Agricultura

Tratamento de sementes: “seguro barato”

Tratamento de sementes custa menos do que 0,5% do custo de implantação da lavoura e livra o produtor de riscos como ter de replantar a área.

Uma prática adotada quase que unanimemente nas lavouras de soja do País é o tratamento de sementes. Chamada de seguro barato pelo baixo custo de implantação, esta técnica hoje é amplamente defendida por agrônomos e pesquisadores brasileiros. Mas o que hoje é concordância geral, há mais de vinte anos não era nem aconselhado pelos técnicos. “Até 1981, o tratamento de sementes não era recomendado pela pesquisa. Inclusive, nós tínhamos apenas 4 ou 5 produtos formulados para o tratamento de sementes”, conta Ademir Henning, pesquisador da Embrapa que foi contra a maré, apresentou estudos que comprovam a eficácia do tratamento e hoje é visto como o responsável pela difusão desta prática, hoje indispensável no manejo do plantio da soja.

Com o tratamento de sementes, o produtor tem a garantia de proteger a semente no solo caso haja falta d´água para que ela germine rapidamente e ao mesmo tempo ele realiza uma assepsia na semente; e se a semente vier de outra região, o agricultor terá a certeza de que não introduzirá novas doenças na lavoura.

Porém, antes mesmo de realizar o tratamento, o produtor deve tomar outras precauções, já ao comprar as sementes. “A semente é o ponto de partida. Se o produtor começar errado, adquirindo sementes sem certificação, de fonte desconhecida e, principalmente contrabandeada de países vizinhos, ele corre um sério risco. Ele não sabe o que tem dentro do saco, que variedade é aquela, se é uma variedade adaptada às condições de onde ele vai plantar, se não tem misturas, se não traz ervas daninhas junto”, enfatiza Henning. O produtor pode encontrar outros problemas ao adquirir sementes sem certificação. A germinação e o vigor dela pode ser mais baixo, pode não ter sido produzida com os critérios da produção de semente, pode vir com fungos como o mofo branco, que tem se espalhado bastante pelo Brasil e, pior do que isso, as sementes dos estados que fazem divisa com outros países do cone sul, principalmente as RR têm sido contrabandeadas; e nestes países as cultivares não tem resistência ao Cancro-da-haste, à Mancha-olho-de-rã e a pústula bacteriana, cujos materiais que são produzidos no Brasil possuem bastante tolerância ou alta resistência.

O tratamento de sementes deve ser realizado com alguns produtos, cada um com uma finalidade. Primeiramente deve-se aplicar na semente um fungicida para erradicar os fungos que possam vir de fora para a lavoura. Em algumas regiões do Brasil adota-se inseticidas para controlar insetos do solo. Além destes defensivos aplica-se também cobalto e molibdênio para fornecer micro nutrientes, o que tem dado resposta muito boa em diversas partes do Brasil. E, por último, deve-se aplicar um inoculante, fundamental para a fixação do nitrogênio, assim o produtor não precisa fazer adubação nitrogenada na soja. “Um ponto que deve ser esclarecido é que o inoculante é uma bactéria e, portanto, deve ser aplicado por último. Nunca deve-se misturar inoculante junto com os micro nutrientes ou com os defensivos devido a problemas de PH. Isso vai causar a morte das bactérias.”, ressalta o Henning.

Outra questão fundamental no tratamento é que toda e qualquer semente que for submetida a essa prática deve receber um corante. A maioria destes produtos que são registrados para o tratamento de semente já tem em sua formulação um pigmento. Isso é importante para identificar a semente que já foi tratada com agrotóxico, pois esta não poderá ser comercializada para uso humano ou animal. Ela é única e exclusiva para plantio. O produtor deve tomar cuidado, pois ao fazer o tratamento antecipadamente de grande quantidade de sementes e depois não utilizar todas, ele terá de arrumar um jeito de se livrar delas, trocando com o vizinho, por exemplo, mas nunca misturando à sua produção. Foi o que aconteceu em 2001 quando o Brasil exportou alguns navios de soja para a China onde foram identificados sementes tratadas. O país asiático, ao descobrir, mandou devolver todo o carregamento, acarretando milhões de dólares em prejuízos para o Brasil e principalmente para os produtores. Por isso o corante é muito importante para identificar as sementes já tratadas. Além de todos estes produtos, o tratamento requer – não obrigatoriamente- o uso de um polímero, que é um produto que contém pigmentos orgânicos, mais ecológicos e que são muito importantes para dar uma melhor cobertura dos demais produtos e ao mesmo tempo proteger os operadores.

Conscientização

A história do tratamento de sementes no Brasil se confunde com a de Ademir Henning, já que foi ele, há 26 anos atrás, que começou a difundir no país esta técnica. “Em 1991, dez anos após a primeira recomendação, foi feito um levantamento pelos fungicidas comercializados através da ANDEF e foi verificado que não se tratava mais do que 5% da área total de soja no Brasil.” Ademir conta que o tratamento não acontecia porque a soja era mais cultivada no Sul do Brasil. Nessa região as lavouras não são tão extensas como no Brasil central, o produtor no Sul tem condições de produzir sementes de melhor qualidade e armazenar em melhores condições. Ele não sentia muita diferença em tratar ou não tratar a semente. Tinha alto vigor, germinava, tinha umidade e ele plantava em áreas pequenas. A mudança ocorreu quando a soja começou a ocupar grande áreas de lavouras no Brasil central. A janela de plantio na região Centro-Oeste passou a ser de quinze de outubro a quinze de janeiro, sendo que o ideal é de quinze de novembro a quinze de dezembro. “A gente fez ensaio de sementes tratadas em todo o País durante vários anos na década de noventa mostrando para os produtores que se fosse feito o plantio com sementes de boa qualidade e ela iniciasse o processo de germinação e não tivesse sido tratada, no solo a semente seria rapidamente colonizada por fungos que a deteriorariam”, explica Henning. O pesquisador conta também que além da deterioração fisiológica, o fungo digere as reservas da semente. “Então, muitas vezes o produtor tinha que replantar a área. E replantando a área o prejuízo era enorme. Além de perder o herbicida, a semente apodrecia no solo e o produtor perdia a melhor época para o plantio e não conseguia mais encontrar sementes boas no mercado.”

Todo este trabalho de conscientização rendeu frutos ao longo destes 26 anos já que, se em 1991, 5% da área cultivada de soja tinha recebido tratamento de sementes, em 2001 mais de 90% das lavouras tinham adotado essa prática e hoje, 95% recebem o tratamento das sementes antes do plantio, o que dá, aproximadamente, 20 milhões de hectares. “Esta técnica não custa mais do que 0,5% do custo de implantação de uma lavoura. Não tem prática mais barata do que esta. É um seguro adicional para o produtor” afirma Henning.

Precauções ao realizar o tratamento

Existem cuidados que devem ser tomados, principalmente para aqueles que estão manuseando os produtos químicos na hora de se tratar as sementes. O operador terá que utilizar todo o equipamento de segurança, chamado de EPI. Luvas, máscara, avental, não evitar o contato com a mão ou aspirar os produtos. Os operadores devem receber um treinamento que deverá abordar alguns itens como informações sobre a instalação da máquina, informações sobre riscos ocupacionais, medidas preventivas de segurança, informações sobre procedimentos de operação e manutenção e informações sobre procedimentos de emergência.

O local para a instalação da máquina deve seguir cuidados como ser isolado das demais instalações evitando a circulação de pessoas não envolvidas na operação de tratamento de sementes; ser arejado, com espaço livre ao redor da máquina para circulação com segurança dos operadores; o piso deve ser plano e livre de irregularidades, obstáculos ou sujeira de qualquer tipo; o produtor deve dispor o equipamento de maneira a facilitar o abastecimento da máquina com sementes não tratadas, assim como o escoamento das sementes tratadas; a operação de tratamento deve ser separada dos locais de consumo ou armazenamento de alimentos e distante de coleções d´água.

Antes de instalar e operar a máquina, leia cuidadosamente o manual de instruções do fabricante; certifique-se que a máquina esteja bem aprumada e estável, com os 4 pés apoiando no piso de maneira equilibrada. Para um perfeito funcionamento do dosador, a máquina deverá estar nivelada com uma inclinação na boca de saída ligeiramente superior ao da moega; A máquina deve ser ligada em uma tomada de três pinos. O terceiro pino (terra) deve estar devidamente aterrado para evitar danos no equipamento e/ou na rede elétrica; não deve haver água ou umidade nas proximidades do equipamento, evitando possíveis acidentes elétricos.

O uso dos EPI (equipamentos de proteção individual) são fundamentais para reduzir o risco de absorção do produto pelo organismo, protegendo a saúde do trabalhador. No tratamento de sementes deve haver um cuidado especial porque toda operação é feita com o produto concentrado, com pouca ou nenhuma diluição.

O EPI básico para o tratamento de sementes é composto de proteção das mãos: luvas de borracha nitrílica, neoprene e/ou PVC; proteção da pele e do corpo: vestimentas de proteção tratadas para se tornarem hidro-repelentes, composta por jaleco de mangas compridas e calças. O uso de avental impermeável é importante para aumentar a proteção da vestimenta; proteção dos olhos: viseira fácil ou óculos de proteção. Proteção respiratória: Respirador com filtro para vapores ácidos e orgânicos (P2 ou P3).

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *