Agricultura

Cana fertirrigada: menos água, mais produção!

O sistema da fertirrigação é a oportunidade que muitos produtores encontraram para resolver os problemas das constantes mudanças climáticas, diminuir os custos de produção, assim como os impactos ambientais e até dobrar a produtividade do canavial. A Usina Seresta, uma das 27 instaladas no Estado de Alagoas, produz 70 toneladas de cana-de-açúcar por hectares.

Gera álcool, açúcar, empregos e todos os subprodutos da cana que são reaproveitados, como a vinhaça (que vai para o canavial), e o bagaço hidrolisado (que tem como destino a alimentação dos animais e geração de energia). Segundo Elias Brandão Vilela Neto, diretor superintendente da Usina com 11 mil hectares, a intenção nos próximos anos é dobrar os números da produção. “A expectativa é que a produtividade alcance em média de 120 toneladas por hectare, ao longo dos próximos 12 anos”, diz

Mas, como atingir uma alta produtividade, principalmente, que a indústria sucrualcooleira está instalada no município de Teotônio Vilela (AL), limite de área da zona agreste e que nos últimos anos vem sofrendo com a escassez de chuvas? “A resposta é simples. Optamos pelo sistema da fertirrigação. Investimos neste projeto, no qual foi dividido em cinco módulos de 1.500 hectares a serem implantados durante os próximos cinco anos. A primeira fase já conta com 1.500 hectares. E a partir de setembro serão mais de 1.500. Faremos um módulo a cada ano, até totalizarmos os 7.500 hectares de cana. Estamos satisfeitos, pois já é possível ver o canavial de 150 dias, atingindo dois metros”, explica Elias Brandão.
Definitivamente, a usina não perdeu dinheiro investindo no sistema: “Teremos uma boa receita, porque aproveitaremos o preço mais alto da entressafra”, afirma.

Outro que apostou na tecnologia da fertirrigação, que garante ganho de produtividade em longo prazo, foi a Usina Paineiras, localizada no município de Itapemirim (ES). A indústria ocupa uma área de 16.00 hectares de terras, sendo que o cultivo de cana ocupa aproximadamente 10.000 hectares. Atualmente, a usina tem capacidade de processar 1.200.00 toneladas de cana por ano, resultando numa produção de 60.000 toneladas de açúcar e 57.000 m3 de álcool anidro e hidratado. Na safra atual, a expectativa de produção é de 1 milhão de toneladas, sendo que 300 mil toneladas são de sua própria produção e o restantes de terceiros, que estão localizados entre os Estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro.

Pioneiros na implantação do sistema na região, a Usina Paineiras aguarda os resultados com expectativas. “Já é visível percebermos a diferença em comparação ao regime de sequeiro. Esperamos uma produtividade acima de 150 toneladas por hectares”, comenta Cláudio Vital Brasil, superintendente da Paineiras.

De acordo com o responsável pela Usina, a decisão da implantação do sistema foi “fruto” de um longo processo de negociação com a Netafim, empresa responsável pela tecnologia de irrigação, que culminou em uma parceria. Porém, Cláudio Vital ressalta que ainda há muitas barreiras para a implantação deste projeto aos demais produtores de cana da região. A falta de informação sobre esta tecnologia, o uso do investimento revertido para expandir a cultura nos moldes tradicionais (ou seja, em sistemas horizontais), o alto custo da implantação e a baixa capacidade de aporte financeiro são as principais barreiras. “Em grande maioria estes produtores possui áreas inferiores a 50 hectares. No entanto, acredito que o uso deste sistema traz um aumento significativo na produtividade e longevidade da lavoura. Em especial, na nossa região. Sofremos com os fatores climáticos no histórico regime sequeiro e contamos com o índice inferior à média nacional, em comparação aos demais Estados. Há também a limitação de terras e a topografia da região. O crescimento vertical e a tecnificação são as soluções”, ressalta o diretor da Usina Paineiras.

Gota a gota

No Brasil, o ganho de produção em decorrência do uso da fertirrigação já vem sendo observado. Na busca por uma maior eficiência e precisão têm aumentado o uso da automação em sistemas de fertirrigação. Para isto, são utilizadas válvulas solenóides ou acionadas hidraulicamente, que são abertas e fechadas automaticamente através de comandos previamente estabelecidos em microprocessadores e temporizadores (controladores de irrigação), flexibilizando as freqüências, horários e durações das aplicações de água e fertilizantes e até da vinhaça (o resíduo líquido rico em potássio, que é usado na fertilização dos solos), otimizando o sistema de acordo com as necessidades específicas de cada área.

Segundo o gerente de vendas da Netafim, Maurício Fernandes, o uso da fertirrigação é feito em pequenas quantidades de fertilizantes durante todo o período de crescimento e manutenção da cultura, diminuindo a lavagem dos fertilizantes além da zona radicular, comum na adubação convencional, mantendo níveis ideais de nutrientes no solo que dissolvido em água é facilmente absorvido pelas plantas.

Com o sistema, a planta recebe diariamente os nutrientes necessários para se tornar uma planta fortalecida resistente a pragas, doenças e a todos os agentes patógenos, além de reduzir o prazo de produção, seja no desenvolvimento da muda, como também no ponto de corte. “Para se ter um resultado completo e com sucesso tudo dependerá de conhecimentos técnicos, projeto específico e adequado para cada situação de solo, topografia, clima, qualidade de água e cultivo”, ressalta Maurício Fernandes.

A utilização de água como veículo para aplicar fertilizantes nas culturas é relativamente antigo. Há centenas de anos, o lançamento de esterco animal em canais de irrigação já era praticado. Devido ao desenvolvimento das técnicas, associado às vantagens como economia de mão-de-obra e energia, possibilidade de aplicar fertilizantes em qualquer fase do ciclo da cultura e maior eficiência na aplicação, a indução de fertilizantes via água de irrigação tornou-se uma prática comum em países onde a agricultura irrigada é mais desenvolvida.

Produtividade por hectare

A tecnologia da fertirrigação por gotejamento subterrâneo pode fazer com que a lavoura de cana-de-açúcar alcance o dobro da produtividade por hectare, sem aumento da área do cultivo. “Milagre? Não! O sistema permite aumentar a quantidade de cana por hectare e amplia a vida da lavoura. Utilizando a tecnologia é possível fazer até 12 colheitas sem reformar o canavial. A lavoura alcança um rendimento de 12 a 13 mil litros de etanol por hectare cultivado, enquanto no sequeiro estes números não ultrapassam 6,5 mil litros”, explica Flávio Aguiar, gerente nacional da Divisão de Bionergia e Novos Negócios da Netafim Brasil.

Além dos baixos custos na produção, existe também a redução dos impactos ambientais, a utilização de água e energia elétrica são menores, uma vez que o sistema é dirigido sem desperdício “No sistema da fertirrigação de gotejamento, a água, os fertilizantes e os insumos são distribuídos por meio de emissores (gotejadores), somente na zona radicular das culturas. O gotejamento garante de 30 a 40% de eficiência quando comparado aos métodos tradicionais de irrigação e utiliza apenas 30 a 50% da energia consumida por um pivô central”, completa Aguiar. “O sistema é dimensionado para permitir o tráfego de máquinas, equipamentos agrícolas e caminhões. A amortização do investimento é de três a cinco colheitas para os produtores e de uma a três safras para usinas e destilarias. Todos estes números são baseados em experiências práticas no campo”, diz.

Composto por tubos com gotejadores que ficam enterrados no solo, o sistema resulta numa produtividade média entre 140 e 170 toneladas por hectare por safra, durante dez a 12 safras. Depois desse período é preciso retirar a tubulação para reformar os talhões, com custo equivalente a 10% do valor do projeto. Sem irrigação, um canavial dura cinco ou seis anos, com produtividade média de 80 toneladas por hectare por ano. O diretor nacional da divisão bioenergia da Netafim do Brasil, Flávio Aguiar, informa que o custo de implantação da irrigação por gotejamento na cana varia de R$ 4,8 mil a R$ 7 mil dependendo da topografia da área.

Especialistas do setor sucroalcooleiro estimam que hoje no mundo todos existam 18,5 milhões de hectares de cana irrigada. Deste total, 500 mil são cultivados com irrigação localizada, sendo que 320 mil hectares utilizam a tecnologia da empresa. Só no Brasil, a Netafim está presente em 7 mil hectares de cana irrigada, distribuídos em 50 projetos por todo o país. “O sistema de fertirrigação encontra seu espaço em áreas onde a produtividade é baixa”, afirma o diretor da Netafim.

À procura de viabilidade

Para reduzir os custos e facilitar a viabilidade dos projetos de fertirrigação em lavouras de cana-de-açúcar para os produtores, a Netafim se uniu a uma gestora de fundos de investimentos. A nova alternativa de captação viabilizada pela Vector Investimentos – gestora de recursos independentes – proporciona flexibilidade e alternativa de captação de recursos a custos mais atraente para o produtor e de forma mais ágil para que ele possa adotar a tecnologia em seus canaviais.

Um dos primeiros projetos a serem viabilizados pela nova modalidade foi na Usina Serestas. Para o diretor superintendente da Usina, Elias Vilela, a possibilidade de viabilizar a implantação do sistema de irrigação através de uma gestora de investimentos foi fundamental para que na Seresta a irrigação da salvação, antes utilizada na lavoura de cana, fosse substituída pela irrigação localizada. “A Vector viabilizou a implantação do projeto e é com o lucro que iremos pagar. O modelo tem prazo e juros adequados e torna-se mais viável”, contempla.

Segundo Francisco Carballido, responsável pela área comercial da Vector Investimentos, a empresa está focada no agrobusiness, oferecendo estruturas para as empresas do setor e até pequenos produtores, dependendo do projeto. “O papel da Vector é alavancar as vendas da Netafim e oferecer facilidades de créditos aos produtores, que não obtêm por outros mecanismos. E nesta parceria todos ganham. Oferecemos taxa de juros baixos e o produtor pago com os ganhos da sua produtividade. Em certos setores, o produtor triplica a produção dentro da mesma área e nós recebemos o percentual desta remuneração. Isto é, só paga com o lucro, a parte extra, sem desembolsar nada do bolso”, finaliza.

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