Em 2009, a agricultura nacional registrou novos recordes, mesmo com um cenário internacional ainda nebuloso. Porém, o câmbio e o clima continuarão sendo os grandes vilões em 2010.A agricultura brasileira encerrou 2009 com saldo positivo.
Pelos cálculos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra 2008/09 foi a segunda maior safra brasileira, com 134,99 milhões de toneladas (t), atrás apenas do ciclo 2007/08, com 144,01 milhões toneladas. Segundo a entidade, a redução da produção ficou por conta das adversidades climáticas, especialmente, no Sul, onde houve uma diminuição na produção de milho e soja. “Essas perdas foram diminuídas pelo clima que favoreceu a cultura do arroz irrigado que obteve recorde de produtividade ficando acima dos 7.000 quilos por hectare (kg/ha)”, aponta o presidente da Conab, Wagner Rossi.
Na opinião do representante da Conab, em setembro de 2008 (quando surgiu a crise financeira), o plantio da safra nacional de 2008/09 era realizado com elevados preços dos insumos. “Na colheita, os preços internos e externos estavam muito baixos, era o efeito da crise, caracterizando um processo de descapitalização dos produtores”, argumenta. “Já para a safra 2009/10 observa-se uma queda dos preços dos fertilizantes e outros insumos, colaborando para a diminuição dos custos de produção. Com o retorno do crescimento mundial, gradativamente, será retomado o nível das exportações de frango, suíno, soja, açúcar, entre outros e, dessa forma, o produtor voltará a perceber melhor renda”, garante Rossi.
Sendo assim, o ano de 2009 não foi tão ruim, como apontavam as projeções do início do ano. Essa é também a opinião da senadora e presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), Kátia Abreu. Segundo ela, em janeiro de 2009, as expectativas eram ainda mais negativas, com desconfianças sobre a capacidade de recuperação da economia mundial. Os pacotes de auxílio adotados pelos governos ao redor do mundo reaqueceram a produção e a renda. “Seria bastante difícil repetir em 2009 os resultados de 2008, quando os preços dos produtos agrícolas bateram recordes históricos no mercado mundial e o clima foi bastante favorável no Brasil, garantindo a supersafra”, mencionou a presidente, durante o “Balanço de 2009 e as perspectivas para 2010 do Agronegócio Brasileiro”, divulgado no dia 08 de dezembro, em Brasília.
Porém, o ano de 2009 passou por fases nebulosas. Na opinião da representante da CNA, em 2009 houve queda de produção de grãos e fibras em 6,35%, na comparação com o ano anterior, ou seja, a safra apresentou retração do recorde de 144 milhões de t para 134 milhões. O clima foi o principal fator que promoveu a retração na oferta de grãos, mas esse não foi o único problema. Segundo ela aponta, a queda dos preços das commodities agrícolas nos mercados internacionais, em decorrência da queda do consumo motivada pela crise financeira internacional, também prejudicou a rentabilidade do setor.
Além dessas dificuldades, o setor produtivo enfrentou problemas como endividamento elevado, escassez de crédito, disparada dos custos de produção no momento do plantio, em especial a alta dos preços dos fertilizantes, que prejudicaram o cultivo da última safra. Os agricultores brasileiros, pressionados por um cenário de restrições internas e externas, acabaram optando por uma lavoura de menor nível tecnológico, gerando redução na oferta final de grãos.
“Na verdade, o que ocorreu no primeiro semestre de 2009, após a crise financeira, e o que foi mais relevante, é que várias empresas perderam suas linhas de crédito. Somente aquelas que estavam mais preparadas para enfrentar as dificuldades conseguiram superar a crise. Algumas até aproveitaram a oportunidade, logo no início do segundo semestre, quando o mercado começou a reagir para investir. Porém, dessa vez, já ele (o mercado) estavam bem mais seletivos”, diz o presidente da Vanguarda do Brasil, Leonardo Slhessarenko.
Com dez unidades de produção no Estado de Mato Grosso e uma na Bahia, o Grupo Vanguarda, produtor de soja, milho, algodão, e de carne suína e bovina, foi um dos que aproveitou o momento para fazer a diferença no mercado em 2009, com 230 mil hectares de áreas cultivadas para a safra 2009/10. “Em 2009, até superamos as nossas expectativas. Na produção de milho para a safra 2009/10, já é estimada uma área plantada em torno de 50 mil ha, o que deve ser maior que a safra anterior. Com uma produção de 260 mil t, por exemplo, 80 mil a mais em comparação à 2008/09”, explica. Mesmo com os custos de produção em alta e os preços em baixa, o produtor optou por reduzir custos, sendo essa a única alternativa para enfrentar as especulações do sistema financeiro. “Quando o mercado internacional sinalizou os valores da saca da soja a R$ 10, o bushel, fizemos o dever de casa com a redução de custos, que envolveu entre outros, a questão da logística, porém, investimos em área ao invés de recuar. Foram 215 mil ha em 2008/09, para 230 mil ha nas áreas de 2009/10, o que representou um crescimento de 7%”, esclarece Slhessarenko.
Já para o pequeno produtor da cidade de Toledo (PR), Aluir Dalposso o ano de 2009 em suma foi muito negativo. “Saímos da safra de verão de 2008 historicamente ruim, com as piores médias obtidas em relação à produtividade e preços.
Ingressamos na safra de inverno, com um clima desfavorável quase não tivemos produção e o produto não teve qualidade, devido às geadas que afetaram a região. Um único ponto positivo foi o custo de produção que ao longo do ano apresentou uma melhora, principalmente quando se falava em fertilizantes. Outro ponto foi o uso de novas tecnologias que fizeram aumentar a produtividade, numa mesma área”, conta o produtor. E sobre as perspectivas para 2010, Dalposso, que plantou 106 ha de soja, é muito pontual. “Até o momento o clima tem sido favorável, a cultura da soja vem se desenvolvendo bem. Nessa safra não plantamos milho, devido ao custo muito elevado, e sendo que o preço também não atingiu o valor adequado. Pensamos em melhorar os índices alcançados da última safra, onde foram 250 kg/ha. Uma média histórica muito ruim para todos nós”, conclui.
Para o produtor, Darci Lago Decian, da região de Dourados (MS) os fatores climáticos foram os principais causadores dos prejuízos ocasionados nas lavouras de soja, trigo e milho em 2009. “Já os preços da soja animaram os produtores ao decorrer desse ano. O milho e o trigo não sinalizaram melhora, este último, no caso não tem nem comprador”, brinca o produtor. “Até o presente momento 80% das condições já são favoráveis para uma boa produtividade e se confirmados os preços já são uma redenção aos sojicultores. Se São Pedro permitir, o governo ajudar com a situação do câmbio e se as especulações de supersafra não se confirmarem, o ano 2010 será excelente para a soja”, diz.O sobe e desce De acordo com o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Cesário Ramalho da Silva, no caso do sojicultor o produto ficou mais caro em 2009. “O preço real recebido pelo produtor brasileiro de soja era de R$ 49,44 em dezembro de 2008. Naquele período, o dólar valia R$ 2,40 e em Chicago o bushel estava cotado em R$ 8,60. Em setembro de 2009, o preço caiu para R$ 37,47, com o dólar a R$ 1,82 e Chicago a US$ 11,30. O produtor não conseguiu se beneficiar da alta nos preços internacionais. Ao contrário, a situação só tende a piorar, com a perspectiva de safra recorde e, consequentemente, de queda nos preços”, analisa. “A soja, como qualquer outra commodity de exportação, sofre diretamente com as oscilações da moeda e os preços internacionais. A supersafra que virá fará com que ocorra uma oferta gigantesca do produto, criando um cenário pessimista para as cotações da oleaginosa na Bolsa de Chicago, que é referência de preços mundial”, justifica Ramalho.
Segundo o presidente da SRB, apesar das variações cambiais, as exportações brasileiras de algumas commodities, como açúcar (cana), algodão e suco de laranja, ainda mantêm uma margem positiva de rentabilidade e têm mantido uma significativa taxa de crescimento, gerando ganhos de participação no mercado internacional.Safra 2009/10,
a fase da recuperação Na opinião da representante da CNA, o ano de 2010 será marcado pela recuperação dos resultados da agropecuária brasileira, tanto em volumes produzidos e comercializados como em faturamento e crescimento da receita. A CNA avalia que, no próximo ano, o Produto Interno Bruto (PIB) rural voltará aos patamares de 2007. Os bons sinais já surgem nas perspectivas quanto ao comportamento do Valor Bruto de Produção (VBP) do setor agropecuário, que poderá atingir R$ 245,1 bilhões, em 2010. Tal projeção representa um aumento de 5,13% na comparação com o total de R$ 233,17 bilhões de 2008, segundo a divulgação realizada em dezembro. Mas, segundo a presidente da CNA, apesar da expectativa de recuperação e dos bons sinais que a anunciam, o setor não deve esperar grandes margens na comercialização. “O real deverá manter-se valorizado, o que, além de comprometer parte do resultado da atividade para o produtor, ocasionará perda de competitividade do produto nacional no mercado externo. Há outros fatores que podem afetar negativa ou positivamente o agronegócio, como o clima”, ressalta Kátia Abreu.
E o que o produtor poderá esperar para a safra 2009/10? Segundo a Conab, a expectativa do produtor para a safra segue em duas direções. “A primeira está relacionada com a produtividade esperada que, pelo que tudo indica, teremos índices de produtividade satisfatórios para a maioria das culturas devido ao clima favorável até o momento e as previsões também indicam condições climáticas favoráveis até o final da safra”, diz o presidente da Conab.