implantação do programa concentramos em 65%. Há ainda um trabalho de adubação de solo para futuras ampliações de pastagens. Agora, a tendência é manter o mesmo custo e aumentar animais por hectare. Além disso, a partir de uma suplementação direcionada para cada categoria, o produtor ganha no ciclo final”, declara o gerente. O trabalho realizado lá, ainda inclui um bom manejo nas pastagens. “Aprendemos a deixar os animais num determinado tempo dentro do pasto, com ele nem muito baixo e nem alto, na rotação de pastagem com capim braquiária”.

A Fazenda Santa Helena mantém um confinamento, onde reservam espaço para os tourinhos no período de seca até as vendas. Em geral, os animais permanecem de julho a setembro e, dependendo do tempo, até outubro. A ideia é manter o peso ideal e evitar o famoso “boi sanfona”. De lá, são vendidos para os chamados parceiros, que ainda recebem uma assistência pós-venda. “Aguardamos agora quais serão os futuros resultados. Sem dúvida, já percebemos que podemos crescer, porém, não será preciso abrir novas áreas para a criação”, diz. “O melhor de tudo é que antes eliminávamos um problema com um canhão, hoje reconhecemos que seria necessário apenas um estilingue”, brinca Machado.

As inovações no pasto estão modificando as grandes propriedades. Fazendas como a Santa Helena (Nelore Água Bela) viraram empresas, com o propósito de produzir mais e com grande economia. Agora, eles querem investir mais. Não só eles, como outros produtores também.

Lá na agricultura

O efeito produzido na pecuária também chegou na agricultura, ou vice-versa. Aqui o termo utilizado é a “agricultura de precisão”, que para muitos deixou de ser um desconhecido e se tornou um aliado ao produtor. Na prática, a chamada agricultura de precisão, nada mais é que a informática (a informação precisa) a serviço do agricultor. Em outras palavras, trata-se da aplicação de tecnologias destinadas ao manejo dos solos, das culturas e dos insumos, considerando as variações de local e de época dos fatores que afetam a produtividade.

Ela tem como objetivo principal o gerenciamento e a otimização de recursos para o produtor e, consequentemente, para o mercado consumidor. Porém, o uso desta tecnologia não é nenhuma novidade. “As primeiras experiências em agricultura de precisão no País ocorreram ao final da década de 1990, mas a disseminação de uso dessa ferramenta nas principais regiões agrícolas vem ocorrendo, principalmente, nos últimos cinco anos”, conta Álvaro Resende, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, com sede em Minas Gerais. Aliás, a unidade é uma das 19 unidades que fazem parte de um projeto, cujo objetivo são pesquisas no Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, em culturas perenes (cana-de-açúcar, uva, pêssego, laranja, eucalipto e pastagens), em culturas anuais (trigo, arroz irrigado, soja, milho e algodão), além do desenvolvimento e adaptação de novos equipamentos. A Embrapa pretende, em quatro anos, ter um levantamento detalhado do que é feito nessa área nas propriedades rurais brasileiras.

A chamada agricultura de precisão surgiu nos países europeus e, em seguida, nos Estados Unidos. No começo da década de 1990, os norte-americanos transformaram a agricultura de precisão em um grande negócio e empresas começaram a colocar no mercado sensores, , programas de computador e serviços. Na Argentina, a tecnologia é referência no desenvolvimento das tecnologias de agricultura de precisão. Hoje, o país possui mais de 10 empresas que desenvolvem os programas e os equipamentos de controle, utilizados pela agricultura de precisão, tornando mais fácil levar a tecnologia ao produtor.

No entanto, a agricultura de precisão é, ainda, um ramo pouco explorado no Brasil. “Hoje, as aplicações da agricultura de precisão nas fazendas brasileiras ainda se restringem à amostragem de uma imagem de solo, com posterior geração de mapas de fertilidade que permitem realizar manejo específico das lavouras por meio de aplicações de corretivos e fertilizantes em taxa variada, utilizando-se máquinas e implementos dotados do Sistema de Posicionamento Global (GPS) e dispositivos que permitem variar a quantidade de calcário, gesso e fertilizantes, conforme mapas de prescrições gerados na etapa anterior”, diz.

Segundo o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, as primeiras intervenções com essa tecnologia, sobretudo, em áreas de solos já cultivados e adubados há muitos anos, normalmente possibilitam economia de insumos e redução de custos para o agricultor, mas não é possível estabelecer primeiramente a magnitude desse benefício. “Ou seja, o benefício alcançado depende das particularidades de cada talhão”, ressalta Resende. De acordo com o ele, uma outra aplicação da agricultura de precisão que tem se disseminado com grande aceitação é a utilização de máquinas equipadas com sistemas de guia por satélite (GPS, barra de luz e piloto automático), as quais facilitam e melhoram a qualidade das operações mecanizadas. “O monitoramento e mapeamento da produtividade das lavouras também é uma tecnologia de grande potencial para melhorar o manejo, mas que ainda não está bem difundida entre os agricultores”, esclarece.

Na opinião do pesquisador Alberto Carlos de Campo Bernardi, da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), os conhecimentos e tecnologias gerados pela agricultura de precisão possibilitarão o aprimoramento da produtividade, da qualidade, do volume a ser produzido e da redução do preço dos produtos, para competir no mercado interno e externo. “Hoje, a agricultura de precisão não se limita a aparelhos de alta sofisticação que exigem investimentos caros. Qualquer propriedade, inclusive a familiar, pode adotar alguns desses procedimentos e equipamentos, a baixos custos. É o caso de procedimentos para aplicação de volumes exatos e precisos de calcário e de adubos”, reforça Bernardi.

Esses são os principais objetivos perseguidos pela agricultura de precisão, que afirma que o meio ambiente estaria mais protegido se a aplicação de adubos e defensivos fosse restrita às necessidades específicas, evitando excessos que possam causar toxidade e poluição de solos e recursos hídricos. Economicamente, a vantagem estaria na redução do custo do produto final.

Trabalho no campo

As etapas básicas do sistema de agricultura de precisão consistem na coleta de dados, planejamento, gerenciamento e aplicação localizada dos insumos. Na primeira é identificada a variabilidade dos diversos fatores de produção (solo, pragas, ervas daninhas, entre outros) e da produção em si. Este processo é realizado por meio da criação do mapa de produtividade na colheita, feito por equipamentos instalados nas colheitadeiras, que marcam cada posição geográfica no campo por meio de sinais de satélite recebidos com o GPS.

As informações recebidas são processadas por programas de computador, que fazem os mapas com a quantidade produzida em cada trecho colhido, o que possibilita ao produtor ter a informação exata dos pontos onde sua produção é menor, para posterior correção. Na segunda fase, estes dados são processados, com o objetivo de avaliar e quantificar a variação encontrada, relacionar a variabilidade da produção e seus fatores, além de propor estratégias de gerenciamento agrícola, consolidadas nos mapas de aplicação dos insumos.

Outra etapa importante é a confecção dos mapas de fertilidade, produzidos a partir da coleta e análise de amostras do solo. Estas representações gráficas mostram onde há menor ou maior incidência de nutrientes, em cada talhão, e a quantidade de aplicação necessária para corrigir o problema e nivelar a produção. Após, a interpretação dos mapas de produtividade e fertilidade, somados a outras informações, são realizados os mapas para aplicação localizada dos insumos. Estes mecanismos indicam exatamente quais insumos e a quantidade e posição exata para sua aplicação. O grande benefício, que tem atraído a maior parte dos agricultores brasileiros hoje, é a possibilidade de aplicar apenas a quantidade necessária de nutrientes para cada área do plantio, e não uma média calculada para todo o terreno. “Não existe uma regra rígida, mas atualmente muitos agricultores tem aderido à agricultura de precisão mediante a contratação de serviços especializados de amostragem de solo em grades regulares. O exemplo mais comum é a coleta de uma amostra composta a cada dois a cinco ha, com elaboração de mapas de prescrição de corretivos e fertilizantes, seguido do serviço de distribuição dos insumos de forma diferenciada no campo – o que chamamos de aplicação a taxa variável ou manejo sítio-específico”, descreve Resende.

A correção do solo é o primeiro passo para garantir uma boa colheita, mas muitas vezes os agricultores esbarram nos custos elevados dos adubos e fertilizantes. Para tentar driblar este obstáculo, eles apostam na agricultura de precisão, um investimento que tem dado um retorno certo, por meio da otimização do uso dos nutrientes e do aumento do rendimento das lavouras.

Em parcerias

No final de 2008, a empresa Minerthal estabeleceu uma parceria com a Embrapa Arroz e Feijão para desenvolver a estratégia de suplementação mineral dos animais participantes do Teste de Desempenho de Touros Jovens a Pasto. Em seu primeiro ciclo completo (secas e águas), as metas de desempenho foram atingidas com a utilização de suplementos estratégicos, a fim de suplementar os déficits existentes nas pastagens em sistema de integração lavoura e pecuária. “Com essa prática promoveu-se um aumento de 10 kg de peso vivo em relação à média dos anos anteriores, no período de 294 dias”, explica Fernando Schalch Júnior, zootecnista e responsável técnico da empresa.

Ao longo de 10 anos de teste de desempenho de Touros Jovens a pasto com a utilização de diversos tipos de suplementos concorrentes (suplemento mineral, protéico energético) o ganho de peso médio acumulado no período de 294 dias foi de 149 kg. “No sistema intensivo observamos 2,9 arrobas, a mais no ganho de eficiência de produção. O programa de suplementação de precisão traça um diagnóstico preciso ao cliente e com o acompanhamento, os resultados mostraram uma redução entre 10% a 20%, com a tendência de mais redução e ganho na eficiência. O objetivo é a redução da idade de primeira cria, em termo de produção leiteira, e de redução de idade para abate”, argumenta Schalch Júnior.

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