Pecuária

Clotridioses: com elas morte rápida e certa!

É por isso que não se pode descuidar. Essas doenças de nome complicado representam uma ameaça ao rebanho bovino, de corte ou de leite, muito maior do que se imagina. O trabalho de prevenção é importante, mas, na ocorrência de algum caso, medidas severas devem ser tomadas para evitar prejuízos irrecuperáveis.As clostridioses mais comuns nos bovinos confinados são o botulismo e a enterotoxemia.

Os bovinos, porém, podem ser afetados por outros tipos de clostridioses, como carbúnculo sintomático (manqueira), gangrena gasosa (edema maligno), tétano, hemoglobinúria bacilar e morte súbita por clostrídeos. O botulismo é uma intoxicação causada por toxinas produzidas por um bacilo (Clostridium botulinum) encontrado no solo, na água e no trato digestivo de animais, sem causar qualquer problema na forma esporulada.

Porém, quando encontra condições ideais de multiplicação, passa para a forma vegetativa e produz toxinas que causam o botulismo se forem ingeridas.

A doença afeta o sistema nervoso do animal, que fica com o andar cambaleante, evoluindo para a paralisia dos músculos da locomoção, mastigação e deglutição; normalmente os animais atingidos morrem por paralisia respiratória.

Para evitar esta clostridiose, além da vacinação dos animais contra o botulismo, são indicados alguns cuidados no manejo, tais como: queimar ossos e carcaças dos animais mortos e enterrar os restos; controlar a qualidade da água e dos alimentos fornecidos; realizar a mineralização adequada do rebanho, de forma a garantir a quantidade necessária de fósforo. “É preciso ficar atento aos animais que tenham o hábito de roer ossos ou comer restos de outros animais mortos: pode ser sinal de que está faltando fósforo nesse rebanho, aumentando o risco de ingestão de toxinas”, adverte o médico veterinário Odilon Cerqueira César, responsável pelo controle sanitário da fazenda Santa Tereza, em Aquidauana, MT. Lá, a vacinação é acompanhada de várias medidas para controlar e evitar a propagação de qualquer tipo de enfermidade deste tipo.

Deve-se, ainda, evitar o uso de camas de frango oriundas de granjas que não fazem a limpeza das carcaças das aves mortas do criatório e proteger os silos e a ração animal, de forma a evitar a entrada de roedores. “A presença de roedores mortos pode permitir a multiplicação dos clostrídeos e, conseqüentemente, a formação de toxinas do botulismo”, alerta.

Já as enterotoxemias, são clostridioses quase sempre fatais, de evolução rápida, com sinais gerais graves, normalmente seguidos de sintomas nervosos. Acometem tanto bezerros como animais adultos. Nos animais afetados, podemos observar andar cambaleante, diarreia, prostração, convulsões e alta mortalidade.

As bactérias responsáveis pelas enterotoxemias vivem normalmente na flora digestiva dos animais sadios e acredita-se que elas se multipliquem de forma descontrolada quando há um fator de desequilíbrio na digestão dos bovinos. Entre os fatores que facilitam a proliferação destas bactérias estão mudanças nos hábitos alimentares, alimentação pobre em fibras, ração rica em proteína e carboidratos, que facilitam a fermentação, ou insuficiência hepática. “Daí a importância de se evitar mudanças bruscas na alimentação dos animais e fornecer uma alimentação balanceada”, alerta o técnico.

Segundo o médico veterinário, a escolha de uma vacina de boa qualidade é o primeiro passo para o controle das clostridioses e deve ser feita com base na titulação em laboratório dos diferentes clostrídeos que entram na sua composição. Além disso, a eficácia destas vacinas deve ser comprovada no campo em regiões com mortalidade elevada.

No caso de bovinos em programa de confinamento, que já foram vacinados contra clostridioses, Odilon observa que é necessário aplicar, em dose única, duas a quatro semanas antes do confinamento, a vacina contra clostridioses e a de botulismo. Já os animais que nunca foram vacinados, devem receber as duas vacinas seis a oito semanas antes do confinamento, com uma dose de reforço duas a quatro semanas antes de começar o confinamento.

Boa mineralização ajuda, mas não faz milagres.

Nessa guerra contra as clostridioses a eficácia na prevenção depende de uma série de ações, que vão além da vacinação, e devem ser feitas de forma conjugada e constante. O controle do botulismo, por exemplo, principal causa de mortes de bovinos no Brasil, depende da vacinação periódica do rebanho, da suplementação mineral adequada e do monitoramento constante das pastagens e aguadas. A adoção parcial desses cuidados, embora diminua os riscos de surgimento da doença, não conferem a eficácia preventiva desejável.

Alguns produtores fazem apenas a suplementação e abrem mão da vacina, o que pode até proporcionar uma certa proteção à maior parte dos animais, em razão do fornecimento de fósforo, visto que a deficiência do mineral é que leva à osteofagia. Há aqueles animais, no entanto, que mesmo recebendo a complementação de fósforo não abandonam o hábito de mastigar ossos.

Para o pecuarista Célio Ferreira Lemos, que faz cria, recria e engorda na região de Rondonópolis, esse é um motivo incontestável para se levar a sério a preocupação com o destino dos animais mortos: “Não basta enterrá-los. Antes disso, é preciso incinerá-los, caso contrário, o local pode sofrer rebaixamento após a decomposição do cadáver, que geralmente é enterrado muito inchado.

Quando chove, formam-se poças de água nas depressões, estabelecendo-se, no local, uma fonte de contaminação. Além disso, existe a possibilidade de animais selvagens e até cães domésticos desenterrarem as carcaças e espalharem os ossos pelo pasto.

A aplicação de uma única dose da vacina é suficiente para imunizar o rebanho? No caso de vacinas inativadas, a recomendação é que seja dada uma segunda dose de reforço, quatro a seis semanas após a primeira. Em condições de criação extensiva, no entanto, esse manejo torna-se muito difícil.

Há casos, porém, de sucesso com uma única aplicação da vacina. Uma experiência realizada pelo professor da Universidade Estadual Paulista, Iveraldo dos Santos Dutra, em uma fazenda em Euclides da Cunha Paulista, tomou como laboratório um pasto onde havia mortalidade muito alta. Os animais foram divididos em dois grupos de 106 cabeças. Um deles recebeu uma única dose de vacina e o outro nenhuma.

O rebanho foi colocado no pasto e a fonte de infecção, um tatu morto dentro do cocho de água, mantida. “Em uma semana, do grupo vacinado morreu um único animal, e do grupo não vacinado morreram 36 animais. Nesse caso, uma única dose foi suficiente para dar uma boa proteção.” Em regime de confinamento, no entanto, a facilidade de manejo e a maior possibilidade de contaminação do alimento, principalmente quando se trata da cama de frango, exigem a aplicação da segunda dose, recomendam os técnicos.

Anos atrás, as vacinas utilizadas no Brasil eram bastante deficientes e chegava-se a usar de três a seis doses por ano para imunizar o rebanho.

Hoje existem as vacinas bivalentes e de dupla emulsão oleosa, de largo espectro e que conferem imunidade por um período maior de tempo. “A vacina contra a aftosa, por exemplo, quando era aquosa, só protegia por quatro meses e a gente tinha que fazer a vacinação três a quatro vezes por ano”, compara o pesquisador.

Inimigo resistente e oportunista

Os clostrídeos são bactérias anaeróbias, isto é, se multiplicam na ausência do ar. Podem desenvolver formas resistentes, os esporos, capazes de permanecer nas áreas contaminadas durante muito anos. Estão presentes normalmente no solo e no tubo digestivo dos animais, mesmos sadios. Produzem substâncias tóxicas poderosas, responsáveis pelos sintomas e lesões observados nos animais doentes. Provocam a morte de bovinos de corte e leite, confinados ou a campo, terneiros ou adultos. Também são responsáveis por surtos de mortalidade em ovinos ou caprinos.

Sintomas semelhantes

Botulismo
Andar duro e cambaleante
Animal permanece deitado
Cabeça apoiada no flanco
Em média, 72 horas até a morte
Enterotoxemia
Dificuldade para andar
Prostração em decúbito lateral
Eventual diarréia hemorrágica
Em média, 24 horas até a morte

Gangrenas gasosas
Carbúnculo Sintomático
Edema maligno
Enterotoxemias
Tétano
Botulismo

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