Custo pequeno, fácil manejo e mercado amplo tornam a criação da ave rentável e ideal até para quem tem pouca experiência. Versátil, a codorna pode ter diversos usos, como abate, produção de ovos, venda ou até adubo.
As pessoas que tornam-se criadores de Coturnix coturnix japonica, conhecida popularmente como codorna japonesa ou doméstica, exercem a atividade por vários motivos, e talvez, buscam o principal deles: o retorno financeiro. A coturnicultura oferece inúmeras possibilidades de mercado e lucro. Primeiro, porque a ave apresenta uma alta produtividade, rusticidade e praticidade. Segundo (e o melhor), algumas fases da criação não requer grande espaço físico; e terceiro, a obtenção de um produto largamente conhecido: o ovo. Em outras palavras, as codornas são conhecidas como as “máquinas de produzir ovos”.
Em geral, as aves têm reprodução precoce, requer pouco espaço, instalações simples para sua criação e investimento inicial relativamente baixo. “Mas, como em qualquer outra atividade para dar bons lucros, na criação, é necessário que sejam adotados manejos adequados e que as aves (pintinhos de um dia) sejam adquiridas somente de criadores idôneos”, explica João Germano de Almeida, criador e presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Aves (ABC Aves). “O futuro criador precisa agir como um empresário, ser empreendedor, optar por alguma fase da criação e, assim, obterá sucesso”, completa.
Sem esses requisitos, todos os esforços no sentido de obter uma boa produção poderão resultar em desperdício de recursos financeiros. “É preciso começar uma criação com uma quantidade de pequenas aves e se alguma coisa der errado, é fácil de consertar e o prejuízo não será muito grande”, opina Carlos Ventura, proprietário da Chácara Cantareira, localizada no Jardim Tremembé, zona norte da cidade de São Paulo.
Foi assim que Ventura (atualmente com cerca de 20 mil codornas e mais duas mil matrizes), deu o pontapé na sua criação, há 11 anos. Além desta propriedade, o criador também possui uma outra, em sociedade, situada em Itaquera, na zona leste da capital paulista. Lá, além das codornas, é possível encontrar também pavão, faisão, pombo-correio e galinha d’angola e caipira. “Nos últimos anos, cada vez mais a cidade invadiu a zona rural. Estamos nos cercando”, brinca “Mas por outro lado, estamos em pontos estratégicos para a distribuição das aves”, explica Ventura.
Por semana, em média, são três mil cabeças que saem das propriedades para atender a 600 clientes, dentro do Estado de São Paulo. Para manter a clientela há toda uma estrutura. Lá, apenas são vendidas as aves que chegam à idade de 30 dias. As aves são alimentadas com rações balanceadas, específicas para codornas. Em média, 70% do custo da criação está diretamente relacionada à alimentação das aves. O quilo da ração custa R$ 1,00 a R$ 1,20 e o consumo diário de uma ave na fase adulta é de aproximadamente 40 gramas.
Os pintinhos de um dia que chegam na Chácara Cantareira, por exemplo, são comprados de outra granja, que por sua vez vem de boas matrizes. “O matrizeiro que oferecer ao mercado um produto de alta qualidade, com garantias de origem e que tenha também condições de oferecer o transporte adequado para os compradores tem um mercado lucrativo”, diz.
Quase todo mês, chega um novo lote de codorninhas que são alojadas no pinteiro. Lá, elas recebem cuidados essenciais. Na primeira semana de vida, as aves recebem junto com a água, probióticos, que são produtos biológicos para aumentar a resistência e que também funcionam como promotores de crescimento. Aos sete e aos 35 dias de idade elas recebem, também na água, vacina contra doença de Newcastle. Aos 21 dias, pesando entre 70 e 80 gramas, as codornas são transferidas para a gaiola de recria, e daí só saem para a venda. Um dos seus clientes Rafael do Couto Ferreira, proprietário de uma agrorevenda, compra até 30 aves por semana. “Estamos num janeiro atípico para as vendas destas aves. Temos uma grande demanda”, diz Ferreira.
O criador entrou na coturnicultura por um acaso. Ex-dono de uma empresa que produzia vídeos de treinamentos empresariais, após terminar a sociedade na empresa e vender os animais que tinha em seu sítio, ele descobriu o novo nicho para o mercado dessas aves. “Optei pela venda em varejo. Em maioria são avícolas e agrorevendas. É um caminho promissor”, revela.
Codornas à venda
O passo inicial para a comercialização é a definição da quantidade de aves do plantel e que produtos se pretende obter: ovos, filhotes ou carne. O mercado para consumo da carne de codorna está se estabelecendo, por não ser muito divulgado. “É necessário para o futuro coturnicultor possuir metas e objetivos claros e buscar conhecer o mercado das aves. Uma boa pesquisa de mercado é muito importante, pois, geralmente, o criador iniciante não dispõe de grande capital e por isto não pode perder tempo”, explica Ventura.
Entretanto, a criação de codornas é mais abrangente, envolvendo aspectos comerciais, além dos ligados às necessidades fisiológicas das aves. Além disso, a coturnicultura proporciona ao criador outras fontes de renda, por exemplo, a venda do esterco das aves, pois ele é um dos melhores adubos orgânicos e tem grande aceitação no mercado. “Porém, o sucesso de uma coturnicultura dependerá de onde o criador deseja vender o produto, se conseguir vendê-lo. Pois no passado, o que mais se encontrou foram criadores desesperados para comercializar a produção. Na época, o ovo se tornou um produto supérfluo para o consumidor. Com isso, alguns coturnicultores não conseguiram se manter. Atualmente, o mercado está aberto para todos e nunca esteve tão bom. As pessoas estão adquirindo as aves para ter uma criação caseira. Nos últimos anos, houve um estímulo na criação e posso garantir um crescimento de até 200% neste mercado”, diz o presidente da ABC Aves.
Ovos
A produção de ovos para posterior comercialização é a modalidade mais comum das granjas. Para tanto, hoje em dia, é necessário mais profissionalização. Granjas de postura de galinha que possuem infraestrutura de produção e comercialização estão começando a entrar no mercado de ovos de codorna, como alternativa de criação e também como complemento ao mix de produto que elas oferecem aos supermercados. “A alternativa para agregar valor ao produto pode ser de oferecer os ovos de codorna descascados e prontos para consumo para bares e restaurantes”, diz Ventura.
Já quando se fala em maiores quantidades ou produção em escala, devem-se observar as seguintes condições: localização, investimento, disponibilidade de matéria-prima e área. “É necessário também legalizar a atividade perante o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e o governo estadual para obtenção de nota fiscal de produtor, pois sem ela será impossível comercializar grandes quantidades de produtos”, adverte o presidente da ABC Aves.
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Recria (será que ficaria melhor como um mini-box, aí ficariam dois, este e o da carne?)
Recriar a codorna para vender a outros produtores é uma alternativa que muitas vezes se torna mais rentável que a produção de ovos. É uma atividade que exige muita responsabilidade e experiência, pois a garantia de cliente fixo é justamente o bom desempenho dos lotes recriados. Adquirir pintinhos de um dia de matrizeiros de confiança, nesse caso é fundamental.
Pintinhos de um dia
Para se tornar um matrizeiro é necessário uma experiência no mercado, amplo conhecimento de fornecedores de aves de diferentes origens, geralmente importadas, e um conhecimento especial de manipulação genética. Infraestrutura, cuidados sanitários, adequação ao PNSA (Programa Nacional de Sanidade Avícola), Registro no Mapa, entre outras normas, são algumas exigências e requisitos necessários para a produção de pintos de um dia de boa origem. O matrizeiro que oferecer ao mercado um produto de alta qualidade, com garantias de origem e que tenha também condições de oferecer o transporte adequado para os compradores de quantidades significativas de pintinhos de um dia, estará dando um verdadeiro passo no sentido de se profissionalizar no mercado de matrizes.
As codornas de um dia podem ser adquiridas sexadas ou mistas. No segundo caso, o custo de aquisição por ave é menor, mas para quem não tem interesse em criar os machos para abate, não é uma alternativa vantajosa, pois terá que aguardar no mínimo 21 dias para descobrir os machos e eliminá-los ou criá-los até 45 dias para a venda de abate. Portanto, é preferível já adquirir somente as fêmeas.
Carne
A maior parte da carne de codorna presente no mercado vem de aves descartadas após o período de produção e de machos de linhagens japonesas, criados no piso com idade próxima de 45 dias. A alternativa correta para quem deseja criar aves para o abate é a aquisição de uma linhagem específica para corte, porém, convém lembrar que o custo de produção de ave para corte se torna alto quando não se fabrica a própria ração.