Após saírem de uma crise econômica, os suinocultores manifestaram preocupação com o impacto negativo da denominação da gripe AH1N1, como gripe “suína”, no consumo interno da carne. Quando o surto da gripe aviária surgiu em 2006, não chegou ao Brasil, mas afetou drasticamente os preços das commodities agrícolas brasileiras.
Causou um efeito econômico negativo nos estados produtores, como Santa Catarina, por causa da derrubada nas exportações de carne de aves, por uma queda no consumo nos países importadores.
Hoje, após se recuperar dos prejuízos, o País enfrenta uma nova realidade, ou melhor, um novo surto. É a denominada gripe AH1N1, que com a mesma nomenclatura equivocada de “gripe suína”, vem, segundo a opinião de alguns suinocultores, afetando a cadeia produtiva da carne. Tudo porque a população associou erroneamente a transmissão da doença ao consumo da carne desse animal.
Tudo ia muito bem, até setembro do ano passado, segundo os produtores.
A demanda de carne estava em recuperação e os preços remuneravam adequadamente os suinocultores. Até que primeiro veio à crise mundial, que inibiu as exportações e deixou no mercado interno um volume de carne acima da demanda. “A crise financeira mundial teve um forte impacto. A queda de liquidez financeira prejudicou o fluxo do comércio e obrigou a redução dos estoques com reflexos nos preços. O governo anunciou que iria liberar recursos para empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que, infelizmente, praticamente não chegaram aos caixas do produtor e das empresas”, relembra Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs).
Agora, o fato da nova gripe assombra o setor e desta vez, partindo do México para o mundo. “Infelizmente, muitos adotaram o nome de gripe ‘suína’ e muitas pessoas desprezaram o que os órgãos falavam”, comenta Enori Barbieri, vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), entidade que representa os produtores rurais daquele estado. Hoje, Santa Catarina é o maior produtor de suínos do País, gera 750 mil toneladas de carne (com o abate de sete milhões de suínos por ano) e é responsável por 25% da produção nacional, segundo dados Faesc.
Mesmo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmar que o consumo da carne não era responsável pela transmissão da gripe, que passou a ser chamada de influenza AH1N1. E ainda explicar, que a transmissão é semelhante à de outros surtos de gripe, pelo ar ou pelo contato humano. “Mas já era tarde. O nome de ‘gripe suína’ ganhou o mundo e o estrago já estava feito. Apesar de todos os esforços, não houve como reverter os danos e os prejuízos, principalmente dos suinocultores independentes”, revela o vice-presidente da Faesc.
Na opinião de Enori Barbieri, sem dúvida nenhuma, a falta de informação afeta o consumo interno e a única saída é o mercado externo. “No ano passado, o mercado consumidor brasileiro estava ótimo, tivemos um consumo interno de 14 kg/per capita por mês, com 2,4 milhões de toneladas consumidas, sendo 80% de embutidos e 20% de carne in natura, o maior consumo interno que tivemos. Neste ano, ao contrário, já são 30 mil toneladas/mês, após o anúncio da nova gripe, que deixaram de ser consumidas, por falta de conhecimento e de informações”, diz.
Com isto quem sofre mais é o produtor, principalmente, aquele independente. Hoje, segundo o representante da Faesc, a indústria não consegue absorver toda a carne produzida no País. “E 20% da carne in natura produzida no Brasil são de suinocultores independentes. E com a redução do consumo, ele tem de buscar novo mercado”.
Já para outro suinocultor, na realidade ainda é cedo para dizer a influência desta nova doença, no setor. “Há uma grande demanda de oferta no mercado interno e pouca procura, com isto os preços pagos ao produtor estão lá em baixo, o que vem ocorrendo depois da crise financeira (…). Infelizmente, agora a grande mídia anda divulgando uma série de fatos que não condizem com a realidade e que pode prejudicar ainda mais o setor”, diz Antonio Ianni, que possui uma granja de suínos com alojamento para 1.800 matrizes, na cidade de Itu (SP).
Para o presidente da Abipecs, Pedro de Camargo Neto, a gripe AH1N1 assustou muito no início, porém, não provocou grandes efeitos. “As exportações até mesmo apresentaram uma pequena recuperação”, explica. “As exportações cresceram um pouco, porém, longe do possível e do necessário. Estamos exportando ao redor de 600 mil toneladas (t) anuais há quatro anos e poderíamos crescer. A queda do ano passado, quando exportamos 530 mil t, foi devido à crise financeira, que afetou fortemente as exportações de novembro e dezembro”, conta.
Segundo ele, o mercado interno se manteve, uma vez que a carne suína aqui é industrializada, como presunto, salames, linguiças, segmentos que, de acordo com Neto, não sentiram o efeito retraído do mercado. “Nos cortes in natura tivemos efeitos pontuais, que já desapareceram”, argumenta. “Porém, o setor, ampliou os controles de biossegurança nas granjas de suínos, evitando que os animais possam contrair a doença do produtor ou de seus empregados. A recomendação expressa do Ministério da Agricultura é proibir que trabalhadores, mesmo com leve suspeita de gripe, trabalhe junto com os animais”, ressalta Neto.
A gripe AH1N1
Em maio, o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura (MAPA) Inácio Kroetz, solicitou o apoio a parlamentares para reforçar o uso do nome da gripe AH1N1, escolhida pela Organização Mundial de Saúde. A entidade decidiu mudar o nome da até então chamada “gripe suína” para gripe “AH1N1”. De acordo com a organização, a denominação de “AH1N1”, é porque o vírus é cada vez mais humano e esse nunca foi associado como agente causador de doença em suínos, muito embora esses vírus possam infectá-los.
Nesta história, os suínos são completamente inocentes. “Contudo, ainda não está claro se este vírus que está infectando humano, originou-se de suínos. O que se nota é que eles são potenciais alvos de infecção da influenza AH1N1, assim como os humanos e aves”, diz a pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves, Rejane Schaefer.
Mas, afinal se a gripe não veio do suíno, então por que ele paga o “pato”? Segundo a pesquisadora da Embrapa, isto gerou confusão uma vez que foi feito o sequenciamento do genoma do vírus e se encontrou os genes H1 e H3, que pertenciam a vírus tipicamente de suínos. “Então o que os pesquisadores mostraram é que este vírus possuía genes de origem suína o que, num primeiro momento, levou as pessoas a associarem esse novo vírus (A/H1N1/ 2009) com o suíno, trazendo transtornos para a cadeia produtora. Na verdade, o vírus sofreu mutação genética e efectou o homem”, ressalta.
Segundo ela, de qualquer forma, sempre é prudente que toda carne seja cozida ou assada adequadamente antes do consumo, visando reduzir a possibilidade de quaisquer infecções. “O vírus AH1N1 não é transmitido pela ingestão de carne de porco, desde que apropriadamente cozida”, reforça a pesquisadora.
A Embrapa Suínos e Aves elaborou medidas de biossegurança, a ser seguidas pelas granjas do País, para evitar a transmissão da doença. Segundo as normas é sempre bom:
– Manter bons níveis de limpeza e desinfecção;
– Evitar a entrada de animais, veículos e visitantes;
– Evitar a circulação de trabalhadores em outras propriedades;
– Informar as autoridades veterinárias em caso da ocorrência de infecções respiratórias agudas nos suínos.