Manejo integrado diminui o uso de defensivos e garante um bom controle de pragas na lavoura de goiaba. Uma lavoura com baixo uso de defensivos e que não sofra prejuízos significativos com o ataque de pragas é o desejo de todo produtor rural.
Em busca disso, o Instituto Biológico (IB) – unidade de pesquisa da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo – está aprimorando uma técnica usada nas lavouras de goiaba, na região de Campinas (SP), e está ajudando os produtores na adoção do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Esse manejo é estabelecido por um sistema racional no uso de defensivos agrícolas na lavoura para o controle das pragas. A ideia é amenizar a quantidade de resíduos no ambiente e também no fruto, o que possibilita um ambiente adequado aos predadores naturais das pragas. Luiz Yoshio Kumagai é um destes produtores que no distrito de Pedra Branca, próximo a Campinas, produz a goiaba tipo Kumagai há 29 anos. O nome da variedade e o sobrenome do produtor não é mera coincidência.
Quem elaborou a ‘Goiaba Kumagai’ foi o pai de Luiz, na década de 70, quando iniciou a exportação da variedade. Após o falecimento do pai, os irmãos dividiram as terras e continuaram a produção.
Em uma dessas terras está o Sítio Maracujá, com cerca de 1.000 pés de goiaba, que podem produzir até um milhão de goiabas por ano – o equivalente a 250 toneladas. Para controlar toda a lavoura, o produtor passou a usar o MIP. “É muito importante o equilíbrio na lavoura. A terra deve ser adubada conforme o resultado das análises técnicas. O uso de defensivos químicos deve ser a última opção do produtor, porque ele acaba matando os predadores das pragas também”, explica Miguel Francisco de Souza Filho, pesquisador do IB.
Além do MIP, os produtores da região utilizam a técnica da “Poda Total” para garantir frutos homogêneos, ter goiaba em todas as épocas do ano e manter a sanidade da plantação. A Poda Total, também conhecida como “Poda Drástica”, consiste no corte da copa da planta após a colheita, deixando apenas alguns galhos para servirem de respiro para a planta se desenvolver. Existe também a “Poda Contínua”, que significa realizar o corte de galhos durante toda frutificação do pé. “O problema neste procedimento é que você tem galhos com botões, frutos pequenos e grandes ao mesmo tempo. Quando se aplica o produto, todos os frutos acabam recebendo o defensivo, sendo que alguns estão quase prontos para serem colhidos e não respeitariam o período de carência dos agrotóxicos”, explica o pesquisador. Inclusive, para cada fase do fruto, há um tipo de praga e, logicamente, um tipo de defensivo a ser aplicado.
Com a Poda Total, os produtores podem dividir a lavoura em fases da planta. Se uma fileira de pés acabou de passar pela poda total, a que está localizada de um lado deverá estar com frutos quase prontos para serem colhidos. Já a do outro lado deve estar na primeira etapa do pós-poda. A diferença entre as fileiras é de 15 dias.
Essa divisão por fases é classificada por números. A fase zero é onde o pé está quase completamente podado, só existem alguns galhos mais altos para a planta poder fazer a fotossíntese e se desenvolver, são os chamados pulmões da planta. Tudo o que foi retirado na poda vai direto para o chão para servir de adubo para o próprio pé. Na fase um, na qual os primeiros galhos começam a aparecer, se retira os pulmões, para não desequilibrar a planta. “Se você não retira os pulmões, esses galhos estarão mais avançados em comparação com o resto do pé e os frutos desse galho seriam maiores e o restante menores”, explica Miguel Filho.
No próximo estágio, começam a aparecer os primeiros botões da fruta. Nesse momento, o produtor começa a retirar o excesso de galhos para arejar a planta. No terceiro estágio, com os frutos ainda pequenos, o trabalho é retirar que estão mais avançados ou atrasados em relação à maioria. “A gente precisa tirar os que estão fora da média porque na hora de colher, nós temos pouco tempo e todos precisam estar homogêneos. Além da colheita, na hora de ensacar os frutos também precisam estar parecidos, porque se demorar a proteger, as pragas começam a atacar”, explica Luiz Kumagai.
O estágio quatro é o ensacamento dos frutos, ou seja, a fase em que cada fruto recebe um saquinho que é grampeado a fim de proteger a goiaba. Cada trabalhador consegue colocar cerca de 4.000 saquinhos por dia, o que significa aproximadamente quatro pés, já que cada planta produz entre 800 e 1.200 frutos. “Se nós não selecionarmos os melhores frutos, o pé é capaz de produzir 3.000 goiabas, só que o tamanho de cada uma seria muito menor. Daria muito mais trabalho e o valor de venda seria bem abaixo do praticado atualmente”, explica Luiz Kumagai. Depois do ensacamento, o produtor só precisa acompanhar a planta para analisar a incidência de pragas e colher na época correta.
Pragas
As cinco principais pragas que prejudicam a goiabeira, segundo o pesquisador do Instituto Biológico, são os psilídeos, os percevejos, as moscas das frutas, o besouro amarelo e o gorgulho da goiaba. Os psilídeos são insetos que se alimentam da seiva das plantas. Eles sugam o líquido e a folha reage se encolhendo e se curvando, o que prejudica a fotossíntese – processo de transformação da energia solar em alimento. O percevejo também é um sugador, mas ele ataca o próprio fruto deixando uma marca na parte externa, tornando a goiaba sem valor comercial. O pior é que ele não ataca apenas os frutos maduros, mas também os botões florais e os pequenos frutos.
Além dessas pragas, há a mosca da fruta que pousa na goiaba e deposita os ovos. As larvas eclodem, entram no fruto e vão se alimentando da polpa, o que torna a goiaba inconsumível. “Depois que a larva se desenvolve no interior do fruto, se torna mosca e vai depositar os ovos em outras goiabas”, explica o pesquisador do IB, Miguel de Souza. O gorgulho, que é um besouro, causa os mesmos danos à fruta que a mosca da fruta. Ele deposita os ovos e depois que as larvas eclodem elas destroem a polpa do fruto.
Já o besouro amarelo é uma praga que ataca plantações de diversas culturas, como abacateiros e mangueiras. “Os besouros têm um ataque muito feroz nas folhas. Eles acabam deixando as plantas muito desfolhadas e elas perdem o poder de fotossíntese o que claramente prejudica o desenvolvimento dos frutos”, afirma o pesquisador.
Precauções
Através do MIP, o controle dessas pragas tem dado resultados. Além do baixo uso de defensivos, o manejo permite ao produtor o maior uso dos restos da própria lavoura como forma de adubo. “Usando produto químico diversas vezes, os insetos se tornam resistentes, os frutos recebem inseticida em excesso, destrói o meio ambiente inclusive os predadores das pragas e o produtor prejudica a própria saúde”, explica o pesquisador. Com esse tipo de manejo deve ser feito o acompanhamento dos pés para verificar a incidência de praga a fim de determinar a necessidade ou não do uso de produtos.
Para esse tipo de trabalho, é necessário que o produtor se preocupe com a capacitação dos funcionários para analisar a incidência de cada praga nos pés de goiaba. “Tem muito produtor que ao ver qualquer sinal de praga, já vai aplicando inseticida, com medo de perder a produção. Mas o ideal é trabalhar com um ambiente mais natural possível”, afirma Miguel. Com isso, se preserva os predadores, que se alimentam das pragas. “Nós estamos sempre monitorando as goiabeiras, e aturamos até atingir um índice de incidência de 5 a 7% dos frutos. Aí é o momento de usarmos algum produto, mas sempre com controle e com diferentes princípios ativos para não criar resistência”, explica Luiz Kumagai.
Exportação
Ao tomar todos esses cuidados, os produtores de Pedra Branca exportam cerca de 50% da produção. A variedade Kumagai é a branca, apropriada para a exportação já que é mais resistente. Para o envio das frutas, os produtores aguardam a encomenda dos exportadores e programam a colheita e a embalagem para o mesmo dia do carregamento, diminuindo ao máximo o tempo da colheita para a venda final.
Após a colheita, o fruto é embalado um a um em uma máquina a vácuo. São separados por tamanho, e os maiores e os menores acabam ficando de fora já que os menores não têm valor comercial e os maiores não cabem na caixa. As caixas cheias de goiabas ficam em um refrigerador até o momento do carregamento. “Daí para frente já não é mais com a gente, mas o ideal é ir o quanto antes, de preferência de avião. É uma pena o fruto demorar tanto para chegar lá porque quanto mais tempo passa, pior fica a consistência e o gosto”, explica Ricardo Kumagai.
Quem desejar ter mais informações sobre o Manejo Integrado de Pragas na cultura de goiaba, pode entrar em contato com o pesquisador do Instituto Biológico, Miguel Souza Filho através do telefone (11) 3252-8342 ou pelo e-mail miguelf@biologico.sp.gov.br.