Apesar de ser uma cultura muito forte nas lavouras brasileiras, produtores reclamam da volatilidade dos preços e alguns restringem a safra ao período sem o cultivo soja, para não sofrerem com a mosca-branca. Mesmo sendo o maior produtor mundial de feijão, o Brasil ainda precisa importar o grão em algumas épocas do ano para suprir a demanda interna.
A maior reclamação dos produtores é com a falta de regulamentação do preço, causando grandes oscilações o que influencia o tamanho das safras, já que o preço baixo na hora do plantio desestimula muitos produtores. São produzidas pouco mais de três milhões de toneladas de feijão por ano por aqui, representando 16,3% da produção mundial, seguido de perto da Índia, com 16,1%.
Apesar de sermos os maiores, a Ásia é o continente que mais produz a leguminosa, com 45,7%, seguida das Américas (36,7%), África (13,9%), Europa (3,4%) e Oceania (0,2%). Cerca de 66% da produção mundial é oriunda de apenas sete países: Brasil, Índia, China, Myanmar, México, EUA e Uganda, respectivamente ao tamanho de produção.
Entre 1984 e 2004, a área de plantio da cultura no Brasil teve queda de 25%, já a produção aumentou em 16%, graças ao incremento de 54% na produtividade média. Mesmo assim, a produção não é suficiente para atender ao mercado interno, devido ao acréscimo de 31% da demanda interna nesse mesmo período, causado, principalmente, pelo aumento da população. Com o crescimento populacional a demanda aumentou, apesar da queda do consumo per capita. Na década de 1970, o brasileiro chegou a adquirir 18,5 kg por pessoa por ano, já em 2007 esse número não superou os 15 kg por pessoa por ano. Mesmo com a queda no consumo per capita, tivemos aumento do consumo geral, explicando a necessidade brasileira em importar cerca de 100 mil toneladas de feijão por ano.
Produção nacional
A safra brasileira começou a ser colhida em novembro, a primeira das três safras, e dura até o final de outubro, no final da terceira. Durante o período, a colheita migra entre as regiões produtoras, alterando também o tipo de grão colhido.
A oferta de feijão ocorre na primeira safra principalmente nas regiões Sul e Sudeste e na região de Irecê, na Bahia, onde a colheita está concentrada nos meses de dezembro a março. A colheita da segunda safra acontece entre abril e julho e a da terceira safra, na qual predomina o cultivo de feijão irrigado, está concentrada nos Estados de Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Distrito Federal e oeste da Bahia, sendo ofertada entre julho e outubro. Embora possa apresentar variações de ano para ano, há colheita praticamente o ano todo, e acaba existindo sobreposição de épocas em algumas regiões.
Existem diversos fluxos de abastecimento, já que as regiões produtoras variam durante o ano, tornando o estado exportador em determinada época do ano e, em outra época, importador dos demais.
O feijão preto é mais popular no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, sul e leste do Paraná, Rio de Janeiro, sudeste de Minas Gerais e sul do Espírito Santo. No restante do País este tipo de grão não tem muita procura, consequentemente, tem baixo valor comercial. Os feijões de grão tipo carioca são aceitos em praticamente todo o Brasil, daí que 53% da área cultivada é semeada com este tipo grão. O feijão mulatinho é mais aceito na Região Nordeste e os tipos roxo e rosinha são mais populares nos Estados de Minas Gerais e Goiás. A produção de feijão irrigado na época da seca atinge a maior produção da leguminosa no País, com 46%, sendo outros 15% no inverno e 40% nas águas.
Mercado livre
Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos produtores é a alta variação de preço do feijão. Segundo o pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA), José Sidnei Gonçalves, a falta de controle por parte do governo faz as safras diminuírem ou aumentarem conforme o preço oferecido ao produtor, gerando oscilações tanto na safra quanto no preço. “O final de 2007 foi um grande exemplo de aumento dos preços devido à queda de produção. Quando o preço do feijão está baixo, o produtor diminui a área a ser plantada do grão e troca por outra cultura. Na hora da colheita, tem pouca oferta no mercado, subindo o preço”, explica o pesquisador. Em 2007, como citou Gonçalves, em determinadas regiões do Brasil o preço subiu além dos 70%, como foi o caso de Salvador (BA), onde foi registrado aumento no acumulado dos últimos seis meses do ano em 79,78%.
José Silva Matos, um pequeno produtor do município de Itapeva (SP), tem 55 hectares (ha) disponíveis para plantar no Sítio São José. Dependendo do preço de mercado na hora do plantio, a produção pode aumentar ou diminuir. “Planto de acordo com a expectativa de preço do mercado, mas parece que não está muito bom para os próximos meses, então acabei plantando apenas 10 ha nesta safra”, comenta.
Já para grandes produtores, como Ricardo Ghirghi, proprietário da Fazenda Água Clara, em Taquarivaí, também no interior de São Paulo, o mais importante é a busca pela produtividade, independentemente do preço. “Devido à rotação de culturas, tem de buscar produção. Se produzir bem, mesmo com preço baixo, não dá prejuízo. Por isso, o importante é trabalhar em busca da produtividade. Este ano, plantamos 200 hectares e esperamos ter uma boa produtividade com a lavoura irrigada e a colheita mecanizada”, afirma.
A opinião é compartilhada por Maurício Fernandes Dias, da Fazenda Capituva, que planta cerca de 110 ha de feijão por ano. Localizado em Itaberá (SP), o produtor acredita no trabalho profissional para afastar o prejuízo. “Os preços na agricultura não devem balizar o plantio, pois mudam muito rapidamente. O plantio deve ser técnico, isto é, seguir rotação de cultura, fertilidade das terras, entre outros fatores. Quem garante bons preços na hora da venda?”, indaga o produtor, que espera não ter prejuízos vendendo com preços futuros. “Já assistimos muitos tombos de quem quer ganhar na loteria. As únicas ferramentas para boas vendas são estar ligado em preços futuros e procurar vendas que garantam margens positivas, mesmos que estas não sejam muito grandes em alguns momentos”, conclui.
Atualmente, o valor da saca de 60 kg, em São Paulo, está saindo por R$ 62,68, e para o pequeno produtor de Itapeva, José Silva Matos, o custo dessa saca está em torno de R$ 50,00. O valor atual é 8,06% maior que o comercializado em outubro, quando era vendido a R$ 58,00. Mas, em relação a novembro de 2008, teve queda de 32,85%.
Na Fazenda Capituva, Maurício Dias atingiu a produtividade de 48 sacas por ha, o que foi considerado pelo próprio produtor como “média”. Este ano foi de retomada do plantio de feijão na propriedade, já que estava há cinco anos sem cultivar a leguminosa, não tendo como comparar com a safra passada. O motivo de tanto tempo sem plantação de feijão foi a dificuldade de conseguir mão de obra adequada. “É impossível fazer a colheita do feijão manualmente com todos os trabalhadores registrados. No caso de contratar uma empresa para isso, geralmente elas não são regularizadas, então de uma forma ou de outra acaba sendo um trabalho irregular. Hoje, voltei a plantar porque trabalho com colheita mecanizada, não dependendo de grande número de trabalhadores”, explica Dias.
Além dos preços, as moscas na lavoura
Para Maurício Fernandes Dias e Ricardo Ghirghi o maior problema enfrentado no feijoeiro é com as pragas. “A mosca-branca é o principal problema que temos na lavoura. Como a mosca se desenvolve bem no calor e na umidade, além da soja ser hospedeira, acabamos tendo grandes ataques da mosca na lavoura”, afirma Ghirghi. A mosca-branca, das espécies Bemisia tabaci e B. argentifolii, tem como hospedeiras 506 espécies em 74 famílias, incluindo a soja. O inseto transmite o vírus do mosaico dourado (BGMV), que manifesta-se por um amarelecimento intenso na folha delimitado pela coloração verde das nervuras dando um aspecto de mosaico. As vagens das plantas infectadas podem apresentar-se deformadas e manchadas, e as sementes quando formam-se são de tamanho, peso e qualidade reduzidas.
Devido a esse problema, na região de Itapeva só é possível cultivar o feijão de primeira safra, para colher antes que a soja comece a florescer e a mosca-branca acabe se multiplicando. Como o inseto se multiplica rapidamente – ciclo de 20 dias, com o favorecimento da umidade e do calor, o vírus pode causar prejuízos de até 100% nos feijoeiros.