Pecuária

Sanidade animal: aposta verde

O extrato retirado da folha do eucalipto se mostrou bem no controle do carrapato do boi, um ectoparasito muito comum para a pecuária brasileira, em especial, para as raças europeias, que são mais suscetíveis. A formulação diminuiu tanto a fertilidade da fêmea quanto a eclosão das larvas. Também, a partir desse produto, foi possível constatar o controle de vermes com a inibição de eclosão das larvas ou mesmo do próprio desenvolvimento das fases da larva em laboratório.

O resultado saiu de um estudo da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), o qual quer apresentar o potencial que as plantas podem oferecer ao tratamento de verminoses e ectoparasitos à pecuária, a partir do princípio ativo presente nelas. “No entanto a pesquisa está apenas no início, com três anos de estudos, e ainda não há nenhum medicamento fitoterápico descoberto que já possa ser utilizado pelos pecuaristas”, alerta a bióloga e coordenadora da pesquisa, Ana Carolina de Souza Chagas.

O grande desafio da pesquisa é justamente encontrar a substância presente no vegetal que seja o princípio ativo do medicamento, além da porcentagem de concentração dele na planta. “Há variações que influenciam diretamente nesses índices, como a qualidade de solo e clima de região para região. No, entanto, hoje já há metodologias para se identificar essas concentrações e assim, formular o medicamento com a dosagem adequada”, destaca a pesquisadora.

Atualmente são 12 espécies que estão em estudo por demonstrarem um efeito contrário à sobrevivência dos parasitos, tanto em bovinos como em ovinos. Além do eucalipto, também contribuem para o estudo a hortelã e o alecrim.

Entre as espécies, a que mais se destacou foi justamente o eucalipto. O esforço agora é a busca de uma formulação que possa atender às necessidades de controle parasitário nos animais, e este feitio está sendo avaliado através de um trabalho em conjunto com a Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora (MG).

Devido à grande abrangência desse projeto de pesquisa para os diversos tipos de uso na pecuária do País, as parcerias aumentaram. Atualmente colaboram também com os estudos as unidades da Embrapa de Sobral (CE), Caprinos e Ovinos, do Rio de Janeiro (RJ), Agroindústria de Alimentos, de Corumbá (MS), Pantanal, de Bagé (RS), Pecuária Sul, de Porto Velho (RO), Rondônia, além do Instituto de Zootecnia da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, em Nova Odessa, entre outras universidades do Brasil, como a federal do Estado do Paraná (UFPR).

O projeto “Uso de extratos vegetais ativos no controle parasitário de ruminantes” já recebeu até o reconhecimento da própria Embrapa sede, em Brasília (DF). Na premiação são avaliados os projetos de todas as 42 unidades do órgão. No segundo semestre do ano passado, o projeto de Chagas ficou em 5º lugar na categoria Criatividade.

Menos custo e mais verde

Ainda não há estimativas se essa tecnologia seria mais barata ao bolso do pecuarista. Em regiões onde existe a possibilidade de ministrar a planta diretamente aos animais, usando-se plantas melhoradas geneticamente e com produção estável das substâncias ativas, a fitoterapia pode ter um impacto econômico satisfatório, segundo a opinião de Chagas.

Atualmente se gasta demais com tratamento sanitário e, na maioria das vezes, de forma errônea, propiciando a resistência dos parasitos e onerando ainda mais a atividade. A via de medicação a partir de substratos de plantas seja isoladamente ou em formulações em conjunto com outros componentes químicos, pode amenizar esse fator de resistência, em função da substituição do método convencional de tratamento (químico) e também pela característica do tratamento fitoterápico possuir princípios ativos que tendem a apresentar um processo mais lento de resistência, além dele ser mais amigo do meio ambiente, pelo fato de não contribuir com o manuseio de produtos químicos – o que minimiza o risco de contaminação da área ou do próprio tratador dos animais. Esse manejo alternativo de controle sanitário no rebanho também poderia resultar numa produção mais segura, com menor possibilidade de resíduos no leite e na carne.

Alternativa à agricultura familiar

O exemplo de usos preliminares da fitoterapia na agricultura familiar foi tirado de sistemas de manejo de países ou comunidades pobres, que não detinham dinheiro para a compra de vermífugos e assim ministravam algumas plantas e ervas para controlar algumas pragas, em função da necessidade da criação.

Com o apoio das pesquisas como as desse projeto, até a área de melhoramento genético das plantas poderá ser utilizada para permitir um maior controle de qualidade das plantas e seus extratos, garantindo, então, espécies que poderão funcionar como medicamento vivo nas propriedades rurais familiares do Brasil. Sem risco toxicológico aos animais e uma alternativa mais barata ao produtor.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *