Estados buscam se tornar zonas livres da febre aftosa sem vacinação, mas muitos cuidados devem ser tomados para não trazer novos prejuízos com possíveis surtos.
A vacinação contra a febre aftosa continua gerando grandes discussões Brasil adentro. Existe Estado buscando reconhecimento para deixar de vacinar, existe aquele que já é reconhecido, gente querendo mais zonas livres da doença sem vacinação e há quem prefira manter as campanhas de aplicação por precaução.
Para se ter uma ideia da importância do assunto, o mercado de exportação de carnes brasileiras rende cerca de US$ 300 milhões por mês. Muito dinheiro gera muita discussão, e como a vacinação influência neste montante, é tema de diversas polêmicas.
O debate acontece basicamente por três motivos. Primeiro, porque alguns países asiáticos, como o Japão, pagam cerca de 10% a mais pela carne proveniente de zonas livre da febre aftosa sem vacinação. Além disso, deixar de vacinar reduz o custo para o produtor pela menor mão de obra e pelo preço da vacina em si. Estima-se que são gastos, todos os anos no Brasil, cerca de R$ 500 milhões exclusivamente com a compra das doses. E o terceiro motivo é o prejuízo que um possível surto em área considerada livre de aftosa pode causar aos criadores de bovinos, suínos e ovinos com o mercado externo.
Em 2005, quando foi detectado um foco da doença no Estado de Mato Grosso do Sul, que era considerado uma zona livre da doença, grandes prejuízos para a pecuária marcaram aquele ano. Cinquenta e nove países embargaram a carne brasileira, trazendo perdas imensuráveis ao País. Na época, o então ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse que o Brasil poderia perder 830 milhões de euros, caso o embargo durasse por seis meses. Alguns países abandonaram o embargo, mas outros mantiveram-no por mais tempo do que o previsto.
Para que casos como este não voltem a destruir a economia do agronegócio brasileiro, a intenção dos Estados em se tornar livres da doença sem vacinação não pode passar por cima da segurança. Por isso, a cautela é a palavra de ordem dos secretários de agricultura dos Estados brasileiros.
Porém, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, chegou a dar uma declaração incentivando os secretários a investirem no reconhecimento durante um evento no Paraná. Entre outras coisas, incentivou que eles se unam para promover o reconhecimento. “O ideal é que Minas Geais, São Paulo e Mato Grosso do Sul façam o trabalho juntos (para se tornarem zonas livres sem vacinação)”. A ideia de Stephanes se deve as grandes fronteiras entre esses Estados, dificultando controle.
Realmente, o trâmite natural é que o Brasil vá se tornando livre da febre aftosa sem vacinação aos poucos, mas todos os passos devem ser dados com muita cautela, segundo Teresa Cristina, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Estado e da Agricultura Conseagri. “O ministro sabe da importância do que é um Estado ser considerado zona livre sem vacinação. Por isso incentiva que eles trabalhem para se tornar livres. Agora, é inviável que São Paulo e Mato Grosso se tornarem livres. Temos de tomar cuidado para não dar um passo à frente agora e ter de dar dois para trás, no futuro”.
Hoje, ninguém se arrisca em projetar datas para que os Estados se tornem livres da vacinação. Segundo o coordenador da Central de Selagem de Vacinas, Sílvio Cardoso Pinto, qualquer prazo que a gente fale é um chute sem fundamento. “Pode-se falar em dois anos para algumas regiões, três para outras. Mas é muito variável. Tem de ter participação do Estado em investimentos com infraestrutura”.
A assessoria de comunicação de Mato Grosso do Sul, disse que a secretária não poderia falar em projeções de data para o próprio Estado. Como o ministro Stephanes se disse favorável ao reconhecimento do Estado, então a ideia era não entrar na discussão.
Paraná
O Paraná está se adequando as exigências do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) para que deixe de realizar a vacinação no segundo semestre de 2010. “No primeiro semestre ainda faremos a campanha de vacinação. Temos até dia 30 de junho para nos adequarmos com todos os equipamentos e funcionários capacitados. Temos 10 milhões de cabeças e a compra das vacinas nos onera em 30 milhões de reais por ano, sem contar com o transporte, mão de obra e demais custos relativos à vacinação”, estipula o chefe da divisão de defesa da sanidade do Paraná, Marco Antonio Teixeira Pinto.
Segundo ele, os produtores de suínos e ovinos também serão beneficiados, já que o reconhecimento gera melhor pontuação de sanidade para as demais produções, criando novos mercados consumidores, maior demanda e, consequentemente, aumento do preço.
Por fazer fronteira com o Paraguai, o Paraná pretende ter uma atenção especial. “Apesar da fronteira ter o rio Paraná, hoje muita gente passa com cocaína na fronteira. Então, se a arroba do boi estiver alta aqui e baixa lá, vão querer passar alguns animais. É natural, mas com a fiscalização que estamos montando, estaremos preparados para que isso não aconteça”, conclui Pinto.
Para que a fiscalização seja feita de maneira adequada, foram investidos mais de R$ 17 milhões na modernização da infraestrutura das unidades locais de sanidade animal e vegetal e também nos postos de fiscalização nas divisas interestaduais.
Situação atual
Hoje, apenas Santa Catarina é considerado zona livre de febre aftosa sem o uso da vacinação. Apesar de ter o menor rebanho do País, com cerca de 3,5 milhões de cabeças, foi o primeiro Estado interessado em seguir todos os requisitos exigidos pelo Mapa para deixar de vacinar.
Basicamente, a exigência do Mapa é ter todas as informações referentes ao rebanho, condições de atualizá-las com frequência e ter controle nas divisas, inclusive com países. Para isso, o Estado deve ter estrutura de veículos, guaritas nas divisas para controle de entrada e saída de animais, além de funcionários devidamente capacitados para realizar o controle e as inspeções.
O Rio Grande do Sul é considerado área livre da doença com vacinação. As Regiões Sudeste e Centro-Oeste têm todos os Estados e o Distrito Federal na mesma posição: livre da febre aftosa com vacinação. A Região Nordeste tem a Bahia e Sergipe livres com vacinação e os demais são considerados, como “área infectada”. Na Região Norte, Rondônia, Acre, Tocantins e grande parte do Pará são considerados livres da doença com vacinação, já os demais são considerados “área infectada”.
Fora o Paraná e Santa Catarina, quem conta com o melhor controle sanitário é Rondônia, que deverá pedir o reconhecimento de área livre sem vacinação em 2011, se tornando o terceiro Estado com essa classificação.