Agricultura

Transgênico: mais amigo do meio ambiente do que se pensa

Em 9 anos, soja e algodão transgênicos poderão evitar uso de mais de 77 mil toneladas de agrotóxicos no País.

Os benefícios sócio-ambientais provenientes das lavouras brasileiras de soja e algodão transgênicos acabam de vir a público pela primeira vez, em estudo inédito realizado pela Consultoria Céleres para a Abrasem – Associação Brasileira de Sementes e Mudas e apresentado em São Paulo, na terça-feira, dia 29, durante encontro com a imprensa.

Ywao Miyamoto, presidente da Abrasem, comemorou os resultados: “É a primeira vez que mostramos à sociedade os benefícios ambientais que ela recebe com o cultivo dos transgênicos, além dos dados econômicos, sem os quais esses proveitos não seriam possíveis”.

Projetando os dados atuais do cultivo da soja e do algodão transgênicos, a estimativa é de que a sociedade brasileira terá recebido benefícios sócio-ambientais bastante expressivos até a safra 2016/17. Para chegar a essa conclusão foram considerados o plantio acumulado nesse período de aproximadamente 320 milhões de hectares de soja, dos quais 274 milhões de hectares seriam de soja RR, tolerante a herbicidas à base de glifosato, e de 23 milhões de hectares de algodão, sendo 16,6 milhões de algodão Bollgard, resistente a insetos, os dois tipos de culturas analisados, que estão aprovados e em cultivo no Brasil. O estudo da Céleres ouviu 93 agricultores de soja em sete estados (MT, MS, GO, MG, BA, PR e RS) e 90 produtores de algodão em cinco estados (MT, MS, GO, MG e BA).

Com o plantio da soja transgênica, no período de 10 anos, serão economizados 42,7 bilhões de litros de água, o equivalente ao volume de água suficiente para abastecer uma cidade de quase 100 mil habitantes ao longo do período, 305 milhões de litros de óleo diesel, combustível suficiente para abastecer uma frota de 127,1 mil veículos (caminhonete tipo S10, por exemplo) em 10 anos, além de uma redução de emissões para a atmosfera de 919 milhões de toneladas de CO2 (dióxido de carbono), ou seja, o mesmo que plantar 6,8 milhões de árvores, quantidade necessária para neutralizar tal liberação, em igual período. Outro dado de extrema importância sócio-ambiental é o da redução do uso de diferentes ingredientes ativos utilizados no cultivo de soja transgênica: a queda desse uso no Brasil, apenas com o plantio da soja RR, será de 35,6 mil toneladas de ingredientes ativos dos diversos tipos de agrotóxicos até 2017.

Já com o cultivo de algodão transgênico, no período de 10 anos, os benefícios serão ainda maiores uma vez que, proporcionalmente, o algodão convencional utiliza um volume maior de agroquímicos em seu plantio na comparação com a soja convencional. Assim, o algodão transgênico permitirá uma redução do volume de ingrediente ativo ainda maior que no caso da soja: 41,5 mil toneladas no mesmo período analisado. Além disso, serão economizados 13,5 bilhões de litros de água, volume suficiente para abastecer uma cidade de 30 mil habitantes por 10 anos, 77,3 milhões de litros de óleo diesel, ou seja, o equivalente para o abastecimento de uma frota de 32,2 mil veículos pelo mesmo período, além de uma redução de emissões para a atmosfera de 198,67 mil toneladas de CO² (dióxido de carbono), o que representa o plantio de 1,5 milhão de árvores, quantidade necessária para neutralizar tal liberação, em igual período.

Tanto no caso da soja como no do algodão, a redução do volume de agrotóxicos dispersados no meio ambiente vai trazer, ainda, uma inversão bastante positiva da matriz de agroquímicos utilizada atualmente nas lavouras brasileiras. Haverá uma redução no uso de agroquímicos das classes I e II (os mais agressivos para o meio ambiente e para a saúde do trabalhador) que serão substituídos pelos agroquímicos das classes III e IV (menos agressivos).

Essa redução de ingrediente ativo restringindo o uso dos produtos mais agressivos, e economia de água, combustível e emissões de CO² para a atmosfera, de acordo com a consultora ambiental Paula Carneiro, da Consultoria Céleres, também foram analisadas em metodologia própria baseada na matriz SWOT/Porter. Ela explica a matriz de análise da atratividade e do risco ambiental desenvolvida pela Céleres fundamentou-se nos diversos aspectos da agricultura: genética e biologia dos OGMs, meio ambiente físico (solo, água e ar), biodiversidade, alimentação, saúde e segurança do trabalhador rural, qualidade de vida e produção agrícola e pesquisa.

Ressaltando que o modelo desenvolvido é um instrumento válido para Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), a consultora ambiental informa que, tanto no caso da soja RR como no caso do algodão Bollgard, a conclusão da análise foi de que “as vantagens sócio-ambientais desse plantio apresentam um resultado totalmente coerente com a contínua adoção da tecnologia em todo o mundo, especialmente quando a população mundial demanda cada vez mais alimentos e, ao mesmo tempo, em que há necessidade de não se expandir ainda mais as atuais fronteiras agrícolas”. Para Miyamoto, “só com a adoção de novas tecnologias na agricultura, conseguiremos vencer esse desafio de melhorar a produtividade preservando o meio ambiente”, finaliza o presidente da Abrasem.

Meio ambiente com benefícios econômicos

Com relação aos benefícios econômicos das duas culturas, Anderson Galvão, diretor da Céleres, explica que, no caso da soja, esses benefícios econômicos já vêm sendo acompanhados por estudos anteriores e se mostraram consistentes no estudo atual. “O padrão de crescimento de adoção do cultivo da soja RR no Brasil evidencia um padrão eficiente de absorção de tecnologia, apesar das dificuldades enfrentadas na regulamentação e liberação do uso da biotecnologia agrícola”, avalia.

Ao analisar o período 1996/97 a 2006/07, a Céleres avalia que a renda incorporada pelo produtor brasileiro com o plantio da soja RR chegou a US$ 1,5 bilhão, mas que, potencialmente, poderia ter atingido US$ 4,6 bilhões. Sobre o plantio de algodão Bollgard, iniciado somente na safra 2006/07, o estudo fez uma projeção dos benefícios econômicos potenciais para os produtores até a safra 2016/17 e concluiu que, a partir de uma área plantada acumulada de 23 milhões de hectares, dos quais 16,6 milhões de hectares transgênicos, eles poderão atingir US$ 4,8 bilhões no período.

De acordo com Anderson Galvão, “pelas entrevistas realizadas durante o estudo, ficou claro que os produtores de algodão nem pensam em não utilizar a biotecnologia. Pelo contrário, querem o quanto antes os novos tipos de algodão transgênico já disponíveis em outros países que concorrem com o Brasil no mercado internacional”, segundo informou. Para ele, os benefícios da tecnologia não podem ser menosprezados, principalmente se considerado que a agricultura sempre foi uma atividade cíclica. “É bom lembrar que o Brasil acaba de passar por dois anos de dificuldades no setor. A biotecnologia pode não ser a solução de todos os problemas, mas com certeza é uma ferramenta que pode ajudar o produtor a melhorar suas condições de trabalho e seus resultados”, finaliza.

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