Depois de grandes prejuízos causados por focos da doença, o Brasil passou a ter um dos melhores centros de fiscalização e rastreabilidade.
Toda dose da vacina de febre aftosa que o pecuarista aplica no seu gado passa pela Central de Selagem de Vacinas (CSV), localizada em Vinhedo, no interior de São Paulo. O local foi criado para centralizar as operações de armazenagem e principalmente fiscalizar o produto e garantir a sua procedência. Apesar do Brasil não ter atingido a erradicação da febre aftosa com a implantação do sistema – já que em 1998, o País sofreu com focos da doença -, o Brasil possui um dos melhores programas de rastreabilidade de vacinas.
A última vez que o Ministério identificou animais portando a doença em território nacional foi em 2005 nos estados de Mato Grosso do Sul e Paraná. Na época, mais de 5.000 animais foram abatidos causando prejuízos na ordem de US$ 300 milhões, devido o embargo de 50 países à carne brasileira.
“Se no passado havia alguma dúvida em relação à qualidade, procedência das vacinas, falta de controle da produção e comercialização, com a Central de Selagem isso acabou”, afirma o Coordenador da Central de Selagem pelo SINDAN, Silvio Cardozo Pinto.
Com capacidade de armazenamento de 500 mil doses, a Central pode informar ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) quantos frascos do medicamento foram enviados para cada município brasileiro, de qual lote eles pertencem e o dia exato em que chegaram nos revendedores. “O pedido do ministério era que se tivesse um rastreamento perfeito e um controle para onde iriam as vacinas. Hoje esse objetivo foi atendido. Então o MAPA tem atualmente um rastreamento Estado por Estado e cidade por cidade, onde são distribuídas as vacinas. Qualquer problema é fácil de identificar qual foi o laboratório”, explica o coordenador da Central.
A centralização das operações fez o Brasil ter rastreabilidade total das vacinas, estimativa da cobertura vacinal de determinadas regiões e garantia de qualidade e procedência do produto. Em caso de qualquer problema com alguma dose, basta informar à CSV sobre o lote do produto, que ela pode indicar para qual município foi vendida a vacina e a empresa fabricante.
Depois de produzidos e testados nos próprios laboratórios, os frascos ainda são encaminhados à CSV. Já na Central são coletadas doses de cada lote para testes oficiais do governo e o lote fica em quarentena por, aproximadamente, 60 dias. As amostras são levadas ao Laboratório de Referência Animal (LARA), em Porto Alegre, onde é realizado o teste de esterilidade da vacina. Outras coletas são enviadas para a Fazenda Experimental do MAPA, em Sarandi (RS), onde são aplicadas em bovinos. Um mês depois os técnicos voltam à fazenda para coletar o soro e o sangue do animal, que servirá para realização de análises no LARA. Durante esse mesmo período, o Laboratório de Apoio Animal (LAPA), localizado em Recife (PE), faz testes de inocuidade, que identifica se há algum vírus vivo na vacina.
Os resultados finais são enviados a Brasília (DF), de onde sai a autorização após análise dos dados. Com a liberação, os lotes recebem selos holográficos de identificação produzidos na Alemanha, pelo mesmo órgão responsável pela holografia das notas de Euro. A partir daí, os laboratórios estão liberados para comercializar os lotes das vacinas aprovadas, que serão distribuídas de Vinhedo para todo o País. Em caso de reprovação do lote, os testes são refeitos e se for confirmado o problema o lote é destruído.
Armazenamento e distribuição
A CSV, instalada na empresa AGV Logística, é a responsável pelo armazenamento das vacinas, em condições ideais, entre 2º C e 8º C. Com as constantes mudanças de áreas para a criação de gado no Brasil, a empresa de logística tem que se adaptar para entregar a vacina em todas as regiões, como explica o diretor da AGV, Maurício Pires Motta. “Se você olhar a região centro-oeste, cada vez mais o gado está subindo, como a gente fala. O Norte hoje, considerando as cidades maranhenses Marabá e Imperatriz, é uma região muito importante para a pecuária. O que acontece hoje é que a AGV montou uma estrutura de distribuição com 11 filiais no Brasil inteiro, em 11 Estados, que dão suporte a essa distribuição, para que a gente garanta uma entrega em todo o Brasil”, afirma o diretor.
As doses são encaminhadas somente aos revendedores e cooperativas autorizados e que possuam condições de armazenar o produto adequadamente, já que a temperatura é uma questão essencial para manter a eficiência do produto. “Há também a fiscalização do ministério para saber o estado de conservação das vacinas e se têm condições adequadas de armazenagem e tudo mais”, comenta Cardozo, coordenador do CSV.
Calendário de vacinação
As datas de vacinação no Brasil são variadas já que há particularidades em alguns Estados. Em Santa Catarina, por exemplo, que é considerada “zona livre de febre aftosa sem vacinação” pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), não existe aplicação da vacina. “Os meses de realização das etapas variam de acordo com as características de cada região, predominando os meses de maio e novembro. Alguns estados do Nordeste, como Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte e Roraima realizam as etapas em abril e outubro. O Rio Grande do Sul realiza em janeiro e junho, para harmonizar com os calendários de vacinação dos países vizinhos. O reforço da vacina para animais com até 12 meses, em Mato Grosso e na Zona de Alta Vigilância (ZAV) do estado do Mato Grosso do Sul, ocorre em fevereiro”, explica a coordenadora de Febre Aftosa do Ministério da Agricultura, Francianne Assis.
A ZAV é uma área considerada de alto risco e que necessita de maior vigilância já que é onde foi encontrado foco da doença em 2005. Estima-se que haja 730 mil cabeças de bovinos nesta área.
O número de vacinas aplicadas na primeira campanha é maior que o do segundo semestre, isto porque em alguns casos só há vacinação no primeiro semestre. Veja o mapa ao lado.
A segunda e última campanha de vacinação de 2008, com exceções, vai de setembro a novembro e a expectativa é aplicar 170 milhões de doses em todo o território brasileiro, nove milhões a mais do que na mesma campanha do ano passado. A CSV ainda irá fornecer cerca de 11 milhões de doses para países vizinhos, como Argentina e Colômbia. Espera-se que sejam aplicadas 374 milhões de doses da vacina de Febre Aftosa no Brasil somando as duas campanhas deste ano, ou seja, 33 milhões a mais que em 2007 quando foram imunizados 341.271.628.
Para a coordenadora de Febre Aftosa do Ministério da Agricultura, Francianne Assis, o Brasil possui uma boa cobertura vacinal apesar da responsabilidade ser toda do pecuarista. “A vacinação contra a febre aftosa é de responsabilidade dos produtores rurais, que devem comprovar a aquisição da vacina em quantidade compatível com a exploração pecuária, sob a responsabilidade dos mesmos em declarar sua aplicação dentro dos prazos estabelecidos. A cobertura vacinal alcançada no País é muito satisfatória (em torno de 96%), proporcionando alto nível de imunização, o suficiente para proteger os rebanhos em caso de uma introdução do vírus, e impedir sua propagação” afirma a coordenadora do MAPA.
O armazém da CSV possui um estoque de segurança de vacinas da Febre Aftosa de, no mínimo, 15% do que é necessário ao ano, o que representa cerca de 55 milhões de doses. Atualmente, a Central está com 185 milhões de doses acumuladas em estoque.