O manejo do solo difere de região para região, mas a rotação de cultura e a cobertura com palha são fundamentais em todas as regiões. Além disso, análise de solo e planejamento a longo prazo são práticas fundamentais para um bom andamento do negócio.
A monocultura é claramente a melhor forma de se degradar o solo de forma biológica, física e química e, assim, diminuir a produtividade da lavoura, além de favorecer o desenvolvimento de doenças, pragas e plantas daninhas. Sabendo disso, o produtor deve estar sempre atento para realizar a melhor rotação de cultura possível. No caso da soja, o trato com o solo varia entre as diferentes regiões e um planejamento a longo prazo é fundamental.
O projeto deve ser idealizado visando à semeadura direta sem interrupções, segundo os pesquisadores. “Muitas vezes os produtores ficam quatro ou cinco anos mantendo o plantio direto, e resolvem mexer no solo ao invés de permanecer com o sistema. Está errado, a longo prazo a semeadura direta é o melhor caminho para se conseguir uma boa qualidade de solo”, afirma Fábio Álvares de Oliveira, pesquisador em fertilidade do solo da Embrapa Soja.
Para praticar o manejo adequado, o sojicultor pode escolher diversas culturas para rotacionar, só que deve levar em conta o clima de cada região. A escolha de espécies para cobertura vegetal do solo, que é essencial para evitar a degradação e o desenvolvimento de plantas daninhas, deve ser feita analisando a capacidade de produção de massa verde. Apesar de realizar esses dois processos, sempre existem correções para serem realizadas e, para isso, devem ser produzidas análises de solo constantemente.
A absorção de nutrientes do solo depende de diversos fatores como o clima, variedades genéticas das sementes, entre outros, mas principalmente a disponibilidade deles na lavoura. Um fator essencial é a acidez, já que ela determina a disponibilidade dos nutrientes, principalmente do nitrogênio (N), o suprimento mais importante para a cultura de soja, já que a cada 1.000 kg de grãos, são necessários 80 kg de N. “Todos os nutrientes tem relação direta com a acidez do solo, mas o N é o que apresenta maior relação entre o Ph e a disponibilidade. Em áreas com Ph abaixo de 5, o N2 (nitrogênio na forma gasosa) não se transforma em N e assim a planta não consegue absorvê-lo”, explica Oliveira.
Para se ter uma ideia, o solo possui 80% de N, mas está em estado gasoso. Mas a planta só pode aproveitar o N após a fixação simbiótica, que é uma associação das bactérias do gênero Bradyrhizobium com a soja. A bactéria penetra na raiz da planta e forma nódulos, que são capazes de transformar o N2 em amônia, substância que a soja absorve e utiliza como nutrição.
Em busca de melhorar a disponibilidade de N no solo, pesquisadores não indicam o uso de fertilizantes porque, além de encarecer a produção, não trazem o melhor resultado. O sugerido é o uso de inoculantes no preparo da semente e de dois micronutrientes, cobalto e molibdênio, que podem ser aplicados na semente ou na pulverização foliar, realizada entre 15 e 25 dias, pós-semeadura. Na inoculação turfosa (material seco) recomenda-se umedecer as sementes com água açucarada visando facilitar a aderência. A solução deve conter 100g de açúcar para um 1 litro de água, usando 300 ml da solução para cada 50 kg de sementes.
Para o sojicultor ter dados suficientes para planejar a adubação e a correção do solo, é necessária a realização de análises de solo anuais. Este procedimento pode ser realizado, em boa parte, pelo próprio produtor. Ele precisa coletar uma amostra a cada três hectares (ha) de terra. Cada amostra é resultado de aproximadamente 15 extrações de diferentes partes dessa área, que são misturadas e seleciona-se aproximadamente 500 gramas. O material deve ser enviado ao laboratório o mais rápido possível para não sofrer alterações.
O exame analisa a quantidade de fósforo, potássio, cálcio, magnésio, acidez, e nitrogênio. A coleta deve ser realizada logo após a colheita da soja, para que seja realizado o reparo a tempo. Mas no caso do produtor não ter realizado no início do ano, pode ser feita a análise antes da semeadura, o que pode ajudar a diminuir o desperdício, caso seja apontado a suficiência de algum mineral, por exemplo. “A análise do solo tem papel fundamental na lavoura e deve ser bem feita pelo produtor, porque é o seu resultado que vai definir todo o planejamento de nutrição do solo”, afirma o pesquisador da Embrapa Soja.
Uma análise custa cerca de R$ 40,00 e, pode significar, além de melhor desenvolvimento da planta, uma redução nos gastos desnecessários com fertilizantes, que podem chegar a 40% do custo total da lavoura de soja.
Existe ainda uma análise mais completa do solo, que analisa a quantidade dos micronutrientes e de enxofre. Esta deve ser realizada a cada duas análises simples, ou seja, a cada dois anos. Normalmente, o enxofre não é problema para a lavoura de soja, já que o fósforo contribui para essa deficiência. É importante o sojicultor contar com um laboratório que esteja participando de algum Programa de Controle de Qualidade, para que traga maior segurança.
Cada área
Na região do Paraná, após a colheita da soja, pode-se entrar com milho, sorgo, cevada, aveia preta e aveia branca. Essas culturas também podem servir como uma cultura antecessora à principal. Além dessas, milheto em consórcio com o guandu e nabo forrageiro também podem servir como antecessoras. A aveia é a mais indicada como uma adubação verde e cobertura na região. Na época de floração plena do cereal, passa-se o rolo-faca, mas é necessário que seja feito com o solo seco, para não compactá-lo. O atraso no manejo pode resultar em sementes invasoras na safra seguinte. Outras boas opções para adubo verde são o tremoço e o nabo.
A região centro-sul de Mato Grosso do Sul é um local favorável ao cultivo o ano todo, e ideal para o sistema de plantio direto. No outono, de abril a maio, pode-se plantar aveia, nabo forrageiro, ervilhaca peluda, centeio, ervilha forrageira, e outros grãos, como o trigo, o milho safrinha, o sorgo, o feijão, canola e triticale. Para a primavera, indica-se culturas para a produção de palha, como o milheto, o milheto africano, o sorgo e a Crotalaria juncea. O milheto se destaca devido ao seu rápido desenvolvimento vegetativo, pois atinge de cinco a oito toneladas por ha de matéria seca aos 45 a 60 dias pós semeadura, sendo uma excelente cobertura de solo.
Caso haja a necessidade de aprimorar o solo, mesmo na época de verão, o produtor pode reunir culturas econômicas, como o milho, e consorciar com o guandu ou calopogônio, que não atrapalham no manejo.
Já na região norte de Mato Grosso do Sul e nos estados de Goiás e Mato Grosso, são limitadas as opções de espécies de produção de palha. Nesta região, deve-se utilizar o final do período de chuvas para semear a safrinha. Basicamente as opções são milheto, sorgo, milho, girassol, nabo forrageiro e guandu. No caso de chuvas antecipadas em setembro, pode-se entrar com milheto ou sorgo para serem dessecados antes da semeadura da soja.
O produtor deve erradicar a prática da queima dos restos culturais ou da vegetação de cobertura da lavoura, porque danifica o solo, reduzindo a infiltração de água, aumenta a suscetibilidade à erosão e diminui o teor de matéria orgânica.
No momento de colheita, o picador deverá estar ajustado para triturar o mínimo possível os resíduos, para aumentar o período de decomposição. Além disso, é fundamental a distribuição uniforme da palhada para melhor controlar as invasoras, além de facilitar a semeadura.