Cuidados com o solo, adubação e sementes incrementam a relação quilos por hectare dos feijoeiros no Brasil. A tecnologia cada vez mais presente nas lavouras brasileiras vem trazendo resultados significativos aos produtores de feijão, que passaram de míseros 600 quilos (kg) por hectare (ha) – média do Estado de São Paulo no início dos anos 80 – a colher médias de 2,5 toneladas (t) por ha de grãos e, em condições ótimas, mais de quatro t/ha.
Por ser cultivado o ano inteiro, em três safras diferentes, o trato com o solo e as cultivares modificam conforme a necessidade de cada agricultor. Além das três épocas de plantio, há diversos climas e solos, fazendo com que não exista a possibilidade de decretar uma fórmula única para tratar o solo antes do plantio da leguminosa.
Uma prática essencial em todos os casos é a coleta anual de amostras de solo para análises químicas e monitoramento do nível de fertilidade do solo. Níveis de fertilidade reduzidos indicam insuficiência do programa de adubação adotado, podendo ser ausência ou excesso de nutrientes. Ambas trarão resultados abaixo do esperado e diminuirão o potencial das demais práticas agrícolas adotadas pelo produtor, como: sementes melhoradas, controle de mato, de pragas e doenças, entre outros.
Se o teor dos nutrientes no solo estiverem em uma faixa considerada “muito alto”, a adubação pode estar sendo superdimensionada. Isso não implica em acréscimos adicionais na produtividade e os nutrientes em excesso podem ser eliminados por lixiviação (dissolução da substância pela água), pelo consumo de luxo pelas plantas ou por erosão.
A cultura depende de um bom desenvolvimento radicular das plantas, já que o feijoeiro tem um ciclo relativamente curto e, para que a produção seja satisfatória, é necessária a absorção de grandes quantidades de nutrientes em um intervalo de tempo relativamente curto. Para isso, é fundamental um manejo adequado de solo para garantir boas condições para o desenvolvimento do sistema radicular.Nutrientes Para a produção de 3 t/ha de grãos em uma cultura de feijão, por exemplo, serão extraídos do solo quase 290 kg/ha de N, 55 kg/ha de P2O5 e 250 kg/ha de K2O no pico do desenvolvimento vegetativo da planta, aos cerca de 70 dias do ciclo. Embora o consumo pelos grãos seja menor, também é uma quantidade considerável de nutrientes – quase 110 kg/ha de N, 20 kg/ha de P2O5 e 50 kg/ha de K2O, que precisam ser repostos no solo para que sua fertilidade não seja comprometida ao longo prazo.
A conclusão do trabalho de pesquisa conduzido pelo pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão, Nand Kumar Fageria, especialista em solo, diz: “Os resultados deste estudo mostram que os índices de acidez do solo adequado (ou seja, pH e base, Ca, Mg, K e saturação) podem melhorar significativamente a produtividade do feijoeiro. Quando o pH do solo é de cerca de 6,5, saturação por bases é de cerca de 67%, saturação de Ca é cerca de 48%, saturação de Mg é de cerca de 19%, K tem a saturação em torno de 3%,e Al é totalmente neutralizado, apresenta-se um nível de rendimento de cerca de 3200 kg/ha que pode ser alcançado”.
Assim como já foi dito, essa não é uma fórmula única que pode ser aplicada em todas as regiões, épocas e cultivares, mas que mostra uma base em que o produtor terá variáveis para ajustar ao cenário próprio.Nitrogênio alternativo
A inoculação de bactérias do grupo dos rizóbios, que fixam o nitrogênio atmosférico e fornecem-no à planta, é uma alternativa que pode substituir, em menor grau, a adubação nitrogenada. A cultura do feijoeiro pode se beneficiar do processo da fixação biológica de nitrogênio (FBN) alcançando níveis de produtividade de até 2.500 kg/ha.
Durante um bom tempo, o inoculante brasileiro foi produzido utilizando-se bactérias que eram obtidas no exterior. Depois de estudos, percebeu-se que as bactérias são impróprias aos solos tropicais. Atualmente, o inoculante comercial para o feijoeiro no Brasil é produzido com uma espécie de rizóbio adaptada aos solos tropicais, o Rhizobium tropici, resistente a altas temperaturas, acidez do solo e em condições de cultivo favoráveis é capaz de formar a maioria dos nódulos da planta. A eficiência da FBN, entretanto, depende das condições fisiológicas da hospedeira que fornece a energia para realização do processo.
Apesar de o feijoeiro ser uma planta com grande capacidade de aproveitamento do nitrogênio disponível no solo, a aplicação de adubos nitrogenados tende a afetar negativamente este processo. Solos com maiores teores de matéria orgânica, que liberam nitrogênio lentamente, podem beneficiar a planta do feijoeiro sem reduzir a sua capacidade de fixação.Micronutrientes
Os micronutrientes são fundamentais à medida em que são aumentados os patamares de produtividade, especialmente em solos cultivados há muito tempo. A análise do solo é necessária para auxiliar na prevenção da ausência. Há evidências do efeito positivo da aplicação de zinco e boro e o feijoeiro parece ser mais sensível ao boro nos cultivos de inverno. “Boro é o micronutriente que mais limita o desenvolvimento da cultura do feijão”, pontua o pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão, Nand Kumar Fageria, especialista em solo.
O molibdênio (Mo) é imprescindível para a fixação simbiótica do nitrogênio, bem como para o metabolismo desse nutriente nas plantas. Em alguns solos já se conhece a deficiência do Mo e dos efeitos bastante positivos de sua aplicação no feijoeiro, que pode ser feita com a semente ou mesmo por pulverização. São suficientes cerca de 80 gramas por ha de Mo, aplicados por aspersão foliar de 14 a 35 dias após a emergência, para correção de deficiências. Com o aumento do pH do solo, devido à calagem, também se tem aumento da disponibilidade do Mo do solo para as plantas. Preparo do solo
No preparo convencional do solo, para a semeadura convencional do feijoeiro, deve ser dado destaque às práticas conservacionistas, de acordo com as propriedades físicas do solo e a topografia do terreno, devido à ausência de cobertura vegetal do solo em quantidade satisfatória.
“É muito importante levantar o histórico da área, em relação à quantidade de palha residual da última cultura, incluindo a vegetação espontânea no pousio, para definição da utilização de arados e de grades”, comenta Elaine Bahia Wutke, pesquisadora do Instituto Agronômico de Campinas (IAC).
No sistema de semeadura direta – SSD, que também é considerado uma prática conservacionista, não se tem revolvimento do solo, a não ser por meio de máquinas para romper a camada de cobertura morta e distribuir os adubos e as sementes em profundidade e maneira adequada, favorecendo a germinação.
A rotação de culturas, além de ser uma prática conservacionista importante, também é adequada e auxilia no controle fitossanitário da cultura de feijão, favorecendo a interrupção no ciclo de pragas e doenças, além de preservar o surgimento de populações infestantes adaptadas à cultura. Recomenda-se evitar o cultivo sucessivo dessa leguminosa alimentícia por mais de dois anos consecutivos na mesma área, para controle da população de fungos do solo.