Pecuária

Inseminação: longe da crise, setor cresce

Nos últimos dois anos, o mercado de inseminação artificial teve resultados excelentes. Aproveitando a boa fase, as empresas do setor se preparam para abocanhar novos adeptos à prática, com novas tecnologias. Na cidade de Sertãozinho (SP), técnicos trabalham todos os dias no que há de mais moderno em reprodução animal.

Eles investem na inseminação artificial (IA). A tarefa que consiste na deposição mecânica do sêmen no aparelho genital da fêmea, é hoje, sem dúvida, um dos instrumentos mais baratos de melhoramento genético do rebanho. Nos últimos 20 anos, esta técnica de reprodução tem crescido em volume e diversificação na maioria dos países.

Tal evolução não é devida somente à alta eficiência das principais raças de animais, mas também a uma série de melhoramentos nas áreas de fisiologia, nutrição, manejo dos reprodutores e, principalmente, genética. O processo de inseminação artificial está sendo cada vez mais divulgado no mercado e é hoje, considerado por muitos, o grande gancho da pecuária moderna.

Com isto, o mercado de produtos para inseminação artificial tem números a comemorar e vê pela frente um cenário bastante otimista. Segundo o relatório anual da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia) – divulgado em março deste ano – o setor fechou 2008 com um volume histórico de doses de sêmen comercializadas. Foram 8,204 milhões de doses vendidas. Até o momento, o melhor resultado fora o de 2004, com 7,480 milhões. Para a entidade, o principal responsável pela marca foi a pecuária leiteira. Em 2007, só neste setor houve um crescimento de 27,01%, em comparação a 2006. Foram 3,696 milhões de doses comercializadas, o maior volume dos últimos dez anos. Em 2008, houve um aumento considerado e o setor encerrou o ano, com 4,050 milhões de palhetas comercializadas. “Nos últimos dois anos, com melhor remuneração do setor, os produtores passam a investir em genética. Até o ano passado, a valorização do real frente ao dólar foram outros fatores que contribuíram para sustentar a demanda. Houve também na cadeia produtiva do leite um crescimento da importação do sêmen, puxado pela raça Holandesa, que responderam por 77% das compras externas”, relata o presidente da Asbia, Lino Rodrigues Filho.

As vendas de sêmen de bovinos de corte também deram sua contribuição. Em 2007, foram negociados 3,8 milhões de doses – com ligeiro recuo de 0,65% – em relação ao ano anterior. Já em 2008, foram 4,1 milhões. “Apesar da crise atual vivida pelos frigoríficos, a demanda pelo produto continuará existindo. Com isto é hora de melhorar a qualidade para garantir remuneração, utilizando o quê? Tecnologia. Isto é um estímulo interessante, pois os pecuaristas precisam mostrar eficiência na produção”, descreve Rodrigues Filho.

Até mesmo com a crise financeira, o setor espera para este ano um crescimento em torno de 6% a 8%, em comparação ao ano passado. “Porém, se alguém me perguntasse das nossas projeções no mês de setembro de 2008, o resultado seria diferente. Agora neste mês de março, encerraram a estação de monta e aguardamos que até a próxima, os efeitos da crise já estejam amenizados”, diz o presidente.

Na opinião de Heverardo Rezende de Carvalho, diretor da Alta Genetics, de Uberaba (MG), empresa especializada em inseminação artificial, a crise poderá afetar o setor, mas não tão profundamente. “Até porque os preços da arroba não estão tão baixos, como estavam em comparação à mesma época do ano passado. Acredito que haverá também falta de animais para abate. A demanda por carne fará com que haja um crescimento no mercado de inseminação artificial”, revela. “Se o pecuarista tiver um problema no fluxo de caixa, ele poderá até comprar produto mais barato, mas não deixará de inseminar”, completa.

O otimismo no setor tem boas explicações. Nos últimos 10 anos, o crescimento foi de 47,35%. “Os bons resultados são a soma da visão empresarial da atividade e do pecuarista que sabe que produzir com qualidade e competitividade, necessariamente, passa pelo uso da técnica (IA)”, analisa Márcio Nery, diretor da ABS Pecplan, empresa de inseminação artificial, de Uberaba (MG).

Mas, para o presidente da Asbia, Lino Rodrigues Filho, ainda há um campo para ser explorado. “Na área de leite existem 22 milhões de matrizes e na de corte, 70 milhões, no total apenas 8% destas são inseminadas. O número não a chega 1% do total de pecuaristas. O que falta é a divulgação dos resultados do uso desta tecnologia e de uma cultura de fidelização dos clientes, para garantir o sucesso do trabalho. Este é o nosso desafio”, diz o presidente da Asbia, que agrega 17 empresas de inseminação artificial.

Para o gerente administrativo da CRV Lagoa, Antonio Esteves, a propaganda é alma do negócio. “Hoje, já existem kits para facilitar o investimento inicial, forma de pagamento, disponibilidade de mão-de-obra capacitada e cursos nas centrais de coleta. O mais importante é começar bem um trabalho para que a empresa não caia no descrédito e os pecuaristas também parem com a técnica de inseminar”, diz.

Pensando no futuro

Para alavancar a tecnologia, a aproximação entre os elos das cadeias da carne e de lácteos e a disseminação de novas práticas, como a Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF), favorecem o aumento das vendas. “Acredita-se que, em 2009, a demanda de sêmen para IATF já tenha superado dois milhões de doses. É uma prática que vem crescendo e se mostra interessante, mesmo para quem não tem prática de inseminação. As vantagens da técnica: são o aumento do número de bezerros de IA, aceleração ao melhoramento genético e possibilidade de nascimento e desmame em épocas mais favoráveis ao bezerro e padronização dos lotes, obtenção de melhores preços na venda”, diz o presidente da Asbia.

Já na opinião de Márcio Nery, da ABS Pecplan, a IATF é a principal alavanca do uso da técnica no gado de corte e o principal benefício está em facilitar o uso da técnica em grandes rebanhos e uma adequação às necessidades de uma estação de monta. “No gado de leite, o uso de técnicas simples e largamente testadas”, acrescenta Nery.
Para o gerente da Alta Genetics, Heverardo Rezende de Carvalho. “Sem dúvida, a IATF veio possibilitar que grandes rebanhos e fazendas enormes passam a inseminar com facilidade. Com isto, há uma série de vantagens econômicas, entre elas, a redução de custo”, conta.

Outra tecnologia de ponta que deve favorecer as vendas será o sêmen sexado [onde acontecem a escolha do sexo dos animais], puxado principalmente pelo bom momento da cadeia produtiva de leite (pela primeira vez nos últimos 10 anos, o volume de vendas de sêmen de raças leiteiras foi praticamente o mesmo do negociado para as de corte). O presidente da Asbia, cita ainda que a preocupação com a rastreabilidade é outro fator indiretamente positivo, pois a utilização de sêmen facilita o processo de identificação. “O sêmen sexado é uma tecnologia fantástica para aumentar a produtividade, pois é o produtor terá a certeza que nascerão mais fêmeas (no caso da pecuária leiteira) ou mais machos (na pecuária de corte)”, cita o gerente administrativo da CRV Lagoa, Antonio Esteves.

O otimismo do setor também está embasado em um outro fator. Empresas que visam à qualidade do produto estão trabalhando junto à atividade primária [os produtores] para que este invista na inseminação. “Quando mais gente for para o campo e mostrar as tecnologias da inseminação, isto será positivo para todo mundo”, conclui Heverardo Rezende de Carvalho, da Alta Genetics, confiante no cenário positivo a longo prazo.

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