“Tem muito produtor que trabalhou em 2009 com custo acima do preço de venda”, comenta Jorge Rubez, presidente da Leite Brasil, associação que congrega os produtores de leite do País. Há quatro espécies de árvores que podem ajudar o pecuarista no processo de reforma e manutenção do pasto. São elas, Jurema (Mimosa tenuiflora), Orelha-de-macaco (Enterolobium contortisiliquum), Sabiá (Mimosa caesalpiniifolia) e Guachapele (Pseudomanea guachapele).
Essas quatro plantas, desenvolvidas com um inoculante específico para cada espécie e ainda com a associação de fungos próprios do solo (Micorrízicos), melhorarão a disponibilidade de nitrogênio (N) no solo – nutriente essencial para o desenvolvimento das pastagens – e, consequentemente, contribuirão para a gradual recuperação da área de pastagem e o próprio solo.
Essa foi a conclusão do estudo da Embrapa Agrobiologia, em Seropédica (RJ). “O ideal é a instalação de 40 a 50 árvores por hectare. O que objetiva, além da fixação de N, o conforto térmico para os animais, por causa do sombreamento que as árvores farão”, explica Alexander Resende, engenheiro florestal e especialista em recuperação de áreas degradadas e recomposição do solo da Embrapa Agrobiologia. Especificamente para o auxílio no processo de recuperação de áreas de pastagens, a recomendação é o uso dessas espécies de árvores que desempenhariam o benefício ao solo, com maior fixação de N e o gradativo incremento nutricional dele.
A saída mostrou-se eficiente com o trato no solo, e veio para amenizar um dos problemas mais crônicos da atividade pecuária do País: a degradação das áreas de pastagens. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pelo Censo Agropecuário 2006, a área de pastagens chega a 172,3 milhões de hectares (ha) no País. Estima-se que, deste total, 100 milhões de ha sejam efetivamente cultivados. Dessa área cultivada, há indícios de que cerca de 60% esteja em início ou em avançado de processo de degradação.
O manejo incorreto com o solo, o uso de cultivares inadequadas para o tipo de clima da região e a lotação inapropriada de unidades animal por hectare foram agravando a condição de degradação do solo. “Em relação à evolução desse processo de degradação de pastagens no País, eu sou otimista”, declara José Alexandre Agiova, engenheiro agrônomo e especialista da área de pastagens da Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande (MS). “Acredito que esteja reduzindo, especialmente pela introdução gradual do sistema de integração lavoura-pecuária, que tem promovido o melhoramento do solo tanto para a lavoura como para o estabelecimento das pastagens”.
A cultura de forrageiras
O estabelecimento da pecuária de corte, em especial a bovinocultura, como uma das atividades econômicas mais importantes do País, fez com que se reservasse uma área muito grande para criar e alimentar os animais – a pecuária extensiva. Essa área sempre teve a ocupação de plantas forrageiras e nada mais.
O tempo e as pesquisas mostraram que o melhor desempenho em conversão alimentar por animal se dava com o melhor trato com o solo e o uso de forrageiras adequadas às condições de solo e clima da região, num menor espaço – a pecuária intensiva. Segundo Agiova, no Brasil, há ainda dois tipos de pecuaristas. O primeiro, tradicional, mais preocupado com a genética animal, entre outros aspectos produtivos, e que vê a questão das pastagens como um item secundário. Já o outro tipo de produtor, mais profissionalizado, que percebe a importância da pastagem como um item que irá baratear a alimentação do gado, em função do melhor uso de tecnologias do campo.
A implantação de árvores em meio à pastagem além de garantir a manutenção e a recuperação do solo, resolve a questão do estresse animal – quanto mais sombra melhor para o gado.
O trio da salvação do solo
Uma espécie leguminosa, uma bactéria e um fungo – essa foi a associação feita pela Embrapa Agrobiologia para recuperação de solos, inclusive para áreas que tinham por histórico o papel de aterro sanitário. Segundo Resende, foram feitos vários testes para descobrir as plantas que mais se adequariam ao sistema, a partir da seleção de bactérias que possuíam uma maior afinidade com essas determinadas espécies vegetais.
A relação harmônica entre a planta e a bactéria (simbiose) foi o ponto de partida da pesquisa – a bactéria auxilia a planta a captar o N presente no ar e fixá-lo no solo em troca de alimento. “A partir dessa bactéria é feito o inoculante para ser tratado à semente da planta. O caso de sucesso dessa tecnologia se vê com o uso de inoculante na semente de soja, que proporcionou um diferencial para a produção brasileira do grão”, declara Resende.
Aliado ao inoculante, são utilizados fungos do gênero Micorrizocosa. Estes agentes se desenvolvem na parte radicular da planta (raiz), formando uma espécie de teia, a qual permitirá que a planta capte água e nutrientes do solo de forma mais eficiente e em maior quantidade. Com a aplicação desse sistema, há redução de custo de adubação por fertilizantes de fontes nitrogenadas, que pode cair em até 40%. Implantação Para a instalação dessas espécies leguminosas arbóreas é preciso que a área seja isolada cerca de 1 ano e meio até garantir o porte ideal das plantas, que vai de três a quatro metros (m) de altura. O produtor pode optar pelo plantio da muda ou adquirir a semente e fazer o tratamento com o inoculante específico dela.
No caso das mudas, é importante que se adube com dois litros de esterco em cada cova – para esta, recomenda-se o tamanho 30x30x30 centímetros (cm) (largura, comprimento e profundidade, respectivamente).
Sobre os custos, segundo Resende, cada muda corresponderia a um custo de R$ 1,00 – a implantação, por hectare, seria de R$ 40 a R$ 50. Somando-se os custos totais de instalação das árvores, incluindo toda a mão de obra necessária, o custo chegaria a R$ 100 por hectare. “A principal preocupação que o pecuarista deverá ter inicialmente é o combate da formiga cortadeira, que poria em risco o desenvolvimento das árvores”, alerta o pesquisador. “Mas isso pode ser facilmente controlado com a aplicação de formicidas, que pode ser encontrado em casas de produtos agropecuários”.
A unidade fluminense da Embrapa, no município de Seropédica, produz as mudas, e produtores próximos a ela não encontrariam problemas para obter a planta. Já os pecuaristas que não estão no Rio de Janeiro, podem adquiri-la em outros viveiros ou mesmo comprar as sementes das espécies e fazer o tratamento com o inoculante ao fazer as mudas. O pacote de 250 gramas fica ao custo de R$ 5,00. “O importante é realizar o tratamento com o inoculante específico para cada espécie, já que ele só funciona ou garante a eficiência mediante a bactéria que possui o grau de afinidade com a planta”, alerta Resende.
Nem sempre, querer é poder
O manejo para conter a degradação, ao moldes tradicionais, com exames laboratoriais para saber a tipologia de solo encontrado na propriedade, com a identificação das qualidades físico-químicas da terra, tem um custo. E ainda soma-se a isso o custo para correção e adubação. No final das contas, o investimento que deve ser feito torna o desejo de conter a degradação das pastagens uma ação inviável.
“Se analisarmos o calcário, por exemplo, que é um item essencial para a recuperação do solo, há propriedades em que um caminhão, que faz o transporte desse insumo, não entra, dependendo da localidade da fazenda”, pondera Agiova. “E se pode chegar, é muito longe, o que encareceria o tratamento de solo nesse processo de recuperação de pastagens. Então a logística de distribuição torna-se um fator que contribui para esse processo de degradação de pastagens”, destaca o pesquisador da unidade da Embrapa, em Campo Grande (MS).
Custos
De um jeito ou de outro, o apoio técnico especializado não deve ficar de fora. Isso assegurará o manejo adequado em termos de correção de acidez e fertilidade do solo. Essas informações, que inclui ainda a disponibilidade de água e clima na região, servirão de subsídio para a escolha da cultivar que mais se adequará à necessidade do pecuarista.
“Em termos de custo, para uma recuperação de pastagens, completa, que terá de haver um trabalho duro com o solo, no sentido de jogar o calcário e prepará-lo para assim receber as sementes – isso pode ficar na faixa de uns R$ 500 por hectare, ou até mais”, calcula Agiova. “É um investimento muito alto, que tem de ser considerado, e que em curto prazo, não será amortizado, mas sim, em médio e longo prazos. E isso, mais pra frente, resultará em gastos menores já que o que se fará são tratos de manutenção do solo e pastagens”.
Na propriedade de Marco Antônio Passareli Finardi, em Álvares Machado (SP), dos 60 ha de pastagem, 50% encontravam-se em estágio de degradação. No início de 2009, 4,84 ha foram reformados, e para este ano serão mais 4,84 ha a serem recuperados. “A propriedade é uma herança de 30 anos, e há 20 fazemos o trabalho de recuperação de pastagem, mas com o uso de tecnologia, como análises de solo, só foi possível no ano passado”, declara Finardi.
O investimento total girou em cerca de R$ 5 mil. Para este ano, o produtor estima uma redução de custos em função da redução do valor dos insumos.
O trabalho de recuperação do pasto contou com o consórcio das espécies Brachiaria brizantha cv. MG-4 (Braquiária MG-4), Brachiaria humidicola cv. Llanero (Dictyoneura) e a mistura das espécies leguminosas Stylosanthes capitata e Stylosanthes macrocephala (Estilosantes Campo Grande).
Já em Camapuã (MS), na propriedade de Cássio Fugisaki, os custos totais de recuperação ficaram um pouco mais salgados – em torno de R$ 1.200 e R$ 1.300 por hectare. Na propriedade, a área de pastagem é de cerca de 2.900 ha.
“Recentemente havíamos comprado uma propriedade vizinha e tivemos de fazer esse trabalho de recuperação, em função do grau de degradação que havia”, conta Fugisaki. “Como havia muita infestação de plantas daninhas e a forrageira não era a que a gente queria, tivemos de começar do zero”.
Feitos os trabalhos no solo, em setembro de 2009, as cultivares escolhidas foram o consórcio das espécies Brachiaria brizantha cv. Marandu (Braquiarão) e a Braquiária MG-4. “Notamos que a produtividade aumentou, inclusive a capacidade de engorda do rebanho. Como baseamos a alimentação do gado em pastejo rotacionado e suplementação mineral, estimamos até que haja animais mais precoces para o abate”, anima-se o pecuarista de corte.
Embrapa lança cultivar de maior valor nutricional
Entre as variedades de forrageiras desenvolvidas pela Embrapa Gado de Corte, o mais recente lançamento é da cultivar BRS Piatã, uma Brachiaria brizantha, resultado de 16 anos de pesquisa. A forrageira possui características de melhor valor nutricional e destaca-se por ser uma fonte mais rica em proteína e de maior digestibilidade.
A ferramenta de difusão de tecnologias dessa cultivar, com todas as informações de manejo, é a própria Internet, pelo endereço, http://blogpiata.cnpgc.embrapa.br. “Este, futuramente, será o blog para a área de forrageiras da Embrapa Gado de Corte”, declara Agiova.
Em termos gerais, a planta é apropriada para solos de média fertilidade e tolera solos mal drenados. Ela produz uma forragem de boa qualidade e acumulação de folhas, com colmos finos, o que resulta num melhor aproveitamento pelo animal. A cultivar é ainda resistente ao ataque de cigarrinhas-das-pastagens e destaca-se pelo elevado valor nutritivo e alta taxa de crescimento e rebrota.
Os testes mostraram que, em parcela sob corte, a BRS Piatã produziu em média 9,5 toneladas por hectare de matéria seca com 57% de folhas, sendo 30% da produção obtida na época seca. E o teor médio de proteína bruta nas folhas foi de 11,3%. A época mais apropriada para o plantio vai de meados de novembro a fevereiro, quando o período das chuvas no Brasil Central é mais firme. Se bem manejada, a planta estará pronta para consumo dos animais de dois a três meses após o plantio.
Com relação a ganho de peso animal, os testes mostraram que a nova cultivar resultou em 45 quilos por hectare por ano de peso vivo a mais que o Braquiarão.
A melhor cultivar
Mesmo sendo uma opção melhorada e resultado de muitos anos de pesquisa, essa nova cultivar ainda não pode ser considerada a salvação para a produtividade dos pastos brasileiros. “O que é preciso que fique claro é que a melhor cultivar deverá ser aquela que se encaixe no sistema de produção do pecuarista e que seja adequada às condições de clima e solo da propriedade”, destaca Agiova.
Nesse sentido o pecuarista tem de conhecer bem os aspectos de solo, as características físico-químicas e a classificação dele – se é misto, arenoso ou mais argiloso; se o terreno é alto, o que influencia em temperaturas mais baixas à noite, o que dificulta o estabelecimento de algumas espécies de forrageiras, como as do gênero Brachiaria, segundo o pesquisador da Embrapa Gado de Corte.