Estudos mostram resultados da adubação com micronutrientes em lavouras de cana rendendo até 20 toneladas a mais de planta por hectare, tornando a prática lucrativa ao produtor.
Estudos realizados no interior do Estado de São Paulo procuram definir a importância da adubação com micronutrientes na lavoura de cana-de-açúcar em diferentes solos e cultivares. O trabalho se justifica já que a grande maioria dos produtores não se preocupa com a escassez desses elementos essenciais para o desenvolvimento da planta. Resultados preliminares dos estudos mostram um incremento de 17% da produtividade através da adubação com micronutrientes, em comparação à testemunha (lavoura sem a micro adubação). A produtividade média brasileira é de 80 toneladas (t) por hectare (ha), a mesma registrada em 1996. Em comparação com a produtividade de diversas lavouras, a cana-de-açúcar é a única que apresenta estagnação desde então. O milho, por exemplo, teve aumento de 68% na produtividade entre as safras de 1995/1996 e 2007/2008. Neste mesmo período, as lavouras de arroz tiveram aumento de produtividade de 61% e a da aveia de 62,5%.
Essa discrepância é resultado da ampliação de canaviais em solos inapropriados, diminuindo a média nacional. Para se ter uma ideia da diferença que faz a qualidade do solo, em algumas propriedades são computados rendimentos de até 200 t por ha.
Antes deste estudo, a única melhora de produtividade constatada com o uso dos micronutrientes foi na Região Nordeste, onde os resultados mostraram acréscimo de 40 t por ha, em determinadas áreas com a aplicação de cobre, como na região de Tabuleiros, na Paraíba, onde os solos são naturalmente de baixíssima qualidade.
Para o pesquisador Estêvão Vicari Mellis, que comanda o trabalho, muitas localidades onde se planta a cana-de-açúcar não repõem os micronutrientes, apenas os macronutrientes. “Com a intensificação da produção, mesmo em áreas tradicionais, as reservas de micronutrientes do solo estão sendo exauridas, principalmente, devido à generalização da prática do uso de fertilizantes químicos concentrados, sem a reposição dos micros, que são removidos com as colheitas”.
Essa falta de adubação adequada causa a “fome oculta”, como é chamada a escassez de nutrientes fundamentais para o desenvolvimento da planta, mas que não demonstram sintomas físicos aparentes. Ou seja, há diminuição da capacidade produtiva da planta, com perda de rendimento, mas não é perceptível a olho nu.
Para a engenheira agrônoma da Votorantim, Carolina de Barros Aires, dois fatores são importantes para essa falta de interesse dos produtores em adubar corretamente com micronutrientes. “Antes eles não precisavam aumentar a produtividade dos canaviais, porque podiam expandir a lavoura, mas as terras estão ficando cada vez mais escassas. Agora, o principal motivo para não adubar corretamente é a falta de conhecimento, já que estudos mostram um aumento médio de produção superior a 17% em determinadas lavouras”, conclui.
A engenheira compara o limite de potencial produtivo da lavoura com um balde feito de ripas de madeira, onde umas são maiores que as outras. “O nível de água no balde ficará, no máximo, na ripa mais baixa. E na lavoura acontece a mesma coisa. O produtor investe em diversos fertilizantes mas esquece dos micronutrientes, limitando o crescimento da planta”, conclui.
A pesquisa
Os trabalhos coordenados por Mellis são desenvolvidos no Centro de Solos e Recursos Ambientais, com a colaboração de José Antonio Quaggio. O projeto, chamado “Micronutrientes em Cana-de-Açúcar”, é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e faz parte de um conjunto de experimentos que vem sendo conduzido pelo Grupo Nutricana (grupo de estudos em fertilidade do solo, adubação e nutrição de cana-de-açúcar), que foi recentemente criado pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, com o objetivo de ampliar os esforços de pesquisa com adubação e nutrição da cultura.
Os trabalhos iniciaram em 2006, quando foram escolhidas 15 fazendas localizadas em diferentes regiões do Estado de São Paulo, buscando diversidade da qualidade dos solos. Porém, a maior ênfase foi dada na busca de terrenos de baixa fertilidade natural e daqueles que foram desgastados pelo cultivo intensivo, sem a reposição dos nutrientes.
Em cada propriedade foram feitos dois estudos, sendo um, numa área adubada com todos os micronutrientes, e o outro, com aplicação de um micronutriente específico em cada área, para analisar a potencialidade individual de cada um na lavoura.
Os tratamentos foram constituídos, com exceção do boro, por aplicação no sulco de plantio da cana, utilizando-se os sulfatos como fonte dos nutrientes cobre (Cu), manganês (Mn) e zinco (Zn), bórax como fonte de boro (B) e molibdato de amônio como fonte de molibdênio (Mo).
As doses aplicadas no estudo foram: 10 quilos por hectare (kg/ha) de Zn; 10 kg/ha de Mn; 10 kg/ha de Cu; 3 kg/ha de B e 2 kg/ha de Mo.
Resultados
Os poucos resultados que podem ser divulgados antes de serem publicados por uma revista científica, são os dados das lavouras adubadas com zinco, que tiveram ganho médio de 17%, em relação à testemunha. Com relação ao molibdênio e ao manganês, os ganhos médios de produtividade foram de 14% e 12%, respectivamente.
Um dos experimentos mostrou que a microadubação pode render 20 toneladas a mais de cana em apenas um hectare. “Registramos crescimentos de grandes volumes de planta em alguns experimentos. Isso mostra que há a possibilidade de se utilizar os micronutrientes como adubo nas lavouras trazendo produtividade e lucro, que são os dois objetivos do produtor”, afirma o pesquisador.
Os resultados apresentaram grande variação entre os 15 solos. “Cada local responde de uma maneira. Alguns têm falta de um tipo de micronutriente, outros de outro. Tudo isso só dá para saber com análise de solo antes e depois da lavoura”, comenta o pesquisador.
Viabilidade econômica
As doses aplicadas nesse experimento são suficientes para até quatro safras, como os 10 kg/ha de Zn no sulco da planta. Contando com o rendimento de quatro anos, e com um ganho médio de R$ 567,00 por hectare, a adubação de Zn se torna lucrativa. Com relação ao aumento da lucratividade na produção industrial, pode-se gerar um crescimento na receita de R$ 2.455,00, em açúcar ou de R$ 953,00, em etanol por hectare de cana plantado, segundo Mellis.
Com exceção do tratamento completo, com todos os micronutrientes, os micronutrientes individuais foram vantajosos financeiramente levando em consideração a produção de colmos por hectare, porém o Zn obteve a maior produtividade. “Apesar do projeto estar em andamento, analisando os primeiros resultados, podemos concluir que a adubação com micronutrientes traz resultados econômicos muito favoráveis aos produtores. Deve-se lembrar que a aplicação dos micronutrientes pode ser efetuada juntamente com a adubação de plantio, o que não implicaria em custo adicional”, conclui o pesquisador. A aplicação de Zn onera cerca de R$ 90,00 por hectare, mas é suficiente para até quatro safras. Segundo a engenheira Aires, o nutriente teve maior ação devido a sua importância no desenvolvimento da planta. “O zinco proporcionou maior desenvolvimento porque entra no ciclo biológico das plantas, participando de todo o desenvolvimento”.
Para não se ter falsa ideia de produção, os resultados foram monitorados por meio de análises de solo e de folhas, avaliando as produções de colmos, o total de açúcar recuperável (ATR) na planta e também na primeira soqueira. O ATR é registrado através de análise tecnológica de amostras de colmos.