Agricultura

Cacau – o fruto dos deuses

Com o destaque de ser atualmente o primeiro estado de maior produtividade por área, o Pará mostra o lado saudável da produção cacaueira apesar das pragas que rondam a lavoura. Não há uma cultura no mundo capaz de levar muitos à paixão como a do cacau – a matéria-prima do bom e velho chocolate.

Se não fosse isso, o cultivo do fruto não seria considerado sagrado para a civilização pré-colombiana, segundo historiadores. No México, os astecas (1325-1521) acreditavam que o cacaueiro era de origem divina – o próprio profeta daquela civilização, Quatzalcault, ensinara o povo como cultivá-lo tanto para o alimento como para embelezar os jardins da cidade de Talzitapec. Mesmo com todo um histórico divino, atualmente o que se vê é uma cultura que busca recuperação no País. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a estimativa da safra de maio deste ano, em comparação com a do ano passado, registrou um crescimento de 1,3%. Em termos de área, a lavoura cacaueira saiu de 655.009 hectares (ha), em 2008, para 667.212 ha, o que representa um crescimento de 1,9%. Apesar do crescimento modesto na produção e em área cultivada no País, o cacau é sinônimo – ao mesmo tempo – de garantia de renda e respeito com o meio ambiente.

Darcírio Vronsky, cacauicultor paraense, que o diga. Numa área de 32 ha, com cerca de 30 mil pés, no município de Medicilândia, na porção sudoeste do Pará – a cerca de 845 km de Belém, o produtor tem conseguido uma média de 800 gramas (g) por pé. A safra recordista até então foi a de 1992, na qual ele conseguira uma média de 1,5 quilo (kg) por pé.
Desde 2006 o cacauicultor congrega a Cooperativa de Produtos Orgânicos da Amazônia (Coopoam) – que reúne 30 produtores da região. E de lá pra cá, ele pôde notar a valorização do produto.

“A nossa produção é classificada como o cacau de tipo 1, que produz uma massa de melhor qualidade, voltada para o abastecimento da indústria brasileira e para a exportação, direto para a Europa, na Áustria”, diz Vronsky. “No ano passado foram exportadas 48 toneladas (t) para o país europeu, 50 t comercializamos para uma forte indústria cosmética do País, e 117 t para demais compradores brasileiros”, contabiliza.

O ciclo da lavoura cacaueira está na fase de colheita na região atualmente – a safra mais “forte”. De acordo com Vronsky a colheita se antecipou em um mês em função da antecipação das chuvas na região. Em geral a época habitual é nos meses de julho a agosto.

Produção paraense

Com 85 mil ha de área plantada e 8 mil produtores envolvidos na atividade, atualmente, a produção de cacau paraense apresenta a maior produtividade nacional por área, que varia de 800 g a 2 kg por hectare. É ainda o segundo maior estado produtor do País, totalizando 52.670 t de amêndoas secas em 2008 – 24,3% da produção nacional (216.479 t), segundo dados da Secretaria da Agricultura do Estado do Pará. A atividade gera mais de 100 mil empregos diretos e indiretos no campo. A região de maior destaque na produção é a da porção sudoeste do estado, na rodovia Transamazônica, com 70%. Nessa região destaca-se o município de Medicilândia, que individualmente é o maior produtor nacional com uma área plantada de 17.681 há. O resultado é uma produção 15.796 t e uma produtividade de 1.089 kg/ha (dados da safra de 2007).

Orgânico por opção

A cultura do cacau, por si só, já está em perfeita sintonia com a região amazônica – de onde as plantas já faziam parte do ecossistema. Por necessitar de sombreamento para melhor produtividade, a lavoura pode ser consorciada com a floresta. “Sem a presença de produtos químicos, a lavoura se torna outra. Você nota o comportamento dos animais, das aves, que se integram mais à lavoura. Até a folhagem do cacaueiro fica diferente, com uma tonalidade de verde-azulado mais vivo”, descreve Vronsky.

A opção em ser orgânico também pode ser em função de uma busca de uma atividade que não exponha o agricultor aos efeitos toxicológicos dos defensivos. Isso foi o que trouxe o paranaense de Cascavel, Laécio Rodrigues Mota, para o Pará. A lida com a soja e todos os defensivos que ela necessitava o fez largar o grão e se entregar à produção do cacau e café, também na região de Medicilândia.

Com menor risco à saúde e uma produtividade que garante também uma maior saúde ao bolso, Mota sente-se duplamente beneficiado com a cultura do cacau orgânico. Numa área de 32 ha, na safra cheia do ano passado, ficou em 27 t.

Os produtos que vêm do cacau

(a) Do fruto do cacaueiro se extraem sementes que, após sofrerem fermentação, transformam-se em amêndoas, das quais são produzidos o cacau em pó e a manteiga de cacau.
(b) Em fase posterior desse processamento, obtém-se o chocolate, produto alimentício de alto valor energético.
(c) Envolvendo as sementes, encontra-se grande volume de polpa viscosa, branca e açucarada, com a qual se produzem sucos, refrescos e geleias.
(d) Da casca extrai-se a pectina, que após simples processamento mecânico, se transforma em ração animal, ou ainda, por transformações biológicas, pode ser usada como fertilizante orgânico.

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