Com o mercado de máquinas agrícolas em pleno aquecimento, a tecnologia aliada a uma boa manutenção vão garantir que esse investimento possa representar o melhor aproveitamento das lavouras, e, assim, uma lucratividade recompensadora.
Pensar em lucratividade na agricultura significa, principalmente, garantir o melhor aproveitamento na hora de colher os ‘frutos’ – ou os grãos, estes que, nos últimos 28 anos, vêm evoluindo em termos de produtividade no País. De acordo com o levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nessas quase três décadas, a produção de grãos cresceu mais significativamente que a área cultivada, o que evidencia os avanços tecnológicos que determinaram os aumentos nos rendimentos médios das culturas.
O processo de mecanização das lavouras foi e ainda é o responsável por esses índices da agricultura brasileira. Tratores, colheitadeiras e implementos agrícolas cada vez mais específicos fazem parte da necessidade do produtor em garantir melhores resultados durante a colheita.
Para Valdecir Monteiro, produtor de soja, milho e trigo no município de Cambé, região de Londrina (PR), é com o investimento em máquinas agrícolas potentes que os resultados aparecem. Ele comprou uma colheitadeira da New Holland, a CR9060, para a safra de verão. “Nós compramos essa máquina com a intenção de se produzir bastante”, destaca Monteiro. “Vendemos até um trator menor para comprá-la. A colheitadeira nos surpreendeu muito. A nossa adaptação com ela foi boa, e temos certeza de que ela vai garantir qualidade, com maior aproveitamento da lavoura”, diz.
A colheitadeira do produtor foi estreada com a lavoura de trigo. Mas em função de chuvas na região, nas primeiras semanas de agosto, a produção deve cair um pouco. Segundo Monteiro, a área plantada de trigo foi de 800 alqueires paulistas (1.936 hectares).
Tecnologia a serviço do produtor
Ao todo, Valdecir possui cinco colheitadeiras, todas da New Holland. É cliente da marca desde 2002. “As outras máquinas estão bem conservadas e respondendo bem em termos de produtividade”, diz. Isso em função da própria idade das máquinas e da hora de uso que, segundo ele, giram em torno de 3 a 4 mil horas trabalhadas.
Presente no País, ainda como um produto de importação desde a década de 60, a New Holland passa a montar em 1973, em Curitiba (PR), as primeiras colheitadeiras 1530 – as máquinas vinham da Bélgica incompletas e recebiam aqui os pneus, motor e correias. Três anos mais tarde, a empresa já produzia a colheitadeira 1530, 560 nacional.
De lá para cá, a larga escala de produção na agricultura alavancou o setor de máquinas agrícolas. O que demandava mais tecnologia para a produção de máquinas mais eficientes.
Com o lançamento da colheitadeira CR9060, a New Holland oferece a produtores de grandes áreas uma máquina com dois rotores axiais, que realizam um tratamento mais suave do grão em uma área de debulha e separação maior. Isso contribui para a qualidade da colheita, reduzindo a perda de grãos por quebra.
Concepção e aplicação
Em nome da eficiência de uma máquina, o produtor tem de levar em conta o trabalho que vai desenvolver com ela. Um investimento como esse da New Holland, exige uma atenção especial quando o assunto é garantir a durabilidade e maior aproveitamento da máquina.
“Para falar de aproveitabilidade remetemos à concepção de um novo produto”, explica Eduardo Nunes, gerente de marketing da New Holland para América Latina. “A NH efetua um grande número de pesquisas, clínicas e visitas aos clientes, com as quais levantamos os mais diversos aspectos da necessidade de utilização de um produto e de produtividade”. Com esses dados a montadora pode garantir ao produtor um maquinário com maior eficiência por hectare, menor intervalo de paradas para manutenção, autonomia, economia de combustível para máximo aproveitamento do dia de trabalho, entre outros fatores.
“A tecnologia proporciona, entre outros, dois aspectos fundamentais: maior controle sobre a performance da máquina (monitoramento e ajustes necessários) e soluções que facilitam as operações, obtendo-se ganhos em produtividade em operações específicas”, frisa Nunes. “Podemos citar a integração máquinas e sistemas de agricultura de precisão, que podem trazer grande ganho de produtividade ao agricultor”.
Durabilidade
O tempo de uso de uma máquina vai depender muito da maneira como ela é utilizada e qual a aplicação no campo por ela desenvolvida. Há lavouras que exigem mais, como é o caso da cana-de-açúcar, que pode levar uma colheitadeira a trabalhar o dia todo, e outras que não, como é o caso de grãos. “Soja, trigo e milho, por exemplo, o tempo de uso de uma máquina agrícola varia de 800 a 1000 horas por ano”, diz Jak Torretta Júnior, gerente de produtos e exportação intercompany da Valtra, analisando a potencialidade dos produtos da companhia. “Na produção de cana-de-açúcar, por exemplo, como ela é mais intensiva, a manutenção é feita no próprio campo. Nossos clientes não podem perder tempo com conserto, por isso garantimos 95% de disponibilidade no campo”, destaca.
Com uma participação forte no setor caniveiro, a Valta vem desde 2004 impulsionando este setor. Segundo Torretta, daquele ano pra cá, foi o setor que mais desenvolveu demanda por máquinas, e foi o que estimulou a produção da empresa. “Nosso conceito de produção é de máquinas simples e de fácil conserto. Para se ter uma idéia nossos tratores funcionam 16 mil horas sem precisar trocar a transmissão e 20 mil horas sem fazer retífica”, diz.
Em 2006, a Valtra lançou um novo sistema hidráulico: o Hi-Flow, que proporciona maior vazão hidráulica e com a flexibilidade ideal para trabalhar com todos os implementos que necessitam de alto fluxo hidráulico e controle de vazão. Para se ter uma idéia do que isso significa, a máquina é capaz de desenvolver quatro funções, o transbordo, cultivo/tríplice operação, plantadora de cana inteira ou picada e carreta distribuidora de torta de filtro. Cada um desses implementos com regulagens diferentes sem prejudicar o desempenho do trabalho no campo.
“Historicamente, a Valtra acompanha a necessidade de mercado, introduzindo a cada ano, modificações e melhorias com objetivo de aumentar a resistência dos tratores para atender as necessidades do mercado brasileiro”, destaca Manoel José Lino, analista de pós-vendas. “Este trabalho foi bem desenvolvido graças à parceria e ao estreito relacionamento direto com o cliente, que participou ativamente na identificação das necessidades, bem como nas soluções para evolução do produto”.
Acompanhamento técnico
Uso correto do trator ou colheitadeira e a manutenção periódica vai proporcionar um melhor aproveitamento da máquina, assim como vai garantir que ela dure por mais tempo. Nesse sentido que as empresas montadoras vêem no atendimento do cliente a melhor maneira para garantir o bom desempenho das máquinas.
“A questão da durabilidade está relacionada à manutenção”, aponta Omar Zilch, suporte técnico pós-vendas da Massey Fergunson. “Um dos trabalhos que se faz para esse objetivo é a entrega técnica. Para isso, nos preparamos com a produção de materiais técnicos e treinamento com os concessionários. No País, são 200 pontos e oito centros de treinamento. Tudo isso para visar um bom treinamento para aqueles que vão estar em contato com os clientes e estar efetivamente capacitados em demonstrar o produto”, explica Zilch.
“Temos clientes que dizem que só fazem negócio se houver um treinamento quanto ao uso correto da máquina”, ressalta Eduardo Sousa Filho, gerente de marketing do produto da Massey. “Eles valorizam esse tipo de comunicação, a questão da informação. Além dessas entregas técnicas são organizados cursos e atualizações para esses clientes. E é uma demanda crescente”.
Fabricada no País pela AGCO do Brasil, a marca Massey Ferguson possui uma tradicionalidade na produção de tratores. Em 1975, a marca despontou nas vendas com o MF 275. E é justamente com o sucesso da série 200 de tratores que a empresa é impulsionada a garantir melhor qualidade aos produtos da marca.
“A Massey produz tratores para 100 países distintos cada qual possui suas especificidades em termos de máquinas”, explica Sousa. “Temos uma tecnologia adequada para o Brasil. Em carros, existe o conceito de ‘tropicalização’, que seria adaptar o veículo para as condições do país e região onde ele vai ser utilizado. Esse mesmo conceito também empregado para as máquinas agrícolas. Nossos tratores possuem plataformas padronizadas, nossos projetos seguem um padrão, no entanto, o uso da máquina, o tipo de trabalho que ele vai desempenhar no campo, em que região, se mais quente, úmida ou fria – todos esses fatores são levados em consideração na hora da produção da máquina”.
Escolha para a rentabilidade
Diante de um mercado promissor, a produção de máquinas agrícolas vem ganhando mais força. Segundo os dados da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) o crescimento da produção chega a 34,62%, considerando os meses de janeiro a julho deste ano com os dados de 2007. Em termos de vendas, comparando esse mesmo período, o crescimento foi de 45,08%.
Resultados que evidenciam a priorização da produtividade na lavoura a partir de um maquinário adequado. “Há duas razões para o produtor trocar de máquina”, analisa Jeferson de Oliveira, gerente de marketing estratégico para a América do Sul da John Deere. “A primeira está relacionada a vida tecnológica das máquinas agrícolas e a segunda, que está em função da redução de custos. Com uma máquina capaz de aumentar a produtividade em mais hectares por hora – o custo da máquina se dilui. Temos investidos em tecnologia de motor mais leves, que consomem pouco”, destaca Oliveira.
Presente no Brasil desde 1979, produzindo inicialmente colheitadeiras e plantadeiras no município gaúcho de Horizontina (primeira fábrica), a John Deere é uma das indústrias de máquinas agrícolas de destaque no País. Hoje a empresa possui três fábricas no Brasil, em Catalão (GO), na produção de colhedoras de cana, e a terceira inaugurada em maio deste ano, em Montenegro (RS), especializada em tratores.
Com o uso da tecnologia, a empresa tem buscado potencializar a colheita, garantindo maior aproveitamento da lavoura. “Antes o produtor deixava um espaço durante a colheita, não colhia com a plataforma cheia, deixava um espaço para poder manobrar o trator. Com o uso da tecnologia do GPS, a máquina faz a colheita com a plataforma cheia e não há perdas”, enfatiza Oliveira.
Um exemplo dessa tecnologia é a série STS de colheitadeiras de grãos. De acordo com Oliveira, ela é uma máquina rotativa e, conforme o esforço, ela muda automaticamente o padrão de trabalho. “Isso gera um consumo de combustível menor no final do dia e garante menos perdas na lavoura”.
“A John Deer possui um setor de desenvolvimento de tecnologia próprio para o setor de agricultura que, em termos de investimentos, significa cerca de US$ 0,5 milhão por dia”, afirma Oliveira. “Estamos em expansão de concessionários e fazendo muito treinamento com eles – se por algum acaso houver algum problema com nossas máquinas eles estarão aptos a atender o cliente o mais rápido possível”, assegura.
De essencial a inevitável
O processo de mecanização para os trabalhos na agricultura tem se mostrado em pleno crescimento no País. É a busca por maiores resultados, seja no tratamento do solo, no plantio e na colheita. “Dependo das culturas a mecanização se faz necessária. No caso de grãos, não tem jeito, é necessária uma colhedora. No caso do café arábico, a mecanização é algo inevitável”, analisa Celso Luis Rodrigues Vegro, pesquisador do Instituto de Economia Aplicada (IEA), órgão que faz parte da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).
A redução de custos com a mecanização da lavoura de café é bastante significativa, de acordo com Vegro. Fazendo as contas, o pesquisador encontrou uma redução de 2/3 [cerca de 67%], em dinheiro, nos custos de produção. “Considerando um custo total, o qual se insere a depreciação da máquina, por exemplo, o custo cai para 1/3 [cerca de 33%], mas ainda assim é uma boa redução”, analisa. Segundo o pesquisador, o setor cafeeiro está tão disposto a mecanização que há filas de espera por máquinas.
Na cultura de laranja tentou se mecanizar, mas não houve resultados positivos, de acordo com Vegro. “Ainda tem de se pensar em um maquinário mais eficiente para esse tipo de cultura”, avalia.
Mesmo com um resultado crescente na produção e vendas, o mercado de máquinas agrícolas sofreu nos últimos anos com a alta no preço do aço, segundo o artigo “Mercado de máquinas agrícolas automotrizes: alta dos suprimentos estratégicos”, de Vegro e Célia Regina Ferreira, também pesquisadora do IEA. Segundo Vegro e Ferreira, com base em publicações e dados da Anfavea, o preço do aço corresponde a quase 20% do custo de produção de um veículo de passeio, enquanto que para máquinas agrícolas essa porcentagem é estimada em 15% do custo final do equipamento.
Em função dessa alta nos preços do aço, os preços de máquinas agrícolas tiveram reajustes. Entre 1999 e 2008 a elevação no preço do ferro, aço e derivados alcançou 527%, com significativo repique no último trimestre.
Incentivo à mecanização
Um dos fatores que contribuíram na expansão de vendas de máquinas agrícolas no início de 2000, de acordo com os pesquisadores do IEA, foi a implantação do Moderfrota, um programa do governo federal, com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ele se destina ao financiamento de aquisições de máquinas, com o objetivo de promover a modernização dos equipamentos no campo. “O segmento de máquinas agrícolas automotrizes robusteceu-se, e esse esquema de equalização dos juros com suporte do tesouro tornou a política mais favorável para a aquisição de tratores e demais máquinas”, explicam Vegro e Ferreira.
Incentivos como esse propiciaram a renovação de mais de um terço da frota de máquinas agrícolas do País além de conferirem maior conteúdo tecnológico para os equipamentos, com o aumento produção e vendas.
Ao término deste ano, os pesquisadores estimam uma produção de mais de 70 mil máquinas. Um número recorde na história desse segmento, o que confirmaria a hipótese de que a indústria brasileira de máquinas agrícolas alcançou o patamar de maturidade tecnológica e integração de processos capazes de manter a competitividade internacional mesmo sob ambientes de negócios desfavoráveis.