Para Silvio Crestana, diretor-presidente da Embrapa, o ano de 2007 foi um período de conquistas a comemorar. “Chegamos num momento de visibilidade, prestígio e responsabilidade”, apontou.
Em 2007, a Embrapa conquistou um orçamento de R$ 1,155 bilhão, que a recoloca dentro de sua média histórica de investimentos em pesquisa. Nos últimos três anos, houve aumento de receitas próprias (15%), da captação de recursos de Órgãos Federais através de convênios, da descentralização de créditos e do destaque orçamentário para manutenção das atividades da Embrapa.
Com essa dotação, a Embrapa consolidou a tendência de aumento da carteira de projetos de pesquisa. Com um investimento direto de R$ 45,5 milhões em experimentos, a empresa alcançou o número de 696 projetos de pesquisa. Em 2006, eram 482 projetos e R$ 40,2 milhões investidos; no ano anterior, 463 projetos de pesquisa, com investimento de R$ 31,4 milhões. “A ampliação de projetos e recursos em P&D é uma marca que podemos comemorar e que fortalece a pesquisa, que é o objetivo-fim da nossa empresa”, diz Crestana.
Para o diretor-presidente, “a revitalização da Embrapa foi a grande temática de 2007”. Desde que assumiu o comando da empresa, em 2005, Crestana procurou flexibilizar o modo de arrecadação de recursos para que a empresa pudesse continuar crescendo. Segundo ele, uma das soluções encontradas foi “manter os recursos do Estado no nível de 1996 e buscar mais recursos via parcerias público-privadas”. “Apostamos nisso e colhemos bons resultados”, comentou.
“Hoje somos referência de modelo institucional, mas ainda temos um longo caminho pela frente”, diz. Um exemplo das novas alternativas que estão sendo buscadas pela Embrapa nesse sentido foi a proposta de criação de uma empresa de propósito específico, aproveitando a possibilidade aberta com a Lei da Inovação, apresentada à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), em 2007. A parceria prevê investimentos para desenvolver um processo que extraia etanol de biomasssa lignocelulósica, encontrada por exemplo no bagaço da cana.
O bom relacionamento com o Congresso Nacional garantiu neste ano um montante de mais de R$ 45 milhões em emendas aprovadas. Além disso, foi criada uma Frente Parlamentar Mista de Apoio à Pesquisa Agropecuária e Transferência de Tecnologia, que já rendeu bons frutos, como a inclusão da Embrapa como membro do Conselho Diretor do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).
Em 2007, os recursos à disposição da empresa para despesas com investimentos alcançaram R$ 71,49 milhões, a melhor dotação dos últimos três anos. Desse total, foram destinados cerca de R$ 25,79 milhões para obras e instalações, e R$ 45,7 milhões para a aquisição de máquinas, veículos e equipamentos.
O principal item, no que toca a investimentos em ativo técnico, foi a recuperação e atualização de laboratórios, beneficiando vários centros de pesquisa da empresa. Entre os empreendimentos que se destacam, estão a construção da Sede da Embrapa Monitoramento por Satélite, em Campinas (SP), e a criação do Laboratório de Nanotecnologia, na Embrapa Instrumentação Agropecuária, em São Carlos (SP).
Em 2007, foram iniciados os trabalhos do V Plano Diretor da Embrapa e do IV Plano Diretor das Unidades Descentralizadas, dado que os planos diretores vigentes se encerraram ao final desse ano. O horizonte de reflexão estratégica foram alongados e, no caso do PDE, deve alcançar o cinqüentenário de criação da Embrapa, cobrindo o período de 2008 a 2023.
Dele, se extrairá o planejamento estratégico para os próximos quatro anos (2008-2011). Para subsidiar tal esforço, foi realizado um projeto de construção de cenários no âmbito de atuação das organizações públicas e privadas de desenvolvimento de tecnologias para o agronegócio, coordenado pela Rede de Inovação e Prospecção para o Agronegócio (RIPA).
No ano de 2007, cristalizou-se a nova dimensão da ação internacional da Embrapa, como braço de cooperação científica e tecnológica da política de relações externas do Brasil. Historicamente recipiente de métodos científicos e tecnologias agrícolas dos países desenvolvidos, com o sucesso da Agricultura Tropical, a Embrapa tornou-se fornecedora de conhecimentos para os países tropicais na África, Ásia e América Latina e assumiu a condição de parceira de instituições de países desenvolvidos na geração de conhecimentos na fronteira da ciência.
No âmbito das relações internacionais, depois de um ano da criação de um escritório na África e de um laboratório virtual na Holanda, será a vez da Ásia e da América Latina, com fechamento de negociações para criação do Labex-Ásia e de escritórios de negócios e transferência de tecnologia na América Latina. Também pretende-se avançar juridicamente no arcabouço legal e modelo de gestão da Embrapa no âmbito internacional (Labex e escritórios de negócios).
Com a instalação e início das operações da Embrapa África, em Gana, cresceu muito a demanda por ações de cooperação científica da Embrapa naquele continente: 23 países do continente africano já manifestaram o desejo de receber as tecnologias da Embrapa. Há ainda o interesse convergente de empresas privadas brasileiras em investir no desenvolvimento do agronegócio naqueles países.
Um exemplo é a promoção das tecnologias brasileiras para o setor sucro-alcooleiro, que já propiciou exportação de máquinas e equipamentos de produção agrícola e processamento agroindustrial. Uma missão organizada pela Embrapa África, por exemplo resultou em entendimentos entre empresários brasileiros e ganenses para parceria que prevê a implantação de 30 mil hectares de cana para produção de etanol, com negociações a serem concluídas em 2008.
Por fim, há a disposição de organismos internacionais e agências de cooperação de países desenvolvidos de financiar a transferência e a adaptação de tecnologias da agricultura tropical brasileira para condições africanas, o que viabiliza a cooperação Norte-Sul-Sul.
Um ano de conquistas também para o esforço de comunicação da Embrapa com a sociedade. Em outubro, uma reportagem de grande repercussão do “The New York Times”, creditou à empresa destacado protagonismo na transformação do Brasil em uma superpotência agrícola.
Noutro evento, a campanha de Comunicação e Marketing “Agricultura Tropical: o Brasil produzindo o futuro”, concebida pela Assessoria de Comunicação Social da empresa, recebeu o Prêmio ABERJE 2007, região Minas Gerais e Centro-Oeste, na categoria Campanha, tornando-se finalista na disputa do mesmo prêmio em âmbito nacional.
No final do ano, jornalistas, internautas e leitores do jornal “O Globo” decidiram que a Embrapa é uma empresa que “faz a diferença” na área de Economia. Indicada pelos jornalistas, com outras duas empresas concorrentes, a Embrapa recebeu a maior votação popular.
Para 2008, quando completará 35 anos de atividades, a Embrapa espera realizar grandes transformações no plano institucional. O mais importante deles, sem dúvida, será o início de implantação do Plano de Fortalecimento e Crescimento da Embrapa – o PAC Embrapa, conforme foi demandado à instituição pelo presidente Lula, que pretende “arrumar a Embrapa” até o final de seu mandato.
O presidente da República entende que o Brasil deve adequar a Embrapa para melhor enfrentar os grandes desafios do negócio agrícola brasileiro, tais como a criação de várias alternativas de bionergia para mudança da matriz energética brasileira, e de nova base tecnológica para mitigação e convivência da agricultura e pecuária com as alterações climáticas globais, e a redução de desequilíbrios sociais e econômicos regionais.
O Plano prevê para os próximos três anos o aumento de cerca de R$ 500 milhões no orçamento anual da empresa, a serem aplicados na ampliação do quadro de pessoal da Embrapa para 10.200 empregados, com ênfase na contratação e esforço de capacitação de pesquisadores, na possível criação de novos centros de pesquisa, na consolidação da Embrapa Agroenergia, e no reforço de sua atuação internacional, com a ampliação do programa da Embrapa África, instalação da Embrapa América Latina, na Venezuela, e criação do Labex Ásia.
Segundo Silvio Crestana, a empresa precisa ainda retomar o modelo de empresa pública com estrutura mais ágil e flexível para aproveitar bem os estímulos da Lei de Inovação, reforçando sua agenda de inovação, para manter o seu patamar histórico de excelência em pesquisa e desenvolvimento, transferência de tecnologia, comunicação e informação para a sociedade. “Não podemos deixar que isso decaia. Ao contrário, precisamos lutar para o crescimento contínuo destas áreas”, avalia Crestana.
Segundo o presidente da Embrapa, toda essa evolução foi possível porque o Governo verdadeiramente transformou a questão do desenvolvimento do negócio agrícola num projeto de estado: “O presidente Lula e os ministros Reinhold Stephanes, Dilma Roussef, Paulo Bernardo e Sergio Rezende, diretamente ligados à questão, têm uma compreensão exata do papel do negócio agrícola no futuro do Brasil, e da importância da pesquisa agrícola para que esse papel seja desempenhado com sucesso. Por causa desse apoio, temos conseguido realizar tanto”, concluiu.