Agricultura

Mamona: na onda do biodiesel

Com o boom dos combustíveis vegetais, a mamona ganhou um novo status dentro do agronegócio brasileiro. A mamoneira é uma planta heliófila, ou seja, deve ser plantada exposta diretamente ao sol e não tolera sombreamento.

Tem grande tolerância ao estresse hídrico, mas é exigente em fertilidade do solo. Embora tolere a seca, com boa disponibilidade de água sua produtividade é muito maior. Também pode ser plantada sob irrigação. Para cada condição climática e nível tecnológico, deve-se procurar escolher uma cultivar apropriada, pois há grande variação nas características das variedades plantadas no Brasil. Os principais detalhes sobre o cultivo de mamona são detalhados a seguir.

A condição ideal para cultivo de mamona inclui altitudes entre 300 e 1.500m, temperatura média entre 20 e 30ºC e chuvas anuais entre 500 e 1.500 mm.

Quando cultivada em baixas altitudes, devido à temperatura mais alta, a planta tende a perder energia pela respiração noturna e sofrer redução na produtividade.

Temperaturas muito altas também podem provocar perda da viabilidade do pólen, reversão sexual e outras mudanças fisiológicas que prejudicam a produção, enquanto temperaturas menores que 20ºC podem favorecer a ocorrência de doenças e até paralisar o crescimento da planta.

Quanto à pluviosidade, a planta pode produzir com quantidade de chuva inferior a 500mm, devido a sua grande tolerância à seca, mas a produção pode ser muito baixa para obter viabilidade econômica. Chuva superior a 1.500mm são consideradas excessivas para essa planta, podendo provocar diversos problemas como crescimento excessivo, doenças e encharcamento do solo.

Solo

O solo para plantio de mamona deve ser plano ou com declividade de no máximo 12%, pois essa planta tem pouca capacidade de proteção contra a erosão e crescimento inicial muito lento, demorando a cobrir o solo para protegê-lo da ação das gotas de chuva.

A acidez prejudica o crescimento das plantas, devendo-se escolher áreas com pH próximo a neutralidade (entre 6,0 e 7,0) ou fazer a correção do pH com calagem e com gessagem se necessário.

O solo para plantio de mamona deve ser bem drenado, pois a planta é extremamente sensível ao encharcamento, mesmo que temporário. Cerca de três dias sob encharcamento pode provocar morte das plantas. Solos com alta salinidade também são pouco recomendados, pois a presença de alta concentração de sais pode prejudicar o crescimento da planta.

O preparo do solo é fundamental para o êxito de uma lavoura de mamona. Essa prática tem dois principais objetivos: controlar plantas daninhas e aumentar a aeração do solo. Ambos os fatores são de grande importância, pois a mamoneira é muito sensível à concorrência com as plantas daninhas e muito exigente em aeração do solo, pois suas raízes só se desenvolvem adequadamente em solo com bom suprimento de oxigênio.

A mamoneira é muito exigente em fertilidade do solo, tendo produtividade muito alta em solos alta fertilidade natural ou que receberam adubação em quantidade adequada. Deve-se sempre fazer a análise de solo e fornecer a quantidade de fertilizantes recomendada pelo laudo técnico. Mesmo sob intenso déficit hídrico a mamoneira é capaz de aproveitar a adubação, o que diminui o risco dessa prática, principalmente em zona semi-árida.

A adubação em excesso pode ser prejudicial à produtividade, principalmente nas cultivares de porte médio e crescimento indeterminado, pois pode provocar crescimento excessivo e queda na produtividade.

População de Plantas

A definição da população de plantas é um passo importante, pois não envolve custos significativos, mas tem grande efeito sobre a produtividade. A população é definida pelo espaçamento entre linhas e distância de plantas dentro da linha, também chamada de densidade.

Em cultivares de porte médio, a distância entre as plantas geralmente recomendada é de 1m, mas o espaçamento pode variar entre 2 e 4m entre linhas, dependendo da fertilidade do solo, quantidade de chuva esperada e intenção de consorciação com outras culturas.

Um dos principais fatores para essa definição é a quantidade de água, pois em locais muito secos deve-se permitir maior distância entre as plantas para diminuir a concorrência, enquanto em locais mais chuvosos ou sob irrigação o espaçamento pode ser mais estreito.

Em solos muito férteis ou que receberam adubação, as plantas tendem a crescer mais e nessa condição o espaçamento muito estreito pode provocar o estiolamento das plantas.

Para realização de cultivo consorciado, deve-se permitir espaçamento de pelo menos 3m entre linhas, para que haja espaço para crescimento da outra cultura, podendo ser de até 4m caso se deseje priorizar a produção da cultura consorciada.

No caso de plantio mecanizado, o espaçamento muitas vezes é definido pela regulagem das máquinas usadas para o plantio também de outras culturas ou em distância que permita o aproveitamento da colheitadora.

O desbaste ou raleio consiste na retirada das plantas em excesso em cada cova. Deve ser feito entre 10 e 20 dias após a emergência. Deve-se ter cuidado para não danificar o sistema radicular da planta que permanecerá em campo, o qual é superficial e frágil. O ideal é cortar a planta a ser eliminada abaixo das folhas cotiledonares, Caso se opte pelo arranquio, deve-se evitar puxar as plantas para cima, procurando-se puxar para o lado.

Nunca se deve deixar mais de uma planta na mesma cova, pois as duas competiriam por espaço, água e nutrientes, resultando em produção menor que a de uma planta sozinha. No caso de plantio mecanizado não se faz desbaste, devendo-se obter a população de plantas desejada apenas pelo ajuste da quantidade de sementes por metro linear, considerando-se o percentual de germinação da semente.

Cultivo Consorciado

O plantio de mamona pode ser feito em consórcio com outras culturas, principalmente as alimentares. O consórcio mais comum é com o feijão que é uma planta de ciclo rápido e que concorre pouco com a mamoneira. O amendoim também é um consórcio muito promissor, pois contribui com o enriquecimento do solo com nitrogênio e concorre pouco com a mamoneira.

Alguns cuidados são importantes ao fazer o cultivo consorciado: o plantio da cultura consorciada deve ser feito pelo menos 15 dias depois da mamona, pois a germinação e o crescimento inicial da mamoneira são muito lentos e se forem plantados juntos ela pode ficar muito prejudicada; deve-se deixar pelo menos 1m de distância entre a linha da mamona e da cultura consorciada para evitar sombreamento e concorrência excessiva; deve-se evitar o consórcio com culturas que cresçam mais que a mamona, como o milho ou gergelim, pois o sombreamento dessas plantas pode prejudicar muito a produção da mamona. Deve-se dar preferência a culturas rasteiras ou de porte baixo como feijão e amendoim;

o feijão deve ter porte ereto, evitando-se aqueles com característica de trepadeira, o qual poderia subir pelo tronco da mamoneira e prejudicar sua produção; a cultura consorciada deve ter o ciclo o mais curto possível para diminuir a competição com a mamona.

Poda

A poda é uma prática muito utilizada no Brasil que tem o objetivo de evitar o plantio da lavoura todo ano. Deve ser feita ao final da colheita. Recomenda-se que a lavoura seja podada no máximo uma vez para evitar aumento da ocorrência de pragas e doenças.

Não se recomenda a realização da poda em locais favoráveis à ocorrência da prodridão-dos-ramos (solos pouco férteis, temperaturas altas e clima muito seco), pois grande parte das plantas pode morrer dessa doença durante o período seco, ocasionando baixo estande e produtividade insatisfatória. Cultivares de porte baixo ou anãs e híbridos não são apropriadas para cultivo com poda.

Plantio

A época de plantio deve ser determinada de forma a aproveitar ao máximo o período chuvoso, mas sendo a colheita feita em época seca. Para isso, deve-se observar o ciclo da cultivar a ser plantada e o início e fim do período chuvoso.

O semeio da mamona pode ser feito de forma manual ou mecanizada. No plantio manual, devem ser abertas covas com profundidade de 5 a 10cm e plantadas 3 sementes. A adubação com fertilizantes químicos pode ser feita na mesma cova, tendo-se o cuidado de deixar a semente a pelo menos 5cm de distância do adubo para evitar morte da semente. Usando adubo orgânico esse isolamento não é necessário. Para plantio mecânico, deve-se observar se o tamanho das sementes é compatível com as engrenagens internas que podem lhe causar danos. A adubação pode ser feita concomitantemente ao semeio.

Colheita

Para fazer colheita mecanizada, deve-se plantar um cultivar indeiscentes (que não soltam as sementes quando o fruto seca), o que possibilita que a colheita seja feita apenas uma vez quando todos os cachos da lavoura estiverem secos.

Não existem máquinas vendidas exclusivamente para colheita de mamona, devendo-se fazer adaptações na colheitadeira de milho, incluindo-se proteções laterais, cerdas para retenção dos grãos e cobertura do cilindro com uma capa de borracha.

A máquina realiza a colheita e o descascamento ao mesmo tempo e para que o descascamento seja viável, essa operação só pode ser feita nas horas mais quentes do dia e em dias secos. Caso as plantas ainda tenham muita folha no momento da colheita, deve-se fazer aplicação de um desfolhante.

Nas cultivares de porte médio, que são semi-deiscentes e produzem vários cachos, a colheita da mamona deve ser feita quando 2/3 dos frutos do cacho estiverem secos. Isso torna necessário a realização de várias colheitas, aumentando a necessidade de mão-de-obra. Caso o clima não esteja muito quente e seco, condição que favorece a abertura dos frutos e queda das sementes, se as sementes não estão caindo pode-se adiar um pouco a colheita para diminuir o número de passagens na lavoura e reduzir os custos com mão-de-obra.

A retirada dos cachos pode ser feita quebrando o talo ou cortando com auxílio de um alicate de poda (mais indicado). O transporte dos frutos até o terreiro de secagem pode ser feito de diversas formas: em sacos, balaios, cestos, carroças etc. Geralmente, a separação dos talos e frutos, se necessária, é feita no terreiro.

Secagem

Os cachos devem ser espalhados em camadas de no máximo 10cm e revolvidos várias vezes durante o dia. Se possível, os cachos devem ser amontoados no final da tarde e cobertos com uma lona plástica para evitar chuvas ou mesmo o orvalho noturno. Essa amontoa deve ser feita com os frutos ainda quente, ou seja, antes do solo esfriar para que o calor seja conservado. Da mesma forma, pela manhã os frutos só devem ser espalhados quando o sol já estiver quente.

O tempo de secagem dependerá do nível de umidade no momento da colheita e das condições ambientais, principalmente temperatura e insolação. Geralmente, os frutos estarão prontos para o descascamento após dois ou três dias secagem.

Há diversos modelos de máquinas para descascamento da mamona, podendo variar o princípio de funcionamento, a mobilidade e a necessidade ou não de retirada dos talos. Algumas máquinas podem ser acopladas ao trator, sendo levadas para dentro da lavoura e evitando o transporte dos frutos para um ponto específico. Muitos modelos também dispensam a necessidade de separação dos talos do cacho, diminuindo a necessidade de mão-de-obra e reduzindo os custos de produção.

Essa operação é muito importante para obtenção de um produto de boa qualidade. Os dois principais aspectos a serem observados são a baixa umidade dos frutos e a regulagem da máquina. Muitas vezes, além de estar seco, o fruto precisa ser exposto ao sol antes de ser colocado para descascar. As sementes de mamona têm tamanhos muito variados entre diferentes cultivares e as máquinas geralmente são reguladas para um único tamanho. Por isso, é importante não haver mistura de sementes de diferentes cultivares na hora de descascar.

Os principais problemas provocados pelo descascamento são sementes não descascadas (também chamadas de marinheiros) e sementes quebradas. A indústria aceita no máximo 10% de marinheiros, pois acima disso a eficiência de extração de óleo é comprometida. A quebra das sementes são a principal causa da acidificação do óleo, comprometendo a qualidade desse produto.

O armazenamento das sementes de mamona pode ser feito em sacos de 60 kg ou em silos. As sementes armazenadas não são atacadas por pragas que comprometam sua qualidade, apenas alguns insetos podem se alimentar de uma estrutura externa da semente (carúncula), mas sem comprometer sua qualidade.

O principal cuidados necessário ao armazenamento é o cuidado com a umidade do grão no momento do ensacamento e durante o período em que permanecer armazenado. Para um bom armazenamento é desejável que se tenha baixa temperatura, baixa umidade do ar e boa aeração.

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