Já foram identificados mais de 60 focos da doença antes da primeira quinzena de dezembro; chuvas dificultam a pulverização e facilitam a proliferação do fungo. A safra de 2002/2001 de soja sofreu prejuízos com a incidência da ferrugem na ordem de 125,5 milhões de dólares, segundo dados da Embrapa Soja (Londrina-PR).
Com o passar dos anos, os agricultores foram aprendendo a lidar com o fungo P. pachyrhizi, causador da doença, e em 2008/2009 o “Custo Soja”, como são classificados os gastos com a pulverização mais a perda na lavoura diretamente devido à ação do fungo, foi de 2,1 bilhões de dólares. Para a safra 2009/10 a estimativa é menor – não deverá atingir os 2 bilhões de dólares, apesar dos primeiros focos terem sido encontrados precocemente em relação ao ano passado e as demasiadas chuvas, devido
El Nino, atrasarem o plantio, proliferar o fungo mais facilmente e atrapalhar a pulverização.
Safra 2009/2010
O primeiro foco da doença na safra atual foi encontrado em 21 de setembro, na região de Ponta Porã (MS), o que significa dois meses de antecedência em comparação à safra anterior. Quatro dias depois, o Consórcio Antiferrugem (uma rede de combate à doença, que tem o Ministério da Agricultura como coordenador, e outros diversos segmentos da cadeia produtiva da soja) encontrou outros oito focos em Formoso do Araguaia, em Lagoa da Confusão (TO) e um foco no município de São Miguel do Araguaia (GO), regiões de várzea onde é permitido o cultivo de soja na entressafra para produção de sementes, plantio de material genético ou para realização de pesquisa científica.
Até o fechamento desta edição, foram identificados 67 focos da doença no País, localizados em oito Estados, sendo eles, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Tocantins, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás, São Paulo e Minas Gerais. “Estamos registrando focos do fungo diariamente e as notícias é que muitos produtores já aplicaram ou estão aplicando fungicidas para controlar a lavoura”, comenta Rafael Soares, pesquisador da Embrapa Soja. O especialista sugere que os sojicultores redobrem a atenção nesta safra, em comparação a anterior, quando o primeiro foco só foi encontrado em 18 de novembro, dois meses mais tarde.
Segundo o pesquisador Maurício Meyer, também da Embrapa Soja, faltou cuidado dos produtores com a soja guaxa (variedade que germina a partir de grãos perdidos na colheita passada, derrubados pelos caminhões na beira da estrada), que deveriam ser retirados, para não deixar hospedeiros para o fungo. De acordo com o pesquisador, essas plantas infectadas com ferrugem representam uma fonte importante de inóculo para disseminar a doença na safra 2009/10.
Além deste ponto, Rafael Soares alerta para o fenômeno “El Nino”, que está sendo o responsável pelo alto número de chuvas nesses últimos meses do ano, oferecendo condições favoráveis para a proliferação do fungo nas lavouras brasileiras. Além disso, as chuvas são responsáveis pelo plantio tardio em diversas regiões e inviabiliza a pulverização.
Descuido e excesso de chuvas
Com os focos precoces e o alto nível pluviométrico no final do ano, os sojicultores deverão encontrar mais incidência de ferrugem do que nas safras anteriores, mas isto não significa que o problema trará prejuízos drásticos. Para Soares, o sojicultor já tem experiência com o manejo da lavoura em relação ao controle da doença, além de contar com produtos eficientes e específicos para o Brasil.
Na Fazenda Búfalo, em Nova Ubiratãn (MT), a lavoura da soja foi plantada em 29 mil hectares (ha), dois ha a mais que no ano passado, quando a lavoura teve prejuízo na ordem de 1,5% decorrente da ação da ferrugem asiática. Para esse ano, o gerente da fazenda, José Roberto Richert Machry, esperava não ter nenhum prejuízo com o fungo, mas está com problemas na aplicação do fungicida. “Ano passado tivemos uma pequena perda e nesse ano faríamos a aplicação preventiva, em torno dos 45 dias, e imaginávamos zerar o problema. Mas estamos há dias sem conseguir pulverizar devido às chuvas. Dos 29 mil ha, só pulverizamos cinco mil, e estamos aguardando a trégua da chuva para podermos levantar os aviões e terminar o serviço”, explica.
Para o gerente de projetos Kenji Utsumi, da DuPont – empresa que atua na área de pesquisa e desenvolvimento de defensivos agrícolas – a melhor maneira de controlar o fungo é utilizando o fungicida assim que aparece os primeiros botões florais, visando atingir toda a planta. “Se o produtor demorar mais um pouco para fazer a aplicação, os botões começam a sair e se tornam guarda-chuvas, impedindo que a parte de baixo da planta receba o produto, e assim, deixando-a sem proteção”, explica. Após a primeira aplicação, recomenda-se que seja realizada a segunda entre 14 e 25 dias, dependendo da incidência da doença.
Na última safra, o Estado do Paraná teve o maior número de focos identificados pelos meios de controle, como o Consórcio de Ferrugem, mas segundo o pesquisador da Embrapa Soja, Rafael Soares, isso se deve ao maior números de institutos de controle localizados no Estado em relação aos demais. Na safra 2008/2009, foram identificados 2.884 focos em todo o Brasil, sendo 1.582 (54,5%) apenas no Paraná. O segundo Estado em quantidade de focos registrados foi a Bahia, com 277 (9,5%). Para se ter uma ideia da diferença de disseminação do fungo nesta safra para a última, até o dia 9/12/2008 tinha sido encontrado apenas um foco da doença no Paraná, enquanto nessa safra o dia 9/12/2009 acumulava 17 focos.